Ana Hatherly
Ana Hatherly | |
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Fotografia Ana Hatherly | |
Nome completo | Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly |
Nascimento | 15 de Junho de 1929 Santo Ildefonso, Porto, Portugal |
Morte | 5 de Agosto de 2015 (86 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | Portugal e Predefinição:BR |
Ocupação | Professora, escritora, realizadora e artista plástica |
Prémios | Grande Prémio de Ensaio Literário APE/PT (1997) Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (1999) |
Magnum opus | Poesia: 1958-1978 |
Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly[1] GOIH, (Porto, 15 de Junho de 1929 – Lisboa, 5 de Agosto de 2015)[2], foi uma professora, escritora, realizadora e artista plástica portuguesa.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nasceu no Porto em 1929, tendo-lhe sido dado o nome de Maria de Lourdes Rocha Alves; filha de Jaime Constantino Alves, de 27 anos, solteiro, natural de Bragança, e de Celeste Rocha Pereira, de 24 anos, divorciada, natural de Viana do Castelo, moradores à época na rua do Bonjardim, 632, Porto. Na sua genealogia existe um antepassado austríaco, razão da sua aparência germânica.[3] Os seus pais morreram quando era criança, tendo sido educada pela avó materna, Maria da Hora da Rocha Pereira.[4]
A avó, muito tradicional e católica, era cinéfila e desde cedo levava a neta a todas as sessões de cinema. Hatherly, mais tarde, contou que nesse tempo viu um filme que muito a impressionou, O Homem Invisível (1933) de James Whale.[5]
Com voz de soprano, tentou ser cantora lírica, chegando a ir à Alemanha para se especializar em música barroca. O seu sonho terminou por não ter suficiente capacidade física para suportar o esforço do canto. Acabou por sofrer uma lesão pulmonar, indo tratar-se num sanatório perto de Genebra, na Suíça, durante um ano. Aí começou a escrever por recomendação de um médico, que lhe dissera que a criatividade era como um prego dentro de um saco de pano, que haveria sempre de dar sinal, fosse qual fosse o canal. Ofereceu-lhe uma caneta de tinta permanente Parker para esse efeito.[6]
Diplomada em Cinema, pela London Film School, em Londres, onde fazia estadias prolongadas. A 25 de Abril de 1974, a caminho do Egipto, fez uma escalada em Lisboa, para ir ver a sua casa no Estoril. Entusiasmada pela revolução, desistiu da viagem ao Egipto, e ficou em Portugal, durante os anos seguintes. No entanto, a revolução não lhe foi inteiramente benéfica. No plano financeiro sofreu grandes perdas, tendo sido obrigada a vender a casa, a mobília e tudo o que tinha, até conseguir arranjar emprego. Sobreviveu com muita dificuldade nos dois anos a seguir à revolução.[2]
Foi professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde co-fundou o Instituto de Estudos Portugueses. licenciada em Filologia Germânica, pela Universidade de Lisboa, e doutorada em Estudos Hispânicos, pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.[7]
Anteriormente leccionou na Escola de Cinema do Conservatório Nacional, e no AR.CO, em Lisboa. Existem cópias dos seus filmes no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e no Arquivo da Cinemateca Portuguesa.
Paralelamente desenvolveu uma carreira como artista plástica, com um extenso número de exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Foi membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e ajudou a fundar o P.E.N.Clube Português, ao qual presidiu. Foi ainda membro destacado do grupo da poesia experimental, nas décadas de 1960 e 70, além de se ter dedicado à investigação e divulgação da literatura portuguesa barroca, fundando as revistas Claro-Escuro e Incidências.
Encontra-se colaboração da sua autoria no jornal 57, entre 1957 e 1962.[8]
Faleceu no dia 5 de Agosto de 2015 e foi sepultada no Cemitério dos Olivais.[2]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Muito jovem, Hatherly teve um relacionamento com o pintor e gravador húngaro, radicado em Portugal, Attila Mendly de Vétyemy, de quem teve a sua única filha, Catarina Hatherly (1949-1970).[9]
Em 18 de setembro de 1952, casou com Henry Mário Frank Hatherly (empresário), em Kensington, Inglaterra, tendo mudado o nome para Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly. Ficou viúva em 21 de Maio de 2000.
Obra Plástica
[editar | editar código-fonte]Hatherly inicia na década de 60 o percurso artístico, por esta altura conclui que a escrita «nunca foi senão representação: imagem». Começará então uma pesquisa em torno da caligrafia (actual e ancestral) e dos signos, cria então aquilo que na sua biografia pela Coleção de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian se chama de "escrita-imagem".
Integra o Grupo Experimentalista Português e participa em diversas exposições com destaque em 1977 para a exposição Alternativa Zero. Em 1992 o CAM da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta uma retrospectiva da sua obra, a seguir à qual Ana Hatherly continua a expor em exposições individuais onde apresentou "pinturas evocativas da sua viagem à India, séries inéditas de trabalhos feitos em Londres, neo-graffitis, ou ainda pinturas onde a inquirição da reciprocidade entre a escrita e a visualidade dão lugar a uma pintura despojada"[10].
Exemplo de despojamento e um reflexo do estilo gestualista, mas também da interligação entre a escrita, o desenho, a poesia e a pintura, é a obra Auto Retrato Obliterado, datada de 1996, dois anos antes da publicação do poema Auto Retrato onde Hatherly nos diz "Oculto nele e nele convertido / do tempo ido escusa o cruel trato, / que o tempo em tudo apaga o sentido."[11].
Encontra-se representada nos mais importantes museus e coleções portuguesas, entre as quais: Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna, Fundação Serralves, Museu Coleção Berardo, Museu do Chiado - MNAC, Coleção FLAD, Fundação Cupertino de Miranda, Coleção de Arte Fundação EDP e Casa da Cerca Almada.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Entre a sua bibliografia encontram-se:[12][13][14]
Poesia
[editar | editar código-fonte]- Um Ritmo Perdido. Lisboa: Ed. Aut. (1958)
- As Aparências. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural (1959)
- A Dama e o Cavaleiro. Lisboa: Guimarães Editores (1960)
- Sigma. Lisboa: Ed. Aut. (1965)
- Estruturas Poéticas - Operação 2. Lisboa: Ed. Aut. (1967)
- Eros Frenético. Lisboa: Moraes Editores (1968)
- 39 Tisanas. Porto: Colecção Gémeos, 2 (1969)
- Anagramático. Lisboa: Moraes Editores (1970)
- 63 Tisanas: (40-102). Lisboa: Moraes Editores (1973)
- Poesia: 1958-1978. Prefácio de Lúcia Helena da Silva Pereira - Lisboa: Moraes Editores (1980)
- Ana Viva e Plurilida. in Joyciana (ob. colec.), Lisboa: &etc. (1982)
- O Cisne Intacto. Porto: Limiar (1983)
- A Cidade das Palavras. Lisboa: Quetzal (1988)
- Volúpsia. Lisboa: Quimera (1994)
- 351 Tisanas. Lisboa: Quimera (1997)
- Rilkeana. Apresentação de João Barrento e Elfriede Engelmayer - Lisboa: Assírio & Alvim
- Um Calculador de Improbabilidades. Lisboa: Quimera (2001)
- O Pavão Negro. Prefácios da Autora e de Paulo Cunha e Silva, Lisboa: Assírio & Alvim
- Itinerários. Vila Nova de Famalicão: Edições Quasi (2003)
- Fibrilações. Edição bilingue. Tradução para castelhano de Perfecto E. Cuadrado, Lisboa: Quimera (2005)
- A Idade da Escrita e outros poemas. Antologia com org. e pról. de Floriano Martins, São Paulo: Escrituras (2005)
- 463 Tisanas. Prefácio da Autora, Lisboa: Quimera (2006)
- A Neo-Penélope. Lisboa: &etc. (2007)
Prosa
[editar | editar código-fonte]- O Mestre. Lisboa: Arcádia (1963). 2.ª edição: Prefácio de Maria Alzira Seixo, Lisboa: Moraes Editores (1976). 3ª edição: Prefácios de Silvina Rodrigues Lopes e Simone Pinto Monteiro de Oliveira e posfácio da Autora, Lisboa: Quimera (1995). 1.ª edição brasileira: Prefácio de Nadiá Paulo Ferreira, Rio de Janeiro: 7LETRAS (2006)
- No Restaurante. In Antologia do Conto Fantástico Português. Edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Mello (1967). 2.ª edição: idem (1974). [3.ª edição]: Lisboa: Arte Mágica Editores (2003)
- Crónicas, Anacrónicas Quase-tisanas e outras Neo-prosas. Lisboa: Iniciativas Editoriais (1977)
- O Tacto. In Poética dos cinco sentidos. Lisboa: Livraria Bertrand (1979)
- Anacrusa: 68 sonhos. Lisboa: & Etc (Sonhos da Autora comentados por vários autores) (1983)
- Elles: um epistolado (com Alberto Pimenta). Lisboa: Editorial Escritor (1999)
- O Neo-Ali Babá. In Mea Libra - Revista do Centro Cultural do Alto Minho, n.º 14, Viana do Castelo (2004)
Ensaios e Edições Críticas
[editar | editar código-fonte]- Nove Incursões. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural (1962)
- O Espaço Crítico: do simbolismo à vanguarda. Lisboa: Caminho (1979)
- A Experiência do Prodígio - Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1983)
- Defesa e Condenação da Manice. Lisboa: Quimera (Apresentação, notas e fixação do texto) (1989)
- Poemas em Língua de Preto dos Séculos XVII e XVIII. Lisboa: Quimera (Apresentação, notas e fixação do texto) (1990)
- Elogio da Pintura de Luís Nunes Tinoco. Com estudo crítico de Luís de Moura Sobral, Lisboa: Instituto Português do Património Cultural (1991)
- A Preciosa de Sóror Maria do Céu. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica (Edição actualizada do códice 3773 da Biblioteca Nacional precedida dum estudo) (1991)
- Lampadário de Cristal de Frei Jerónimo Baía. Lisboa: Editorial Comunicação (Apresentação crítica, fixação do texto, notas, glossário e roteiro de leitura) (1991)
- O Desafio Venturoso de António Barbosa Bacelar. Lisboa: Assírio & Alvim (Organização e prefácio) (1991)
- Triunfo do Rosário: repartido em cinco autos de Sóror Maria do Céu. Lisboa: Quimera (Tradução e apresentação) (1992)
- A Casa das Musas: uma releitura crítica da tradição. Lisboa: Editorial Estampa (1995)
- O Ladrão Cristalino: aspectos do imaginário barroco. Lisboa: Edições Cosmos (1997)
- Frutas do Brasil numa nova, e ascetica monarchia, consagrada à Santíssima Senhora do Rosário de António do Rosário. Lisboa: Biblioteca Nacional (2002)
- Poesia Incurável: aspectos da sensibilidade barroca. Lisboa: Editorial Estampa (2003)
- Interfaces do Olhar - Uma Antologia Crítica / Uma Antologia Poética. Lisboa: Roma Editora (2004)
- Obrigatório não ver. Lisboa: Quimera (2009)
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- 1974 - C.S.S. [15]
- 1974 - 5 Exercícios de Animação [15]
- 1974 - Fragmentos de Animação [15]
- 1974 - Sopro 57-AN-39 [15]
- 1975 - Revolução [16]
- 1976 - Diga-me, O Que É A Ciência? - I [17]
- 1976 - Diga-me, O Que É A Ciência? - II
- 1977 - Música Negativa [18]
- 1977 - Rotura [19]
- 1979 - Obrigatório Não Ver: Episódios - Performance de Emília Nadal [15]
Prémios e Reconhecimento
[editar | editar código-fonte]A 10 de Junho de 2009, foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.[20]
Foi premiada com:
- 1978 - Foi agraciada pela Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro, com a Medalha Oskar Nobiling [21]
- 1998 - Ganhou o Prémio de Ensaio da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) [21]
- 1999 - Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português, pelo seu livro Rikeana
- 2000 - Ganhou o Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores com o livro O Ladrão Cristalino [22]
- 2003 - Prémio de Poesia Evelyne Encelot, em França [22]
- 2003 - Prémio Hannibal Lucic, na Croácia [21]
- 2003 - Prémio da Crítica, atribuído pela secção portuguesa da Associação Internacional dos Críticos Literários, pelo seu livro o Pavão Negro [23][22]
- 2012 - Foi agraciada, in memoriam, com o Prémio Femina por mérito na Literatura [24]
Referências
- ↑ Diário da República (30 de maio de 1992). «Universidade Nova de Lisboa, Reitoria, Por despacho do vice-reitor de 13-5-1992, página 5040» (PDF). files.diariodarepublica.pt. Consultado em 17 de fevereiro de 2024
- ↑ a b c Vanessa Rato e Luís Miguel Queirós (5 de agosto de 2015). «Morreu Ana Hatherly, a pintora da palavra». publico.pt. Consultado em 18 de fevereiro de 2024
- ↑ «Ana Hatherly»
- ↑ «Ainda a Coleção e os seus artistas | Poesia e Revolução com Ana Hatherly – Bienal de Cerveira». www.bienaldecerveira.pt. Consultado em 23 de abril de 2024
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de. «Ana Hatherly - Por Outro Lado - Magazines - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 23 de abril de 2024
- ↑ «Ana Hatherly»
- ↑ [1] Arquivado em 24 de setembro de 2011, no Wayback Machine. Biografia no site Mulheres portuguesas do século XX
- ↑ Álvaro de Matos (24 de Junho de 2008). «Ficha histórica: 57: folha independente de cultura» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 30 de Janeiro de 2015
- ↑ JOEL, António Augusto (2023). Attila Mendly de Vétyemy, Um Pintor Húngaro na Lezíria. Benavente: Museu Municipal de Benavente / Município de Benavente. p. 105-111. ISBN 978-989-8495-14-3
- ↑ Batel, Joana (maio de 2010). «Ana Hatherly». Fundação Calouste Gulbenkian. Consultado em 3 de novembro de 2021
- ↑ «Poema da Semana - Auto-retrato, Ana Hatherly». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 7 de novembro de 2021
- ↑ [2] Arquivado em 24 de setembro de 2011, no Wayback Machine. Obra no site Mulheres portuguesas do século XX
- ↑ «Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Fidelizarte. «Ana Hatherly». Portal da Literatura. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ a b c d e «Ciclo de filmes de Ana Hatherly». Museu Calouste Gulbenkian. Consultado em 19 de abril de 2023
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Revolução». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Diga-me, O Que É A Ciência? - I». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Música Negativa». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Rotura». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Ana Hatherly". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 7 de junho de 2015
- ↑ a b c português, Author : pen clube. «Ana Hatherly: entre a pintura e a poesia – PEN Clube Português» (em inglês). Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ a b c Lusa. «Ana Hatherly recebe Prémio da Crítica 2003». PÚBLICO. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Queirós, Vanessa Rato, Luís Miguel. «Morreu Ana Hatherly, a pintora da palavra». PÚBLICO. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ «Prémio Femina 2012 :: Premio-Femina». premio-femina8.webnode.pt. Consultado em 28 de dezembro de 2020
Ligação Externas
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