Saltar para o conteúdo

Dora Schindel

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Dora Schindel (Munique, 16 de novembro de 1915Bonn, 11 de janeiro de 2018) foi uma alemã judia perseguida pelo nazismo que, graças a negociações entre o Vaticano e o governo Varguista, conseguiu se salvar, emigrando para o Brasil em 1941.[1]

Dora Schindel cresceu em um lar judeu de classe média. Em 1935, ela obteve seu diploma do ensino médio na escola secundária reformada para meninas. Aquele foi o ano das Leis de Nüremberg. Por causa disso, ela já não pôde se matricular em uma universidade na Alemanha e decidiu fazer uma formação como assistente técnico-química. Foi também no mesmo ano que Dora conheceu Hermann Mathias Görgen, para quem trabalhou na resistência política contra o nacional-socialismo, iniciando sua migração sucessiva: foi com ele para Zurique em 1937. Em 1939 os dois foram para Genebra, a partir de onde começaram a se organizar no apoio a intelectuais emigrados. Com o início da Segunda Guerra Mundial, a Suíça reforçou a sua legislação; Agora servia apenas como país de trânsito para emigrantes. Foi então que Görgen e Schindel, articulados ao Professor Friedrich Wilhelm Förster organizaram juntos a emigração para o Brasil de cerca de 50 pessoas. O grupo incluía a estudiosa do romance Susanne Bach, o biólogo Alfred Goldschmidt, o músico Georg Wassermann, o escritor Ulrich Becher, o médico Ludvik Werner e sua mulher Gertraut, enfermeira pela Cruz Vermelha, e o engenheiro e jornalista Walter Kreiser.Apesar da presença de muitos intelectuais e humanistas no grupo, este se apresentava como uma equipe de técnicos que planejava montar uma indústria no Brasil.[2]

Mas havia complicações para a viagem. O acordo do governo brasileiro com o Vaticano previa aceitar católicos ou católicos novos (primeiro, os batizados até 1933; depois, os batizados até 1935) perseguidos pelo III Reich. A grande maioria do grupo já era considerado apátrida e não possuía mais um passaporte válido[3]. Para a viagem, conseguiram negociar, junto ao governo tcheco de Edvard Beneš, no exílio em Londres, passaportes como tchecos e católicos. Conseguiram também obter vistos de trânsito para a França, Espanha e Portugal[4].

No início de1941, o grupo saiu do porto de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, a grande maioria em um mesmo navio. Se fixaram em Juiz de Fora, fundando a indústria INTEC, que existiu entre 1941 e 1954[5]. Dora Schindel ficou como gerente comercial da empresa. Durante todo o período de guerra, o grupo esteve na mira do governo e dos vizinhos, e seus membros foram acusados de judeus, de nazistas e de espiões. Internamente, os problemas também se multiplicavam, produzindo dissidências e rupturas.

Após o fim da guerra, Görgen e Schindel permaneceram no país até a venda da INTEC, em 1954. Em 1955, Schindel recebeu a cidadania brasileira e mudou-se para a Suíça. A partir de 1957 ela voltou a trabalhar para Görgen, que havia se tornado membro do parlamento em Bonn pela CSU Saar[6]. Em 1960 os dois fundaram a Sociedade Teuto-Brasileira[7]. Mesmo quando Görgen se tornou representante especial da Assessoria de Imprensa Federal, Schindel o acompanhou em suas viagens. Em 1986 ela obteve novamente o passaporte alemão. Dora Schindel morreu em Bonn em 2018, aos 102 anos. Seu patrimônio documental está no Arquivo do Exílio Alemão da Biblioteca Nacional Alemã, em Frankfurt.

Referências

  1. Milgram, Avraham (1 de janeiro de 1995). «Reflexões Sôbre o Vaticano, os Judeus, e a America Latina Durante a II Guerra Mundial». EIAL - Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe (1). ISSN 0792-7061. doi:10.61490/eial.v6i1.1206. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  2. Carneiro, Maria Luiza Tucci (2021). «Entre-mundos: a travessia dos refugiados do nazifascismo. Brasil, 1933-1945». Cadernos de Literatura Comparada: 143–159. ISSN 2183-2242. doi:10.21747/21832242/litcomp45d1. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  3. Milgram, Avraham. Os judeus do Vaticano: a tentativa de salvação de católicos não-arianos da Alemanha ao Brasil através do Vaticano (1939-1942). Imago, 1994.
  4. Santos, Jair (5 de julho de 2022). «A diplomacia pontifícia e os refugiados judeus no Brasil (1939-1941): uma investigação preliminar nos arquivos de Pio XII». Revista de História (181): 1–34. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.2022.191259. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  5. Facchinetti, Cristiana. «La Fábrica INTEC: intelectuales, saberes y tecnologías en la huida del nazismo y en el refugio en Brasil (1938-1954)». Em Expert knowledge, international actors and Latin American states during the 20th century, editado por Stefan Rinke e José Ignacio Allevi. Histoamericana. Leipzig: wbg Academic, 2024.
  6. Mintzel, Alf (1977). «Parlamentarische Repräsentanz und Regierungsbeteiligung in Bonn». Wiesbaden: VS Verlag für Sozialwissenschaften: 345–376. ISBN 978-3-531-11358-6. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  7. Heberle Viegas, Danielle (14 de dezembro de 2023). «Ajuda para auto-ajuda?: Pressupostos e dimensões do Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha Federal (1963)». Revista Brasileira de História da Ciência (2): 447–467. ISSN 2176-3275. doi:10.53727/rbhc.v16i2.912. Consultado em 26 de agosto de 2024