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Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio

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Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio
Tipo
cerâmica
artesanato
arte cerâmica (en)
Características
Material
Retenção
Localização
São Gonçalo Beira Rio (d)
Cuiabá

Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio é uma manifestação ou expressão da cultura popular de Mato Grosso e da tradição brasileira que compreende a criação de uma variedade de peças de cerâmica produzidas por artesãs e artesãos do bairro São Gonçalo do Beira Rio, em Cuiabá (Mato Grosso).[1]

A cerâmica de São Gonçalo Beira Rio é compreendida como manifestação da identidade do grupo populacional que a pratica[2] e vem sendo documentada pelo menos desde o século XVIII.[3]

O repertório mais tradicional de produtos artesanais de São Gonçalo Beira Rio é composto por objetos e peças que guardam forte entrelaçamento do modo de vida dos ceramistas com seu contexto ambiental e cultural, dentre eles estão moringas, ânforas, potes, talhas, vasos, travessas-peixe, travessas-folha, os casais dançando rasqueado, as canoas de pescar, as galinhas d’angola e as codorninhas.[1]

A Associação de Artesãos de São Gonçalo Beira Rio é responsável por preservar essa cultura de trabalho cerâmico.[1] A associação concentra a maior parte dos artesãos e sua loja, criada em 2007, é o principal ponto de escoamento da produção e um importante ponto para dar visibilidade ao trabalho das artesãs.[1]

O bairro[editar | editar código-fonte]

O bairro São Gonçalo Beira Rio, antigamente chamado de São Gonçalo Velho, era um ponto central de circulação de mercadorias de Cuiabá e está localizado à margem esquerda do rio Cuiabá, entre os córregos São Gonçalo e Lavrinha e próximo à barra do rio Coxipó.[4]

Em São Gonçalo Beira Rio, a arte milenar da cerâmica foi desenvolvida no local pelos índios Coxiponés, que viviam na região.[5] Alguns autores defendem que a cerâmica de São Gonçalo Beira Rio está ligada à cultura dos indígenas bororos.[2]

Sobre a importância do bairro para a cidade e para a cultura mato grossense o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro disse em 2022: "É no São Gonçalo Beira Rio que nasceu o grupo Flor Ribeirinha, é onde temos as melhores peixarias de Cuiabá, onde temos as mais belas ceramistas, ícones da nossa cultura e da nossa arte, onde estão os nossos pescadores representantes das nossas origens, foi aqui onde tudo começou."[6]

Exposições[editar | editar código-fonte]

Em 2017, foi realizada a mostra 'Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio' pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) na Sala do Artista Popular (SAP) do Museu de Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro.[7] A mostra deu origem ao catálogo[8] que contou com pesquisa e texto de Elizete Ignácio dos Santos e fotografias de José Medeiros.[1]

Em 2020, ocorreu a exposição "São Gonçalo De geração em geração" no Centro Cultural da Comunidade São Gonçalo Beira Rio, em Cuiabá.[9] Para a exposição, as peças foram produzidas pelas ceramistas Julia Rodrigues da Conceição, Cleide Rodrigues, Cirley Rodrigues, Juracy Marcelina da Conceição e Ademir Rodrigues da Conceição. Os artistas são irmãos, e nasceram na comunidade de São Gonçalo Beira Rio. Eles herdaram da mãe, Maria Leite Moraes da Conceição, o talento de criar objetos com argila.[10]

Principais peças produzidas[editar | editar código-fonte]

Detalhe das flores da jarra e bacia produzida pela artesã Bela - Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio

As principais peças produzidas são:[1]

  • Moringas
  • Ânforas
  • Potes
  • Talhas
  • Cachepôs, vasos e suportes para plantas
  • Travessas-peixe
  • Travessas-folha
  • Panelas e louças de servir
  • Fruteiras
  • Cestas com frutas de cerâmica
  • Bichinhos - animais do cerrado e do Pantanal
  • Mobiliários e loucinhas
  • Canoas com pescadores
  • Casais dançando rasqueado
  • Santos - diversos santos e santas católicos, além do São Gonçalo

Trabalhos e publicações acadêmicas[editar | editar código-fonte]

O ofício de artesão do barro já foi o objeto de alguns estudos selecionados por Ingrid Santos em 2019:[2]

  • ANDRADE, Estefânia Souza de; ARAÚJO Jamile da Costa. Medidas mitigadoras dos impactos ambientais causados por usinas hidrelétricas sobre peixes. REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria, vol. 12 (Sin mes-Marzo), 2011.[11]
  • ARRUDA, Maria Lucia. Cultura Popular – A arte da cerâmica de São Gonçalo. In: Leopoldianum – revista de Estudo e Comunicação, V.16 nº 45, São Paulo, 1989.
  • BARROS, Moacir Francisco de Sata’ana. Entre vídeos e cerâmica: olhares sobre o ribeirinhos.2006 (Dissertação Mestrado) Instituto de Linguagens. Universidade Federal de Mato Grosso. 2006.
  • PALMA, Lucia. Na boca do forno a forma de um povo. Trabalho de especialização. Cuiabá: UFMT, 1986.
  • ROMANCINI, Sônia Regina. Entre o barro e o siriri: um estudo sobre o papel da mulher na cultura popular de São Gonçalo Beira Rio em Cuiabá-MT. In: Espaço e manifestações culturais na região de Cuiabá, PROPEQ – UFMT/CNPq, julho de 2003 a julho de 2005.
  • ROMANCINI, Sônia Regina. Paisagem e Simbolismo no Arraial Pioneiro São Gonçalo, em Cuiabá, MT. Espaço e Cultura, UERJ, RJ, nº. 19-20, p. 81-87, Jan/Dez. de 2005.[4]
  • TOREZAN, Ariane P. D. São Gonçalo: uma análise das transformações nas formas de obtenção da subsistência da população ribeirinha. Cuiabá: UFMT, 2000. Especialização em Antropologia, Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Mato Grosso, 2000.[12]

Referências

  1. a b c d e f Santos, Elizete Ignácio dos (2017). «Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio - Catálogo da exposição realizada no Rio de Janeiro, de 22 de junho a 30 de julho de 2017» (PDF). Rio de Janeiro: IPHAN. Museu de Folclore Edison Carneiro. 36 páginas. ISSN 1414-3755. Consultado em 3 de junho de 2024 
  2. a b c Santos, Ingrid Regina da Silva (2019). A vida ribeirinha no lugar: da degradação do rio Cuiabá à introdução das peixarias em São Gonçalo Beira Rio e Bonsucesso - MT (Tese de Doutorado em Geografia). Orientadora Prof. Dr. Maria Geralda de Almeida. Goiânia: Universidade Federal de Goiás. Consultado em 3 de junho de 2024 
  3. Jordão, Angela (20 de outubro de 2011). «São Gonçalo Beira Rio presta homenagem aos artesãos da região». Prefeitura de Cuiabá. Consultado em 3 de junho de 2024 
  4. a b Romancini, Sônia Regina (2005). «Paisagem e simbolismo no arraial pioneiro São Gonçalo em Cuiabá / MT». Espaço e Cultura (19-20): 81–87. ISSN 2317-4161. doi:10.12957/espacoecultura.2005.3494. Consultado em 3 de junho de 2024 
  5. «Nossos Trabalhos - Projeto Flor da Idade - #CeramistasDeSãoGonçaloBeiraRio». Associação Cultural Flor Ribeirinha. Consultado em 3 de junho de 2024 
  6. Magalhães, Emily (12 de março de 2022). «Marco Zero: Resgate histórico e cultural do São Gonçalo Beira Rio; veja fotos - Prefeitura de Cuiabá». www.cuiaba.mt.gov.br. Consultado em 3 de junho de 2024 
  7. Revista Museu (19 de junho de 2017). «Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular inaugura a mostra 'Cerâmica de São Gonçalo Beira Rio'». revistamuseu.com.br. Consultado em 3 de junho de 2024 
  8. «Sala do Artista Popular:: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular». www.cnfcp.gov.br. Consultado em 3 de junho de 2024 
  9. Roseli (21 de fevereiro de 2021). «São Gonçalo Beira Rio - Artesanato». Blog da Roseli. Consultado em 3 de junho de 2024 
  10. Santana, Dayanne (3 de março de 2021). «Ceramistas realizam exposição em homenagem à pioneira na comunidade São Gonçalo Beira Rio». Governo de Mato Grosso. Consultado em 3 de junho de 2024 
  11. Andrade, Estefânia de Souza; Araújo, Jamile da Costa (2011). «Medidas mitigadoras dos impactos ambientais causados por usinas hidrelétricas sobre peixes». REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria (3): 1–30. ISSN 1695-7504. Consultado em 3 de junho de 2024 
  12. «Currículo Lattes: Ariane Patrícia Domingues Torezan». buscatextual.cnpq.br. Consultado em 3 de junho de 2024 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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