Espontão
Espontão[1] [2]ou meia-lança é uma arma de haste, de cariz cortoperfurante, semelhante à partasana[3], que mede geralmente mais de dois metros de comprimento[4] e que se encontra guarnecida de uma ponta aguçada em forma de cruz invertida ou cruzeta. [5]
Terão surgido já na segunda metade do séc. XVII, tendo-se difundido e popularizado pela Europa durante os séculos seguintes, conhecendo uso até ao advento do séc. XIX. [6]
Feitio
[editar | editar código-fonte]Tratava-se duma arma de infantaria composta de uma lâmina de ferro ou aço presa a uma haste sólida de madeira. Dispunha duma longa ponta de ferro, quadrangular ou arredondada, não muito grossa, mas afiada na extremidade. [7]
Quando comparada com o pique, o espontão é uma arma de dimensões mais modestas, cujo comprimento integral não superava os 2 metros e meio[8]:
- A lâmina desenvolve-se a partir de um cone metálico, até ganhar a feição de semidisco, do qual parte um robusto corpo central, de formato lanceolado pontiagudo e afilado de ambos os lados, e duas protuberâncias laterais, por vezes lembrando os dentes arqueados de um garfo, sensivelmente mais curtos do que o corpo central.[9] Nalguns modelos, o corpo central da lâmina serve de encaixe para uma lâmina de machado;
- Haste ou hastil de madeira maciça, manejável.[10]
Dada a folha tricúspide da lâmina, o espontão assemelha-se à ronca.[11] A evidente diferença entre o espontão e a ronca é que nesta última os três dentes partem todos do mesmo cone metálico.
História
[editar | editar código-fonte]O espontão surge em Itália durante a Idade Média[12], como arma de defesa durante cercos e assédios e, ulteriormente, como arma cerimonial.[13]
No séc. XVII, engrossa o rol da panóplia das tropas de infantaria, que dele se passaram a servir como meia-lança, nas formações quadradas de piqueiros, que se foram assumindo como o modelo de formação defensiva campal. [13]
Com efeito, a eficácia deste tipo de estratégia defensiva dependia, em larga medida, da capacidade das tropas em conseguir defender as suas posições, enquanto os seus camaradas estivessem a volver de uma formação em coluna para uma formação em linha.[14] Estas movimentações das tropas ocorriam, amiúde, sob fogo do inimigo, pelo que o espontão se volvia de um valor inestimável, nestas circunstâncias, porquanto permitia aos seus portadores, a partir das linhas de trás, proteger as tropas da primeira linha de fogo, enquanto estas mudavam de uma formação para a outra.[14]
Chegou, também, a ser usada em contexto náutico como arma de abordagem a embarcações.[15]
Continuou a ser usada quase até ao final do séc. XVIII, como arma dos oficiais das companhias de infantaria.[16] No decurso do século XVIII, ao passo que a maior parte das armas brancas andava a desaparecer dos campos de batalha europeus, substituídas pela difusão avassaladora da baioneta[16], o uso do espontão manteve-se, como arma distintiva dos suboficiais da tropa. Alguns suboficiais ingleses chegaram inclusive a servir-se deles Batalha de Culloden (16 de Abril 1746)[17]. Ainda durante as guerras napoleónicas, o espontão era a arma principal dos sargentos, que dele se serviam para defenderem as insígnias de um batalhão ou regimento dos ataques da cavalaria.[13]
Caiu em desuso sensivelmente já durante as guerras napoleónicas, sendo certo que em vários reinos europeus, como a Prússia, o seu uso já se encontrava proibido desde 1806.[15]
Ainda hoje, o espontão é ainda usado como arma cerimonial pela Old Guard Fife and Drum Corps do exército americano.[18]
Referências
- ↑ S.A, Priberam Informática. «espontão». Dicionário Priberam. Consultado em 10 de junho de 2021
- ↑ Infopédia. «espontão | Definição ou significado de espontão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 10 de junho de 2021
- ↑ Veiga Coimbra, Álvaro (1960). Questões pedagógicas. São Paulo: Departamento de História, Universidade de São Paulo. p. 479. 490 páginas. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1960.120156«ESPONTÃO — variante da partazana»
- ↑ «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de espontão». aulete.com.br. Consultado em 10 de junho de 2021
- ↑ M. C. Costa, António Luiz (2015). Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao século XXI. São Paulo: Draco. 118 páginas«o espontão ou meia-lança (spontoon ou half pike), lança curta com cruzeta que resultou da evolução do pique»
- ↑ Callender dos Reis, Josué (30 de junho de 1961). «QUESTÕES PEDAGÓGICAS - NOÇÕES DA ARTE DA ARMARIA». Revista de História: 519. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1961.121520
- ↑ Grassi, Giuseppe (1833). Dizionario militare italiano, 2. ed. Torino: Società Tipografica Libraria. p. 165. 968 páginas. ISBN 1286097290
- ↑ Veiga Coimbra, Álvaro (1960). Questões pedagógicas. São Paulo: Departamento de História, Universidade de São Paulo. p. 479. 490 páginas. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1960.120156
- ↑ «Boeheim, Wendelin: Handbuch der Waffenkunde: das Waffenwesen in seiner historischen Entwicklung vom Beginn des Mittelalters bis zum Ende des 18. Jahrhunderts (Leipzig, 1890)». digi.ub.uni-heidelberg.de. Consultado em 10 de junho de 2021
- ↑ M. C. Costa, António Luiz (2015). Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao século XXI. São Paulo: Draco. 118 páginas
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- ↑ «TherionArms - Italian spontoon». therionarms.com. Consultado em 3 de maio de 2019
- ↑ a b c Oakeshott, Ewart (1980). European weapons and armour: from the Renaissance to the Industrial Revolution. [S.l.]: Lutterworth Press. 288 páginas
- ↑ a b Stein, Hans-Peter (1986). Transfeldt. Wort und Brauch in Heer und Flotte. 9., überarbeitete und erweiterte Auflage. Stuttgart: W. Spemann. 400 páginas. ISBN 3440810607
- ↑ a b Zeno. «Lexikoneintrag zu »Esponton«. Pierer's Universal-Lexikon, Band 5. Altenburg 1858, S. ...». www.zeno.org (em alemão). Consultado em 10 de junho de 2021
- ↑ a b Charles ffoulkes, E.C. Hopkinson, 'Swords, Lance and Bayonet: A Record of The Arms of The British Army and Navy'. Cambridge University Press, 2013. Original publication 1938. ISBN 9781107670150. Page. 116
- ↑ MacLean, Fitzroy (1989), Bonnie Prince Charlie, New York, Atheneum, p. 208.
- ↑ «Regimental Drum Major Association Home Page». www.hotelsofnorway.com. Consultado em 3 de maio de 2019