Biojoias
Biojoias, que também podem ser conhecidas como ecojoias[nota 1] ou joias naturais, são acessórios desenvolvidos a partir de materiais orgânicos disponíveis na natureza.[1][2]
Os brincos, pingentes, anéis e outros adornos são feitos de forma artesanal utilizando distintas partes de plantas e passam por um tratamento que envolve sua desidratação e preparação para se tornar uma obra de design com fins estéticos. As matérias-primas podem ter origem nos mais diversos biomas. No caso do Brasil se destacam a Amazônia, o Cerrado[3] e a Mata Atlântica.[1]
Devido aos materiais utilizados na sua produção e ao fato dela ser feita em geral de forma artesanal, a confecção de biojoias pode ser uma opção de desenvolvimento econômico social e ambientalmente sustentável.[4][5] Só no Pará se estima que em 2021 tenham se comercializado cerca de R$ 4,4 milhões, segundo dados do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama).[2]
Governos locais, estaduais e organizações não-governamentais apoiam portanto várias iniciativas de produção de biojoais, como o projeto "Preciosidades da Amazônia", desenvolvido por artesãs de Parauapebas, no sudeste do Pará. Ou a iniciativa do Instituto Federal do Pará Campus Ananindeua, que apoia a produção e comercialização das biojoias por mulheres quilombolas de Abacatal, nas proximidades do instituto.[6] Essa possibilidade de gerar renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social é outro aspecto valorizado.[7] As populações tradicionais dos biomas fonte das matérias-primas são outro grupo que se pode beneficiar com o envolvimento na confecção e comercio das biojoias, dado seu conhecimento dos materiais necessários para a elaboração dos adornos.[8] Da mesma forma que diversos povos indígenas, como os Ticuna do Amazonas, Krahô do Tocantins e os Yanomami de Roraima, entre outros, em cujas comunidades há artesãos que integram redes de produção das biojoias, comercializadas em plataformas online.[9]
Matérias-primas[editar | editar código-fonte]
Como já referido, há uma grande diversidade de materiais orgânicos que podem ser utilizados na produção de biojoias. Podemos destacar os seguintes:
- A semente de jarina (Phytelephas macrocarpa), que por suas características aptas ao uso na confecção de biojoias (como brilho e maleabilidade) e semelhança com o marfim, é objeto de pesquisas, como a realizada por geólogos da Universidade Federal do Pará.[10]
- Sementes de tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer) e murumuru (Astrocaryum murumuru).[11]
- Sementes de tento-carolina (Adenathera pavonina), de cores fortes e textura atraente.
- Caroços de açaí (Euterpe oleracea), utilizados para fazer colares, por exemplo.[12]
- Sementes de inajá (Attalea maripa), bacaba (Oenocarpus bacaba) e olho de boi (Mucuna urens).[6][13]
- Sementes de paxiúba (Socratea exorrhiza).[14]
- Coco de Piaçava (Attalea funifera Martius), endêmica da Mata Atlântica.
- Sementes de olho de cabra (Ormosia fastigiata) e carrapicho-do-mato (Urena lobata) e folhas de minurinha (Chamaecrista orbiculata), típicas do Cerrado.[15][16][17][18]
- Pele de tilápia (Pseudocrenilabrinae), um interessante caso de biojoia que não se baseia em partes de alguma planta. Também se podem utilizar peles de pescada-amarela (Cynoscion acoupa), tainha (Mugilidae), corvina e gó (Cynoscion microlepidotus), como em projeto mantido por pescadores de Bragança, com tecnologia desenvolvida por um aluno do curso de Engenharia da Pesca da Universidade Federal do Pará (UFPA).[19]
- Chifre lapidado de boi (Bos taurus), exemplo de biojoia inspirada no bioma do Pantanal.[20]
Algumas artesãs que trabalham com biojoias: Maira Bello, artista indígena do povo Mura[21][22], a paraense Jacilene do Amor Divino[23], o paranaense Gabriel Virmond[24] e a designer manauara Maria Oiticica.[25]
Beneficiamento[editar | editar código-fonte]
Para estarem aptas a se manterem preservadas e poderem ser comercializadas, os materiais orgânicos utilizados para a confecção de biojoias podem passar por uma série de processos tais como a extração (que deve ser cuidadosa), a seleção, a esterilização, a polimerização ou desidratação, um banho de cobre e talvez outro de prata ou ouro.[15][16]
Distribuição e comercialização[editar | editar código-fonte]
Além das já citadas plataformas online, como a do Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB)[26], os adornos podem ser vendidos em feiras de artesanato, como a que acontece todos os anos paralela ao Círio de Nazaré, em Belém.[27] Biojoias também são vendidas como artigos de luxo, como é o caso daquelas da grife de Maria Oiticica, cujas lojas estão em shoppings de luxo e aeroportos.[14]
Já na Casa do Artesão de Cuiabá podem ser vistos alguns exemplos de biojoias feitas com sementes da região.[28]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b «Biojoias - O que são?». Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. 29 de abril de 2022. Consultado em 2 de maio de 2023
- ↑ a b «Produtos da floresta em pé: veja quanto o mercado de produção de biojoias fatura no Pará». Pará Terra Boa. 18 de janeiro de 2023. Consultado em 2 de maio de 2023
- ↑ «Artesãs de Barreiras comemoram primeira exportação de biojóias produzidas com sementes do cerrado». Prefeitura de Barreiras - BA. 25 de agosto de 2022. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Com apoio da Emater, artesão cria biojoias com sementes de açaí e muruci». Pará Terra Boa. 28 de janeiro de 2022. Consultado em 2 de maio de 2023
- ↑ Aguiar, Aritana (9 de janeiro de 2016). «Produção de 'biojoias' gera renda para artesãos da Flona do Tapajós». G1 Santarém e Região. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ a b Colares, Lívea (28 de novembro de 2022). «Projeto do IFPA Campus Ananindeua incentiva produção e comercialização de Biojoias». Instituto Federal do Pará. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Barros, Hilda (1 de março de 2023). «Mulheres utilizam produtos da natureza para confeccionar joias e garantir sustento da família». O Liberal. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Bezerra, Luciana (5 de junho de 2021). «Projeto de biojoias resgata autonomia financeira de povos tradicionais no Pará». Revista Cenarium. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Povos e Comunidades». Tucum - Marketplace das artes indígenas
- ↑ «Biojóia da Amazônia». revistapesquisa.fapesp.br. Março de 2007. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Artesão une sementes e sobras de madeiras nativas da floresta a ouro e prata para criar biojoias». Portal Amazônia. 8 de novembro de 2021. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «BioJoias – Prefeitura de Parauapebas». Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Flora e Funga do Brasil - Mucuna urens». floradobrasil.jbrj.gov.br. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ a b «Grife de Maria Oiticica, que cria acessórios a partir de fibras e sementes, participa de exposição em Dubai». O Globo. 28 de outubro de 2021. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ a b Marques, Augusto (20 de novembro de 2020). «Biojoias do Brasil: a importância do produto sustentável». Aurha. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ a b «Produção das Biojoias». www.biojoiasdocerrado.com.br. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Carrapicho-do-mato (Urena lobata)». PictureThis. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Silva Pereira, Benedito Alísio da (22 de abril de 2017). «Chamaecrista orbiculata (Benth.) Irwin & Barneby var. orbiculata». Árvores do Bioma Cerrado. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Pele de peixe é transformada em couro por artesãs de Bragança, PA». G1 Pará. 12 de dezembro de 2013. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Flores, Gabriela (10 de maio de 2012). «Biojoias levam beleza do Pantanal para o exterior». Exame (revista brasileira). Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Peixoto, Priscilla (25 de abril de 2023). «Artesã Maira Mura ministra oficina de biojoias no campus do Ifam». Agência Amazônia. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Tupinambá, Dora (7 de outubro de 2022). «Mostra de Arte Indígena da prefeitura de Manaus destaca cultura mura». Portal Valor Amazônico. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Cabral, Kélem (24 de maio de 2019). «Embrapa realiza curso sobre uso de sementes florestais como gema orgânica em Belém (PA)». Embrapa. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Gabriel Virmond - Biojóias». www.ecococoarts.com.br. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ Sousa Cruz, Olívia (25 de janeiro de 2020). «Maria Oiticica, a mulher por trás das biojóias». Olívia Garimpando Por Aí... Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém lança site de vendas de biojoias». Instituto Peabiru. 30 de junho de 2016. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Feira de Artesanato do Círio». Fundação Nazaré de Comunicação. Consultado em 4 de maio de 2023
- ↑ «Câmara Municipal de Cuiabá». Pontos Turísticos - Casa do Artesão (em Portuguese). Consultado em 4 de maio de 2023
Notas
- ↑ Ecojoias também podem se referir aquelas produzidas reutilizando materiais que seriam descartados, como embalagens plásticas.
Ligações Externas[editar | editar código-fonte]
Lista de algumas marcas de biojoias.
Site do Grupo de Artesanato de biojoias do Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB).