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Envultamento

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Envultamento é um nome dado a ritos mágicos baseados na utilização de objetos, como imagens de cera, figurinhas, bonecas (por exemplo, as utilizadas no vudu) chamados de "vultos", que representam uma pessoa e aos quais se direcionam feitiços para transmitir efeitos de encantamento, benéfico ou maléfico, de simpatia ou antipatia, sobre o alvo "envultado" (encantado) nesse ato.[1][2][3][4]

Segundo a tradição popular brasileira[5] e portuguesa,[6] refere-se também ainda à suposta capacidade de certas pessoas de se tornarem invisíveis, o ato de se "envultar", mediante rezas ou outros encantamentos.[7][8] Nestes casos, a pessoa envultada se apresentaria aos que lhe queiram fazer mal na forma de pedras ou tocos de madeira até que se desencantassem,[9][10] quando tornariam a ser vistas.

Figura com pregos, Museum of Witchcraft, Boscastle

Do francês envoûter, derivado do latim vultus, "face, efígie, retrato", referindo-se ao envultado.[11][12] Efígie e dagyde (do grego, boneca) são também sinônimos para se referir ao objeto vulto.[13]

Segundo a classificação de James Frazer, antropólogos consideraram a prática do envultamento ao outro como um tipo de magia contagiosa, ao se utilizar objetos de contato prévio do alvo,[4][14] ou também de magia simpática, baseada no princípio de semelhança dos fetiches que imitam, como substitutos simbólicos da divindade ou do padecente ao qual se direciona.[3][15]

Os conhecedores das rezas para se envultar geralmente ensinam a poucos o seu saber, mantendo restrito o grupo de pessoas que as conhecem.[16] Ademais, a eficácia do envultamento exige a manutenção de um código peculiar de comportamento, que inclui, dentre outras obrigações, abster-se de sentar em batentes ou pedras de mó, de benzer-se três vezes seguidas e de tomar banho nas sextas-feiras.[16] Nas orações para envultar, são constante a invocação a Jesus e aos santos, em especial Santo Antônio, sendo escassas as menções a Maria,[17] comuns em outras orações católicas populares.[carece de fontes?]

Nas religiões sincréticas nordestinas, em especial o Catimbó, envultar refere-se ainda à prática de assentar entidades sobrenaturais em certos fetiches, notadamente troncos de jurema, que passam a ser objetos de veneração pelos fiéis.[18]

Referências

  1. Borba, Francisco da Silva (2004). Dicionário UNESP do português contemporâneo. [S.l.]: UNESP. p. 512 
  2. Cascudo, Luís da Câmara (1978). Meleagro: pesquisa do Catimbó e notas da magia branca no Brasil. [S.l.]: AGIR. pp. 142–145 
  3. a b Cascudo, Luís da Câmara (1962). Dicionario do folclore brasileiro. [S.l.]: Instituto Nacional do Livro. pp. 128, 294 
  4. a b Santos, Eduardo dos (1962). Sobre a religião dos Quiocos. [S.l.]: Junta de Investigações do Ultramar. p. 34 
  5. Souto Maior (1998, [p. ?])
  6. Póvoa do Varzim (1963, 345)
  7. Souto Maior (1998, p. 86)
  8. Maciel, Frederico Bezerra (1979). Lampiäo, seu tempo e seu reinado: Lampionidas. A imagem de lampião. Volume complementar e analítico. [S.l.]: Editora Universitäria. p. 125 
  9. Ailton (2011, p. 59)
  10. Castillo, Lisa Earl (1 de janeiro de 2008). Entre a oralidade e a escrita: a etnografia nos candomblés da Bahia. [S.l.]: SciELO - EDUFBA. p. 48 
  11. Lusitania; revista de estudos portugueses. [S.l.: s.n.] 1927 
  12. Société d'histoire et d'archéologie de Vichy et des environs (1983). Bulletin de la Société d'histoire et d'archéologie de Vichy et des environs (em francês). [S.l.: s.n.] 
  13. Neves, Márcia Cristina A. (1991). Do vodu à macumba. [S.l.]: Tríade Editorial 
  14. Ribeiro, José (1970). Pomba-Gira (mirongueira). [S.l.]: Editôra Espiritualista. p. 82 
  15. Valente, Waldemar (1986). Nordeste em tres dimensões folclóricas. [S.l.]: Editora ASA Pernambuco. p. 34 
  16. a b DIEGUES Jr. M. Orações. Acesso em 30 dez. 2014
  17. Brasil (1967, p. 21)
  18. Albuquerque (2003)
  • AILTON, D. Anésia Cauaçu. Itabuna, BA: Via Litterarum, 2011.
  • ALBUQUERQUE, M. A. dos S. Jurema: raízes etéreas (documentário). Filme independente, 2003.
  • BRASIL. Revista brasileira de folclore. Edições 17-25. Campanha de Defensa do Folclore Brasileiro, Ministério da Educação e Cultura, 1967.
  • PÓVOA DO VARZIM. Revista de etnografia. Volumes 1-2. Museu de Etnografia e História, 1963
  • SOUTO MAIOR, M. Orações que o povo reza. São Paulo: IBRASA, 1998.