Engrácia de Saragoça
Santa Engrácia de Saragoça | |
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Santa Engrácia, por Bartolomé Bermejo | |
Nascimento | 285 Bracara Augusta, Tarraconense (Império Romano) |
Morte | 303 ou 305 César Augusta, Tarraconense (Império Romano) |
Veneração por | Igreja Católica e Igreja Ortodoxa |
Canonização | Antiguidade tardia |
Principal templo | Igreja Basílica de Santa Engrácia, Saragoça |
Festa litúrgica | 16 de abril |
Portal dos Santos |
Santa Engrácia (em castelhano: Santa Engracia) (Bracara Augusta, ca. 285[1][2] — César Augusta, ca. 303[2] ou 305[1]) é venerada como virgem mártir e como santa na Igreja Católica e na Igreja Ortodoxa. Segundo a tradição, foi martirizada com mais dezoito companheiros seus no ano de 303.[3][2] Partilha o nome próprio, o trágico destino e provavelmente a mesma cidade natal com Engrácia de Braga, personalidade que viveu séculos mais tarde.
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]No final do século III, o número de cristãos havia aumentado no Império Romano, graças à menor pressão das leis do tempo do Imperador Galiano. Encontravam-se cristãos um pouco por todo o lado: no campo (mas mais nas cidades), nos fóruns, entre os escravos, no exército e também entre mercadores. A fé em Cristo também se havia espalhado devido a um certo desencantamento e aborrecimento do culto aos deuses pagãos, aos testemunhos que deram os mártires, à transmissão oral e aos bons exemplos praticados pelos devotos cristãos.[3][2][1]
O atual imperador, Diocleciano, havia conseguido a unidade territorial, política e administrativa, querendo também alargar estas conquistas à religião. Para isso, seria necessário acabar com a fé em Cristo que naturalmente se encontrava em oposição à religião oficial do Império, o Politeísmo Romano. Para tal, outorga quatro éditos e nomeia cuidadosamente os governadores que crê serem capazes de os fazer cumprir.[3][2][1]
Vida e martírio
[editar | editar código-fonte]Engrácia era uma jovem de Bracara Augusta (atual Braga) prometida em casamento a um nobre da região de Rossilhão, na província da Gália Narbonense, sul da atual França. Para escoltá-la na viagem fora o seu tio Lupércio (por vezes identificado com Lupércio, o bispo da antiga Diocese de Eauze), dezoito cavaleiros e uma empregada, de nome Júlia. Ao chegar à cidade de César Augusta (atual Saragoça) e ao inteirar-se das atrocidades que o presidente (governador), Públio Daciano, cometia junto dos cristãos (por decreto do Imperador), apresenta-se espontânea e diretamente diante de si para o confrontar com as crueldades, injustiças e a insensatez com que tratava os seus irmãos de religião. Termina martirizada com a oferta da sua própria vida e a dos seus companheiros, assim que se percebe que era também cristã.[3][2]
Nos registos do martírio, os feitos encontram-se descritos da maneira tradicional, tanto que acaba por ser difícil separar a realidade dos factos daquilo que poderá ser produto da imaginação, consequência da piedade dos cristãos. Com efeito, o diálogo entre a frágil donzela e o cruel governador afigura-se-nos claro: ela usando raciocínios humanos e firmes na sua fé com que acusa a injustiça cometida (que hoje diríamos serem questões de Direitos Humanos), a existência de um deus único a quem serve, a loucura dos deuses pagãos e a disposição em sofrer até ao fim pelo amado; ele, por seu turno, utiliza recursos como o castigo, a ameaça, a promessa e a persistência. Em resumo, a pormenorizada e pura descrição do tormento da jovem conta que primeiro foi açoitada, depois atada a um cavalo e arrastada, o seu corpo é rasgado com ganchos e os seus peitos cortados. Depois foram colocados pregos no seu corpo. Para que sofresse ainda mais, abandonaram-na quase morta, submetida a um indescritível sofrimento por todas as suas feridas, até morrer. Os dezoito acompanhantes foram degolados nos arrabaldes da cidade.[3][2][1]
Inumeráveis Mártires de Saragoça
[editar | editar código-fonte]Além de serem incluídos Engrácia, Lupércio e Júlia, são igualmente conhecidos por Inumeráveis Mártires de Saragoça os seguintes nomes: Optato, Caio, Crescente, Sucesso, Marcial, Urbano, Quintiliano, Públio, Frontónio, Félix, Ceciliano, Evódio, Primitivo, Apodémio e mais quatro homens de nome Saturnino. Com o nome destes últimos, há outra tradição, com fontes que referiam que os seus nomes eram Cassiano, Jenaro, Matutino e Fausto.[3][4][5]
Veneração
[editar | editar código-fonte]O poeta Prudêncio, natural daquela cidade, escreveu vários poemas em honra destes mártires (Peristephanon), com a lista dos seus nomes e a descrição das terríveis torturas a que Engrácia foi sujeita. Prudêncio convidou a população a vergar-se diante dos seus túmulos sagrados e Engrácia foi, certamente, a mais venerada do grupo. O seu culto foi disseminado por toda a Península Ibérica e além-Pirenéus.[4][5]
A Igreja reconsagrou-a no decorrer do II Concílio de Saragoça, em 592, decreto celebrado a 3 de novembro, data esta que por vezes é usada como alternativa para assinalar a sua santidade no calendário litúrgico dos santos. No entanto, a celebração oficial e tradicional ocorre no dia 16 de abril em ambas as Igrejas Cristãs que a veneram.[4][6]
A Igreja Basílica de Santa Engrácia, em Saragoça, foi construída no lugar onde é dito que Engrácia e os seus companheiros foram martirizados. Foi destruída durante a Guerra Peninsular, tendo restado apenas a cripta e a porta. É reconstruída mais tarde, nos finais do século XIX e inícios do XX e serve atualmente como igreja paroquial.[5] Em Portugal, foi mandado erguer pela Infanta D. Maria, a Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, no ano de 1568. Em 1682 é iniciada a sua reconstrução devido a ter ficado severamente danificada por um temporal. Este monumento possui atualmente título de Panteão Nacional.[7]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Concílios nacionais, regionais ou plenários
- Concílios de Saragoça
- Anexo: Lista de santos
- Lista de santos portugueses
- Lista de santos e beatos católicos
- Calendário hagiológico
Referências
- ↑ a b c d e «SANTA ENGRACIA, Virgen y Mártir». ACI Prensa - Agencia Católica de Informações. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ a b c d e f g «Santa Engracia – Biografía». Parroquia Santa Engracia (em espanhol). 12 de outubro de 2010. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ a b c d e f «SANTA ENGRACIA Y LOS DIECIOCHO MÁRTIRES DE ZARAGOZA». www.mercaba.org. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ a b c Fabio Arduino (10 de abril de 2006). «Santa Engrazia su santiebeati.it». Santiebeati.it. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ a b c «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Saragossa». www.newadvent.org. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ «Calendário - Igreja Católica Ortodoxa de Portugal». www.igrejaortodoxa.pt. Consultado em 5 de março de 2018
- ↑ Canelas, Lucinda (12 de janeiro de 2014). «Património. A igreja que foi fábrica de sapatos é uma casa de heróis mal amada». PÚBLICO. Consultado em 5 de março de 2018
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Nascidos em 285
- Mortos em 303
- Mortos em 305
- Santos de Aragão
- Santos de Portugal
- Mártires cristãos
- Naturais de Braga
- Nascidos no século III
- Santos do Império Romano
- Romanos antigos do século III
- Romanos antigos do século IV
- Primeiros cristãos mártires
- Supostos virgens
- Hispano-romanos
- Pessoas executadas por esfolamento
- Pessoas executadas por inanição
- Mulheres do século IV
- Perseguição religiosa de Diocleciano
- Santos da Espanha
- Santos da Igreja Católica