Comissão astronômica de 1858
A Comissão Astronômica de 1858 foi um grupo de estudiosos que participaram da expedição organizada por D. Pedro II, em 1858, que tinha como objetivo observar e estudar um eclipse total do Sol, na Baía de Paranaguá e inserir o Brasil no cenário astronômico mundial da época. [1]
Contexto Histórico
[editar | editar código-fonte]Enquanto na Europa os estudos astronômicos já eram praticados de forma aprofundada e consistente, o Imperial Observatório do Rio de Janeiro sofria com condições precárias e falta de incentivo. O observatório brasileiros estava muito distante do importante e ativo Observatório de Paris.[1]
O Brasil, além disso, era palco de diversos estudos científicos, sendo organizadas expedições por todo seu território em que se estudavam os recursos naturais do país, enquanto isso a astronomia era praticamente ignorada.[1]
D. Pedro II foi um grande incentivador das ciências, principalmente da Astronomia, e por isso viu, em 1858, a oportunidade de inserir o Brasil nos estudos astronômicos da época. Nesse ano, iria ocorrer um eclipse solar total próximo a capital do Império, e foi calculado, que coincidentemente ocorreria no dia 7 de setembro, data de aniversário da Independência do Brasil. Diante do local que ocorreria o eclipse e do simbolismo da data, o momento era propício para a realização de uma grande expedição para observação e estudo científico do acontecimento astronômico.[1]
História
[editar | editar código-fonte]O Governo nomeou a comissão no dia 6 de agosto. Esta contava com: Candido Baptista de Oliveira; Antonio Manuel de Melo; e o principal deles, Dr. Emmanuel Liais. Além de mais quatro oficiais do Exército.[2]
O governo também disponibilizou todo aparato necessário para a expedição, como material para construir abrigos e acomodações, caso necessário, e até mesmo dois navios, a corveta Pedro II e a canhoneira Tietê.[3]
Linha do Tempo
[editar | editar código-fonte]De acordo com relatório escrito por Candido Baptista de Oliveira a expedição ocorreu nessa linha do tempo:[1]
- 24 de julho - Antonio Manuel de Melo apresentou uma tabela e indicou o porto Paranaguá como o ponto mais indicado para observar o eclipse[1]
- 28 de julho - Emmanuel Liais desembarcou no Brasil[1]
- 4 de agosto - Liais apresentou novo relatório e o porto de Paranaguá foi confirmado como o destino da expedição[1]
- 6 de agosto - Nomeação da comissão[1]
- 18 de agosto - a expedição partiu rumo à Paranaguá com os equipamentos necessários[1]
- 20 de agosto - chegaram no destino[1]
- 23 de agosto - foram feitas as observações preliminares[1]
- 27 de agosto - comissão foi dividida em três diferentes grupos e realocada em três pontos distintos para a observação[1]
- 4 de setembro - chegam os últimos integrantes da comissão[1]
- 7 de setembro - ocorre o eclipse e sua observação[1]
Chegada em Paranaguá
[editar | editar código-fonte]A chegada da comissão na cidade de Paranaguá chamou a atenção da população da pequena cidade e os estudiosos foram convidados para festas nos dias anteriores ao eclipse. A comissão visitou essas festas, já que o clima na região era desfavorável para a montagem dos instrumentos e a realização de todos os testes preliminares, por conta das fortes chuvas que aconteciam por lá.[2]
Eles participaram de dois saraus, um no salão da Sociedade Terpsychore e outro no salão da Sociedade Recreio Familiar, além disso, foi organizado um baile comemorativo da Independência do Brasil, financiado com o dinheiro da própria população que levantou 900 mil réis para a realização da grande festa.[2]
Escolha do local para instalação dos equipamentos
[editar | editar código-fonte]Através de cálculos para identificar a linha central do eclipse foi descoberto que a chácara do médico suíço Carlos Tobias Reichsteiner era o local ideal para montar o observatório. Por conta disso montaram os equipamentos ao longo do jardim da chacará.[2]
Na extremidade oeste do jardim se posicionaram Antonio Manuel de Melo e Cândido Batista de Oliveira, acompanhados dos oficiais brasileiros enquanto na extremidade Leste ficou Emmanuel Liais sozinho.[2]
Integrantes da comissão
[editar | editar código-fonte]Emmanuel Liais
[editar | editar código-fonte]Astrônomo belga do Observatório de Paris, chegou ao Brasil por conta própria para observar o eclipse e após sua chegada foi oficialmente chamado para participar da expedição. Foi o principal nome da astronomia mundial que participou da comissão. [2]
Lias publicou seis artigos científicos, à respeito da expedição, no periódico científico Comptes Rendus, da Academia de Ciências de Paris, um dos periódicos mais prestigiados da época.[4]
A experiência foi tão positiva que Liais permaneceu no país por mais 25 anos e chegou a ser indicado pelo Imperador para ser diretor do Observatório Imperial no Rio de Janeiro.[4]
Cândido Batista de Oliveira
[editar | editar código-fonte]Era senador, conselheiro do Imperador e estudioso. Ele já havia produzido diversos trabalhos de astronomia, além de ser ex-aluno do famoso astrônomo francês, François Arago.[2]
Produziu o relatório oficial da expedição, contando detalhadamente os trabalhos, a rotina e os eventos anteriores que levaram até o dia do eclipse[1].
Antonio Manuel de Melo
[editar | editar código-fonte]Conselheiro do Imperador, coronel do Corpo de Engenheiros e na época era ainda diretor do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, importante instituição científica que estava por trás da organização da expedição, junto com o Imperador D. Pedro II.[2]
Instrumentos utilizados
[editar | editar código-fonte]- Telescópio equatorial[3]
- Cometoscópio[3]
- Sextante[3]
- Teodolito[3]
- Cronômetro[3]
- Telescópio de quatro oculares, e uma delas fotografica[3]
- Polariscópio de Savart[3]
Fatos marcantes
[editar | editar código-fonte]Durante a observação do eclipse foi usado pela primeira vez a técnica da fotografia para um registro astronômico no Brasil. Foram obtidas quinze placas fotográficas, das quais apenas doze puderam ser aproveitadas.[1] Através das fotografias, Liais conseguiu criar um novo método para medir longitudes.[3]
Os principais objetivos de Emmanuel Lias durante a expedição era observar a coroa, as protuberâncias e as manchas solares. A partir dessa observação, relatou ter identificado, pela primeira vez, que a coroa solar, comumente vista durante os eclipses, é fracamente polarizada. Outro importante feito foi o combate a tese de que as protuberâncias solares eram provocadas pelas manchas solares, este último recebeu até mesmo a aprovação da Academia Francesa de Ciências.[5]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q «O ECLIPSE SOLAR DE 7 DE SETEMBRO DE 1858 E A MODERNIZAÇÃO DA ASTRONOMIA NO BRASIL» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2018
- ↑ a b c d e f g h «Ciência e natureza nas expedições astronômicas para o Brasil (1850-1920)» (PDF). Consultado em 27 de novembro de 2018
- ↑ a b c d e f g h i MIRANDA, ANA. O peso da Luz. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b «AS VIAGENS DO TEMPO: Um projeto científico para o Brasil Imperial» (PDF). Consultado em 28 de novembro de 2018
- ↑ «A observação de eclipses totais do Sol no Brasil». Consultado em 28 de novembro de 2018