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Cinemateca Capitólio

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Cinemateca Capitólio
Cinemateca Capitólio
Informações gerais
Nomes anteriores Cine-Theatro Capitólio,

Cinemateca Capitólio Petrobras

Tipo Cinema de calçada
Arquiteto(a) Domingos Rocco
Engenheiro Domingos Rocco
Inauguração 12 de outubro de 1928
Website www.capitolio.org.br
Geografia
País Brasil
Cidade Porto Alegre
Coordenadas 30° 02′ 10,3″ S, 51° 13′ 42″ O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

A Cinemateca Capitólio é um centro cultural localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, dedicado à preservação cinematográfica e exibição de filmes. Instalado no histórico Cine-Theatro Capitólio, inaugurado em 1928, o espaço foi revitalizado e transformado em uma cinemateca em 27 de março de 2015. Atualmente, possui uma sala de cinema com 165 assentos, uma galeria de exposições e uma biblioteca que funciona como centro de documentação e memória.

Projetado pelo engenheiro Domingos Rocco, o prédio distingue-se pelo estilo eclético de influência açoriana. Teve sua inauguração em 12 de outubro de 1928, com seu primeiro proprietário sendo Luis Fallace. O espaço contava com a apresentação de filmes, peças de teatro, balés, concursos de misses e shows de mágica.

Ao longo da década de 1920 e 1930, realizou ainda outras atividades culturais, mas efetivou sua principal atração na difusão do cinema. Tinha contrato de exclusividade com as duas maiores produtoras de filmes da época: a United Artists e a RKO, posteriormente, passou a lançar com exclusividade em Porto Alegre os filmes produzidos pela Vera Cruz, Warner Brothers e pela Columbia Pictures.

Fechou as portas em 1994, passando a ser propriedade do município de Porto Alegre no ano seguinte. Em 2002 foi municipalmente tombado e em dezembro de 2006 foi tombado estadualmente pelo IPHAE, retomando suas atividades em 27 de março de 2015, exibindo o curta Início do Fim e o longa de ficção gaúcho Vento Norte.

Primeiros anos

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Abertura da Avenida Borges de Medeiros e construção do Viaduto Otávio Rocha.

Durante os anos 20 foram abertas diversas salas de cinema de calçada em Porto Alegre, principalmente na Rua da Praia e no Largo de Medeiros. Assim foi criada uma espécie de "Cinelândia Gaúcha".[1] A Porto Alegre de 1928 passava por um período de remodelação urbana, iniciado no mandato de Otávio Rocha, dado o início da construção da Avenida Borges de Medeiros. Nesse contexto, no intuito de embelezar a futura avenida e trazer empreendimentos, começou-se a construção do Cine-Theatro Capitólio.[2]

A edificação foi projetada pelo engenheiro paulistano Domingos Rocco com um estilo eclético e com influências açorianas. O "Capitólio", como ficou conhecido, foi construído na recém inaugurada esquina entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Demétrio Ribeiro e era de propriedade do alfaiate Luis Fallace, na época foi considerado o maior e mais completo complexo de diversões na cidade.[3]

Teve sua inauguração em 12 de outubro de 1928 exibindo o filme Casanova.[4] Originalmente, o prédio além de ser um cinema também apresentava balés, concursos de misses, matinês e peças de teatro, contendo uma capacidade para 1295 lugares, numa área de 1.300 metros quadrados com sua sala de projeções sendo inspirada numa ópera e com cadeiras de veludo vermelho escuro dispostas como assentos.[3] Nesta época, efetivou um contrato de exclusividade com duas maiores produtoras de filmes da época: a United Artists e a RKO.[5][3] Sendo assim, o local frequentado pela alta sociedade porto-alegrense, por ser considerado luxuoso e bem localizado.[6]

Fachada do Capitólio na década de 1930

Em 1º de janeiro de 1929, o Capitólio realizou sua primeira matinê, exibindo O Monstro de Circo em celebração ao aniversário do jornal A Federação. Apesar do prestígio, enfrentou tensões quando o intendente Otávio Rocha instituiu uma taxa especial para cinemas, levando a uma greve da categoria. O Capitólio, próximo aos políticos da cidade, foi um dos poucos a continuar operando durante o protesto, destacando-se como um espaço cultural de relevância e também de controvérsias políticas. Logo, ganhou o reconhecimento dos distribuidores e passou a lançar com exclusividade os filmes produzidos pela Vera Cruz, Warner Brothers e Columbia Pictures. Em 1935, o Cinema passou por sua primeira reforma: sua capacidade foi aumentada para 1.500 lugares e o sistema de som foi modernizado. Na época, era comum que o público buscasse espaços como o Capitólio para apenas assistir aos filmes, com o hábito de animar o início das sessões com shows de música, mágica ou esquetes teatrais caindo em desuso. Posteriormente as exposições de arte e concursos de misses também foram menos recorrentes no espaço, por conta da criação de outros locais em Porto Alegre, definidos para estas atividades.[3]

A década de 1960 marcou o início da decadência do Cine Capitólio; o cinema começou a perder muito público com a chegada dos televisores, videolocadoras e do aumento sistemático de poder aquisitivo das famílias gaúchas, que passaram a destinar grandes temporadas no litoral. Além disso, com a ditadura militar resultante do Golpe de 1964, houve uma grande onda de censura aos cinemas nacionais, de modo recorrente e escancarado,[3][7] muitos filmes tiveram suas exibições proibidas, com outros sendo cortados ou censurados parcialmente. A época caracterizou o fato de que, ir ao cinema, em alguns casos, era um ato de rebeldia. Em 1969, após quatro décadas como um dos principais cinemas da cidade, o espaço foi arrendado e reformado, passando a se chamar Cine Première; essa mudança inferiu uma crise de identidade que acentuou a descaracterização entre o espaço cultural e seus frequentadores. Em 1979, o prédio passou por uma nova intervenção: o nome original, Cine Capitólio, foi restaurado, numa tentativa de recuperar parte da sua tradição e importância cultural.[3]

No início de 1988, houve mais uma reforma no Capitólio, levando o prédio a fechar durante um mês, a reabertura se deu no dia 5 de março, com a exibição do Hamlet de Laurence Olivier. Nesta reforma, a tela foi lavada e a casa ganhou uma moderna aparelhagem de projeção, além de melhorias sonoras, os banheiros foram modernizados, os tapetes trocados e foi realizada uma instalação primária do sistema de ventilação, que prometia conforto. Após esta reforma, o Capitólio teve um breve aumento do público, fomentando a esperança de resgatar a popularidade das décadas anteriores; mas com a chegada dos Shopping Centers, a era de ouro das salas de cinema de calçada chegava ao fim. A população não considerava mais o Centro Histórico um local seguro por conta da violência urbana; e com o aumento de pessoas com automóveis, shoppings com estacionamento foram sendo preferidos ao invés de cinemas e espaços abertos. Nesta época, o Capitólio começou a exibir apenas filmes pornográficos para tentar competir com os cinemas locais.[3]

O fim do contrato com a Fama Filmes e a devolução do Prédio aos seus proprietários marcaram a crise final. A Prefeitura Municipal pressionava por reformas de segurança e ameaçou cancelar a licença de funcionamento do prédio; mas os novos arrendatários e administradores não tinham recursos para atender às exigências. Em 30 de junho de 1994, o Capitólio fechou suas portas, em meio ao encerramento de outros cinemas icônicos de calçada em Porto Alegre, como o São João e o Marrocos; num momento que delineou a decadência de um período cultural vibrante.[3] Em 1995, durante a gestão do então prefeito Tarso Genro, passou a ser propriedade do município; em 2002, ocorreu o tombamento municipal e em dezembro de 2006 o tombamento estadual.[8][9] O pedido de foi feito ao IPHAE pela direção do IECINE – Instituto Estadual de Cinema, em 2006.[10]

Revitalização e retomada das atividades

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A esquina onde fica o capitólio

A ideia da Cinemateca Capitólio surgiu em 2001, quando a comunidade cinematográfica do Rio Grande do Sul, por meio da APTC-RS, iniciou um movimento para restaurar o antigo Cine-Theatro Capitólio, transformando-o em um espaço dedicado à preservação e difusão da linguagem audiovisual gaúcha. Em 2003, a Prefeitura de Porto Alegre firmou uma parceria com a Fundacine e a Associação de Amigos do Capitólio, a fim de viabilizar o projeto. O orçamento inicial da obra foi de R$ 6,5 milhões, sendo viabilizado, inicialmente, com o patrocínio de R$ 4 milhões oferecido pela Petrobras, que possibilitou a primeira fase da restauração, ocorrida entre 2004 e 2006. Ao longo do período, foram feitas reformas estruturais no prédio, como a recuperação das fachadas e dos interiores, além de adaptações para que o local pudesse receber as instalações e equipamentos necessários para se tornar uma cinemateca. Nos anos seguintes, a Fundacine continuou a buscar novos recursos para a continuidade do projeto.[11]

Em 2010, o BNDES destinou R$ 1,1 milhão à reforma, permitindo melhorias nos sistemas elétricos e de climatização do prédio, além da compra de móveis e equipamentos necessários.[12][13] Com o edifício desocupado por um período de cinco anos, constatou-se a necessidade de adaptações adicionais, o que aumentou os custos. No ano seguinte, foi firmado um convênio entre a Prefeitura de Porto Alegre e o Ministério da Cultura, garantindo R$ 1 milhão, sendo R$ 800 mil do MinC e R$ 200 mil de contrapartida da Prefeitura.[11]

A terceira fase da restauração, iniciada em 2012, envolveu obras civis de reparo e a aquisição de equipamentos de projeção e som. A obra foi entregue em abril de 2014, com todas as reformas estruturais concluídas. Ao mesmo tempo, continuaram os processos de compra de mobílias, equipamentos de informática e telefonia, além de melhorias no sistema de climatização e adaptação do espaço para a prevenção de incêndios. Após ser adiada cinco vezes por conta do não cumprimento do Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI),[14] a conclusão do processo foi marcada pela reabertura definitiva ao público, no dia 27 de março de 2015. A data fazia parte da programação do aniversário de 243 anos de Porto Alegre;[15] a reinauguração coincidiu com o Dia do Cinema Gaúcho, onde foi exibido Vento Norte, de Salomão Scliar, o primeiro longa-metragem de ficção com som realizado no Rio Grande do Sul e o curta Início do Fim, de Gustavo Spolidoro. O Capitólio, então restaurado, passou a ser um importante centro de preservação do patrimônio audiovisual, consolidando-se como um espaço cultural essencial na cidade.[11][16][17]

Tela da sala de cinema do Capitólio

O prédio da Cinemateca Capitólio ocupa uma área construída de 1.730 m², edificada em quatro andares e um subsolo. O subsolo é destinado à casa de máquinas e uma área técnica do prédio. No térreo, estão localizados o saguão de entrada, a bilheteria, a sala de cinema, a sala de exposições e museu, além dos banheiros e a recepção do acervo. O segundo pavimento abriga o acervo audiovisual, uma copa para funcionários, uma loja e banheiros. O terceiro pavimento é dedicado à biblioteca e ao acervo de documentos, fundamentais para a preservação do patrimônio cultural, além da área administrativa, uma sala multimídia, uma sala de tratamento técnico dos filmes e a cabine de projeção, onde são conduzidas as exibições cinematográficas. Já o quarto e último pavimento é reservado à área administrativa, ao acesso interno ao acervo, ao sistema de ar condicionado e à área de armazenamento de obras audiovisuais.[18] A sala de cinema é uma sala stadium, com capacidade para 164 pessoas e sessões permanentes realizadas de terça a domingo.[19][20]

Acervo de filmes

O edifício também abriga o Centro de Documentação e Memória, além de uma biblioteca com um vasto acervo composto por livros, jornais, folhetos, catálogos e trabalhos acadêmicos sobre cinema. Um dos destaques é a coleção dedicada ao tradicional Festival de Gramado, que inclui materiais como cartazes de filmes, fotografias e equipamentos de produção audiovisual. Além disso, a Cinemateca oferece concertos e sessões com trilhas sonoras executadas ao vivo, ampliando sua programação cultural e consolidando-se como um espaço completo para a preservação e a celebração da memória cinematográfica.[21]

Referências

  1. Dawud 2018, p. 24.
  2. «Programação especial comemora 94 anos do Cine-Theatro Capitólio». Prefeitura de Porto Alegre. 12 de outubro de 2022. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  3. a b c d e f g h Axt, Gunter (13 de dezembro de 2019). «Cine Teatro Capitólio em Porto Alegre, templo de arte dramática, lugar de memória». Urdimento - Revista de Estudos em Artes Cênicas (36): 396–411. ISSN 2358-6958. doi:10.5965/1414573103362019396. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  4. Brasil, Andrea (10 de outubro de 2018). «Sessões especiais marcam os 90 anos do Cine Theatro Capitólio». Prefeitura de Porto Alegre. Consultado em 17 de fevereiro de 2025 
  5. Dawud 2018, p. 28.
  6. Dawud 2018, p. 12.
  7. «O cinema nos anos 1970: censura e patrocínio estatal – Memorias da Ditadura». Memórias da Ditadura. Instituto Vladimir Herzog. Consultado em 24 de fevereiro de 2025 
  8. «Tombado também pelo Estado o antigo Cine Teatro Capitólio». Iphae. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  9. Dawud 2018, p. 32.
  10. «Porto Alegre – Antigo Cine Teatro Capitólio». ipatrimônio. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  11. a b c «Cine Capitólio reabre no dia 27 de março, após reforma de uma década | Arquivo». Jornal Já. 16 de março de 2015. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  12. Simon, Gilberto (23 de novembro de 2009). «Capitólio prevê reabertura para 2010 com novo patrocinador». Porto Imagem. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  13. «Cinemateca Capitólio». BNDS. Consultado em 17 de janeiro de 2025 
  14. «Reinauguração da Cinemateca Capitólio é adiada pela quinta vez em dois anos». GZH. 24 de março de 2014. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  15. Simon, Gilberto (17 de março de 2015). «Cinemateca Capitólio será reaberta ao público na próxima semana». Porto Imagem. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  16. Fraga, Rafaella (27 de março de 2015). «Após 20 anos, Capitólio reabre com mostra de clássicos em Porto Alegre». G1. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  17. «Reinauguração da Cinemateca Capitólio é adiada pela quinta vez em dois anos». GZH. 24 de março de 2014. Consultado em 6 de março de 2025 
  18. Dawud 2018, p. 34.
  19. «Sala de Cinema – Cinemateca Capitólio». Cinemateca Capitólio. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  20. «Cinemateca Capitólio». AAMICA. 19 de novembro de 2019. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  21. «Cinemateca Capitólio: histórico cinema de rua». Destino POA. 4 de março de 2024. Consultado em 14 de janeiro de 2025 

Ligações externas

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