Saltar para o conteúdo

Heman Marion Sweatt

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Heman M. Sweatt
Heman Marion Sweatt
Nome completo Heman Marion Sweatt
Nascimento 11 de dezembro de 1912
Houston, Texas, Estados Unidos
Morte 3 de outubro de 1982 (69 anos)
Atlanta, Geórgia, Estados Unidos
Nacionalidade estadunidense
Ocupação ativista dos direitos civis afro-americano

Heman Marion Sweatt (Houston, 11 de dezembro de 1912Atlanta, 3 de outubro de 1982) foi um ativista afro-americano dos direitos civis que enfrentou as leis de Jim Crow.[1][2] É mais conhecido pelo processo Sweatt v. Painter, que desafiou a doutrina “separados, mas iguais” e foi um dos primeiros eventos que levaram à dessegregação do ensino superior estadunidense.[3][4]

Heman Marion Sweatt (apelidado de “Bill”) nasceu em 11 de dezembro de 1912, em Houston, na Texas, o quarto de seis filhos de James Leonard Sweatt e Ella Rose Perry.[5] Seu pai, James Sweatt, frequentou a Universidade Prairie View A&M [en] e tornou-se professor e diretor de escola em Beaumont, antes de mudar-se para Houston, em busca de melhores oportunidades econômicas.[6]

Heman cresceu em uma área relativamente com pouca segregação de Houston, o terceiro distrito da Chenevert Street.[7] Embora estivesse relativamente integrado junto a sociedade, vivenciou o racismo e as leis de Jim Crow em sua totalidade.[8] Em outubro de 1920, a Ku Klux Klan, abriu uma sede em Houston.[9]

Seu pai passou a importância pela educação para Heman e seus irmãos. “Em casa, nosso pai sempre enfatizou o valor da educação e nos incutiu a ideia de integração desde cedo”, recordou um dos filhos de James Sweatt.[10] Todos os filhos frequentaram a universidade. De todos os irmãos, Heman foi o único que estudou no estado do Texas.[11]

Como seu pai, antes dele, a primeira interação de Heman com o direito foi devido à sua preocupação com as práticas do sindicato dos trabalhadores dos correios.[12] De acordo com a Associação Histórica do estado do Texas, "preocupado com a discriminação contra os negros nos correios, onde um funcionário tinha que ser escriturário antes de ser promovido a um cargo de supervisão e onde os negros eram sistematicamente excluídos de tais cargos, Sweatt desafiou essas práticas em sua capacidade como secretário local da aliança nacional de funcionários postais e federais [en]".[11][13]

No início da década de 1940, participou de campanhas de registro de eleitores e levantou fundos para ações judiciais contra as primárias brancas.[14] Sweatt teve a oportunidade de escrever várias colunas para o jornal Houston Informer, graças ao amigo do pai de Sweatt, o editor Carter W. Wesley, de Dallas. Os correios pararam de promover negros a cargos de supervisão, excluindo-os sistematicamente de cargos de escriturário que os tornariam elegíveis para serem promovidos.[12] Como secretário local da aliança nacional de funcionários postais e federais, Sweatt preocupava-se com a discriminação e desafiava essas práticas. Enquanto preparava a documentação para esse caso com um advogado, ele se interessou mais pelo direito.

Alguns anos depois, na metade da década de 1940, Sweatt decidiu cursar a faculdade de direito e pediu ao advogado e ativista William J. Durham que o ajudasse.[15] Como Durham sabia que o Texas não tinha faculdades de direito para negros, aconselhou Sweatt a se inscrever na Faculdade de Direito da Universidade do Texas.[15] Sweatt não apenas buscou a admissão, mas, em resposta a um apelo que Lulu White [en] fez a um grupo de negros de Houston para que um voluntário entrasse com uma ação judicial, também concordou em atuar como autor da ação da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) caso fosse rejeitado com base na etnia.[14]

Ingressou no Wiley College em Marshall, no Texas, em 1930, e se formou em 1934 com o título de Bacharel em Artes.[14] Era considerado um dos alunos mais brilhantes da universidade.[14] No ano de 1936, tornou-se professor e diretor substituto em Cleburne, também no Texas.[14] Em 1937, frequentou a Universidade de Michigan para tornar-se médico. Após a universidade, matriculou-se em vários cursos de pós-graduação, incluindo bacteriologia, imunologia e medicina preventiva; ao final de seu primeiro ano acadêmico, ele havia completado doze horas semestrais com uma média B+.[16] Em 1938, Heman tornou-se carteiro e optou por não retornar à Universidade de Michigan, devido aos invernos rigorosos, permanecendo no Texas em sua nova função.[16]

Sweatt v. Painter

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Caso Sweatt v. Painter

Heman Marion Sweatt inscreveu-se formalmente na Faculdade de Direito da Universidade do Texas. O reitor, Theophilus Painter [en], reteve a inscrição enquanto esperava uma resposta do procurador-geral sobre as leis de segregação. Enquanto isso, Sweatt se reuniu com o reitor, que o informou que, embora suas credenciais fossem suficientemente adequadas, não poderia permitir que ele entrasse na Universidade do Texas. Painter continuou dizendo a Sweatt que “não há nada disponível para você, exceto bolsas de estudo fora do estado”.[14] O Tribunal de Apelações Civis escreveria mais tarde que “ele possuía todas as qualificações essenciais para a admissão, exceto a raça, que foi o único motivo pelo qual sua solicitação foi negada”.[17]

O procurador-geral decidiu manter as leis de segregação e negou a Sweatt a entrada na universidade; Sweatt respondeu entrando com uma ação contra Painter em 16 de maio de 1946.[14] O caso foi levado para o tribunal e a decisão do juiz foi que o Texas tinha que construir uma faculdade de direito igualitária em um prazo de seis meses. Passados os seis meses, o juiz rejeitou o caso porque a Universidade A&M do Texas havia planejado uma resolução para oferecer educação jurídica para negros.[14] Sweatt e a NAACP decidiram entrar com um recurso contra a decisão original. Em 26 de maio de 1947, o recurso foi levado a um tribunal inferior que concordou com a decisão anterior da resolução planejada da Texas A&M.[14]

Posteriormente, em junho de 1950, a Suprema Corte decidiu que os estudantes não recebiam educação jurídica de qualidade igual no estado do Texas e, como resultado, a Universidade do Texas teria que admitir candidatos negros qualificados.[14] Em 19 de setembro de 1950, Sweatt inscreveu-se para as aulas na faculdade de direito da Universidade do Texas. No entanto, como resultado da enorme quantidade de stress e trauma emocional dos longos processos judiciais, a saúde física e mental de Sweatt piorou.[14]

Em 1952, decidiu desistir da faculdade de direito devido a vários problemas de saúde e notas baixas. Mais tarde, recebeu uma bolsa de estudos para a Universidade de Atlanta para estudar Serviço Social.[18] No ano de 1954, ele formou-se com um mestrado em Organizações Comunitárias.[18]

Mudou-se para Cleveland e trabalhou para a NAACP e a Liga Urbana Nacional [en] durante oito anos. Posteriormente, retornou a Atlanta para continuar trabalhando para a Liga Urbana Nacional por vinte e três anos. Trabalhou no Escritório Regional Sul da Liga Urbana ao lado de Clarence D. Coleman, J. Harvey Kerns, KBM Crooks e Felton Alexander, participando de uma ampla gama de projetos, que incluíam desde o registro de eleitores até a criação de programas para apoiar os negros do sul dos Estados Unidos que migravam para a região norte.[14] No ano de 1977, aposentou-se da Liga Urbana Nacional.[19]

Em abril de 1940, casou-se com sua namorada do ensino médio, Constantine Mitchell, e comprou uma casa.[14] Foi membro da comunidade bahá'í de Houston.[20]

Como a saúde de Sweatt piorou ainda mais, fazendo-o faltar às aulas, ele obteve notas baixas e foi reprovado. Essas mesmas tensões criaram um distanciamento entre ele e sua esposa, que mais tarde divorciou-se dele.[14] No ano de 1963, Sweatt casou-se com Katherine Gaffney, com quem teve uma filha; mais tarde, adotaram outra.[14]

Heman Marion Sweatt morreu em 3 de outubro de 1982, em sua residência em Atlanta.[19] Seu corpo foi enterrado no Cemitério Paradise North.[21]

O Tribunal do Condado de Travis, onde ocorreu seu processo judicial, foi renomeado como “Tribunal do Condado de Travis Heman Marion Sweatt [en]” em 21 de outubro de 2005, e uma bolsa de estudos universitária no valor de 10.000 mil dólares foi criada em seu nome.[14] A Universidade do Texas, também criou uma bolsa de estudos em sua memória.[14]

Referências

  1. «Black History Moments: Heman Marion Sweatt». National Football League (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 4 de julho de 2024 
  2. Davis, Marilyn B. (1960). «Local Approach to the Sweatt Case». Negro History Bulletin (6): 133–137. ISSN 0028-2529. Consultado em 18 de setembro de 2024 
  3. Farias, Bianca (2018). «As medidas estruturantes como ferramenta de implementação do acesso à justiça: a efetividade das decisões em sede de tutela de direitos transindividuais e pluri-individuais» (PDF). Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 3 de junho de 2023 
  4. «Heman Marion Sweatt». Google Arts & Culture. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 18 de setembro de 2024 
  5. Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 9 
  6. Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 9 
  7. Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 11-12 
  8. Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 14 
  9. «The Ku Klux Klan · Disappearing Black Denton · UNT Library Omeka S». Universidade do Norte do Texas. Consultado em 17 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 16 de setembro de 2024 
  10. Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 10 
  11. a b Lavergne, Gary M. (1 de setembro de 2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice (em inglês). [S.l.]: University of Texas Press. p. 10-11 
  12. a b Bernardo, Joseph (3 de janeiro de 2009). «Heman Marion Sweatt (1912-1982) •». Blackpast (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  13. «Heman Sweatt». Humanities Texas. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 18 de setembro de 2024 
  14. a b c d e f g h i j k l m n o p q Burns, Richard (1 de janeiro de 1996). «Sweatt, Heman Marion». Texas State Historical Association (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 26 de julho de 2024 
  15. a b Weber, Andrew (9 de dezembro de 2015). «The first Supreme Court case challenging Race's role in UT admissions». KUT Radio, Austin's NPR Station (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 18 de abril de 2024 
  16. a b «Heman M. Sweatt, Educator and Activist born». African American Registry (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 21 de março de 2023 
  17. «The Heman Marion Sweatt, Travis County Courthouse, Austin, Texas: A Historical Perspective». Travis County Courthouse. Consultado em 29 de dezembro de 2012. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2012 
  18. a b «Heman Sweatt Profile». TexasBar. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 8 de setembro de 2022 
  19. a b Bridges, By Ken. «Bridges: Heman Sweatt and the desegregation of UT law school». Lubbock Avalanche-Journal (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 4 de fevereiro de 2023 
  20. «A Black Baha'i Appeals to the Supreme Court». Bahai Teachings (em inglês). 1 de agosto de 2014. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 14 de abril de 2024 
  21. «Heman Marion Sweatt (1912-1982)». Find a grave. Consultado em 18 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 18 de setembro de 2024 

Leitura adicional

[editar | editar código-fonte]
  • Lavergne, Gary M. (2010). Before Brown: Heman Marion Sweatt, Thurgood Marshall, and the Long Road to Justice. Austin, TX: University of Texas 
  • Burns, Richard Allen. «SWEATT, HEMAN MARION». Handbook of Texas Online. Texas State Historical Association 
  • The Heman Marion Sweatt Travis County Courthouse, Austin, Texas: A Historical Perspective. Austin, Texas: Travis County Courthouse. 2008