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Crise da dívida externa latino-americana

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Crise da dívida externa foi uma sucessão de problemas econômicos que atingiu a América Latina após a declaração de moratória da dívida externa pelo governo do México em 1982. Foi a mais grave da história da América Latina com queda de renda, diminuição do emprego e aumento da inflação.[1] Devido a crise, a maioria das nações abandonou a política de substituição de importações e adotaram outras voltadas para a exportação, estratégia de fundo neoliberal encorajada pelo FMI, exceto Chile e Costa Rica que preferiram estratégias reformistas. A taxa de crescimento real do PIB para a região foi de apenas 2,3 por cento entre 1980 e 1985, mas, em termos per capita, a América Latina experimentou um crescimento negativo de quase 9 por cento. De 1982 a 1985 a América Latina pagou empréstimos de 108 bilhões de dólares.[1] Em 1989 foi elaborado o Plano Brady, geralmente apontado como o que levou ao fim da crise.

A moratória do México

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Durante a década de 1970, o crédito barato e abundante estimulou o endividamento dos países latino-americanos. Esse dinheiro permitiu que fossem realizados grandes investimentos sem que as importações aumentassem. Esse cenário possibilitou que os países tivessem grandes taxas de crescimento econômico. No Brasil esse período é conhecido como "milagre brasileiro".

Apesar do grande crescimento econômico experimentado pelo México no final da década de 1970, a sua economia ainda era vulnerável e altamente dependente da economia estadunidense. Grande parte do comércio e financiamento eram realizados com o vizinho do norte.

A partir de outubro de 1979, teve início uma forte elevação dos juros pelo Federal Reserve, iniciada sob o comando de Paul Volcker, nomeado para o cargo por Jimmy Carter. Essa alta foi mantida e intensificada no início do governo Reagan.[2] Essa alta fora motivada para conter a alta da inflação, provocando a primeira recessão do pós-guerra. Outra possível causa, segundo Stephen Kanitz [3] foi a alegada por alguns de que os limites impostos pela regulamentação bancária do governo dos EUA que proibiu seus bancos de emprestarem mais de dez vezes o valor do seu capital, transformou-se numa regra que, quando a inflação corroeu seus limites de crédito, forçou-lhes a cortarem o acesso dos países subdesenvolvidos a economia internacional.

A retração estadunidense provocou uma diminuição das compras de produtos mexicanos e na oferta de financiamento, juntou-se a isso a queda no preço das principais commodities exportadas pelo México. Este processo culminou com a interrupção dos pagamentos da dívida por parte do México no mês de agosto de 1982, moratória de 90 dias decretada pelo ministro Jesús Silva Herzog Flores.[4]

O contágio da crise

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A maioria dos países da América Latina foi afetada pela crise devido ao alto endividamento das suas economias. A dificuldade de acesso a financiamento externo decorrente da moratória mexicana provocou graves crises de liquidez nesses países. Essa época ficou conhecida como "a década perdida".

Durante a década de 1970 o Brasil aproveitou a abundância de crédito para realizar um grande plano de investimentos. A crença na continuidade das condições favoráveis e no aumento dos fluxos de comércio internacional deixou o país vulnerável. A elevação do serviço da dívida em decorrência do aumento da taxa de juros e a dificuldade na obtenção de divisas devido a diminuição das exportações levou a uma séria crise de liquidez.

Os problemas no México e na Argentina se refletiram no Brasil em setembro de 1982, conhecido como "setembro negro". Para fechar seu balanço, o país precisou de um empréstimo de 3 bilhões de dólares (1/3 com bancos oficiais e 2/3 com bancos comerciais) . A partir daí passou-se para acordos com a comunidade internacional, com as seguintes fases:[5]

  • Fase 1 - 1983:
    • Novos empréstimos em moeda (New Money) com o "Credit and Guaranty Agreement" (CGA) em 25 de fevereiro de 1983 - 4,4 bilhões de dólares envolvendo 173 instituições internacionais (Projeto 1).
    • "Deposit Facility Agreement (DFA)" - depósito em moeda nacional em contas do Banco Central em nome dos credores para amortização em 8 anos, com carência de dois anos e meio - 4,3 milhões e 660 credores participantes (Projeto 2)
    • Linhas de Crédito Comercial (Trades Lines) - Garantia de crédito para o comércio internacional brasileiro - 10,4 bilhões e participação de 174 bancos (Projeto 3).
    • Linhas de crédito interbancário - Provimento de recursos para as agencias bancárias brasileiras do exterior. - 6 bilhões de dólares, com a participação de 260 bancos (Projeto 4).
  • Fase 2 - 1984: Os projetos anteriores foram renomeados para A,B,C e D, com formalização dos acordos 3(C) e 4 (D) e ajuste dos valores, prazos e condições.
  • Fase 3 - 1985/1986: Em 25 de julho de 1986 por um documento chamado term sheet foram assinado três contratos que somaram 24,8 bilhões de dólares (sem dinheiro novo):
    • "Amendment nº 1 to the Deposit Facility Agreement para o Projeto 2(B) e seus DFAs"
    • "1986 Trade Commitment Letter, prorrogando o Projeto 3 (C)"
    • "1986 Interbank Commintment Letter, prorrogando o Projeto 4 (D)"
  • Fase 4 - 1987/1988 - Em fevereiro de 1987 o Ministro da Fazenda Dilson Funaro decretou a "moratória da dívida externa". Em setembro de 1988 foi firmado o acordo com inovações importantes:
    • Novos empréstimos em moeda (new money) - 5,2 bilhões de dólares distribuídos em quatro contratos:"Parallel Financing Agreement", "Commercial Bank Cofinancing Agreement", "New Money Bond Subscription Agreement" e "New Money Trade Deposit Facility Agreement", ou MYDFA.
    • Manutenção, no montante de 14,4 bilhões de dólares, das linhas de crédito comercial e interbancária dos projetos 3 e 4 (ou C e D) das fases anteriores
    • Conversão da dívida em "bônus de saída" (exit bond)- 1,05 bilhão de dólares conforme o chamado "Brazil Investiment Bond Exchange Agreement", conhecido como BIB.

As ideias que nortearam essas politicas de liberalização da economia foram elaboradas nos Estados Unidos, por meio de reuniões entre funcionários do governo norte-americano e de organismos financeiros e de desenvolvimento internacionais (FMI e Bird-o Banco Mundial), e ficaram conhecidas como Consenso de Washington.[carece de fontes?]

Referências

  1. a b García Bernal, Manuela Cristina (1991)."Iberoamérica: Evolución de una Economía Dependiente".In Luís Navarro García (Coord.), Historia de las Américas, vol. pgs 565-619.Madri/Sevilha: Alhambra Longman/Universidad de Sevilla.ISBN 978-84-205-2155-8
  2. O PERÍODO DE 1981 A 1985 DO GOVERNO REAGAN E O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DOS EUA COMO PRINCIPAL POTÊNCIA MUNDIAL, acesso em 19 de abril de 2019
  3. Kanitz, Stephen. «Brazil: The Emerging Boom 1993-2005 Capítulo 2». brazil.melhores.com.br 
  4. García Bernal, Manuela Cristina (1991). "Iberoamérica: Evolución de una Economía Dependiente". In Luís Navarro García (Coord.), Historia de las Américas, vol. IV, pgs. 565-619. Madri/Sevilha: Alhambra Longman/Universidad de Sevilla. ISBN 978-84-205-2155-8
  5. GAROFALO FILHO, Emilio - Câmbios no Brasil - Bolsa de Mercadorias & Futuros - 2000 - Pgs. 63/66 - baseado em resumo do Manual denominado Dívida Externa Brasileira (1996) de Cesar Aires Cerqueira