Saltar para o conteúdo

Eremildo Luiz Viana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Eremildo Viana, à direita, em evento, conjuntamente a Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Eremildo Luiz Viana (Rio de Janeiro, 1913 - Rio de Janeiro, agosto de 1998) foi um historiador e professor universitário brasileiro. Como catedrático de História Antiga e Medieval da Faculdade Nacional de Filosofia ficou conhecido pelo seu apoio a Ditadura Militar. Inspirou o personagem "Professor Dedo Duro", de Sérgio Porto, e era tratado por Elio Gaspari sob a alcunha "o idiota".

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era irmão de Ydérzio Luiz Vianna. Seu irmão foi reitor da Universidade Rural do Brasil na época do golpe militar. Foi preso, expulso e processado por corrupção e subversão.[1][2]

Formação[editar | editar código-fonte]

Eremildo Luiz Vianna nasceu em 1913, no Rio de Janeiro. Realizou seus estudos no Colégio Pedro II, recebendo, em 1932, o bacharelato em Ciências e Letras. Em 1933 ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, e em 1935 no curso de História da Universidade do Distrito Federal. Concluiu a sua formação em Direito, abandonando o curso de História em 1937. A partir de 1939 tornou-se assistente na cadeira de História da Antiguidade e da Idade Média. A partir de 1944 assumiu a cadeira interinamente. Foi parte da geração de historiadores que criou as bases para o curso de História da Universidade do Brasil.[3]

Atuação[editar | editar código-fonte]

Tornou-se professor catedrático de História Antiga e Medieval em 1946, na Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, com a apresentação da tese de livre docência: Uma Fase do Imperialismo Romano: A Guerra de Roma contra Jugurta - Neugart & Cia.[4] Foi diretor da faculdade entre 1957 e 1963, com o discurso de modernização e renovação das diretorias conservadoras. Tentou a reeleição em 1963, porém sofreu forte oposição do movimento estudantil. Já naquele momento realizou a expulsão de quinze estudantes que realizavam uma manifestação contra a sua candidatura.[5][6][7]

Ditadura: ascensão e queda[editar | editar código-fonte]

Com o golpe militar de 1964 tornou-se figura destacada na instituição, e outros quatro estudantes foram expulsos.[5] Ajudado por tropas militares, ocupou a Rádio MEC, então dirigida por Maria Yedda Linhares, a pretexto de que lá existia um foco de agitação e havia armas armazenadas para desencadear atos subversivos. Nas semanas que se seguiram, Maria Yedda foi afastada, e Eremildo Viana passou a ocupar seu lugar.[6][7][8]

Com a reforma universitária, em 1965, o curso de História foi transferido para o recém criado Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que Eremildo dirigiu por quase toda a ditadura militar. Sob sua gestão denunciou funcionários, docentes e alunos, no total 44 professor em seu primeiro relatório. Sua mais conhecida vítima foi Maria Yedda Linhares, catedrática de História Moderna e Contemporânea,[6] mas também estavam na lista Guy José Paula de Holanda, Hugo Weiss, Manoel Mauricio de Alburquerque, Álvaro Vieira Pinto, Alberto Latorre de Faria e Nelson Werneck Sodré. Dizia-se que almejava o cargo de Ministro da Educação, e, para tal, aumentava seu repertório de denúncias.[7] Elio Gaspari era, na época, discente do curso de História, sendo também perseguido e expulso, em seus textos tratava Eremildo sob a alcunha "o idiota".[9][10][11]

Com o processo de instauração de comissões de investigações presididas por militares nas universidades brasileiras, o General Acir da Nóbrega Rocha havia sido encarregado de averigar a Universidade do Brasil. Eremildo denunciou a existência de uma cédula comunista chamada "Anchieta". O general, não conseguiu constantar a existência de tal organização, porém, descobriu irregularidades da gestão de Eremildo como diretor. Ele chegou a ser denunciado, mas seu processo foi arquivado, já que ele tinha sido "um dos mais destacados homens da Revolução".[12][9]

Sua gestão também ficou marcada pela censura. Era membro de uma corrente historiografica que buscava expurgar a subversão do fazer histórico. Diversas músicas foram proibidas de tocar na Rádio MEC, inclusive Rachmaninoff e Rimsky-Korsakov, por serem russos e por que Eremildo acreditava-se que não podia-se "misturar música com política".[9]

Pós-ditadura[editar | editar código-fonte]

Com a anistia geral, o clima na Universidade Federal do Rio de Janeiro tornou-se insustentável, já que agora Eremildo tinha que conviver com seus perseguidos. Aposentou-se, trabalhando na iniciativa privada, como consultor juridico.[12] No pós ditadura foi acusado diversas vezes de assédio sexual por suas alunas.[12][13]

Veio a falecer, vítima de um câncer aos 85 anos, em agosto de 1998. Naquele momento residia em um asilo de idosos. Foi sepultado no Cemitério do Caju.[12]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Ditadura na UFRRJ: uma ligação direta com as mudanças na história» (PDF)  line feed character character in |título= at position 23 (ajuda)
  2. Ferraz, Igor (9 de maio de 2024). «A Universidade Rural do Brasil e o Golpe de 1964 nas páginas de Correio da Manhã e O Globo». Observatório da Imprensa. Consultado em 4 de julho de 2024 
  3. Ferreira, Marieta de Morais. «Perfis e trajetórias dos professores universitários de História no Rio de Janeiro» 
  4. «Leilão em 07/05/2013». LeilõesBR. Consultado em 4 de julho de 2024 
  5. a b Redação (10 de maio de 2019). «Dulce Pandolfi: "Fui objeto de uma aula de tortura"». Agência Pública. Consultado em 4 de julho de 2024 
  6. a b c Matos, Sheila Cristina Monteiro; Faria, Lia Ciomar Macedo de. «A intelectual Maria Yedda Leite Linhares: memórias e diálogos». Revista Brasileira de Educação. Consultado em 4 de julho de 2024 
  7. a b c Pereira, Ludmila Gama (2010). «O historiador e o agente da história: os embates políticos travados no curso de História da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1959-1969)». Consultado em 4 de julho de 2024 
  8. «Correio da Manhã (RJ) - 1960 a 1969 - DocReader Web». memoria.bn.gov.br. Consultado em 4 de julho de 2024 
  9. a b c Pereira, Ludmila Gama. «A construção do saber histórico e projeto social: Os historiadores da UFRJ na época da. Ditadura Militar no Brasil (1964-1985).» (PDF) 
  10. Mondaini, Marco (11 de abril de 2023). «O direito à memória dos perseguidos de 1964». Brasil 247. Consultado em 4 de julho de 2024 
  11. Gaspari, Elio (19 de fevereiro de 2014). A ditadura envergonhada: As ilusões armadas. [S.l.]: Editora Intrinseca 
  12. a b c d «Memórias dos 'anos de chumbo'». Construir Resistência. Consultado em 4 de julho de 2024 
  13. «Marcas da Memória: História, Imagem e Testemunho da Anistia no Brasil» (PDF)  line feed character character in |título= at position 63 (ajuda)