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Andreas Stocklein

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Andreas Stöcklein na Galeria Ratton

Artista plástico, nascido na Alemanha, em 1957, aí viveu até a mãe se mudar com ele para Angola, onde trabalhava o pai; até 1962, viveu em Luanda.

Formou-se em escultura e pintura, de 1977 a 1982, na Academia de Belas Artes de Dusseldorf [1]; nesse último ano, no âmbito de duas viagens escolares de alguns meses, fez pesquisa sobre Land Art na serra da Arrábida e aí se exercitou na pintura explorando materiais naturais.

No ano seguinte, inicia-se na aprendizagem de técnicas de azulejaria e estabelece-se em Portugal. Trabalha em restauro e reprodução de azulejo tradicional em Lisboa, na empresa Azularte.

A par da execução de trabalhos de restauro – de que são exemplo os desenvolvidos nos jardins do Palácio de Queluz (primeiro trabalho), na igreja do castelo de Sesimbra ou nas igrejas dos Cardaes e de Marvila -, explora as suas próprias formas de expressão através da arte azulejar, numa perspectiva contemporânea e conceptual, dominando materiais, cores, figurações, texturas, cores e ornatos. Em 2005, numa entrevista à RTP afirma «gosto de adequar os materiais que uso àquilo que quero transmitir (…) o material tem peso na comunicação»[2].

Em 1987, criou, na praia de Odeceixe, o marcante projecto temporário Membrana — Da Transparência do Solo, «uma estrutura construída em madeira, de 30 m de diâmetro, em forma de espelho parabólico, mas que aparenta ter o seu ponto focal no subsolo»[3], que integrava instalações e objectos em azulejo no subsolo. A intervenção artística, que demorou 2 anos a concretizar, foi habitada por pessoas que iam à praia e foi criada com o fim de alterar os caminhos das pessoas que por aí circulavam.

Em 1988, instala o seu atelier em Setúbal e cria obras de pintura e cerâmica.

A partir de 1990, passa a ser representado pela Galeria Ratton, e aí realiza a sua marcante exposição individual Do Barroco à Subversão, na qual é clara a sua opção pela reinvenção do azulejo. Destacou do barroco, por exemplo, os querubins, recriados em diversos tondo. É artista residente da galeria, com a qual manteve forte vínculo, e onde expôs com regularidade e realizou projectos para diversos locais privados e públicos.

Em 1992, desenvolve um projecto na Alemanha que «culmina com a apresentação da exposição 3,1416º K, Artcore, em Monchengladbach.»[4]

Em 2001, recebeu, com a Galeria Ratton, o Prémio Jorge Colaço de Azulejaria da cidade de Lisboa 2000, pelo seu trabalho na Faculdade de Direito de Lisboa (produção Ratton Cerâmicas).

Em 2017, recebeu o prémio anual da SOS-Azulejo de melhor obra artística pela sua criação no Túnel do Quebedo em Setúbal. Nessa encomenda da Câmara Municipal de Setúbal, são homenageados cinco poetas/escritores com forte ligação à cidade do Sado: José Afonso, Luiz Pacheco, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Sebastião da Gama e Vasco Mouzinho de Quevedo.

Obras em destaque

Diversas obras na sua carreira, sobretudo em azulejo – em arte pública e em imóveis privados -, mas também em instalação, tela e desenho a carvão e tinta da China, merecem destaque:

Quatro Estações, 1989

- o mural «Quadro Estações», no Largo da Boavista, em Palmela, de 1989, com um «efeito ilusório de trompe l’oeil, tão apreciado pelo espírito barroco[5]»;

- três painéis azulejares As estruturas virtuais do silêncio para o edifício Embaixador (Lisboa), do arquitecto Armando Fernandes[6];

- o interior da Cervejaria Ribadouro, em Lisboa, datado de 1993;

A justiça é cega (pormenor)

- a intervenção «A justiça é cega» na Faculdade de Direito de Lisboa, de 1999/2000;

- em Alfragide, o painel para o altar-mor da Igreja da Divina Misericórdia[7], de 2010;

Estação ferroviária de Campolide (pormenor)

- os painéis na estação ferroviária de Campolide (Lisboa), em 1999;

Metro Rathaus, Essen (pormenor)

- a estação de Metro Rathaus em Essen (Alemanha) de 2014–2016, processo de criação e execução/produção demorado e exaustivo[8];

- Túnel do Quebedo[9], Setúbal.

Acerca da obra para a Estação de Campolide, onde se encontra um Ícaro contemporâneo, Stöcklein afirmou que o tema era a «viagem sem fim» e «O que eu queria era tornar esse “não-lugar” num lugar, torná-lo num espaço identificável, e penso que isso vai acontecer com o tempo. (…) O meu objetivo era partir de um espaço despersonalizado e dar-lhe um pouco mais de cor, ou melhor, dar-lhe um carácter lúdico.[10]»

Em 2023, os 40 anos de presença do artista em Portugal, foram comemorados com duas exposições: a Sobre a Linha do Horizonte – Andreas Stöcklein na Colecção Ratton no Museu Nacional do Azulejo e, na Galeria Ratton, a exposição O Outro Lugar. Conversas Interiores.

Nesse mesmo ano, foi-lhe atribuído pelo SOS-Azulejo o Prémio Obra de Vida 2022.

Andreas Stöcklein faleceu em Lisboa (Portugal), a 13 de Julho de 2024. Era doutorando no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.[11]

Referências

  1. MECO, José (1990). Andreas Stöcklein: Do Barroco à subversão. Lisboa: Galeria Ratton. p. desdobrável 
  2. Aberta, Universidade (21 de Junho 2005). «Entre Nós: entrevista a Andreas Stöcklein». Consultado em 21 de Julho de 2024 
  3. CABRAL, Rosa Coutinho (s/d). «Membrana - Da transparência do solo | Andreas Stöcklein, 1987». Homeless Monalisa, revista do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Consultado em 21 de Julho de 2024 
  4. Portugal, Infraestruturass de (15 de Julho de 2024). «Homenagem a Andreas Stöcklein (1957-2024)». Consultado em 21 de Julho de 2024 
  5. SERRÃO, Vitor, MECO, José (2007). Palmela Histórico-Artística. Um inventário do Património concelhio. Lisboa/Palmela: Edições Colibri/ Câmara Mun. Palmela. p. 260. ISBN 978-972-772-765-0 
  6. FERNANDES, Armando, STÖCKLEIN, Andreas (1997). «Edifício Embaixador». Lisboa. Jornal de Arquitectos. ISSN0870-1504 (N. 176-177): 27 
  7. Alfragide, Paróquia de (17 de Julho de 2024). «Faleceu o autor do painel da Igreja da Divina Misericórdia». Consultado em 21 de Julho de 2024 
  8. ARTIS – Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Az – Rede de Investigação em Azulejo | (8 de Novembro de 2023). «AzLab#89 | Podcast | Andreas Stöcklein». Consultado em 21 de Julho de 2024 
  9. Ratton Cerâmicas, Tiago Montepegado (13 de Julho de 2016). «Galeria Ratton apresenta trabalho de Andreas Stöcklein TÚNEL DO QUEBEDO, Setúbal 2016». Consultado em 21 de Julho de 2024 
  10. FERNANDES, Francisco Vaz (2000). Sem margens : intervenções plásticas nas estações da travessia ferroviária Norte-Sul. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional, REFER EP. pp. 127–128. ISBN 972-98557-1-4 
  11. PARENTE, Catarina, NOGUEIRA; Cristiana (2022). Motel Coimbra N.5. Coimbra: Colégio das Artes Universidade de Coimbra. p. 17-19. ISBN 978-989-54713-5-5 
  • CABRAL, Rosa Coutinho in Homeless MonaLisa, Revista do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra (consultado a 21 de Julho de 2024)
  • FERNANDES, Armando, STÖCKLEIN, Andreas (1997). «Edifício Embaixador». Lisboa. Jornal de Arquitectos. ISSN 0870-1504 (N. 176-177): 27
  • FERNANDES, Francisco Vaz (2000). Sem margens: intervenções plásticas nas estações da travessia ferroviária Norte-Sul. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional, REFER EP.
  • MECO, José (1990). Andreas Stöcklein: Do Barroco à subversão (desdobrável da exposição), Lisboa: Galeria Ratton
  • MECO, José - Andreas Stöcklein: entre Setúbal e a Ratton, in Artes Plásticas, Lisboa – A.1, N.1. (Julho 1990), p. 55
  • PEREIRA, Fernando António Baptista - «Do lugar e dos espaços. Uma reflexão sobre os azulejos de Andreas Stöcklein», in O Quadrado é Branco – Azulejos (desdobrável da exposição), Lisboa: Galeria Ratton Cerâmicas, 2000
  • SERRÃO, Vítor; MECO, José (2007) - Palmela Histórico-Artística. Um inventário do Património concelhio, Palmela/Lisboa: C.M. Palmela/Ed. Colibri ISBN 978-972-772-765-0