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Júlio César Tornelli

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Júlio Tornelli

Júlio César Tornelli (28 de novembro de 1870 – Lisboa, 28 de março de 1928) foi um empresário e político português.

Júlio Tornelli era filho de José Nicolau Tornel (natural do Coração de Jesus, Lisboa) e Maria do Rosário Tornel (natural da Carvoeira, Torres Vedras). Casou com Palmira Amélia dos Santos Tornelli.[1][2]

Chalé "Villa Palmira" de Júlio Tornelli, Bombarral (anos 1910)

Terá feito fortuna no Brasil e regressou a Portugal no final do século XIX. Numa propriedade paralela à linha do caminho-de-ferro, na atual Rua Júlio Tornelli, Bombarral, construiu o chalé romântico "Villa Palmira" e funda a Júlio Tornelli - Vinhos e Aguardentes, edificando uma das melhores destilarias da região.[3] Era também proprietário, em sociedade com António Ferreira dos Santos, produtor e comerciante de vinhos, do estabelecimento comercial "Grandes Armazéns de Santo António", considerado um dos mais modernos da época. Inaugurado em dezembro de 1902, na atual Rua Luís de Camões, Bombarral, a sociedade manteve-se até 1912.[3][4]

Republicano, Tornelli era próximo de figuras proeminentes, incluindo Afonso Costa ou António José de Almeida. Terá sido por sua influência que Afonso Costa se deslocou ao Cadaval em março de 1908.[5] Foi membro dos Órgãos Sociais do Centro Escolar Republicano João Chagas, inaugurado a 6 de setembro de 1908 no Bombarral, com a presença de João Chagas, Bernardino Machado, Sebastião de Magalhães Lima, entre outros. A excursão ao Bombarral foi organizada pelo Centro Escolar Republicano António José de Almeida, sendo que a mesa do comício foi secretariada por Antonina Goes, sobrinha de Tornelli, a convite de Bernardinho Machado.[1][6][7] Sócios dissidentes deste Centro foram posteriormente responsáveis pela fundação do Sport Clube Escolar Bombarralense, em outubro de 1911.[8] Com a implantação da República, Júlio Tornelli foi o presidente da primeira Comissão Municipal Republicana do Concelho de Óbidos que tomou posse a 10 de outubro de 1910, juntamente com Virgínio Pereira (vice-presidente), e os vereadores José Veríssimo Duarte, Joaquim Rodrigues Tocha, José Luís Marques, Tomás Inácio de Ceuta e Luís da Costa. Neste período revolucionário, ativistas republicanos do Bombarral usaram a relação de Tornelli com António José de Almeida, então Ministro do Interior, com o intuito de estabelecer o Bombarral como a nova sede de concelho.[8] Contudo, a renúncia de Almeida do Governo Provisório dias depois comprometeu a iniciativa. Júlio Tornelli foi eleito novamente presidente em junho de 1911, mantendo o cargo de Presidente na Câmara Municipal até 1914.[1][9] Em representação da Câmara Municipal de Óbidos, esteve presente, a convite da Câmara Municipal de Alter do Chão, na sessão de abertura da Assembleia Nacional Constituinte.[10] Em 1911, foi o sócio fundador nº 1 e presidente da Assembleia Geral da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Bombarral.[11][5][12] Com a criação do concelho do Bombarral em 1914, a primeira Câmara Municipal do Bombarral tomou posse a 29 de junho de 1914. Tornelli, enquanto vereador eleito, compareceu ao ato da posse, tendo sido eleito presidente da Comissão Executiva. Esta comissão integrou também Tomaz da Conceição Rosado (vice-presidente), António Pereira Bernardino (secretário), José Bernardo e José Patrício de Campos (vogais). Tornelli manteve o cargo de presidente até 1916, sendo substituído por José Veríssimo Duarte.[8] Foi posteriormente Presidente da Câmara entre março de 1916 e dezembro de 1917.[1][13] Foi sócio fundador da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Bombarral, tendo sido eleito presidente da primeira Assembleia Geral a 6 de março de 1925. A sua esposa integrou a secção feminina do Corpo Activo, intitulada Cruz Roxa, tendo sido a primeira instituição do concelho a incluir oficialmente mulheres.[2]

Membros do Centro Escolar Republicano João Chagas, 1909, "Villa Palmira", Bombarral. Júlio Tornelli (fila da frente, 2º)

Foi sócio do comerciante portuense Ramiro Lambertini de Magalhães, conhecido como o "Rei da Aguardente", dono da firma Ramiro de Magalhães & Companhia, sediada no Porto e fundada em 1875, que chegou a ser a maior produtora e fornecedora de aguardente do país.[3] Na região, a empresa detinha destilarias no Bombarral, Cadaval, Adão Lobo, Vermelha, A-dos-Francos, Lourinhã, Painho e Barreiras. Em 1920, ambos constroem na atual Rua Manuel do Nascimento, Bombarral, em nome da firma Ramiro de Magalhães e C.ª, adaptando um edifício já existente, uma adega, uma vinagreira e casa de habitação (residência de Ramiro de Magalhães), entretanto demolidas. Estes antigos armazéns comportavam nos depósitos de cimento 1,5 milhões de litros de aguardente. O complexo era igualmente dotado de uma tanoaria, central elétrica, serralharia e caldeiraria. Em 1923, construíram no "Arneiro" uma moradia de porte regionalista, que ficaria conhecida como Quinta de Santa Maria, ao lado da "Mala-Posta", junto a outras adegas e armazéns que já possuíam naquela propriedade.[3] Júlio Tornelli fora igualmente proprietário de um terreno próximo, local do futuro Teatro Eduardo Brazão, onde chegou a estar instalado o primeiro campo de futebol do Bombarral.

Na segunda metade dos anos 20, Júlio Tornelli vende o seu património, passando a residir em Lisboa, onde falece em 1928.[1][3]

Referências

  1. a b c d e FERREIRA, Nuno Taborda (2024). Raízes de uma identidade. [S.l.]: Câmara Municipal do Bombarral 
  2. a b SANTOS, Dóris; CLAUDINO, Alberto, eds. (2024). Na Paz, no Perigo e na Dor - 100 anos dos Bombeiros Voluntários do Bombarral. [S.l.]: Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Bombarral. ISBN 978-989-33-6530-4 
  3. a b c d e SANTOS, Dóris (2017). Arte por Terras do Bombarral. [S.l.]: Caleidoscópio. ISBN 978-989-658-477-1 
  4. PIMENTEL, Alberto (1908). A Extremadura Portugueza - Parte II. Lisboa: Empreza da Historia de Portugal - Sociedade Editora. p. 360 
  5. a b MARQUES, A. H. de Oliveira (1982). Correspondência Política de Afonso Costa (1896-1910). Lisboa: Editorial Estampa. pp. 211, 284 
  6. Amorim, Ana Patrícia Cordeiro de Sousa. Rostos da República: Pesquisa desenvolvida no apoio à Exposição. Vol. II. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2010.
  7. RIBEIRO, Lia (2011). A Popularização da Cultura Republicana 1881-1910. [S.l.]: Imprensa da Universidade de Coimbra. ISBN 978-989-26-0082-6. doi:10.14195/978-989-26-0213-4 
  8. a b c RAMOS, Augusto José (1982). Bombarral e seu Concelho - Subsidios para a sua História. Bombarral: GRAFIBOM 
  9. «Cronologia Histórica de Óbidos» 
  10. LEMOS, Eduardo Rodrigues Cardoso de (1911). As Constituintes de 1911 e os seus Deputados. Lisboa: Livraria Ferreira. p. 390 
  11. «Caixa de Crédito Agrícola - História» 
  12. «Núcleo urbano da vila do Bombarral». SIPA. 2008 
  13. «Autarcas Bombarralenses»