Boletus auripes
Boletus auripes | |||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Classificação científica | |||||||||||||||||
| |||||||||||||||||
Nome binomial | |||||||||||||||||
Boletus auripes Peck (1898) |
Boletus auripes | |
---|---|
Características micológicas | |
Himênio poroso | |
Píleo é convexo | |
Lamela é adnata | |
Estipe é nua | |
A cor do esporo é marrom-oliváceo | |
A relação ecológica é micorrízica | |
Comestibilidade: comestível |
A Boletus auripes é uma espécie de fungo boleto da família Boletaceae. Descrito pela primeira vez em Nova York em 1898, o fungo é encontrado no leste da Ásia, na América Central e no leste da América do Norte, do Canadá à Flórida. É uma espécie micorrízica e geralmente cresce em associação com carvalhos e faias.
Os basidiomas (cogumelos) formados pelo fungo têm píleos convexos a quase planos com até 13 cm de largura. O estipe têm até 10 cm de comprimento por 3 cm de espessura e apresenta reticulações (cristas em forma de rede) na parte superior. Com exceção do píleo marrom, toda a superfície do cogumelo é amarela. O cogumelo B. auripes é comestível. Ele pode ser distinguido de outros boletos amarelos semelhantes por diferenças na cor, no grau de reticulação do estipe e na distribuição.
Taxonomia
[editar | editar código-fonte]A espécie foi originalmente descrita pelo micologista americano Charles Horton Peck em 1898. Peck coletou o holótipo em Port Jefferson, Nova York.[1] Em 1945, Rolf Singer propôs a variedade Boletus auripes var. aureissimus como uma nova combinação do nome Ceriomyces aureissimus descrito por William Alphonso Murrill em 1938;[2] esse táxon é agora considerado uma espécie distinta sob o nome Boletus aureissimus.[3] Em 1936, Wally Snell relatou ter encontrado um espécime de Boletus crassipes, outra espécie descrita por Peck, em Mount Gretna, Pensilvânia. Snell sugeriu que, embora a B. crassipes pudesse ser uma espécie válida, diferenciada da B. auripes por uma cor marrom mais profunda do píleo, carne amarela que não desbota para branco e um estipe com uma cor mais amarelo-alaranjada e reticulação mais extensa, ele admitiu que não estava claro que as características morfológicas entre as duas não se sobrepunham e que seriam necessárias mais coletas para esclarecer quaisquer diferenças entre eles.[4] Alguns anos depois, ele estava mais convencido de sua posição e considerou os dois coespecíficos. As autoridades taxonômicas Index Fungorum e MycoBank, no entanto, não reconhecem essa sinonímia putativa.[5][6]
No gênero Boletus, a B. auripes é classificada na seção Appendiculati. As espécies dessa seção são caracterizadas por terem um píleo seco com uma textura na superfície que varia de lisa a um pouco tomentosa, carne amarela, um estipe reticulado e um sabor suave. Outros boletos norte-americanos dessa seção incluem Boletus speciosus e Butyriboletus regius.[7]
O epíteto específico auripes significa “pé amarelo dourado”. É comumente conhecido como “boleto de pé amanteigado” (butter-foot bolete).[8]
Descrição
[editar | editar código-fonte]O píleo da B. auripes tem um formato convexo antes de se achatar um pouco na maturidade e atinge um diâmetro de 4 a 13 cm. A superfície do píleo é seca, com uma textura que varia de finamente tomentosa (coberta com pelos curtos) a quase lisa, e coloração de marrom amarelado a marrom castanho ou marrom acinzentado. A cor do píleo desbota com a idade.[9] Da mesma forma, a carne - inicialmente amarela - desbota para esbranquiçada na maturidade.[10] Diferentemente de outras espécies de Boletus, na B. auripes nem a superfície nem o tecido interno ficam azuis quando feridos ou expostos ao ar. O odor e o sabor do cogumelo não são característicos.[9]
Inicialmente amarelo pálido a amarelo, a superfície dos poros desenvolve tons de oliva à medida que amadurece e, com frequência, torna-se deprimida perto da fixação ao estipe. Os poros são circulares a angulares e minúsculos, geralmente com menos de 1 mm de largura; os tubos têm de 1 a 2,5 cm de profundidade. O estipe amarelo-dourado tem de 7 a 10 cm de comprimento por 2 a 3 cm de espessura. Os estipes novos são tipicamente bulbosos ou em forma de taco, mas isso se equilibra um pouco à medida que o cogumelo cresce, e quando maduros os estipes apresentam forma de taco a quase iguais em largura em toda a extensão. O estipe é seco, sólido (não oco) e apresenta reticulação amarela, pelo menos na parte superior.[9] Os micélios na base do estipe têm uma cor bege.[11] O basidioma não tem um véu parcial nem um anel no estipe.[9] A Boletus auripes é comestível.[12][13]
Os cogumelos produzem uma esporada que é marrom-amarelada a marrom-oliva. Os esporos lisos e amarelados medem de 10 a 14 por 3 a 5 μm e variam em formato de aproximadamente elíptico a cilíndrico a subfusoide (um pouco fusiforme).[9] Os basídios (células portadoras de esporos) são em forma de taco, com quatro esporos e medem 27,2 a 35,2 por 9,6 a 10,4 μm. O arranjo celular da pileipellis é uma tricoderme (em que as hifas mais externas emergem aproximadamente paralelas, perpendiculares à superfície do píleo), consistindo de hifas eretas com um diâmetro de 3,2 a 6,4 μm.[11]
Espécies semelhantes
[editar | editar código-fonte]As características de campo usadas para distinguir a Boletus auripes de possíveis espécies semelhantes incluem a superfície do píleo marrom-amarelada a marrom-castanho que se torna mais pálida com a idade, carne amarela que não mancha de azul quando ferida e um estipe reticulado. A B. aureissimus tem uma aparência semelhante, mas tem um píleo amarelo mel a amarelo brilhante ou amarelo-ocre, reticulação do estipe menos visível e uma área de distribuição mais limitada, abrangendo do oeste da Flórida ao Texas. A B. aureissimus var. castaneus tem um píleo marrom-arroxeado com uma textura aveludada.[9]
A Boletus auripes se assemelha um pouco à B. aurantiosplendens, mas a última espécie tem um píleo de coloração mais variada que pode ser laranja, laranja amarronzado ou amarelado, e graus variáveis de reticulação do estipe.[14] A B. hortonii tem um esquema de cores semelhante, mas não tem reticulação no estipe.[8] A B. auripes tem uma semelhança superficial em termos de coloração com a espécie da Costa Rica B. lychnipes, conhecida apenas de uma área limitada no norte da Cordillera de Talamanca. A última espécie pode ser distinguida pela falta de reticulações na metade superior do estipe, uma reação de coloração marrom ou rosa-salmão no estipe em resposta ao manuseio e, microscopicamente, por uma margem estéril e pseudocistídios proeminentes.[15] A Retiboletus retipes se distingue da B. auripes por um píleo mais escuro, tubos que não têm uma coloração oliva e um estipe com reticulação mais proeminente que se estende até a base. Em contraste com a B. auripes, a Hemileccinum impolitum tem uma superfície de píleo flocosa (lanosa) ou tomentosa e não apresenta coloração oliva nos tubos.[7]
Habitat e distribuição
[editar | editar código-fonte]A Boletus auripes é micorrízica[8] e frutifica isoladamente, espalhada ou em grupos no solo sob árvores de folhas largas, especialmente carvalhos e faias,[9] mas também foi registrada em associação com o louro da montanha (Kalmia latifolia).[7] A espécie normalmente forma cogumelos entre junho e novembro.[9]
A Boletus auripes tem uma distribuição disjunta e é um dos vários fungos encontrados tanto no leste da Ásia quanto no leste da América do Norte. Na América do Norte, onde é relativamente comum, a área de distribuição se estende do Alasca até o México ao sul e à leste até Nova York.[7][9][16] Na América Central, foi registrada em Belize.[11] O cogumelo também foi registrado em Taiwan,[17] na China (incluindo Yunnan, Sichuan, Guangdong, Guangxi e Hunan) e no Japão.[18][19] Foi relatado pela primeira vez no Extremo Oriente Russo em 2008.[20]
Veja também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Peck CH. (1897). «Report of the State Botanist (1896)». Annual Report on the New York State Museum of Natural History. 50: 77–159 (see p. 107)
- ↑ Singer R. (1945). «New Boletaceae from Florida». Mycologia. 37 (6): 797–9. JSTOR 3755143. doi:10.2307/3755143. Consultado em 23 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 23 de setembro de 2015
- ↑ «Boletus aureissimus (Murrill) Murrill 1938». MycoBank. International Mycological Association. Consultado em 15 de agosto de 2024
- ↑ Snell W.H. (1936). «Notes on Boletes. IV». Mycologia. 28 (1): 13–23. JSTOR 3754063. doi:10.2307/3754063
- ↑ «Boletus crassipes Peck». Index Fungorum. CAB International. Consultado em 23 de agosto de 2024
- ↑ «Boletus crassipes Peck 1900». MycoBank. International Mycological Association. Consultado em 23 de agosto de 2024
- ↑ a b c d Snell, Walter; Dick, Esther A. (1970). The Boleti of Northeastern North America. Lehre, Germany: J. Cramer. pp. 74–5. ISBN 978-0854860166
- ↑ a b c Roody WC. (2003). Mushrooms of West Virginia and the Central Appalachians. Lexington, Kentucky: University Press of Kentucky. p. 300. ISBN 0-8131-9039-8
- ↑ a b c d e f g h i Bessette AE, Roody WC, Bessette AR (2000). North American Boletes. Syracuse, New York: Syracuse University Press. pp. 94–5. ISBN 9780815605881
- ↑ McIlvaine C, MacAdam RK (1912). One Thousand American Fungi. Indianapolis: Bobbs-Merrill. pp. 450–1
- ↑ a b c Ortiz-Santana B, Lodge DJ, Baroni TJ, Both EE (2007). «Boletes from Belize and the Dominican Republic». Fungal Diversity. 27 (2): 247–413 (see p. 284). ISSN 1560-2745
- ↑ Kuo M. (2007). «Boletus auripes». MushroomExpert.com. Consultado em 15 de agosto de 2024
- ↑ Phillips, Roger (2010). Mushrooms and Other Fungi of North America. Buffalo, NY: Firefly Books. p. 271. ISBN 978-1-55407-651-2
- ↑ Kuo M. (2003). «Key to Boletus in North America (Page Eight)». MushroomExpert.com. Consultado em 15 de agosto de 2024
- ↑ Halling RE, Mueller GM (1999). «New Boletes from Costa Rica». Mycologia. 91 (5): 893–9. JSTOR 3761543. doi:10.2307/3761543
- ↑ Jiménez JG, Ocañas FG (2001). «Conocimiento de los hongos de la familia Boletaceae de México» [Knowledge of the fungi family Boletaceae of Mexico]. Ciencia UANL (em espanhol). 4 (3): 336–44. ISSN 1405-9177
- ↑ Chen CM, Huang HW, Yeh KW (1997). «The Boletes of Taiwan (VII)». Taiwania. 42 (3): 174–9. ISSN 0372-333X
- ↑ Hongo T. (1970). «Notulae mycologicae. Part 9». Memoirs of the Faculty of Education Shiga University Natural Science (20): 49–54. ISSN 0488-6291
- ↑ Chen CM. «Boletus auripes». Taiwan Fungal Flora Knowledge. Bioresource Collection and Research Center. Consultado em 15 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 3 de março de 2016
- ↑ Bulakh EM. (2008). «Species of agaricoid fungi new for Russia and Russian Far East». Mikologiya i Fitopatologiya (em russo). 42 (5): 417–25. ISSN 0026-3648