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Hippeastrum

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 Nota: Se procura o género botânico de origem sul-africana, veja Amaryllis.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaHippeastrum
amarílis, hipeastro
Hippeastrum sp. em flor.
Hippeastrum sp. em flor.
Classificação científica
Reino: Plantae
Sub-reino: Tracheobionta
Divisão: Magnoliophyta
Clado: Angiospermas
Clado: Monocotiledóneas
Classe: Liliopsida
Subclasse: Liliidae
Ordem: Asparagales
Família: Amaryllidaceae
Tribo: Hippeastreae
Subtribo: Hippeastrineae
Género: Hippeastrum
Herb. 1821
Espécies
Ver texto.
Ilustração do bolbo, folhas e inflorescência de Hippeastrum miniatum (in Francisco Manuel Blanco, Flora de Filipinas, 1880-1883).
Inflorescência de Hippeastrum com flores maturas.
Detalhe dos estames.
Cápsula trivalve de Hippeastrum.
Sementes de Hippeastrum.
Flor de Hippeastrum puniceum (ilustração).

Hippeastrum Herb. é um género de plantas perenes e bolbosas da família Amaryllidaceae que integra cerca de 75 a 90 espécies, nativas das regiões subtropicais e tropicais da América, com distribuição natural desde a Argentina até ao México e às Caraíbas. Algumas espécies são cultivadas em todo o mundo pelas suas flores vistosas, sendo frequentemente comercializada sob o nome comum, erróneo, de amarílis (que leva a confusão com Amaryllis, um género africano também da família Amaryllidaceae).

São herbáceas, perenes e bulbosas, erectas, com folhagem ornamental, bastante difíceis de ser cultivadas. As flores, embora durem pouco, destacam-se pela sua beleza extravagante e grande dimensão.

O bolbo da maioria das espécies tem de 5 a 12 cm de diâmetro, é um bolbo tunicado, cujas escamas concêntricas são formadas pelas bases foliares imbricadas. Produz de 2 a 7 folhas de 3 a 9 dm de comprido por 2,5 a 5 cm de largo.

Apresentam flores mais ou menos zigomorfas, hermafroditas, grandes (13 a 20 cm) e muito vistosas. O perigónio é formado por 6 tépalas unidas na base, formando um curto tubo, quase sempre com um paraperigónio rudimentar escamoso. Os segmentos do perigónio são subiguais ou desiguais.[1]

O androceu é formado por 6 estames, com os filamentos filiformes. As anteras são dorsifixas e versáteis. O ovário é ínfero, trilocular, com os lóculos pluriovulados. O estilo é filiforme e o estigma trífido.

As flores estão dispostas em inflorescências umbeliformes pauci- ou plurifloras (de 2 a 14 flores), sustentadas por um escapo floral espesso e oco. O escapo é erecto, de 20 a 75 cm de altura, segundo a espécie.

A espata é bivalve, com as valvas livres até à base.[1] O fruto é uma cápsula trivalve, com as sementes negras.

As espécies do género são em geral diploides, com 2n=22 cromossomas, embora se tenham apontado espécies (como por exemplo Hippeastrum iguazuanum) com 2n=24 cromossomas.[2] São frequentes as situações de hibridação, sendo conhecidas mais de 600 híbridos.

Em geral as diferentes espécies do género são intercompatíveis dentro de limites muito amplos, o que indica que se podem cruzar facilmente entre si e produzir descendência fértil.

A ausência de fragrância é a regra na grande maioria dos cultivares modernos de Hippeastrum. A presença de fragrância aparentemente está geneticamente associada com a coloração de flor branca ou de tons pastel. A fragrância em Hippeastrum é um carácter que, do ponto de vista genético, se comporta como recessivo. Assim, nos cruzamentos entre plantas com fragrância e plantas que não apresentam aroma, todos os descendentes serão iguais a este último progenitor. A descendência do cruzamento entre duas plantas com fragrância, por outro lado, será uniformemente fragante.[3]

Distribuição geográfica e habitats

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A distribuição natural das espécies do género está concentrada em dois centros de diversidade principais, um dos quais corresponde ao leste do Brasil e o outro, à Andes no Peru, Bolívia e Argentina e áreas adjacentes. A distribuição natural de umas poucas espécies estende-se até ao México.

O género é essencialmente tropical e subtropical, apesar de algumas espécies ocorrerem suficientemente ao sul do equador e a altitudes tais que podem ser consideradas temperadas.[3]

As numerosas espécies de Hippeastrum ocorrem em condições ambientais extremamente variadas. Muitas espécies estão adaptadas às condições de ensombramento do sub-bosque, enquanto outras ocorrem em pleno sol. Algumas espécies crescem em zonas inundáveis (Hippeastrum angustifolium) e outras em zonas secas. Finalmente, existem espécies que são epífitas, tais como Hippeastrum aulicum e Hippeastrum calyptratum.[4]

O nome genérico Hippeastrum tem uma etimologia algo rebuscada, derivando do grego, significando literalmente "estrela do cavaleiro". O nome foi escolhido pelo botânico William Herbert em 1821 para descrever a primeira espécie atribuída ao género, a espécie Hippeastrum reginae.[5]

A etimologia não parece, neste caso, ser de muita ajuda na descrição de qualquer característica particular da espécie em questão. A conexão equina (a referência a "cavalo") no nome deste género foi publicada pela primeira vez pelo botânico sueco Carolus Linnaeus, que criou o binome Amaryllis equestris para designar uma espécie hoje incluída no género Hippeastrum, mas que, dadas as grandes semelhanças morfológicas com as espécies africanas do género Amaryllis, foi inicialmente nele incluída. As motivações de Linnaeus quando apelidou a espécie de "amarílis equestre" poder nunca ser conhecido, no entanto, uma anotação na descrição incluída numa revista de botânica de 1795 pode lançar alguma luz sobre o assunto: nessa revista o botânico William Curtis, ao descrever as duas partes da espata que cobre os botões florais antes da ântese, comentou que estas «se levantam num certo período da floração da planta, como se fossem orelhas, dando a toda a flor uma grande parecença com a cabeça de um cavalo». Aparentemente Linnaeus concordou totalmente com a observação de Curtis quando decidiu designar a espécie.[5]

Anos depois, o deão William Herbert, um botânico e clérigo do século XIX que era uma autoridade nas amarilidáceas, percebeu que, embora sejam superficialmente semelhantes, este grupo de plantas sul-americanas não estava intimamente relacionado com as amarílis, especialmente com a espécie Amaryllis belladonna, morfologicamente similar. Por esta razão, William Herbert subdividiu o género Amaryllis e cunhou um novo nome genérico, que mantinha a conexão equestre de Linnaeus, embora de uma maneira um pouco rebuscada. William Herbert escreveu em 1821: «designei-os por Hippeastrum, ou «lírio-estrela-do-cavaleiro», continuando com a ideia que deu origem ao nome equestris».[5]

Confusão de nomes comuns

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Apesar do esforço de Herbert em distinguir os dois géneros, a maioria dos aficionados por plantas ornamentais continua a designar indistintamente por amarílis as plantas do Velho e do Novo Mundo.[5] Em consequência, estas plantas são popularmente conhecidas por amarílis, o que é erróneo pois faz com que sejam confundidas com as do género Amaryllis (da mesma família que as Hippeastrum).

O género Hippeastrum agrupa aproximadamente 80 espécies, entre as quais:[4]

Hippeastrum aglaiae
Hippeastrum andreanum
Hippeastrum argentinum
Hippeastrum aulicum
Hippeastrum blossfeldiae    
Hippeastrum blumenavium      
Hippeastrum breviflorum
Hippeastrum bukasovii
Hippeastrum calyptratum
Hippeastrum candidum
Hippeastrum correiense
Hippeastrum × hybridum

Hippeastrum cybister
Hippeastrum doraniae
Hippeastrum elegans
Hippeastrum evansiae
Hippeastrum forgetii
Hippeastrum gayanum
Hippeastrum goianum
Hippeastrum lapacense
Hippeastrum leopoldii
Hippeastrum machupijchense    
Hippeastrum maracasum
Hippeastrum miniatum

Hippeastrum oconequense
Hippeastrum papilio
Hippeastrum pardinum
Hippeastrum petiolatum
Hippeastrum psittacinum
Hippeastrum puniceum
Hippeastrum reginae
Hippeastrum reticulatum
Hippeastrum striatum
Hippeastrum stylosum
Hippeastrum traubii
Hippeastrum vittatum

Sinonímia

Os seguintes nomes genéricos são sinónimos de Hippeastrum:[4]

Espécies ameaçadas

As seguintes espécies estão consideradas como ameaçadas ou vulneráveis por degradação do habitat natural:[6]

Híbridos intergenéricos

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Apesar de ter sido obtida uma infinidade de híbridos interespecíficos em Hippeastrum, os exemplos de híbridos com espécies de outros géneros de amarilidáceas, não obstante, são pouco frequentes. A excepção mais conspícua são os híbridos obtidos através de cruzamentos com Sprekelia formosissima Herb., outro membro da tribo Hippeastreae. O híbrido × Hippeastrelia é o nome do notogénero obtido a partir do cruzamento entre uma espécie de Hippeastrum com uma espécie de Sprekelia.[7]

Reprodução e cultivo

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As espécies e cultivares comerciais do género Hippeastrum são plantas ornamentais muito apreciadas que se caracterizam por apresentar flores grandes de coloração apelativa (vermelho, rosa, salmão, alaranjado e branco), razões pelas quais ocupam um lugar importante dentro da floricultura comercial, especialmente para a produção de flores de corte e para a venda como flores de vaso.

Para além do valor ornamental, o alto conteúdo de alcaloides presente em algumas espécies deste género permite que seja usadas na indústria farmacêutica. Um alcaloide isolado de Hippeastrum vittatum, a montanina, demonstrou ter efeitos antidepressivos, anticonvulsivos e ansiolíticos.[8] A espécie Hippeastrum puniceum parece ter propriedades terapêutica, sendo utilizada em medicina popular para o tratamento de edema e e feridas.[9]

Reprodução

Algumas espécies de Hippeastrum são estéreis pelo que não podem produzir sementes. Um exemplo é Hippeastrum petiolatum originária do Uruguai. Esta espécie é um triploide sexualmente estéril que produz uma abundante quantidade de bolbilhos em redor do bolbo principal. Os bolbilhos são capazes de flutuar na água, pelo que na estação pluviosa são arrastados pelas correntes superficiais de água e viajam até sítios afastados do bolbo original, l que assegura não apenas a propagação mas também a distribuição desta espécie.[10]

Por outro lado, existem espécies do género que são autógamas, como por exemplo Hippeastrum reticulatum. Este modo de reprodução, apesar de não garantir uma elevada diversidade genética nas populações naturais, permite a multiplicação através de sementes ainda que em isolamento, pelo que é uma estratégia utilizada por muitas espécies colonizadoras.

Não obstante, os exemplos apresentados são excepcionais, já que as diferentes espécies de Hippeastrum são em geral sexualmente férteis e alógamas. De facto, apresenta várias estratégias para impedir a autopolinização e favorecer, portanto, a alogamia. Existem mesmo espécies autoincompatíveis, que apenas podem produzir sementes se receberem pólen de indivíduos que não estejam geneticamente relacionados.[11][12] Além disso, em geral o pólen é libertado aproximadamente dois dias antes do estigma se encontrar receptivo, o que também tende a assegurar a polinização cruzada.[11]

Melhoramento genético e variedades

Diferentes espécies têm sido cultivadas intensamente pela beleza e tamanho das flores, o que originou numerosos híbridos e variedades, especialmente desenvolvidos com espécies originárias do Brasil, Bolívia e Peru.

O melhoramento genético de Hippeastrum começou em 1799 quando Arthur Johnson, um relojoeiro de Prescot, Lancashire, cruzou Hippeastrum reginae com Hippeastrum vitattum e obteve híbridos que mais tarde se denominaram Hippeastrum × johnsonii.[13] Muitos híbridos adicionais foram desenvolvidos durante os 25 anos seguintes, à medida que novas espécies eram descobertas na América do Sul e enviadas para a Europa. Neste período, os dois desenvolvimentos mais significativos para o melhoramento do Hippeastrum foram a obtenção dos híbridos "Reginae" e "Leopoldii".

Os híbridos "Reginae" foram desenvolvidos por Jan de Graaf e seus dois filhos, na Holanda, por meados do século XIX. Foram obtidos cruzando Hippeastrum vitatum e Hippeastrum striatum com Hippeastrum psittacinum e alguns dos melhores híbridos disponíveis na Europa daquele tempo. Os cultivares clonais "Graveana" e "Empress of India" foram particularmente bem sucedidos e figuraram na genealogia de numerosos cultivares posteriores.[3]

A introdução de Hippeastrum leopoldii e Hippeastrum pardinum, recolhido nos Andes pelo explorador Richard Pearce (empregado da firma inglesa Veitch & Sons) teve um forte impacto sobre o futuro do melhoramento de Hippeastrum. Ambas espécies são notáveis pelas flores muito grandes, amplamente abertas e relativamente simétricas. Quando estas espécies foram cruzadas com os melhores clones dos híbridos "Reginae", obteve-se uma linhagem de flores grandes e muito abertas, as melhores das quais produziam 4 a 6 flores em cada escapo floral. A empresa Veitch & Sons dominou o desenvolvimento destes clones, chamados "Leopoldii", como também o melhoramento de Hippeastrum até às primeiras décadas do século XX. Na realidade, os melhores híbridos "Leopoldii" fixaram os padrões que dominaram o desenvolvimento comercial de Hippeastrum.[3]

Os diferentes cultivares de Hippeastrum são, entre as diferentes espécies de plantas bolbosas, os que melhor se adaptam ao cultivo em vaso no interior de habitações, podendo florescer ano após ano, sempre que se respeite um período de repouso de aproximadamente 2 meses sem rega nem adubação com o vaso em lugar fresco e escuro.[14]

Notas

  1. a b Dimitri, M. 1987. Enciclopedia Argentina de Agricultura y Jardinería. Tomo I. Descripción de plantas cultivadas. Editorial ACME S.A.C.I., Buenos Aires.
  2. Williams, M. & T. R. Dudley. 1984. Chromosome Count for Hippeastrum iguazuanum. Taxon, Vol. 33, No. 2, pp. 271-275.
  3. a b c d Meerow, A. Breeding Amarylids. 1999. Herbertia 54:67-83.
  4. a b c Amaryllidaceae.org: Hippeastrum.
  5. a b c d Mathew, B. Hippeastrum, The secret of the knights star. Royal Botanical Gradens, Kew. Página acedida em 1-12-2007. [1].
  6. Página da IUCN.
  7. Manning, R. 1974. Sprekelia-Amaryllis cross. Plant Life, 30:85-86.
  8. FLAVIA SCHURMANN DA SILVA, A., PAULO DE ANDRADE Jean; BEVILAQUA Lia R. M.; DE SOUZA Marcia Maria; IZQUIERDO Ivan; TERESINHA HENRIQUES Amélia; SILVEIRA ZUANAZZI José Angelo. 2006. Anxiolytic-, antidepressant-and anticonvulsant-like effects of the alkaloid montanine isolated from Hippeastrum vittatum. Pharmacology, biochemistry and behavior vol. 85 (1), pp. 148-154 Resumo em inglês
  9. SA Mitchell, MH Ahmad. Un resumen da Investigación Sobre Plantas Medicinales en la Universidad de West Indies, Jamaica, 1948–2001. West Indian Med J [online]. 2006; 55 (4): [citado 17 de dezembro de 2007], pp. 243. Disponible en la World Wide Web: [2]
  10. Dispersion des bulbilles.
  11. a b Multiplication sexuée.
  12. Williams, M. 1980. Self-sterility in Hippeastrum (Amaryllis) species. Amaryllis Bulletin 1:20.
  13. Read, V. 1999. Developments in Hippeastrum hybridization, 1799-1999. Herbertia 54:84-109.
  14. Cultivo de amarilis (Hippeastrum vittatum). Página accedida el 1-12-07. [3].
  • Hartmann, H., y D. Kester (1987). Propagación de plantas, principios y prácticas. México: Compañía Editorial Continental S.A. ISBN 968-26-0789-2
  • Hessayon, D. G. (1999). The Bulb Expert. Londres: Transworld Publishers Ltd.
  • Phillips, R., y M. Rix (1989). Bulbs. Pan Books Ltd.
  • Rossi, Rosella (1990). Guía de Bulbos. Barcelona: Grijalbo.
  • Taylor, P. (1996). Gardening with Bulbs. Londres: Pavillion Books Ltd.

Ligações externas

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