Saltar para o conteúdo

Grupo Macaúbas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Grupo Macaúbas é uma sequência geológica localizada na área limite (a oeste) do Cráton São Francisco denominada Faixa Araçuaí, a qual é caracterizada como um cinturão de dobramentos e empurrões. O Grupo registra a evolução de uma bacia neoproterozoica, desde um estágio de rifte continental até uma fase de margem passiva, com influência glacial de forma parcial. Inicialmente nomeado como "Formação Macahubas", hoje é conhecido como "Grupo Macaúbas" e tem sua estratigrafia continuamente revisada e refinada, resultando na subdivisão do Grupo Macaúbas em formações que serão vistas a seguir.

Estratigrafia[editar | editar código-fonte]

A sedimentação do Grupo Macaúbas ocorreu em diferentes estágios do rifte continental, com unidades que representam ambientes fluviais, marinhos e glaciais. Os eventos de rifteamento foram datados em Toniano I (950-900 Ma) e Toniano II (890 Ma), seguidos por um período criogeniano (750-640 Ma).

Atualmente, o Grupo Macaúbas é subdividido em nove formações ou três sucessões:

  • Pré-glacial, onde engloba as formações Matão, Duas Barras, Capelinha, Rio Peixe Bravo e Planalto de Minas;
  • Glacial, apresentando as formações Serra do Catuni, Nova Aurora e Chapada Acauã inferior;
  • Pós-glaciais compreendendo as formações Chapada Acauã superior e Ribeirão da Folha.

Para além da relação com a glaciação, as formações supracitadas representam também estágios distintos na evolução da bacia neoproterozoica. As formações pré-glaciais, como Matão e Duas Barras, indicam condições sedimentares durante o início do rifteamento, com depósitos fluviais e marinhos rasos.

Já as formações glaciais, como Serra do Catuni e Nova Aurora, revelam a presença de sedimentos glaciais, sugerindo uma fase de clima mais frio e glaciação. A Formação Chapada Acauã (parte inferior) também está associada a esse período glacial.

Por fim, as formações pós-glaciais como Chapada Acauã (parte superior) e Ribeirão da Folha, representam também a transição para uma margem passiva, sem influência glacial. Nessa última formação ocorre rochas metavulcanosedimentares, as quais possibilitaram a datação em torno de 660 ± 29 Ma, marcando o final do processo de evolução da bacia Macaúbas.

Contexto geotectônico[editar | editar código-fonte]

O arcabouço geotectônico em que o Grupo Macaúbas está inserido se refere ao paleocontinente São Francisco-Congo que se localizando, atualmente, na porção da América do Sul e parte da África, que foram formados entre o Riaciano-Orosiriao. No Brasil, foi preservada pelo evento orogênico Brasiliano-Pan-africano, a ponte cratônica Bahia-Gabão.

Essa ponte cratônica se refere a um sistema de bacias neoproterozóicas tendo como produto o orógeno Brasiliano-Pan-africano, bordejado pelo cráton São Francisco, orógeno Araçuaí-Congo Ocidental. Orógeno resultante se trata de um orógeno confinado, contendo lascas ofiolíticas, arco magmático pré colisional e grande quantidade de granitos colisionais e pós colisionais. Pode ser caracterizada como: antepais – parte deformada do Cráton São Francisco; externo – parte proximal marcada por sistemas de empurrões frontais e interno – porções distais, caracterizado por extensivo plutonismo e presença de remanescente oceanos. O Gr. Macaúbas se desenvolveu em uma bacia neoproterozóica que evoluiu de um rifte continental de margem passiva praticamente sob influência glacial.

Análises U-Pb dos zircões detríticos mais jovens da Formação Duas Barras situaram-se ao redor de 900 Ma, considerada a idade máxima de deposição da base do grupo. A Formação Jequitaí zircões detríticos foram datados em 933 Ma. Outras análises mostraram que grãos do paleo e mesoproterozóico da Formação Jequitaí possuem datação de 850Ma. Dessa forma, os eventos que marcaram a deposição do Grupo Macaúbas podem ser ditos que ocorreram entre 900 Ma - 850 Ma.

Metamorfismo[editar | editar código-fonte]

O metamorfismo do Grupo Macaúbas é em sua totalidade fácies xisto verde a anfibolito, sendo crescente de oeste para leste e de norte a sul. A condições de pressão e temperatura alcançadas giram em torno de 3,8 kbar e 475 ºC.

Recursos minerais[editar | editar código-fonte]

Na área dos depósitos, o Grupo Macaúbas foi dividido em duas formações, segundo Vilela et al. (2014)[1]: Rio Peixe Bravo (base), composta de quartzitos e metapelitos, e Nova Aurora (topo), contendo metadiamictitos, metadiamictitos ferruginosos, quartzitos e raros metapelitos. O Membro Riacho Poções, pertencente à Fm. Nova Aurora, rico em metadiamictitos ferruginosos, é o portador do minério de ferro.

A Formação Nova Aurora é composta por metadiamictitos, com intercalações de quartzitos e metapelitos (filitos a xistos micáceos e granatíferos). Para ocorrência de ferro, inclui metadiamictitos ferruginosos e sulfetados, além de formações ferríferas diamictíticas, quartzitos e filitos hematíticos do Membro Riacho Poções, localizado na base da formação. Este membro tem uma espessura estimada em aproximadamente 600 metros, embora a avaliação precisa seja dificultada pela intensa deformação regional. Os metadiamictitos são interpretados como depósitos glácio-marinhos do Criogeniano.

Conforme análises mineralógicas das áreas amostradas por Vilela et al. (2014)[1], o Membro Riacho Poções é constituído por metadiamictitos ferruginosos contendo hematita e/ou magnetita, com teores de ferro superiores a 15%, classificando-se como formações ferríferas diamictíticas. As rochas encaixantes das camadas ferruginosas são metadiamictitos com baixo teor de ferro total (< 5%). Os litotipos intermediários, com teores de ferro variando entre as formações ferríferas diamictíticas (> 15% Fe) e os metadiamictitos encaixantes (< 5% Fe), também estão presentes no Membro Riacho Poções.

Trabalhos de Lobato et al. (1993)[2] cita a existência de um Distrito Manganesífero da Serra do Cipó, envolvendo alterações lateríticas das unidades do Grupo Macaúbas (rochas pelíticas superpostas às fácies diamictitas).

Lobato et al. (1993)[2] considera as mineralizações de sheelita (turmalina negra) no Distrito de Tungstênio de Rubelita-Itinga, assim como reconhece a presença de wolframita em veios de quartzo scheelitíferos na região entre Coronel Murta e Itinga. Essas mineralizações de tungstênio são atribuídas à intrusão de granitos do Brasiliano tardio, que causam metamorfismo de contato em níveis de cálcio silicato da Formação Salinas.

Além do minério de ferro e dos Distritos Manganesífero e de Tungstênio, outras substâncias minerais são descritas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), Folha Bocaiuvas[3]: quartzo, diamante e calcário

Quartzo[editar | editar código-fonte]

O quartzo extraído na região tem duas principais finalidades:

  1. Quartzo metalúrgico: Utilizado para a produção de silício metálico através da redução do SiO2. A Mina do Moinho, operada pela RIMA Mineração em Olhos d’Água, é o maior empreendimento mineral na área, com uma usina siderúrgica localizada ao norte de Bocaiúva. A mineração a céu aberto ocorre em um enxame de veios em metassiltitos da Formação Serra de Santa Helena, com veios de até 4 m de espessura e continuidade horizontal de cerca de 100 m. Amostras cristalizadas para fins gemológicos são raras. O quartzo para silício metálico deve ter baixa concentração de impurezas como ferro, alumínio, cálcio e fósforo.
  2. Quartzo gemológico: Destinado à indústria óptica e a colecionadores, especialmente quartzo hialino com inclusões de rutilo e anatásio azul. Esse tipo de quartzo é geralmente extraído de pequenos garimpos com veios menores que 2 m de espessura, localizados principalmente na porção sudeste da área, em Olhos d’Água, em quartzo-metarenitos da Formação Duas Barras. Pequenos veios também são encontrados nas formações Galho do Miguel, Jequitaí e Serra do Catuni, mas a maioria das lavras está paralisada.

Diamante[editar | editar código-fonte]

No Ribeirão Caatinga, próximo à Fazenda Sítio, há uma longa história de garimpagem de diamantes, que remonta ao período colonial, quando a área servia de entreposto nas rotas de mineração. Recentemente, uma empresa multinacional realizou prospecção aluvionar, recuperando pequenos diamantes.

Nas cabeceiras do Ribeirão Caatinga, encontram-se quartzo-metarenitos das formações Galho do Miguel e Duas Barras, além de metadiamictitos da Formação Jequitaí. Embora as primeiras formações não sejam conhecidas por depósitos diamantíferos, acredita-se que os metadiamictitos da Formação Jequitaí sejam a fonte dos diamantes na região.

O Rio da Onça, afluente do Rio Macaúbas, é diamantífero ao longo de todo o seu percurso, em que a bacia de drenagem atravessa uma extensa faixa a leste. Além disso, relatos de garimpeiros locais atestam a extração de diamantes em aluviões da borda leste da Serra do Espinhaço no início do século passado. Recentemente, depósitos foram explorados por uma empresa mineradora chamada Minas-Sul nos afluentes do Córrego Labatu e Ribeirão Capão das Lajes, embora dados sobre a empresa sejam escassos.

Calcário[editar | editar código-fonte]

O calcário é um recurso mineral identificado no Grupo Macaúbas, com algumas tentativas exploratórias incipientes. Ele aflora quase continuamente numa vasta área ao sudoeste da folha, com acesso facilitado pela proximidade com a BR-135. Um grande corpo calcário isolado na porção central da folha também pode ser alvo de pesquisa mais detalhada. Análises geoquímicas mostram que os teores de CaCO3 geralmente excedem 97%, indicando potencial para uso na indústria cimenteira, com requisitos como CaO > 40%, MgO < 5% e SiO2 < 2% geralmente atendidos nas amostras analisadas.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

[4] [5] [6] [7] [3] [2] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [1]

  1. a b c VILELA, FRANCISCO TEIXEIRA et al. Metalogênese da Faixa Araçuaí: O Distrito Ferrífero Nova Aurora (Grupo Macaúbas, Norte de Minas Gerais) no contexto dos recursos minerais do Orógeno Araçuaí. Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras, Rio de Janeiro, Brazil, p. 415-430, 2014.
  2. a b c LOBATO, Lydia Maria; PEDROSA-SOARES, Antônio Carlos. Síntese dos recursos minerais do Cráton do São Francisco e faixas marginais em Minas Gerais. Geonomos, 1993.
  3. a b GEOLÓGICO, SERVIÇO; BRASIL–CPRM, D. O. GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DA FOLHA BOCAIÚVA* SE. 23-XC-III.
  4. Babinski M., Pedrosa-Soares A.C., Martins M., Liu D., Noce C.M., Karfunkel J. 2007. Geocronologia U-Pb SHRIMP em zircões detríticos do Grupo Macaúbas: implicações na idade de deposição e proveniência dos sedimentos. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DE MINAS GERAIS, 14, Diamantina, Resumos, p.33.
  5. Babinski M., Pedrosa-Soares A.C., Trindade R.I.F., Martins M., Noce C.M., Liu D. 2011. Neoproterozoic glacial deposits from the Araçuaí orogen, Brazil: age, provenance and correlations with the São Francisco craton and West Congo belt. Gondwana Research, 20 (in press).
  6. CASTRO, Marco Paulo de. Evolução do Grupo Macaúbas e Formação Salinas no Orógeno Araçuaí Central, MG. 2019. 180 f. Tese (Doutorado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2019.
  7. Karfunkel J. & Hoppe A. 1988. Late Precambrian glaciation in centraleastern Brazil: synthesis and model. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology., 65: 1–21.
  8. Martins M.S. 2006. Geologia dos diamantes e carbonados da bacia do Rio Macaúbas (MG). Belo Horizonte, Tese de Doutoramento, IGC/UFMG, 231p.
  9. Morteani, G. & Ackermand, D. 2004. Mineralogy and geochemistry of Al-phosphate and Al-borosilicate-bearing metaquartzites of the northern Serra do Espinhaço (State of Bahia, Brazil). Mineralogy and Petrology, 80(1-2):59-81
  10. Noce C.M., Pedrosa-Soares A.C., Silva L.C., Alkmim F.F. 2007. O embasamento arqueano e paleoproterozóico do orógeno Araçuaí. Geonomos., 15 (1), 17-23.
  11. OLIVEIRA, Rosana Gonçalves. Comportamento estratigráfico e proveniência sedimentar do Grupo Macaúbas na terminação periclinal da Serra do Espinhaço Meridional em Minas Gerais. 81 f. 2020. Dissertação (Mestrado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2020.
  12. Pedrosa-Soares A.C., Alkmim F.F., Tack L., Noce C.M., Babinski M., Silva L.C., Martins- Neto M. 2008. Similarities and differences between the Brazilian and African counterparts of the Neoproterozoic Araçuaí-West Congo orogen. Geological Society of London, Special Publications., 294: 153-172.
  13. Queiroga G.N., Pedrosa-Soares A.C., Noce C.M., Alkmim F.F., Pimentel M.M., Dantas E., Martins M., Castañeda C., Suita M.T.F., Prichard R. 2007. Age of the Ribeirão da Folha ophiolite, Araçuaí Orogen: the U-Pb zircon (LA-ICPMS) dating of a plagiogranite. Geonomos., 15 (1): 61-65.
  14. Santos R.V., Alvarenga C.J.S., Dardenne M.A., Sial A.N., Ferreira V.P. 2000. Carbon and oxygen isotope profiles across MesoNeoproterozoic limestones from Central Brazil: Bambuí and Paranoá groups. Precambrian Research, 104: 107-122.
  15. Uhlein A. 1991. Transição craton-faixa dobrada: exemplo do Cráton do São Francisco e da Faixa Araçuaí (Ciclo Brasiliano) no Estado de Minas Gerais (aspectos estratigráficos e estruturais). Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 295 p.