Saltar para o conteúdo

Apresentação no Templo (Álvaro Pires)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Apresentação no Templo
Apresentação no Templo (Álvaro Pires)
Autor Álvaro Pires de Évora
Data 1430
Técnica têmpera e ouro sobre madeira
Dimensões 34 cm × 40,3 cm 
Localização Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

A Apresentação no Templo é uma pintura a têmpera e ouro sobre madeira pintada cerca de 1430 pelo pintor português do período do gótico Álvaro Pires de Évora que se destinou a decorar presumivelmente uma igreja em Pisa e que se encontra actualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

A pintura representa o episódio bíblico da Apresentação de Jesus no Templo. Em conformidade com o rito judaico de purificação, quarenta dias após o parto, Maria levou Jesus ao Templo. A idosa profetisa Ana que segura um pergaminho reconhece-o como o redentor de Israel.[1]

A Apresentação no Templo é provavelmente da base (predela) de um retábulo complexo que foi pintado para uma igreja de Pisa. A sua qualidade é superior à maioria das pinturas de Álvaro Pires, pintor português ativo na Toscânia. Claramente, o artista conhecia o trabalho dos principais pintores em Florença, incluindo Lorenzo Monaco, a quem a pintura havia anteriormente sido atribuída.[1]

O crítico de arte italiano Federico Zeri, em 1973,[2] considerou esta obra de Álvaro Pires como sendo um painel da predela de um retábulo de que ele identificou cinco outras componentes: dois pináculos que representam a Anunciação (que está na Gemäldegalerie de Berlim), e três painéis das pilastras que representam São Jerónimo (que está no Museu do Louvre, Paris), São Ranieri (que esteve antes numa coleção particular de Florença), e uma figura que com dúvida identifica como o Beato Lucchese (que está no Museu Nacional de Pisa). Zeri considerou que a presença de S. Ranieri, santo padroeiro de Pisa, indica que provavelmente o Retábulo foi destinado a esta cidade e atribuiu-o a um artista desconhecido, próximo, mas superior, a Álvaro Pires, influenciado por Lorenzo Monaco e Paolo Schiavo, e muito semelhante ao Mestre do Bambino Vispo.[1]

Autoria[editar | editar código-fonte]

Roberto Longhi, em 1960,[3] rejeita a atribuição da autoria a Lorenzo Monaco, propondo que se trata de uma das primeiras obras de Paolo Schiavo.[1]

Patrick Lindsay, em 1963,[4] aceita a atribuição a Lorenzo Monaco, afirmando que muitos a consideravam a obra mais destacada da colecção dos Spencer-Churchill.[1]

Arnauld Brejon de Lavergnée e Dominique Thiébaut[5] concordam na inclusão desta pintura e a Anunciação de Berlim na reconstrução proposta por Zeri, atribuindo o São Jerónimo do Louvre a um pintor da Tuscânia possivelmente próximo de Álvaro Pires e datando-o do primeiro quarto do século XV.[1]

O historiador de arte húngaro Miklós Boskovits[6] atribuiu a obra a Pires, juntamente com a Anunciação de Berlim e os outros painéis do mesmo retábulo. Mais tarde, em 1987,[7] aceita a reconstituição de Zeri e afirma que o Retábulo é muito provavelmente de Álvaro Pires, considerando-a uma das suas primeiras obras e datando-a de cerca de 1405-15.[1]

O historiador de arte Keith Christiansen[8] atribui a obra ao Mestre da Apresentação no Templo de Linsky e data-a por volta de 1430, afirmando que o autor poderia ser Álvaro Pires, mas que "mostra uma maior atenção aos detalhes descritivos e ao volume que normalmente se encontram nas suas pinturas" e aceitando a reconstituição de Zeri.[1]

Pier Paolo Donati[9] afirma que o historiador de arte italiano Luciano Bellosi associava o grupo de imagens de Zeri ao Mestre de Bibbiena.[1]

Andrea De Marchi[10] considera o retábulo reconstituído por Zeri superior a esta obra de Pires que entende ser obra de um aluno não identificado; identifica o painel de Pisa como representando o Beato Gherardo da Villamagna, o que sugere uma origem franciscana para o retábulo, mas a presença de S. Ranieri invalida tal conclusão.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Foi a seguinte a sequência de proprietários conhecidos da obra:[1]

  • Pertenceu a John Rushout, 2º Barão de Northwick, que faleceu em 1859, tendo a sua herança sido vendida neste ano;
  • Foi comprada como sendo obra de Giotto, por £74.11 libras, pelo sobrinho do anterior, George Rushout Bowles, 3º Barão de Northwick (f. 1887), e pertenceu depois à viúva deste Elizabeth Augusta Bowles (f. 1912);
  • Pertenceu depois ao neto desta, o capitão Edward George Spencer-Churchill (f. 1964), como sendo obra de Lorenzo Monaco; o património deste foi vendido pela Christie's, em Maio de 1965, como sendo obra de Lorenzo Monaco;
  • Foi comprada pelo coleccionador norte-americano Jack Linsky, de Nova Iorque (f. 1980); a esposa deste, Belle Linsky, cedeu-o em 1982 ao Metropolitan Museum of Art.

Exposições[editar | editar código-fonte]

A Apresentação no Templo de Álvaro Pires esteve exposta nas seguintes de exposições:[1]

  • 1882 - Em Worcester, no Exhibition Building, denominada "Worcestershire Exhibition", como sendo obra de Giotto, emprestada pelo Barão de Northwick.
  • 1930 - Em Londres, na Royal Academy of Arts, denominada "Italian Art, 1200–1900," de 1 de Janeiro a 8 de Março de 1930, como sendo obra de Lorenzo Monaco, cedida pelo capitão E. G. Spencer-Churchill.
  • 1960 - Em Londres, na Royal Academy of Arts, denominada "Italian Art and Britain", no inverno de 1960, como sendo obra de Lorenzo Monaco, cedida pelo capitão E. G. Spencer-Churchill.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j k l Ficha sobre a obra na página web do Metropolitan Museum of Art, [1]
  2. Federico Zeri, "Qualche appunto su Alvaro Pirez." Kunsthistorischen Institutes in Florenz 17, no. 2–3 (1973), pp. 364, 366–70, figs. 6, 9 [[2]]
  3. Roberto Longhi, "Uno sguardo alle fotografie della Mostra 'Italian Art and Britain'", Paragone, 11 Maio de 1960), p. 60, pl. 42.
  4. Patrick Lindsay, Great Private Collections. Ed. Douglas Cooper. Nova Iorque, 1963, pp. 42, 44, 49
  5. Arnauld Brejon de Lavergnée e Dominique Thiébaut, Catalogue sommaire illustré des peintures du musée du Louvre, Vol. 2, Italie, Espagne, Allemagne, Grande-Bretagne et divers, Paris, 1981, p. 255
  6. Carta a Keith Christiansen, de 19 de Março de 1983
  7. Boskovits, Gemäldegalerie Berlin, Katalog der Gemälde: frühe italienische Malerei. Ed. Erich Schleier. Berlim, 1987, pp. 4–5, fig. 5
  8. Keith Christiansen, The Metropolitan Museum of Art: Notable Acquisitions, 1983–1984. New York, 1984, p. 45
  9. Pier Paolo Donati, "Il Maestro di Bibbiena: tra Lorenzo Monaco e Alvaro Pirez.", Paragone, n. 42 (Novembro de 1991), p. 61
  10. Andrea De Marchi, Sumptuosa tabula picta: Pittori a Lucca tra gotico e rinascimento. Ed. Maria Teresa Filieri, Museo Nazionale di Villa Guinigi, Lucca, Livorno, 1998, pp. 282, 285

Outra bibliografia[editar | editar código-fonte]

Outra referências bibliográficas:

  • A Catalogue of the Pictures, Works of Art, & c. at Northwick Park, 1864, p. 12, no. 90, que considera a obra como sendo da autoria de Giotto.
  • Arundel Club. Publications (1913), unpaginated, no. 1, ill., que intitula como "The Dedication in the Temple," por Lorenzo Monaco, na colecção de E. G. Spencer-Churchill.
  • Tancred Borenius. Catalogue of the Collection of Pictures at Northwick Park. Londres, 1921, p. 25, no. 48, como sendo de Lorenzo Monaco.