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Dellingr

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Nótt
Personificação do Alvorecer/Amanhecer
Reino Jötunheimr
Clã Jötun
Cônjuge(s) Nótt
Filho(s) Dagr
Grego equivalente Eos
Portal:Mitologia nórdica

Dellingr (em nórdico antigo possivelmente "a aurora"[1] ou "aquele que brilha"[2]) é um deus da mitologia nórdica. Dellingr é atestado na Edda em verso, compilada a partir de fontes tradicionais antes do século XIII, e na Edda em prosa, escrita no século XIII por Snorri Sturluson. Em ambas as fontes, Dellingr é descrito como o pai da Dagr(a personificação do dia). A Edda em prosa acrescenta que, dependendo da variação de manuscritos, ele seja o terceiro marido de Nótt (a personificação da noite), ou o marido de Jörð, (a personificação da Terra). Dellingr também é atestado na lendária saga Hervarar saga ok Heiðreks konungs.[3] Estudiosos propuseram que Dellingr é a personificação do amanhecer, e seu nome pode aparecer tanto em um sobrenome inglês ou em um nome de cidade.

Edda em verso

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Dellingr é referenciado nos poemas Vafþrúðnismál e Hávamál da Edda em verso. Na estrofe 24 de Vafþrúðnismál, o deus Odin (disfarçada de "Gagnráðr") pergunta ao jötunn Vafþrúðnir de onde chega o dia, e a noite e suas marés. Na estrofe 25, Vafþrúðnir responde:

Tradução de Benjamin Thorpe:
Dellingr hight he who the day's father is, but
night was of Nörvi born; the new and waning moons the
beneficient powers created, to count the years for men.[4]
Tradução literal em português:
Altíssimo Dellingr, que é o pai do dia, mas a
noite nascida de Nörvi, as luas nova e minguante os
poderes beneficentes criaram para contar os anos para os homens.

Em Hávamál, o anão Þjóðrœrir é indicado por ter recebido um feitiço sem um nome diante das "portas de Dellingr":

Tradução de Benjamin Thorpe:
For the fifteenth I know what the dwarf Thiodreyrir
sang before Dellingr's doors.
Strength he sang to the Æsir, and to the Alfar prosperity,
wisdom to Hroptatyr.[5]
Tradução literal em português:
Para o décimo quinto eu sei o que o anão Thiodreyrir
cantou diante das portas de Dellingr.
Cantou força para Æsir, e prosperidade para Alfar,
sabedoria para Hroptatyr.

No poema Fjölsvinnsmál, Svipdagr pergunta: "qual dos deuses criou a sala tão grandiosa que eu contemplo?" Fjölsviðr responde com uma lista de nomes, incluindo Dellingr.[6] Em uma estrofe do poema Hrafnagaldr Óðins, o aparecimento de Dagr em seu cavalo e carruagem são descritos, e Dagr se é referido como "o filho de Dellingr".[7]

Edda em prosa

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No capítulo 10 do livro Gylfaginning da Edda em prosa, a figura entronizada do Altíssimo declara que Dellingr é um deus e o terceiro marido de Nótt. Dagr, o filho do casal, é descrito como "tão brilhante e belo como o povo de seu pai". Odin tomou Dagr e sua mãe Nótt, deu a cada um deles uma carruagem e um cavalo e os colocou no céu para cavalgarem em torno da Terra a cada 24 horas.[8]

No entanto, o estudioso Haukur Thorgeirsson aponta que os quatro manuscritos de Gylfaginning variam em suas descrições das relações familiares entre Nótt, Jörð, Dagr, e Dellingr. Em outras palavras, dependendo do manuscrito, ou Jörð ou Nótt é a mãe de Dagr e parceira de Dellingr. Haukur detalha que "o manuscrito mais antigo, U, oferece uma versão onde Jǫrð é a esposa de Dellingr e mãe de Dagr enquanto os outros manuscritos, R, W e T, citam Nótt no papel de esposa de Dellingr e mãe de Dagr", e argumenta que "a versão em U surgiu acidentalmente quando o escritor de U ou seu antecedente encurtou um texto semelhante ao de RWT. Os resultados deste acidente entraram na tradição poética islandesa".[9]

Hervarar saga ok Heiðreks

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Cinco enigmas encontrados no poema Heiðreks gátur contidos na lendária saga de Hervarar saga ok Heiðreks konungs empregam a expressão "portas de Dellingr" (em nórdico antigo Dellings duro) uma vez a cada.[3] Por exemplo, em uma estrofe, onde a expressão é usada por Gestumblindi (Odin disfarçado) coloca a seguinte charada:

Tradução de Christopher Tolkien:

What strange marvel
did I see without,
in front of Dellingr's door;
its head turning
to Helgardh downward,
but its feet ever seek the sun?
This riddle ponder,
O prince Heidrek!
Tradução literal em português:
Qual estranha maravilha
eu vi lá fora,
diante da porta de Dellingr:
sua cabeça baixa,
voltada para Helgardh,
mas seus pés sempre à procura do sol?
Medita sobre este enigma,
oh príncipe Heidrek!

'O enigma é bom, Gestumblindi', disse o rei, 'eu adivinhei-o. É o alho-porro, a sua cabeça é direita no chão, mas se bifurca à medida que cresce.'[10]

Jacob Grimm acrescenta que o sufixo "ling" provavelmente se refere a descendência, e que devido a isso Dellingr pode ter sido "o pai de Dagr" ou que a ordem sucessória foi revertida, o que Grimm declara acontece frequentemente nas antigas genealogias.[11] Benjamin Thorpe diz que Dellingr pode ter sido a personificação da aurora, similarmente ao seu filho Dagr, a personificação do dia.[12]

Em relação à referência "da porta de Dellingr" como usado em Hervarar saga ok Heiðreks konungs, Christopher Tolkien cita que:

É impossível dizer o que essa frase significa para o criador desses enigmas. Em Hávamál 160 fala-se que o anão Thjódrørir cantou diante das portas de Delling, que (tendo em vista o fato de Delling ser o pai de Dagr (dia) em Vafþrúðnismál 25) pode significar que ele deu o aviso ao seu povo que o Sol estava nascendo, e eles devem retornar às suas casas escuras, a frase, então, praticamente significa "ao nascer do sol". Em relação a dǫglings para Dellingr em H, os Dǫglingar eram descendentes de Dagr (de acordo com 183 da Edda em prosa).[13]

John Lindow diz que existe alguma confusão sobre a referência a Dellingr em Hávamál. Fala que "as portas de Dellingr" podem ser uma metáfora para o nascer do Sol ou a referência pode referir-se ao anão de mesmo nome.[14]

O nome de família inglês Dallinger foi teorizado como derivando de Dellingr.[15] O nome da cidade inglesa de Dalbury (sul de Derbyshire) deriva de Dellingeberie, que em si deriva de Dellingr.[16]

Referências

  1. Bellows (1936:75).
  2. Orchard (1997:32).
  3. a b Tolkien, C. J. R. (1960). Hervarar Saga ok Heidreks Konungs (PDF) (em inglês). Nova Iorque: Oxford University, Trinity College. Consultado em 26 de março de 2013 
  4. Thorpe (1907:13).
  5. Thorpe (1907:47).
  6. Thorpe (1907:100).
  7. Thorpe (1866:31–32).
  8. Byock (2005:19).
  9. Haukur (2008:159—168).
  10. Tolkien (1960:35).
  11. Stallybrass (1883:735).
  12. Thorpe (1851:143).
  13. Tolkien (1960:34).
  14. Lindow (2001:93).
  15. Barber (1968:26).
  16. Kerry (1897:63).
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Dellingr».
  • Barber, Henry (1968). British Family Names: Their Origin And Meaning (em inglês). [S.l.]: Genealogical Publishing Company. ISBN 978-0-8063-0021-4 
  • Bellows, Henry Adams (1936). The Poetic Edda (em inglês). [S.l.]: Princeton University Press 
  • Byock, Jesse (2005). The Prose Edda (em inglês). [S.l.]: Penguin Classics. ISBN 0-14-044755-5 
  • Haukur, Thorgeirsson (2008). «"Hinn fagri foldar son"». Gripla XIX (em islandês). [S.l.]: Instituto de Estudos islandês Árni Magnússon. 206 páginas 
  • Kerry, Charles (1897). Journal of the Derbyshire Archaeological and Natural History Society (em inglês). [S.l.]: Derbyshire Archaeological Society 
  • Lindow, John (2001). Norse Mythology: A Guide to the Gods, Heroes, Rituals, and Beliefs (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 0-19-515382-0 
  • Orchard, Andy (1997). Dictionary of Norse Myth and Legend (em inglês). [S.l.]: Cassell. ISBN 0-304-34520-2 
  • Stallybrass, James Steven (1883). Teutonic Mythology (em inglês). II. [S.l.]: W.Swan Sonnenschein & Allen  Jacob Grimm (Trad.)
  • Thorpe, Benjamin (1851). Northern Mythology: Comprising the Principal Popular Traditions and Superstitions of Scandinavia, North Germany, and the Netherlands (em inglês). [S.l.]: E. Lumley 
  • Thorpe, Benjamin (1866). Edda Sæmundar Hinns Frôða: The Edda of Sæmund the Learned (em inglês). Londres: Trübner & Co.  Parte I
  • Thorpe, Benjamin (1907). The Elder Edda of Saemund Sigfusson (em inglês). [S.l.]: Norrœna Society 
  • Tolkien, Christopher (1960). The Saga of King Heidrik the Wise (em inglês). Traduzido do islandês com introdução, notas e apêndices por Christopher Tolkien. [S.l.]: Thomas Nelson and Sons LTD