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Cine-Teatro Monumental (Lisboa)

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O Cine-Teatro Monumental foi um edifício situado na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, Portugal. Inaugurado em 1951 e da autoria do arquiteto Raúl Rodrigues Lima, o espaço modernista funcionava como sala de espetáculos de música, teatro e cinema, tendo fechado portas e sido demolido em 1984. Atualmente, no mesmo local foi erguido um centro comercial com salas de cinema.[1]

Cine-Teatro Monumental (Lisboa, 1952)

Projetado pelo arquiteto Raúl Rodrigues Lima, o edifício era uma construção representativa da época e estilo arquitetónico do Estado Novo, tendo sido encomendada a sua construção em 1943 por Mário de Figueiredo, então Ministro da Educação Nacional. A estrutura era revestida a pedra e ornamentada num dos cantos com uma grande coluna, encimada por uma esfera armilar. A entrada pública principal, voltada para a Praça Duque de Saldanha, possuía sete portas em arco com acesso direto às bilheteiras, enquanto os artistas e trabalhadores da sala de espectáculos tinham uma entrada exclusiva que se fazia pela Avenida Praia da Vitória. A decoração interna, que esteve a cargo de José Espinho, incluía lustres, grandes escadarias com mármore e apontamentos dourados, dois grandes painéis laterais de Maria Keil e várias esculturas no exterior e no interior de Euclides Vaz.[2] Cada piso possuia um salão ou foyer de acesso exclusivo aos portadores de bilhete para os lugares do cinema e do teatro. O último andar era reservado para a administração e a gerência, existindo também uma uma sala de projeção privada.

Após a construção, o complexo foi alugado pelo empresário e ator português Vasco Morgado com a intenção de apresentar espetáculos teatrais, operetas e shows de variedades que pudessem atrair um público grande o suficiente para lotar o cine-teatro que englobava uma sala de cinema, com lotação de 1967 lugares, e uma de teatro, com 1086 lugares. A gerência do cinema ficou a cargo de Major Horácio Pimentel, um dos donos da distribuidora cinematográfica Espetáculos Rivus.[3]

Na noite de inauguração, em 8 de novembro de 1951, o filme de estreia foi A Chama e a Flecha (1950) de Jacques Tourneur, com Burt Lancaster e Virginia Mayo, e a primeira apresentação teatral a opereta As três valsas, estrelada por Laura Alves e João Villaret, sendo seguido por um espetáculo de variedades com atuações de Laura Alves, João Villaret e Eugénio Salvador, entre outros. Laura Alves, que era casada com Vasco Morgado e continuou a colaborar com o ex-marido após o fim do casamento, tornou-se numa das artistas mais populares e regulares do Monumental.

Durante os anos 50 e 60, o Cine-Teatro Monumental tornou-se num dos mais respeitados espaços cinematográficos, cujo material de projeção era o mais moderno da época, incluindo Cinemascope, 3D, Todd Ao ou Cinerama, o que lhe permitiu exibir os filmes Os Dez Mandamentos (1956), Doutor Jivago (1965), Hondo (1954), Lawrence da Arábia (1962), My Fair Lady (1964), Guerra das Estrelas (1977) ou 2001: Odisseia no Espaço (1968) com a melhor qualidade no país. Durante o mesmo período, o espaço também tornou-se num importante palco para grandes artistas estrangeiros, como os cantores Charles Aznavour, Sylvie Vartan, Rita Pavone, Chico Buarque e Nara Leão,[4][5] e jovens grupos portugueses de jazz, yé-yé ou rock and roll, como Os Claves, tendo ainda sido realizadas no cine-teatro várias sessões do "O Grande Concurso de Yé-Yé", organizado pelo jornal O Século.[2][6]

Na década de 1970, tornou-se cada vez mais difícil atrair públicos lucrativos para um teatro tão grande, tendo sido adicionada uma pequena sala de cinema no último andar, onde antigamente se situava a sala de projeção privada, para fornecer um espaço alternativo à grande sala de cinema.[7] A nova sala, com o nome de Satélite, possuia 208 lugares e exibia filmes de autor. Foi inaugurado com a obra Les choses de la vie (1970), de Claude Sautet, com Romy Schneider no elenco principal.[8]

Em 1982 foi decidido que o complexo fecharia as portas e deveria ser demolido.[9] Apesar dos protestos públicos, dois anos depois, a sala de espetáculos foi demolida e um shopping center com cinema o substituíram.[10] Por sua vez, o novo Cinema Monumental, cuja maior das suas quatro salas de projecção comporta 378 lugares, viu-se obrigado a encerrar em 2019 por se revelar antieconómico, estando em curso obras de reestruturação do local em 2020.[2][5][11]

  1. Lopes, Joao Teixeira; Hutchison, Ray (17 de novembro de 2016). Public Spaces: Times of Crisis and Change (em inglês). [S.l.]: Emerald Group Publishing 
  2. a b c «Cine-Teatro Monumental». Instituto Camões. Consultado em 24 de setembro de 2020 
  3. Maia, Ana Marques (1 de abril de 2024). «Uma viagem pela era dourada dos cinemas (extintos) de Lisboa». PÚBLICO. Consultado em 31 de agosto de 2024 
  4. «Inauguração do Cine-Teatro Monumental». e-cultura. Consultado em 24 de setembro de 2020 
  5. a b «Cinema Monumental vai fechar em fevereiro». Including results for Diário de noticias Search only for Diaria de noticias Diário de Notícias. Consultado em 24 de setembro de 2020 
  6. Vilela, Joana (19 de julho de 2019). Lisboa, Anos 60. [S.l.]: Leya 
  7. Vilela, Joana Stichini (9 de abril de 2014). Lisboa, anos 70. [S.l.]: Leya 
  8. António, Lauro (17 de maio de 2021). «O velho Cine-Teatro Monumental». Mensagem de Lisboa. Consultado em 31 de agosto de 2024 
  9. Lopes, Joao Teixeira; Hutchison, Ray (17 de novembro de 2016). Public Spaces: Times of Crisis and Change (em inglês). [S.l.]: Emerald Group Publishing 
  10. Vilela, Joana;Fernandes (10 de outubro de 2016). Lisboa, anos 80. [S.l.]: Leya 
  11. «Está decidido: cinema vai mesmo manter-se no Monumental». NiT. Consultado em 31 de agosto de 2024