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Ançã

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Ançã
Freguesia
Fonte de Ançã
Fonte de Ançã
Fonte de Ançã
Brasão de armas de Ançã
Gentílico ançanense
Localização
Ançã está localizado em: Portugal Continental
Ançã
Localização de Ançã em Portugal
Coordenadas 40° 16′ 25″ N, 8° 31′ 11″ O
Região Centro
Sub-região Região de Coimbra
Distrito Coimbra
Município Cantanhede
Código 060201
Administração
Tipo Junta de freguesia
Características geográficas
Área total 18,1 km²
População total (2021) 2 451 hab.
Densidade 135,4 hab./km²
Outras informações
Orago Nossa Senhora do Ó
Sítio http://www.freguesiadeanca.pt

Ançã é uma vila portuguesa sede da Freguesia de Ançã do Município de Cantanhede. A freguesia tem 18,1 km² de área[1] e 2451 habitantes (censo de 2021)[2], tendo, por isso, uma densidade populacional de 135,4 hab./km².

A povoação de Ançã foi elevada à categoria de vila em 2001.[3]

Histórica e culturalmente a vila de Ançã encontra-se ligada ao Baixo Mondego e não a Gândara ou à Bairrada, regiões etnográficas que integram o município de Cantanhede. Apenas o vinho de Ançã pode ser considerado, pelas suas características, como parte da região vinícola da Bairrada.

O nobre e preservado centro histórico de Ançã é um complexo arquitetónico de valor inquestionável, ao estilo do Marquês de Cascais, senhor da Vila de Ançã. Um espaço dinâmico de crescente atratividade, em que se destaca a restauração e a vida noturna. Ao Bolo de Ançã, juntam-se outras ofertas gastronómicas. É muito procurado o seu Leitão à Bairrada, a sua Chanfana e os seus produtos vinícolas.

A Fonte de Ançã ou Fonte dos Castros é conhecida por ser um espetáculo raro, com um caudal superior da 20.000 litros por minuto, origem de histórias e lendas. A água da fonte alimenta a Piscina Natural de Ançã, cuja água é sempre corrente.

Além da vila, a Freguesia de Ançã compõe-se também dos lugares da Granja, Ameixoeira e Gândara.

Pedra de Ançã

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A Pedra de Ançã é uma variedade de calcário branco, de grão fino e textura homogénea, extraída a região de Ançã. Destaca-se pela sua maleabilidade quando extraída, tornando-se mais dura e resistente à erosão após a exposição ao ar. Esta característica tornou-a um dos materiais preferidos de escultores e arquitetos ao longo dos séculos, especialmente durante o período medieval e renascentista.

A Pedra de Ançã foi essencial para a arte e arquitetura portuguesa, especialmente entre os séculos XII e XVI, sendo usada em algumas das obras mais emblemáticas do país. O seu prestígio, associado à escola de escultura de Coimbra, confere-lhe um lugar de destaque na história da arte e do património nacional.

Características e Formação

A Pedra de Ançã é um calcário micrítico de origem sedimentar, formado há cerca de 165 milhões de anos no período Jurássico Médio. A sua composição inclui calcite quase pura, com baixa porosidade e uma estrutura homogénea, o que lhe confere uma elevada capacidade de detalhe quando esculpida.

A principal característica da Pedra de Ançã é a sua plasticidade quando recém-extraída, facilitando a escultura e o entalhe minucioso. Após a exposição ao ar, sofre um processo de endurecimento, tornando-se mais resistente à degradação, o que a distingue de outras pedras calcárias utilizadas em Portugal.

A população registada nos censos foi:[2]

População da freguesia de Ançã[4]
AnoPop.±%
1864 1 484—    
1878 1 755+18.3%
1890 1 804+2.8%
1900 1 855+2.8%
1911 2 102+13.3%
1920 2 236+6.4%
1930 2 445+9.3%
1940 2 442−0.1%
1950 2 566+5.1%
1960 2 608+1.6%
1970 2 378−8.8%
1981 2 507+5.4%
1991 2 387−4.8%
2001 2 579+8.0%
2011 2 625+1.8%
2021 2 451−6.6%
Distribuição da População por Grupos Etários[5]
Ano 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos
2001 393 314 1394 478
2011 369 266 1353 637
2021 289 271 1233 658

O nome de Ançã é de origem latina. Segundo o arqueólogo Jorge de Alarcão (In territorio Colimbrie: lugares velhos (e alguns deles deslembrados) do Mondego, 2004) advirá, provavelmente, de Antiana, nome dado à vila de um senhor romano chamado Antius. Com a desagregação do Império Romana o nome ter-se-á alterado para Anzana (tal como surge nos documentos mais antigos, do século X), contraindo-se posteriormente para Ançãa e, hoje, Ançã.

A teoria defendida por muitos, da origem italiano através de "abbondanza" (pela abundância de água), não tem qualquer base histórica , sendo apenas sustentada pela lenda do século XVIII que, segundo a qual, a criação da vila se deveu a 8 monges beneditinos vindos de Itália.

Antiguidade

A ocupação de Ançã é conhecida desde a época romana. Em 27 a.C., a Lusitânia tornou-se oficialmente uma província do Império Romano, onde Ançã foi integrada. Entre os séculos I e IV d.C., a região prosperou sob domínio romano, com desenvolvimento agrícola, urbanístico e a exploração da Pedra de Ançã.

Idade Média

Com a queda do Império Romano, a Idade Média começou com a formação de reinos germânicos. Em 585, o Reino Visigodo conquistou o Reino Suevo e sua capital, Braga. Em 711, os árabes Omíadas conquistaram a Península Ibérica que integrou o Emirado de Córdova. Em 929, os Omíadas declararam independência de Damasco e fundaram o Califado de Córdova, período de grande desenvolvimento cultural e económico. Em 937, é feito o primeiro registo ao Moinho da Fonte de Ançã, sugerindo que desempenhava um papel significativo na comunidade.

Os berberes fundaram a Taifa de Badajoz, conquistaram a região e integraram-na na sua administração em 1031. O Reino de Leão conquistou Coimbra e seus territórios circundantes em 1094, que ficaram sob a administração da Galiza. O Reino de Portugal integrou Ançã na sua formação, sendo formalmente reconhecido em 1143.

Foi já nos finais da Idade Média, em 1371, que D. Fernando eleva Ançã à categoria de vila, e cria o Concelho de Ançã, adquirindo autonomia e concedendo-lhe privilégios, enumerando-lhe as regalias e demarcando a extensão do seu território, do qual faziam parte as povoações de Ançã, Pena, Vale de Água, Barcouço, Portunhos, S. João do Campo, Cioga do Campo e Rios Frios. Note-se, no entanto, que D. Fernando não lhe outorga qualquer foral, passando a vila a reger-se pelo foral de Coimbra ate a concessão de novo foral, no reinado de D. Manuel I, a 28 de Junho de 1514. Pensa-se que o Pelourinho e a Quinta da Sobreira datem este período.

Barroco

Na segunda metade do século XVII, o D. Álvaro de Castro (Marquês de Cascais) tornou-se senhor da vila de Ançã (Conde de Ançã) e ergueu infraestruturas e a arquitetura barroca: a alpendre da Fonte de Ançã (1674), o Palácio dos Castros, o Terreiro do Paço e a Igreja de Nossa Senhora do Ó.

O casamento de D. Violante de Noronha com D. Álvaro de Castro, uniu as famílias Noronha e Castro. Já no final do século XVII ou início do século XVIII, foi construído o Palácio dos Noronha pela família Noronha, um símbolo da aristocracia de Ançã.

Até ao início do século XIX, o Concelho de Ançã era constituído pelas freguesias de Barcouço, Ançã, Portunhos, Pena, Cioga do Campo, Vil de Matos, São Facundo e Cidreira atingindo em 1801, 4 275 habitantes.

Fim do Reino de Portugal e transição política

As Invasões Francesas desencadearam as reformas administrativas do início do Liberalismo. Ançã tinha uma grande influência da família real portuguesa e a vila era um reduto de apoiantes do absolutismo em Portugal, sendo um foco de resistência ao liberalismo. Após a vitória liberal, Ançã perdeu a sede de concelho e a categoria de vila a 31 de Dezembro de 1853, foi anexada como freguesia do município de Cantanhede[6].

A nobreza da região, com uma forte presença de senhores de terras, promoveu práticas de incluir nos seus banquetes sociais o leitão assado, como um prato tradicional. Com a chegada das reformas liberais e o processo de modernização do país, a agricultura, a viticultura e a criação de suínos tornaram-se pilares importantes da economia local. A gastronomia local ganhou força, contribuindo para a identidade regional. A culinária regional tornou-se mais acessível às classes populares e aos visitantes que percorriam a região à procura do Leitão à Bairrada e dos seus afamados vinhos.

Em 1884 nasceu em Ançã Jaime Cortesão, que viria a ser participante ativo na Revolução Republicana de 1910 e na formação da República Portuguesa.

O Quintal da Fonte surgiu na década de 1940, durante o Estado Novo, quando a agricultura era a base da economia local, e os proprietários organizaram um espaço produtivo, com rega constante que favorecia a produção e garantia colheitas regulares. O espaço tornou-se essencial para a atividade agrícola, fornecendo alimentos e empregando trabalhadores.

Nas décadas de 50 e 60 do século XX, o éxodo rural foi impulsionado pela industrialização da agricultura, a falta de trabalho e a modernização das cidades impulsionaram muitos dos habitantes a migrar. Esse decréscimo da população alterou profundamente a dinâmica social e económica de Ançã.

Século XXI

Em 2001, Ançã recuperou a categoria de vila, pela Lei n.º 43/2001, de 12 de julho[3]. Se o concelho de Ançã não tivesse sido extinto teria nesse momento uma área territorial de 80,34 km² e com uma população total de 11 183 habitantes. A sua densidade populacional seria de 139,196 hab/km².

No século XXI, Ançã consolidou-se com uma vila para viver e visitar. Registou um crescimento populacional, impulsionado pela sua proximidade a Coimbra e a Cantanhede, bem como pela melhoria das infraestruturas e das condições de vida. A fixação de novas famílias e o regresso de emigrantes têm contribuído para o dinamismo da vila. Dá-se um crescimento da restauração e do turismo.

O património arquitetónico do centro histórico de Ançã passou por uma requalificação do espaço público, como o Quintal da Fonte e a Quinta da Sobreira Quinhentista. A valorização da Paisagem Protegida do Baixo Mondego, a criação de trilhos pedestres e o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis desenvolveram o turismo ecológico.

As associações locais a dinamizam atividades culturais e desportivas, contribuindo para a valorização do seu artesanato e produtos locais, incentivando uma maior consciência ambiental. Os vinhos de Ançã mantêm uma identidade própria dentro da região da Bairrada.

Em 2024, a Pedra de Ançã foi reconhecida como Pedra Património Mundial pela UNESCO.

Museus e Galerias

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  • Museu Etnográfico de Ançã

O Museu Etnográfico do Grupo Típico de Ançã foi inserido numa casa de habitação, construída em finais do século XVII e inícios do século XVIII. Esta foi utilizada como espaço museológico, dinamizada pelo grupo de etnografia e folclore da vila, o Grupo Típico de Ançã, desde 1991. O museu recria uma casa típica ançanense, na qual no primeiro andar vivia a família e, no rés-do-chão, eram guardados os animais. Hoje em dia, no primeiro piso do museu é possível ver a recriação de uma cozinha e quarto do século XX. O piso inferior é dedicado à exposição de alfaias agrícolas, de brinquedos, de trajes de rancho e de prémios obtidos pelo Grupo Típico de Ançã.

  • Bar / Galeria Quintal da Fonte

Festas e Romarias

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  • Festa de São Sebastião (dia 20 de Janeiro)
  • Festa e Aniversário de São Bento (móveis; 3ª feira seguinte à Páscoa e 2ª feira de Pascoela)
  • Festa e Romaria de de São Tomé (dia 25 de Julho)
  • Festa do Sr. da Fonte (móvel; primeiro fim-de-semana de Setembro)
  • Feira do Bolo de Ançã (finais de Março)
Bolo de Ançã

Bolo de Ançã

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A origem do bolo de Ançã perde-se no tempo tendo o segredo do seu fabrico sido transmitido de pais para filhos - datará, no entanto, dos finais do século XIX/inícios do século XX.

É um Bolo de confecção simples, com ingredientes naturais (ovos, farinha de trigo, açúcar, manteiga, canela e limão), de reconhecida qualidade, estando no processo de fabrico artesanal – amassado manualmente e cozido em forno de lenha da região – que se encontra o seu verdadeiro segredo.[7]

O Ançã Futebol Clube desenvolve a sua atividade, competitiva e formativa, no Parque Desportivo de Ançã. Tem também ao seu dispor um pavilhão Gimnodesportivo e um dos melhores campos de relvado sintético da região.

Personalidades

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Terra natal de Jaime Cortesão que ainda hoje homenageia com o nome de uma das suas principais ruas e um monumento com o seu busto. É também local de residência familiar do escritor Augusto Abelaira na sua infância.

Referências

  1. «Carta Administrativa Oficial de Portugal CAOP 2013». descarrega ficheiro zip/Excel. IGP Instituto Geográfico Português. Consultado em 10 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 9 de dezembro de 2013 
  2. a b Instituto Nacional de Estatística (23 de novembro de 2022). «Censos 2021 - resultados definitivos» 
  3. a b «Lei n.º 43/2001, de 12 de julho». diariodarepublica.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2023 
  4. Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
  5. INE. «Censos 2011». Consultado em 11 de dezembro de 2022 
  6. «Paróquia de Ançã». Arquivo Distrital de Coimbra. Consultado em 15 de Outubro de 2013 
  7. «Bolo de Ançã». Arquivado do original em 3 de março de 2016 
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Ligações externas

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