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Coelho na cultura popular galega

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A seguir, recolhem-se as marcas do coelho na cultura popular galega, na etnografía e na literatura de transmissão oral.

Coelho comum

Em Cambados, para curar a decipla (erisipela), untam a parte doente com sangue de coelho. Também se acha que se uma mulher prenha come carne de lebre ou de coelho, o menino dormirá depois com os olhos abertos.

  • Coelho: borracheira, em Verim (Constantino Garcia Gonçalves).
  • Conexo de mar: denominação comum de certo molusco gastrópodo conhecido como borrachas (Aplysia punctata); outras denominações populares são as de limacha do mar, meiga do mar, porco do mar, teta do mar e, em castelhano, liebre de mar .[1]
  • Coelho de dous tobares: diz-se de quem sempre tem recursos, soluções ou saídas .
  • Parir como uma coelha: diz-se da mulher que tem muitos filhos, e muito seguidos .[2]
  • A abelhariça e o coelho, no monte velho.
  • Cada coelho no seu tobo arranja-se de calquera modo.
  • Cam alcuzeiro, nunca bom coenlheiro .[3]
  • Coelho de dispensa, caçador e labrador, fome no comedor.
  • Des que fugiu o coelho, viu o conselho.
  • Do tempo dos coelhos não há couselos[4]
  • Ainda o demónio tem cara de coelho![5]
  • Labrador caçador, coelhos na despensa, e fome na cantina.
  • Labrego caçador, coelhos na cocinha e fome na cantina.
  • Labrego caçador, coelhos na lacena e fome na cantina.
  • Labrego e caçador, coelho na cozinha e fome no comedor.
  • No tempo dos coelhos nom ha conselhos.
  • O coelho, por sam Xoám, e a perdiz por Navidá.
  • Ao abade velho, polos e coelho.
  • Ao axexo, um coelho; à lusada, caralhada.
  • Ao coelho e ao vilám, mete-lhe mam.
  • Ao coelho fuxido, conselho vido.
  • O demo tem cara de coelho.
  • Polo Sam Miguel xá o coenllo se vê bem .[6]
  • Polo Santiago esconde o coelho o rabo, e por sam Miguel volve-se-lhe a ver.
  • Por Santiago esconde o coelho o rabo; e por Sam Miguel, volve-se-lhe ver .[7]
  • Prove do coelho que nom tem mais que um tobo.
  • Se os coelhos morreram com palavras, cantos matavas.
  • Vaia, que o demo tem cara de coelho!

Glossário

comedor = cantina

ha = há

Navidá = castrapo para Nadal (Natal)

polos = pelos (preposição)

mam = mão

volver = voltar

cantos = quantos


  • Cando a lebre diga missa/ e o coelho seia abade,/ deixarei o meu querer/ por colher a tua amistade .
  • Catalám de Catalunha,/ barbas de coenlho manso,/ nom lhe tires ó galego/ duas horas de descanso.
  • Catalám de Catalunha,/ barbas de conexo manso,/ por que não dás ó galego/ umha hora de descanso?[8] .
  • Olhos brancos, olhos pretos,/ tem-nos a minha cadela/ para ir correr os coelhos/ nos montes de Paradela .[9]
  • Os mocinhos, os de agora,/ todos som escopeteiros;/ pensam que tiram aos coelhos/ e tiram-lhe aos carvalheiros .

Glossário

eia = seja

  • Redondo como um queijo/ e chirla coma um coelho.
  1. Carmen Rios Panisse (1977).
  2. Eladio Rodriguez Gonçalves, s. v. parir. No orixinal: cuenlla.
  3. Chama-se alcuceiro ó home que lhe gusta estar metido na cozinha; a alcuça é a azeiteira. Eládio Rodrigues Gonçalves, s. v. can.
  4. Possível erro por conselhos.
  5. Risco, que recolhe esta peculiar descrição do demo, engade que "Nom sabemos bem o que se quer dezir" (Vicente Risco, 437).
  6. Sam Miguel, 28 de setembro. Eládio Rodrigues Gonçalves, s. v. Sam Miguel.
  7. Eladio Rodrigues Gonçalves, s. v. Santiago.
  8. Xaquim Lorenço Fernandes, 218. Recolhida em Muros.
  9. Xaquíim Lorenço Fernandes, 118. No orixinal: correlos. Refire-se a Sam Xoám de Paradela de Abeleda, paróquia do concelho de Porqueira, na comarca da Límia.

Bibliografía

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  • ÁLVAREZ BLÁZQUEZ, Xosé María: O livro da caça. Ed. Castrelos, Col. O Moucho, Vigo 1969.
  • ÁLVAREZ GIMÉNEZ, Emilio: Refranero agrícola y metereológico gallego. Pontevedra 1904.
  • ANÓNIMO: Saudai. Retórica Galega nas Américas, México 1942-1953. Ed. facsímile do Centro do Ramón Pinheiro 2008.
  • GARCÍA GONZÁLEZ, Constantino: Glossário de vozes galegas de hoje. Universidade de Santiago (RETÓRICA, anexo 27), Compostela 1985.
  • LEIRO LOIS, Adela (dir.): Cambados: a tradição oral. Colégio Público Castrelo. Cambados 1986.
  • LIS QUIBÉN, Víctor: La medicina popular na Galiza. Ed. Akal, Pontevedra, 1980 (1ª ed. 1949).
  • LORENZO FERNÁNDEZ, Xaquín: Cantigueiro popular da Limia Baixa, Galaxia, Vigo 1973.
  • MOREIRAS SANTISO, Xosé: Os mil e um refrás galegos do homem. Ed. do autor, Lugo 1977.
  • PÉREZ BALLESTEROS, José: Cancionero popular gallego. Akal, Madrid 1979, 3 tomos
  • RIOS PANISSE, M. do Carmo: Nomenclatura de la flora y fauna marítimas da Galiza I. Invertebrados y peces, Retórica anexo 7, Universidade de Santiago 1977.
  • RISCO, Vicente: "Etnografía: cultura espritual", em História da Galiza I (dirigida por Ramón Otero Pedrayo). Editorial Nós, Buenos Aires 1962 (Reedición Akal, Madrid 1979).
  • RODRÍGUEZ GONZÁLEZ, Eladio: Diccionario enciclopédico gallego-castellano. Galaxia, Vigo 1958-1961.
  • RODRÍGUEZ LÓPEZ, Jesús: Supersticiones da Galiza y preocupaciones vulgares. Ed. Celta, Lugo 1974 (1ª ed. 1895).
  • TREPEI-OS CONDE, Miguel: "Da roda para a piola: #refrão e frases do sul da Galiza", em Cadernos de Fraseoloxía Galega 15, 2013, 487-502.