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Batalha de Wanat

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Batalha de Wanat
Guerra do Afeganistão

Soldados do exército dos EUA vigiando a Base Kahler no dia anterior a batalha.
Data 13 de julho de 2008
Local Província do Nuristão, Afeganistão
Desfecho Indeciso
  • Vitória tática da Coalizão
  • Vitória estratégica do Talibã
Beligerantes
 Estados Unidos

 Afeganistão

Insurgentes talibãs
Comandantes
Capitão Matthew Myer
Jonathan Brostrom  
Sheikh Dost Mohammad
Maulavi Uthman
Sadiq Munibullah
Unidades
2º Pelotão, Companhia Chosen Diferentes grupos insurgentes
Forças
Estados Unidos 48 soldados
24 soldados
Estados Unidos Apoio aéreo aproximado
200-500 combatentes
Baixas
Estados Unidos 9 mortos
Estados Unidos 27 feridos
4 feridos
Reivindicação americana:
21-65 mortos
45 feridos

A Batalha de Wanat ocorreu em 13 de julho de 2008, quando cerca de 200 insurgentes talibãs atacaram tropas americanas e afegãs perto de Quam, no distrito de Waygal, na província do Nuristão, no extremo leste do Afeganistão.[1]

O Talibã cercou a base remota e seu posto de observação, atacando-a a partir de Quam e das terras agrícolas circundantes, destruíram grande parte das munições pesadas americanas, atravessaram suas linhas e entraram na base principal antes de serem repelidos por artilharia e aeronaves. Os Estados Unidos alegaram terem matado pelo menos 21 combatentes talibãs, com nove soldados estadunidenses mortos e 27 feridos, e quatro soldados do Exército Nacional Afegão feridos.[1][2]

Investigações

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Um dos vários ataques a postos avançados remotos, a batalha de Wanat foi descrita como um dos mais sangrentos ataques do Talibã durante a guerra.[3] Em contraste com ataques anteriores, desde atentados bombistas à beira de estradas até emboscadas aleatórias, este ataque foi bem coordenado; os combatentes de diferentes grupos insurgentes conseguiram atingir com precisão equipamentos essenciais, como um lançador de mísseis filo-guiados, através de um esforço sustentado e disciplinado.

A batalha tornou-se foco de debate nos Estados Unidos gerando "um grande interesse e escrutínio entre profissionais militares e observadores externos", principalmente devido ao relativo "número significativo de baixas da coalizão".[1] Várias investigações foram empreendidas sobre os eventos que levaram à batalha. A investigação inicial foi concluída em agosto de 2008. Em julho de 2009, o senador James Webb solicitou que o Exército dos Estados Unidos investiga-se formalmente a batalha e a investigação anterior. O tenente-general Richard F. Natonski realizou outra investigação no final de 2009, que levou a ordens de repreensão para a cadeia de comando. Em junho de 2010, o Exército dos Estados Unidos revogou as reprimendas, declarando que não houve negligência e mencionando sobre os soldados que "pelo seu valor e sua habilidade, defenderam com sucesso suas posições e derrotaram um inimigo determinado, habilidoso e adaptável".

Em 2008, as forças da OTAN no sudeste do Afeganistão enviaram patrulhas de sub-companhias para a fronteira com o Paquistão para interromper o fluxo de fornecimentos para os talibãs provenientes das Território Federal das Áreas Tribais administradas pelo Paquistão.[4] Estas forças da ISAF estabeleceram pequenas bases de patrulha, que foram alvo de ataques regulares das forças talibãs.[5]

Uma recriação em vídeo da batalha feita pelo Exército dos EUA.

Por volta das 4h20 do dia 13 de julho, as forças talibãs abriram fogo contra a base com metralhadoras, lança-rojões RPG e morteiros. Outros 100 guerrilheiros atacaram o posto de observação a partir das terras agrícolas a leste.[6]

O ataque inicial atingiu o espaldão de morteiros da base operacional avançada (FOB), destruindo o morteiro de 120mm e detonando o estoque de munição de morteiro. Em seguida, os insurgentes destruíram o lançador de mísseis TOW montado no Humvee dentro do posto avançado de combate com fogo coordenado de foguetes não-guiados RPG. Em pouco tempo, as duas armas mais pesadas da base foram destruídas, com a subsequente explosão do morteiro de 120mm lançando mísseis antitanque contra o posto de comando da base.[7]

Do ponto de vista americano, a situação mais grave foi o ataque concentrado numa pequena equipa situada no pequeno posto de observação conhecido como "TOPSIDE", aninhado entre rochas debaixo de uma árvore localizada a 50-70m da base principal. O primeiro tiro atingiu com precisão, ferindo ou atordoando todos os soldados presentes. O Pfc. Tyler Stafford foi expulso de sua posição de metralhadora ao lado do Spc. Matthew Phillips, que continuou a lançar granadas contra os agressores antes de ser mortalmente ferido. O Cpl. Jason Bogar disparou centenas de tiros com seu fuzil-metralhador até que ele travasse, antes de cuidar dos ferimentos de Stafford. Depois que um RPG feriu o Sargento Ryan M. Pitts, Bogar aplicou um torniquete em sua perna antes de manejar outra arma. Bogar então saltou do bunker do posto avançado para chegar perto o suficiente para matar os insurgentes que atiravam contra os homens do hotel da vila. Uma vez fora do bunker, ele foi baleado no peito e morto. Os soldados sobreviventes correram do posto avançado para o posto principal, deixando Pitts para trás. Sozinho, Pitts conseguiu impedir que os talibãs tomassem a sua posição até que seus camaradas retornassem, duas horas depois, e ele fosse evacuado para receber cuidados médicos.[8] O Sargento Ryan M. Pitts receberia a Medalha de Honra pelos seus atos.[8]

Quatro soldados norte-americanos foram mortos nos primeiros 20 minutos de batalha – outro morreu depois – e pelo menos outros três ficaram feridos. Três vezes, equipes de soldados da base principal enfrentaram o fogo dos talibãs para reabastecer o posto de observação e transportar os mortos e feridos.[9][10]

As tropas americanas responderam com metralhadoras, granadas e minas Claymore. Os canhões de artilharia em Camp Blessing dispararam 96 tiros de obuses de 155mm. Os talibãs romperam brevemente o arame-farpado do posto de observação antes de serem rechaçados. Depois de quase meia hora de intensos combates no posto de observação, apenas um soldado – o Sgt. Pitts – permaneceu. Ele foi gravemente ferido e lutou sozinho até a chegada de reforços. Dois soldados norte-americanos, o comandante do pelotão, o 1º Tenente Jonathan P. Brostrom, de 24 anos e natural do Havaí, e o Cabo Jason Hovater, foram mortos ao tentar entregar munição ao posto de observação. Os soldados norte-americanos foram por vezes expulsos das suas fortificações pelo que consideraram serem granadas, mas que na verdade eram pedras atiradas pelos atacantes.[11][12] Brostrom, Hovater e outro soldado podem ter sido mortos por um insurgente que penetrou no perímetro do arame-farpado.[7]

Helicópteros de ataque AH-64 Apache e um drone não-tripulado Predator armado com mísseis Hellfire chegaram à base cerca de 30 minutos após o início da batalha. Durante a batalha, os soldados norte-americanos foram reabastecidos pelo helicóptero UH-60 Blackhawk com apoio de fogo dos AH-64 Apaches. As tropas feridas foram evacuadas para o vizinho Camp Wright, onde membros da Tropa E, 2/17 de Cavalaria, 101ª Divisão Aerotransportada esperariam para rearmar e reabastecer os UH-60 e AH-64. Mais tarde, um bombardeiro B-1B Lancer, um A-10 e um avião F-15E Strike Eagle foram chamados. Os militantes retiraram-se cerca de quatro horas depois.[11] Depois que os militantes recuaram, seguiram-se operações de limpeza e os talibãs retiraram-se da cidade.[6]

Nove soldados americanos foram mortos no ataque, principalmente no posto de observação.[13][14] Os americanos reivindicam que entre 21 e 65 militantes foram mortos e outros 20 a 40 feridos, mas as forças da Coalizão encontraram apenas dois corpos talibãs após a batalha.[6][12] O ataque teve o maior número de mortes de tropas americanas no país desde a Operação Red Wings, três anos antes.[15]

Referências

  1. a b c U.S. Army Combat Studies Institute (2010). «Wanat: Combat Action in Afghanistan, 2008» (PDF). U.S. Army Combined Arms Center (em inglês). Combined Studies Institute Press. Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 2 de dezembro de 2010 
  2. Tan, Michelle (30 de setembro de 2009). «Petraeus orders new investigation into Wanat». Military Times (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 2 de junho de 2012 
  3. Tavernise, Sabrina; Rahimi, Sangar (4 de outubro de 2009). «Attacks on Remote Posts Highlight Afghan Risks»Subscrição paga é requerida. The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2018 
  4. Roggio, Bill (14 de julho de 2008). «Joint al Qaeda and Taliban force behind Nuristan base attack | FDD's Long War Journal». Long War Journal (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 3 de agosto de 2008 
  5. Martinez, Luis (14 de julho de 2008). «Taliban Flexing Muscle in Afghanistan». ABC News (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 15 de julho de 2008 
  6. a b c Gall, Carlotta; Schmitt, Eric (15 de julho de 2008). «Taliban Breached NATO Base in Deadly Clash». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. OCLC 1645522. Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 14 de fevereiro de 2018 
  7. a b Shanker, Thom (3 de outubro de 2009). «U.S. Review of Battle Disaster Sways Strategy on Afghanistan». Hendersonville Times-News (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024 
  8. a b Carroll, Chris (23 de junho de 2014). «Soldier in storied Battle of Wanat to be given Medal of Honor»Subscrição paga é requerida. Stars and Stripes (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 25 de junho de 2014 
  9. Mraz, Steve (9 de julho de 2008). «Soldiers recount deadly attack on Afghanistan outpost». Stars and Stripes (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 10 de setembro de 2009 
  10. Harris, Kent (5 de julho de 2009). «NCO receives Silver Star for valor in '08 battle at Wanat». Stars and Stripes (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 19 de setembro de 2012 
  11. a b Schmitt, Eric (4 de novembro de 2008). «Afghan Officials Aided an Attack on U.S. Soldiers»Subscrição paga é requerida. The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2018 
  12. a b Harris, Kent; Giordono, Joseph (9 de novembro de 2008). «Report details attack on GIs in Afghanistan». Stars and Stripes (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2009 
  13. Departamento de Defesa (16 de julho de 2008). «DoD Identifies Army Casualties». U.S. Department of Defense (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 26 de julho de 2008 
  14. Bernardo, Rosemarie (17 de julho de 2008). «'True patriot' gives all in Afghanistan». Star Bulletin (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Arquivado do original em 20 de julho de 2008 
  15. Starr, Barbara (14 de julho de 2008). «'Heroic' fighting repels Afghan militants». CNN (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2024. Cópia arquivada em 17 de julho de 2008 
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Battle of Wanat».