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Ameerega trivittata

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Ameerega trivittata
Classificação científica edit
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Família: Dendrobatidae
Gênero: Ameerega
Espécies:
A. trivittata
Nome binomial
Ameerega trivittata
(Spix, 1824)
Sinónimos
  • Epipedobates trivittatus
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Ameerega trivittata[2] é uma espécie de anfíbio da família Dendrobatidae. Pode ser encontrada na Bolívia, Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname.[3] A família de anfíbios anuros Dendrobatidae (Dendro = Árvore e Bate = Caminhante)  possui 204 espécies, distribuídas em 16 gêneros.[4] São animais diurnos com tamanho geralmente de 30 mm ou menos, procuram ambientes folhosos para se abrigar e vocalizar, e chamam atenção por suas cores vibrantes e sua habilidade de sequestrar toxinas.[5] Ameerega é o segundo gênero mais diverso de Dendrobatidae com 29 espécies conhecidas,[4] concentradas na base da Cordilheira do Andes, principalmente na região do Peru,[6] distinguindo-se dos demais gêneros da família devido a presença de dorsos inteiramente granulares junto de um abdome escuro com manchas claras normalmente azuladas.[7] A. trivittata conhecido popularmente como sapo veneno de flecha de três listras é um sapo venenoso com padrão de coloração aposemática, nomeado junto de 2 espécies por por Spix (1824), apresentando 2n=24 cromossomos.

Etimologia e taxonomia

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Ameerega vem de uma homenagem ao herpetuculturista holandês Jan Meere junto de “aga”, que segundo Bauer (1986) é uma palavra no oriente médio com significado referido-se ao principal ou primeiro, e no grego o adjetivo bom ou o advérbio muito. E trivittata introduzida por Spix (1824) consiste no prefixo “tri” indicando o porte de algo, junto de uma referência a vitta ritualística (manto com três fitas nas costas, longitudinalmente amarelo-ouro e azul pós-morte), de certa forma relacionado com seu padrão de listras e cores.[8] A maior parte das espécies está distribuída em 7 grupos a partir da espécie irmã A. silverstonei, sendo que A. trivittata apresenta certa incerteza quanto às suas relações, sendo referida como grupo irmão dos grupos de A. simulans, A. petersi, A. macero e A. hahneli.[6] Está dividido em 4 morfotipos originados do ancestral comum A. picta, há aproximadamente 7,57 milhões de anos.[6] Se expandiram recentemente por quase toda a Floresta Amazônica, habitando florestas primárias e secundárias enquanto defendem territórios de até 500 m²,[9] tendo como predomínio os indivíduos com 2 listras laterais  em relação a suas outras variações se apresentando mais restritas ao sudoeste amazônico na região peruana[5] e atualmente está concentrada no Parque Natural Brownsberg no Suriname.[10]

Territorialidade e Ciclo de vida

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É uma espécie territorial, que depende de sua área de uso para buscar e defender seus recursos, se alimentando principalmente de formigas e outros artrópodes de pequeno porte.[11] Seu território está ligado diretamente a seu sucesso reprodutivo,[12] onde o tamanho é diretamente proporcional a sua taxa de acasalamento, pois ele indicar o limite onde o indivíduo pode adquirir alimento, mas também é usado como local de deposição para as proles, e serve de refúgio contra predadores. Sua área pode variar dependendo de fatores abióticos como inundações sazonais e distribuição dos regimes de chuvas, como exemplo temos comparação de estudos feitos na amazônia brasileira e a peruana,[13][14][15] onde no Brasil essa espécie apresenta o dobro de território e se reproduz o ano todo, em comparação com os indivíduos encontrados no Peru, que não se reproduzem em épocas secas.

O macho atrai a fêmea por meio da vocalização, e nos meses chuvosos realiza a reprodução sexual de forma externa ao fecundar cerca de 40 ovos. E ao eclodirem os girinos serão transportados no dorso do macho até um corpo d’água,[5] local onde irão  desenvolver inicialmente sua fase larval aquática até adquirirem a capacidade de colonizar o ambiente terrestre. Nessa espécie onde cuidado é parental, o macho ingere maior número de formigas que a fêmea, devido a tarefa de levar os girinos para a corpos d'água,[16] nesse cenário o tamanho do macho não influencia no transporte dos girinos, pois demonstraram não depositar todos os girinos de uma vez.[14] Nesse processo ele se expõe a predação, e a ingestão de formigas está associada à produção de psicoestimulantes alcaloides, que auxiliam em sua defesa.[17] O sucesso da fase larval aquática dos girinos depende principalmente do cuidado parental,[18][19] além do tamanho e fatores físico-químicos dos locais de deposição,  onde a ideia de poças maiores poderem suportar mais indivíduos[20] é refutada, porque em contrapartida: elas possuem hidroperíodo mais longo, assim estando associada ao aumento de predadores invertebrados, como ninfas de Odonata.[21] E nesse contexto, é possível que os machos detectem através de pistas químicas a qualidade dos corpos d’água onde depositam os girinos,[22] assim sendo o principal critério de escolha da espécie.

Segunda a lista vermelha da IUCN[3] esta espécie se encontra em grau de ameaça pouco preocupante. Sobre as ameaças que afligem essa espécie, podemos citar o desmatamento, mais especificamente a redução e modificação de seu habitat causado pelo desenvolvimento urbano, extração de madeira, atividades agrícolas e aquícolas que acabam resultando em modificações nos ecossistemas. Também é preocupante a ação de caça e captura desses animais para o comércio no mercado pet. Quanto a sua presença em Unidades de Conservação, há registros fotográficos tirados em 2016 dentro dos limites do Parque Nacional Mapinguari.[23]

Por meio de um trabalho realizado por PISTONI[24] a respeito do comércio ilegal de anfíbios no Brasil, se constataram registros de apreensão de seu comércio ilícito no país, como também a verificação de sites de outros países onde também era realizada as transações. Um caso de apreensão no aeroporto de Guarulhos, em 1999, constatou o número de 560 rãs da família Dendrobates apreendidas e encaminhadas a locais como zoológicos, museus e universidades, sendo esse último com probabilidade de possuírem animais cuja descendência remonta ao incidente.

Aspectos culturais

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Como o nome sugere, esse sapo pode ter sido usado por povos indígenas para aplicação de veneno em flechas, um ritual de caça comum, mas das três espécies documentadas, todas pertenciam ao gênero Phyllobates sendo o sapo veneno de flecha dourado o mais letal e utilizado.[25] O interesse dos herpicultores do hemisfério norte por esses animais, em especial pela família Dendrobates, estimula ainda mais o comércio ilegal destes anfíbios, tendo como motivos suas cores aposemáticas e compostos alcalóides presentes em suas secreções, assim captando o interesse das indústrias farmacológicas.[24] Outro fator que pode pôr em risco esses animais seriam as espécies estrangeiras que chegam por meio dessas atividades, trazendo não apenas o risco de desequilíbrio ecossistêmico no caso de se tornarem espécies invasoras, como também pelo risco de serem centros de dispersão de doenças.

Referências

  1. La Marca, E.; Azevedo-Ramos, C.; Silvano, D.; Barrio-Amorós, C.L. (2008). «Ameerega trivittata». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2008: e.T55240A11278640. doi:10.2305/IUCN.UK.2008.RLTS.T55240A11278640.enAcessível livremente. Consultado em 14 de novembro de 2021 
  2. Frost, D.R. (2014). «Ameerega trivittata». Amphibian Species of the World: an Online Reference. Version 6.0. American Museum of Natural History, New York, USA. Consultado em 4 de novembro de 2014 
  3. a b La Marca, E.; Azevedo-Ramos, C.; Silvano, D.; Barrio-Amorós, C.L. (2008). Ameerega trivittata (em inglês). IUCN 2014. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2014. Página visitada em 4 de novembro de 2014..
  4. a b Frost (2022). «Amphibian Species of the World: an Online Reference. American Museum of Natural History. Version 6.1». Consultado em 1 de março de 2023 
  5. a b c Koch, Esteban (Junho de 2022). «Sobre sapos e cores: uma abordagem citogenética e molecular da estrutura populacional e da variedade morfotípica de Ameerega trivittata (Spix, 1824)». Repositório do INPA. Dissertação de mestrado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: 2-6, 28-30. Consultado em 1 de abril de 2023 
  6. a b c Guillory, W.X; French, C.M; Twomey, E.M.; Chávez, G.; Prates, I.; May, R.; Riva, I.; Lötters, S.; Reichle, S.; Serrano-Rojas, S.J.; et al. 2020. Phylogenetic relationships and systematics of the Amazonian poison frog genus Ameerega using ultraconserved genomic elements. Molecular Phylogenetics and Evolution 142(2020): 1-13.
  7. Grant, T.; Frost, D.R.; Caldwell, J.P.; Gagliardo, R.; Haddad, C.F.B.; Kok, F.; Means, D.B.; Noonan, B.P.; Schargel, W.E.; Wheeler, W.C. 2006. Phylogenetic systematics of poison frogs and their relationships (Amphibia: Athesphatanura: Dendrobatidae). Bulletin of the American Museum of Natural History 299: 1-262.
  8. SBH, 2022. Etymologies of Brazilian Amphibians publicado em novembro de 2022 no researchgate pela Sociedade Brasileira de Herpetologia, páginas 23 e 275. Acesso em abril de 2023.
  9. Neu, C. P.; Bisanz, S. S.; Nothacker, J. A.; Mayer, M.; Lötters, S. 2016. Male and female home range behavior in the Neotropical poison frog Ameerega trivittata (Anura, Dendrobatidae) over two consecutive years. South American Journal of Herpetology 11(3): 212-219.
  10. EOL. Ameerega trivittata (Spix 1824). Acesso em: mar. 2023
  11. Toft, C.A. 1980. Feeding ecology of thirteen syntopic species of anurans in a seasonal tropical environment. Oecologia 45: 131 – 141.
  12. Roithmair, M. E. 1994. Male territoriality and female mate selection in the dart-poison frog Epipedobates trivittatus (Dendrobatidae, Anura). Copeia 1: 107 – 115.
  13. Biavati, G. M. 2006. Aspectos da biologia e da dinâmica populacional em cinco species de dendrobatídeos (Amphibia: Anura) na Amazônia Central. Dissertação de Mestrado. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Amazonas, Brasil.
  14. a b Acioli, E. C. S. 2014. Biologia reprodutiva de Ameerega trivittata (Anura: Dendrobatidae) em uma área de terra firme na Amazônia Oriental. Dissertação de Mestrado. Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade Federal do Pará, Brasil.
  15. Bodmer, R. (1990). Responses of ungulates to seasonal inundations in the Amazon floodplain. Journal of tropical Ecology, 6(2): 191 – 201.
  16. Saporito, R. A., M. A. Donnelly, A. A. Madden, H. M. Garraffo, and T. F. Spande. 2010. Sex-related differences in alkaloid chemical defenses of the dendrobatid 27 frog Oophaga pumilio from Cayo Nancy, Bocas del Toro, Panama. Journal of Natural Products 73: 317 – 321.
  17. Daly, J. W. 2004. The chemistry of poisons in amphibian skin. National Academy of Sciences, Colloquium Paper 92: 9 – 13.
  18. Resetarits Jr., W.J. 1996. Oviposition site choice and life history evolution. American Zoologist 36(2): 205 – 215.
  19. Murphy, P. J. 2003a. Does reproductive site choice in a Neotropical frog mirror variable risks facing offspring? Ecological Monographs 73(1): 45 – 67.
  20. Rosenzweig, M. L. 1995. Species diversity in space and time. Cambridge University Press. 436pp
  21. Carvalho, A. L. & Nessimian, J. L. 1998. Odonata do Estado do Rio de Janeiro, Brasil: Hábitats e hábitos das larvas. Publicado em Ecologia de Insetos Aquáticos, pp. 3 – 28. Series Oecologia Brasiliensis Volume 5, Rio de Janeiro.
  22. Shulte, L. M.; Yeager, J.; Shulte R.; Veith, M.; Werner, P.; Beck, L. A.; Lötters, S. 2011. The smell of success: choice of larval rearing sites by means of chemical cues in a Peruvian poison frog. Animal Behaviour 81: 1147 – 1154
  23. Parque Nacional Mapinguari. Acesso em: mar. 2023.
  24. a b PISTONI, Juliana; TOLEDO, Luíz Felipe. Amphibian illegal trade in Brazil: what do we know? South American Journal of Herpetology, v. 5, n. 1, p. 51-56, 2010. Acesso em: mar. 2023.
  25. SI. Poison frogs publicado pelo Instituto da Biologia da Conservação e Museu Nacional do Smithsonian. Acesso em abril de 2023.