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Carlos Renaux

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 Nota: Para outros significados, veja Carlos Renaux (desambiguação).
Carlos Renaux
Nascimento 11 de março de 1862
Morte 28 de janeiro de 1945
Cidadania Brasil
Filho(a)(s) Carlos Júlio Renaux
Ocupação político

Carlos Renaux, originalmente Karl Christian Renaux (Lörrach,[1] 11 de março de 1862Brusque, Santa Catarina, 28 de janeiro de 1945) foi um político, comerciante e industrial brasileiro, o fundador da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux em Brusque, no estado de Santa Catarina. O slogan do Centenário de Brusque de autoria do padre e cientista Raulino Reitz, "Brusque, Berço da Fiação Catarinense", foi inspirado e fundamentado no fato de a Fábrica Renaux ser a primeira indústria a instalar uma fiação em Santa Catarina.[2]

Imigrante alemão, filho de Johan Ludwig Renaux e de Sofia Ludin Renaux, Carlos Renaux foi um empresário admirado pela sua preocupação social, e com ideias avançadas no terreno das relações de trabalho.[3] Ao completar 20 anos de idade ele desembarcou no Brasil e, seu perfil de empreendedor o levou a adquirir uma casa comercial em Brusque e a revolucionar as transações comerciais na cidade; passou a pesar os produtos agrícolas e a utilizar moeda corrente nos negócios com os colonos.

Como republicano, foi o primeiro administrador do município de Brusque após a proclamação da República e construiu um império na indústria têxtil.[4]

De uma família de classe média, Carlos Renaux tinha escolaridade equivalente ao atual ensino médio e treinamento como aprendiz no Banco Hipotecário de Loerrach. Imigrante alemão de sobrenome francês, chegou ao Brasil em 1882, com carta de recomendação do banco onde trabalhara, e empregou-se como caixeiro de uma casa comercial no Salto Weissbach, em Blumenau.[5]

Em 1890, nomeado pelo governo estadual, presidiu o conselho municipal; foi escolhido para o cargo de superintendente (prefeito municipal) em várias gestões.[5] Renaux era republicano e a derrubada do regime monárquico, em 15 de novembro de 1889, constituiu-se em fator determinante para a sua entrada bem sucedida na arena política. A proclamação da República deixara algumas figuras importantes da política em situação difícil, abrindo espaço para novas lideranças, habilitadas pela naturalização concedida pela nova constituição. Como partidário de Lauro Müller e Felipe Schmidt, Carlos Renaux foi eleito para compor a Assembleia Constituinte de Santa Catarina, em 1891.[5]

Na Revolução Federalista estava entre os legalistas, participando inclusive das lutas contra os revoltosos na capital. Em Blumenau foi preso e condenado à morte por fuzilamento, a mando do general Gumercindo Saraiva, um dos comandantes das tropas rebeldes (maragatos) durante a Revolução Federalista; foi salvo pelo chefe do partido federalista blumenauense Elesbão Pinto da Luz, que atuara em Brusque.[5] Com a derrota dos federalistas, Elesbão foi condenado à pena de morte, figurando entre os fuzilados na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, por ordem direta de Antônio Moreira César que, no governo de Santa Catarina, promoveu prisões e fuzilamentos sumários de militares e civis, inclusive o fuzilamento do marechal Manuel de Almeida Lobo d'Eça, o primeiro e único barão de Batovi, sendo que o coronel Moreira César teria recebido ordens de Floriano Peixoto para assim proceder.[5] Na política local, Carlos Renaux suplantou em definitivo o seu principal adversário Guilherme Krieger, coronel comandante da Guarda Nacional em Brusque, nas eleições de 1914.[5]

Em 1918 recebeu o título de cônsul honorário do Brasil em Arnhem, na Holanda e, a partir daí, passou a ser chamado apenas pelo título.[5]

Carlos Renaux era um homem rico e se encantava com as últimas novidades que chegavam da Europa; foi o primeiro cidadão de todo o Vale do Itajaí a possuir uma geladeira e um ar condicionado importados.[5]

Entusiasta do progresso, o cônsul criou a Fundação Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux para financiar projetos que trouxessem benefícios para a cidade de Brusque.[5] Dessa fundação veio o dinheiro para que Rudolfo Stutzer montasse a oficina onde acabou sendo produzida a primeira geladeira brasileira. Na pequena oficina que ficava na rua Tiradentes, em Brusque, dois homens curiosos e idealistas, Guilherme Holderegger e Rudolfo Stutzer, fabricavam anzóis, fios elétricos, peças para bicicletas e consertavam de tudo um pouco, até que um dia apareceu uma geladeira a querosene importada para consertar.[5][6]

Geladeira no Brasil naquela época, só importada, e encontrada somente na casa de gente muito rica. Os dois, então, desmontaram toda a geladeira, estudaram cada pedacinho e partiram para o que na época era uma grande aventura: fabricar o primeiro refrigerador brasileiro. Juntamente com Wittich Freitag, e com ajuda financeira do cônsul Carlos Renaux, do qual Stutzer era motorista e amigo, o primeiro refrigerador foi chamado de Consul (escrito sem acento), em homenagem ao benfeitor.[5]

Quando a oficina virou fábrica, em 1950, num pequeno galpão de 680 metros quadrados na cidade de Joinville, a homenagem permaneceu, e deu origem à Indústria de Refrigeração Consul.[5][7][6]

O primeiro refrigerador, chamado de Consul Júnior, que era a querosene e funcionava com resistência elétrica, logo se transformou num grande sucesso.[5] Nos dados corporativos da empresa consta como fundadores Carlos Renaux, Guilherme Holderegger, Rudolfo Stutzer e Wittich Freitag.[5]

Fábrica de Tecidos Carlos Renaux

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Ver artigo principal: Fábrica de Tecidos Carlos Renaux

A fábrica, fundada em 11 de março de 1892, teve sua origem com oito teares manuais, instalados dentro do depósito de mercadorias do comerciante Carlos Renaux e, para a sua fundação, ele se associou ao agricultor e comerciante Augusto Klappoth e a Paul Hoepcke, também comerciante, com atuação em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis).[2][7]

A chegada de tecelões provenientes da região têxtil de Lodz, na Polônia, foi decisiva para a implantação da indústria têxtil em Brusque, pois eles detinham o conhecimento de ofício de transformar fios de algodão em tecido. Os tecelões haviam emigrado para o Brasil por causa das más condições de trabalho e por constituírem uma minoria étnica, pois eram na sua maioria de origem alemã vivendo na região da Polônia sob o domínio russo e sofrendo diversas restrições de ordem política e social.[2]

Ao se estabelecerem na região, os tecelões receberam lotes impróprios para a prática da agricultura e, por não possuírem experiência agrária anterior, se viram impelidos a aceitar o trabalho assalariado no empreendimento têxtil.[2] Os tecelões de Lodz eram Karl Gottlieb Petermann (esposa e três filhos menores); Gottlieb Tietzmann (e família); Franz Kreibich (e família); Wilhelm Jakowsky (e família); Julius Hacke; Alvin Schaffel; Eduardo Franz; Gustav Schlösser (esposa e três filhos menores Hugo, Adolfo e Carlos), vindo apenas em 1896, diretamente para a Vila. [8][2]

Em 1918 a empresa foi transformada em uma sociedade anônima, sob o nome de Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S.A., tendo os filhos e filhas de Carlos Renaux, e respectivos sogros, como acionistas. Seu filho Otto Renaux foi eleito presidente.[1]

Representando Brusque e Itajaí, foi eleito ao Congresso Representativo de Santa Catarina (Assembleia Legislativa), pelo Partido Republicano Catarinense, tornando-se Deputado Constituinte de 1891, participante da 1ª Legislatura (1891).[9]

Referências

  1. a b B2Brazil - Renaux Acessado em 24 de março de 2017
  2. a b c d e Prefeitura de Brusque - Fábrica Renaux deu início à industrialização de Brusque (31/12/1969) em “BERÇO DA FIAÇÃO CATARINENSE”, por Paulo Vendelino Kons Acessado em 24 de março de 2017
  3. Migalhas - O fim de uma história centenária, por Almir Pazzianotto Pinto (20 de agosto de 2013) Acessado em 24 de março de 2017
  4. ClicRBS - Os 20 catarinenses que marcaram o Século XX - Carlos Renaux (1862-1945) Acessado em 24 de março de 2017
  5. a b c d e f g h i j k l m n "História de Brusque", publicado no Jornal Tribuna Regional em homenagem ao Sesquicentenário do Cônsul Carlos Renaux, pelo historiador Paulo Vendelino Kons
  6. a b IELUSC - SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE FAMÍLIAS SUÍÇAS EM JOINVILLE II - Família Holderegger Acessado em 25 de março de 2017
  7. a b Portal da Cidade - História de Brusque - SC Acessado em 25 de março de 2017
  8. Ayres Gevaerd, Os tecelões de Lodz na História de Brusque, em Blumenau em Cadernos, março 1962, p. 45-46, texto lido na comemoração do 1º Centenário do Nascimento do Cônsul Carlos Renaux, em 11-III-1962
  9. Carlos Renaux, Memória Política de Santa Catarina, em memoriapolitica.alesc.sc.gov.br