Saltar para o conteúdo

António Gancho

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
António Gancho
Nome completo António Luís Valente Gancho
Nascimento 1940
Évora
Morte 2 de Janeiro de 2005
Sintra

António Luís Valente Gancho, mais conhecido como António Gancho (Évora, 1940 - Sintra, 2 de Janeiro de 2006), foi um poeta português. Fez parte do grupo do Café Gelo, em conjunto com grande figuras da literatura nacional, como Mário Cesariny e Herberto Helder,[1] tendo sido considerado por este último como como uma das melhores vozes na poesia portuguesa.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu na cidade de Évora, em 1940.[3] Durante a sua infância foi amigo dos conhecidos pintores eborenses Álvaro Lapa, Joaquim Bravo e António Palolo.[4] Já então demonstrava interesse pela escrita, tendo Álvaro Lapa recordado em 1993 que «era ele quem escrevia versos, mais nenhum de nós sabia fazer aquilo assim, com aquela espontaneidade».[4] Com cerca de dezasseis anos mudou-se para Lisboa com a sua família.[4]

Ao longo da sua vida lutou contra doenças psicológicas, tendo passando cerca de quatro décadas em instituições de saúde mental.[4] Tentou suicidar-se várias vezes, tendo a primeira tentativa sido aos vinte anos, sendo logo de seguida internado no Hospital Júlio de Matos, onde foi classificado como esquizofrénico.[4] Pouco tempo depois passou para o Hospital Miguel Bombarda.[4] Em Janeiro de 1967 foi internado na Casa de Saúde do Telhal, nas imediações de Sintra,[4] onde ficou até ao seu falecimento.[3] António Lapa criticou duramente o tratamento que o poeta recebeu ao longo da sua vida, tendo comentado que «foi muito mal tratado pela sociedade. É mais um caso de abuso psiquiátrico, de miséria nacional e institucional».[5]

Na capital frequentou o Café Gelo, no Rossio, onde conviveu com grandes figuras do surrealismo português, como os poetas Mário Cesariny e Herberto Helder.[3] Este grupo teve um impacto considerável sobre a sua obra, podendo-se distinguir alguns traços de lirismo e ironia típicos do surrealismo.[4]

Escreveu apenas duas obras, O Ar da Manhã, publicada em 1995, e a novela erótica As Dioptrias de Elisa, lançada em 1996.[4] A obra O Ar da Manhã é considerada como a sua principal,[5] sendo composta por quatro livros, escritos entre 1967 e 1985.[5] Ambas foram redigidas na Casa de Saúde do Telhal, e publicadas pela editora Assírio & Alvim.[4] Em 1985 também foi publicada uma antologia da sua obra por Herberto Helder, com o título de Edoi Lelia Doura, e editada pela Assírio & Alvim.[4] Herberto Helder baseou esta antologia num conjunto de 36 poemas que António Gancho lhe entregou, em 1973.[4] Escreveu igualmente alguns poemas por encomenda no Telhal, principalmente de inspiração religiosa.[4] Entrevistado pelo jornal Público, referiu que «dá-me para um maço de tabaco. Eu escrevo qualquer coisa. O autor deve ser digno de tudo, de toda a espécie de literatura».[4] Em 2022, a obra O Ar da Manhã foi reeditada pela Assírio & Alvim.[2] Foi classificado por Manuel Rosa, daquela casa editora, como «um homem de grande lucidez poética».[5]

Morreu 2 de Janeiro de 2006,[6] aos 65 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco.[4] O funeral foi realizado no Cemitério de Benfica, em Lisboa.[4] António Lampreia, da Assírio & Alvim, classificou António Lampreia como «um poeta esquecido».[4]

Referências

  1. «António Gancho». Almedina. Consultado em 9 de Julho de 2024 
  2. a b «Três poemas para recordar António Gancho». Bertrand. 17 de Novembro de 2022. Consultado em 9 de Julho de 2024 
  3. a b c «António Gancho». Porto Editora. Consultado em 9 de Julho de 2024 
  4. a b c d e f g h i j k l m n o p q GOMES, Kathleen (4 de Janeiro de 2006). «António Gancho (1940-2005) O poeta desapareceu na noite». Público. Consultado em 9 de Julho de 2024 
  5. a b c d LUCAS, Isabel (4 de Janeiro de 2006). «Morreu o "poeta nocturno"». Diário de Notícias. Consultado em 9 de Julho de 2024 
  6. «António Gancho». Bertrand. Consultado em 9 de Julho de 2024