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Fazenda Águas Claras

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A Fazenda Águas Claras está situada em Águas Claras, na cidade de São José do Vale do Rio Preto. Foi construída durante o século XIX e pertenceu, dentre outros donos, ao Barão de Águas Claras[1].

História[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Águas Claras fica na região do Rio Preto, onde os primeiros povoados foram formados, depois da queda da atividade de mineração, por famílias mineiras que atravessavam o Rio Paraíba do Sul em busca de terras para a agricultura.

No início do século XIX, D. João VI distribuiu sesmarias e incentivou o plantio de café. Na província do Rio de Janeiro, a cultura do café teve como efeito a construção de grandes fazendas e o surgimento dos barões do café. As lavouras de café utilizaram consideravelmente o trabalho da mão-de-obra escrava, que contribuiu para o desenvolvimento no Vale do Paraíba[2].

A Fazenda Águas Claras (não se sabe definitivamente quem foi o construtor de sua sede) foi construída em terras da sesmaria concedida a João de Souza Furtado. Situava-se entre as terras do capitão Manoel Rodrigues de Araújo e as de Manoel Fernandes Pertenço e media meia-légua de testada por meia-légua de fundos. Em 1823 as terras foram vendidas para o padre Luiz Gonçalves Dias Corrêas. Nessa época provavelmente já existia uma sede, pois, em um documento cartorial, o padre menciona os pertences da fazenda, enumerando algumas construções complementares.

Em 1843, a fazenda foi vendida para o comendador Guilherme Francisco Rodrigues Franco, passando a propriedade para Domingos de Souza Leite, seu genro. Domingos de Souza Leite anexou nova área de terras a sua nova fazenda através da compra aos herdeiros da Fazenda do Ribeirão.

Guilherme de Souza Leite herdou a fazenda após o falecimento dos seus pais. O imperador D. Pedro II deu a ele o título de barão de Águas Claras. Era formado em Engenharia e foi vereador junto à Câmara Municipal de Sapucaia. O barão era casado com sua prima, Josephina de Araújo Franco.

Nessa época existia certa amizade entre a realeza e a nobreza latifundiária dos barões do café, isso possibilitou a criação de uma linha ferroviária que acompanhava o rio Preto. Por ser mais confortável que a estrada de terra aberta em 1860, foi por essa malha ferroviária feita em 1884 que a família imperial viajou até São José do Rio Preto, em 1887, se hospedando na Fazenda Águas Claras. Depois disso, D. Pedro II mandou estender uma linha telefônica ligando o Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista até a Fazenda de Águas Claras. Foi o primeiro telefone de interior em todo o país. Depois foi instalado também um outro telefone na Fazenda Águas Claras para fazer a comunicação com as Fazendas do Belém e Bela Esperança[3].

Mais tarde o filho dos barões de Águas Claras, Haroldo de Souza Leite, casado com Maria Theodora Rocha, passou a ser o dono da fazenda. A fazenda foi vendida em 1966, não mais pertencendo à família Souza Leite. O casal Andrade de Carvalho adquiriu a fazenda em 1972, e realizou melhorias na sede, além de construir novas instalações modernas.

Características[editar | editar código-fonte]

A casa-sede da fazenda é um edifício de dois pavimentos com cobertura em telhado colonial. Apresenta uma planta quase retangular, onde uma ala se projeta em um dos lados, quebrando a forma retangular. Essa ala não estava presente no volume original da casa, sendo construída posteriormente para servir como uma nova ala somente com aposentos. A casa possui ainda dois pátios internos. Conforme pintura à óleo de 1879, de autoria de Johann Georg Grimm, somente a casa-sede fazia parte do conjunto original de edificações[1][4].

A sede possui inspiração neoclássica, seus vãos têm vergas retas acrescidos de sobrevergas nas janelas. Grande parte das empenas ainda possui pau a pique grassando em suas paredes. O pavimento inferior possui piso e espessas paredes de pedra aparente, esquadrias com fechamento em folhas duplas cegas, janelas com fechamento em sistema de guilhotina e uma segunda vedação em folhas de caixilharia de vidro. A estrutura do nível superior é o forro do pavimento inferior. Uma escada de pedra liga os dois pavimentos no interior da casa. O pavimento superior possui tabuado de madeira, paredes de alvenaria pintada, forro tipo saia-e-camisa com arremate periférico frisado.

Os dois pátios internos sofreram intervenções posteriores à construção em seus revestimentos. O pátio junto à chegada da escada ainda possui o piso em pedra, porém a varanda é revestida com ladrilho hidráulico. O outro pátio possui calçamento em pedra de padrão atual. As áreas de serviço e banheiros são as áreas que mais sofreram modernização. Foram aplicados azulejos e pisos cerâmicos, instalação de bancadas e equipamentos de apoio à cocção nessas áreas.

As modificações arquitetônicas na parte volumétrica da casa foram o acréscimo da ala de aposentos, a construção de uma varanda na lateral direita, onde havia duas sacadas e a construção de uma garagem (apenas uma cobertura) junto à ala de aposentos.

A aproximadamente 100 metros da sede há a capela da fazenda. É uma construção de planta quadrada de pequenas dimensões. Possui cobertura de telhas coloniais em duas águas, frontão triangular com a presença de óculo, cunhais de madeira salientes que apoiam sobre bases escalonadas, junto à cobertura há cimalhas de arremate de madeira e o posicionamento das envasaduras é simétrico. Esses elementos são bem característicos do estilo neoclássico. Diferentemente da sede, as esquadrias são com verga em arco pleno. O piso é revestido com ladrilhos hidráulicos introduzidos no século XIX. O revestimento interior possui pintura imitativa de pedra, porém, é todo executado em madeira. O retábulo possui um formato arqueado, reproduzindo as linhas da porta de entrada.

A construção onde funciona o atual engenho, apesar de apresentar cobertura em duas águas com telhas antigas e ter um estilo que apresenta harmonia com as outras edificações da fazenda, é uma construção recente. A edificação é simples e apresenta esquadrias típicas de áreas de serviço e gradeamento de madeira.

Próximo à lateral direita da casa existia uma antiga senzala, porém foi demolida, permaneceu apenas o embasamento de pedra.

Referências

  1. a b Bousquet, Francyla (2009). «Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense» (PDF). INEPAC - Instituto Estadual de Patrimônio Cultural em parceria com Instituto Light e Instituto Cultural Cidade Viva. Consultado em 19 de abril de 2021 
  2. «São José do Vale do Rio Preto». www.aemerj.org.br. Consultado em 20 de abril de 2021 
  3. Souza, Fabiano Rodrigues De (22 de novembro de 2008). «São José do Vale do Rio Preto - Túnel do Tempo: Resumo Histórico». São José do Vale do Rio Preto - Túnel do Tempo. Consultado em 20 de abril de 2021 
  4. Cultural, Instituto Itaú. «Fazenda das Águas Claras, em São José do Rio Preto, RJ». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de abril de 2021 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

inventário da Fazenda Águas Claras

site da prefeitura de São José do Vale do Rio Preto

http://www.overmundo.com.br/overblog/historia-de-sao-jose-do-vale-do-rio-preto-1

http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?codmun=330515