Saltar para o conteúdo

Arnelliaceae

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaArnelliaceae
Taxocaixa sem imagem
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Marchantiophyta
Classe: Jungermanniopsida
Ordem: Jungermanniales
Família: Arnelliceae
Nakai

Arnelliace é uma família pertencente à  maior ordem das hepáticas, a Jungermanniales, da classe Jungermanniopsida.[1] Estudos mais recentes (com dados moleculares) apontam que ela seria monogenérica, formada apenas pelo gênero Arnellia com apenas uma só espécie catalogada, a Arnellia fennica.[2][3][4] A ocorrência somente dessa espécie, limita Arnelliaceae aos Alpes e regiões árticas europeias e norte-americanas.[3][4][5][6]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Como é típico das hepáticas são vegetais bem pequenos (cerca de 1,3 cm). Sua coloração é predominantemente verde, mas podem ser marrom ou avermelhada e até mesmo esbranquiçada.[7][8] Possuem ramos intercalares, sem estolões que, neste caso, seriam cauloides de crescimento horizontal.[8] Seus filídios (as expansões fotossintéticas das hepáticas, como folhas) são súcubos (parte de um é coberta pelo posterior), opostos e unidos pela base dorsal, com um aspecto que varia de discoide até oval, com o ápice rômbico (formato de um losango) e de margem inteira.[8][9]

Em suas células, as parede são finas ou com ângulos espessados, chamados trigônios.[8][10] São alongadas na base do arquegônio (ventre, da estrutura reprodutiva feminina). Constituem uma cutícula lisa ou papilosa. E há óleos de corpos granulares que são em 3-10 corpos por célula.[7][8][11]

Diferentemente do que ocorre em outras Jungermanniales, não possuem anfigastros (filídios modificados em apêndices no ventre e base do cauloide) e rizóides são raros.[8]

Os gametângios estão abaixo de pequenos ramos laterais. O esporófito surge de um marsúpio ou perianto. Em uma secção transversal da seta (haste que expõe a cápsula de esperma no ápice do esporófito) há muitas células. Essa cápsula é alongada e de 2 camadas epidérmicas.[8][12]

Taxonomia e Filogenia[editar | editar código-fonte]

Foi descrita pela primeira vez por Takenoshin Nakai, que publicou tal achado em seu livro Ordines, Familiae, Tribi, Genera (1943).[13] Inicialmente era majoritariamente defendido que esta família era formada por três gêneros: Arnellia; Gongylanthus; Southbya. Posteriormente a inclusão dos gêneros Stephaniella e Stephaniellidium foi defendida por vários autores, baseados na posição aninhada de Stephaniella entre Southbya e Gongylanthus.[1][2]  No entanto, isso foi fruto de um erro na identificação de um espécime que na verdade era um Gongylanthus liebmannianus. Molecularmente, a necessidade de mais dados dificulta estabelecer a suas relações filogenéticas, mas não há evidências que suportem sua colocação em Arnelliaceae ou até em  Southbyaceae.[14] Sua morfologia indica que estão mais próximas da família Gymnomitriaceae e por isso foram dispostas nela em 1984 por Schuster, sendo considerado que elas são próximas filogeneticamente, mesmo depois de 2002, quando ele mesmo as elevou de subfamília (Stephanielloideae) a família Stephaniellaceae.[2]

Com a apuração de dados moleculares (e mesmo morfológicos), os estudos passaram a defender que esses cinco gêneros juntos seriam polifiléticos e deveriam ser inseridos em famílias diferentes.[2] Por isso, no decorrer dos anos, sua diversidade taxonômica foi cada vez mais sendo diminuída e essa classificação foi mais considerada até o ano de 2016.[2][3][4][6][15] Nos anos seguintes a 2012, esta família até então compreendia os cinco gêneros já ditos com uma espécie em cada um. Ocorriam propostas de aceitar apenas o gênero Arnellia Lindb., com a espécie Arnellia fennica (Gottsche & Rabenh.) Lindb., como natural da família. Arnellia seria  grupo-irmão  de Gyrothyra/Harpanthus, das famílias Gyrothyraceae e Harpanthaceae. Southbya é irmã de alguns Gongylanthus, formariam Southbyaceae que é irmã de Geocalycaeae.[2] A partir de 2017 esse resultado começou a ser difundido.[2][3][5]

A filogenia abaixo representa bem simplificadamente como Arnelliaceae está posicionada dentro das hepáticas e como se relaciona com essas outras famílias que passaram a abranger os gêneros em seu rearranjo.[2][16]

Marchantiophyta
Jungermanniopsida
Jungermaniales

Solenostomataceae

Gymnomitriaceae

Harpanthaceae

Gyrothyraceae

Arnelliaceae

Arnellia fennica

Southbyaceae

Geocalycaceae

Ocorrência[editar | editar código-fonte]

No Brasil[editar | editar código-fonte]

Pelas propostas de classificação mais recentes, não há incidência da família no Brasil, estando limitada mais ao norte do hemisfério norte. Mas pela taxonomia antiga, a família teria as espécies Gongylanthus liebmannianus e Southbya organensis. Destas, nenhuma é endêmica, ou seja, exclusiva do Brasil.[3][5][6][8] A Gongylanthus liebmannianus é encontrada nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, enquanto a Southbya organensis só é conhecida no Espírito Santo.[8]

Domínios[editar | editar código-fonte]

Essas espécies que representavam a família no Brasil são naturais da Mata Atlântica (em áreas florestais).[8] Porém, Arnellia está em todo o hemisfério norte, sobretudo em áreas acima do trópico de Câncer. Pela classificação antiga, Arnelliaceae apresentava uma distribuição cosmopolita, isto é, por todo o planeta. Gongylanthus está concentrado no hemisfério Sul, na América, África e alcançando também a Europa pelo Mediterrâneo e Leste. Southbya é encontrado principalmente ao longo do Mediterrâneo, porém ocorrem em ilhas Atlânticas, Irlanda e Canal da Islândia. Stephaniella está presente na América do Sul e Central e chega até ao sul da África. Stephaniellidium tem uma abrangência geográfica mais restrita, apenas na América do Sul, em especial, Colômbia e Peru.[4][5][6]

Referências

  1. a b Crandall-Stotler, B. J., R. E. Stotler, and D. G. Long. 2009. Phylogeny and classification of the Marchantiophyta. Edinburgh Journal of Botany 66: 155–198.
  2. a b c d e f g h SHAW, Blanka et al. Phylogenetic relationships and morphological evolution in a major clade of leafy liverworts (phylum Marchantiophyta, order Jungermanniales): suborder Jungermanniineae. Systematic botany, v. 40, n. 1, p. 27-45, 2015.
  3. a b c d e Catalogue of Life. 2017 Annual Checklist: Arnelliaceae. Disponível em: http://www.catalogueoflife.org/annual-checklist/2017/browse/tree/id/bb9bc7dec2dec5a617f486f97385f17e. Acesso em: setembro de 2018.
  4. a b c d Catalogue of Life. 2016 Annual Checklist: Arnelliaceae. Disponível em: http://www.catalogueoflife.org/annual-checklist/2016/browse/tree/id/b92766f1b001d68a52c5de0e23baae49. Acesso em: setembro de 2018.
  5. a b c d Field museum: Botany Taxon Pages. Arnelliaceae. Disponível em: http://emuweb.fieldmuseum.org/botany/botanytaxon.php. Acessado em: setembro de 2018.
  6. a b c d Catalogue of Life. 2014 Annual Checklist: Arnelliaceae. Disponível em: http://www.catalogueoflife.org/annual-checklist/2014/details/database/id/74. Acesso em: setembro de 2018.
  7. a b Schofield, W.B. Arnelliaceae in Bryophyte Flora of North America. Missouri Botanical Garden. Disponível em: http://www.mobot.org/plantscience/BFNA/V3/ArneArnelliaceae.htm. Acesso em novembro de 2018.
  8. a b c d e f g h i j Peralta, D.F.; Souza, A.M.; Carmo, D.M.; Santos, E.L.D.; Valente, E.B.; Oliveira, H.C.; Lima, J.S.; Amelio, L.A.; Prochazka, L.S. Arnelliaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB97182>. Acesso em: 25 Set. 2018
  9. Sistemática de Criptógamas. Filídios. Disponível em: http://www.criptogamas.ib.ufu.br/node/467. Acesso em: setembro de 2018.
  10. BACH, Evelise; SANTOS, Rinaldo Pires dos. Histoquímica da parede celular dos Filídios de Frullania brasiliensis Raddi. Revista Brasileira de Biociências: Brazilian Journal of Biosciences. Vol. 5, supl. 1,(2007), p. 75-77, 2007.
  11. Wikcionário. Ventre. Disponível em: https://pt.wiktionary.org/wiki/ventre. Acesso em: setembro de 2018.
  12. Sistemática de Criptógamas. Esporófito. Disponível em: http://www.criptogamas.ib.ufu.br/node/462. Acesso em: setembro de 2018.
  13. Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Disponível em: <http://www.tropicos.org>. Acesso em: 29 Sep 2018.
  14. JUÁREZ-MARTÍNEZ, Catalina; OCHOTERENA, Helga; DELGADILLO-MOYA, Claudio. Cladistic analysis of the Stephaniellaceae (Marchantiophyta) based on morphological data. Systematics and biodiversity, v. 14, n. 1, p. 74-87, 2016.
  15. The Plant List. Arnelliaceae. Disponível em: http://www.theplantlist.org/1.1/browse/B/Arnelliaceae/. Acesso em: setembro de 2018.
  16. SÖDERSTRÖM, Lars et al. World checklist of hornworts and liverworts. PhytoKeys, n. 59, p. 1, 2016.