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Joaquim Propício de Pina

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Joaquim Propício de Pina
Joaquim Propício de Pina
Mestre Propício
Nascimento 23 de julho de 1867 [1]
Meia Ponte, Goiás
Morte 11 de agosto de 1943 (76 anos)
Pirenópolis, Goiás
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Ludovina Alves de Amorim
Pai: Antônio Luiz de Pina
Cônjuge Rosaura d'Abadia Mendonça
Filho(a)(s)
  • Antônio (Tonico)
  • Eufêmia
  • Joaquim Júnior
  • Luís
  • Carlos (Carrinho)
  • João
  • Agostinho
  • Maria
Ocupação
Período de atividade 1864–1903
Carreira musical
Gênero(s)
Instrumento(s)
Assinatura

Joaquim Propício de Pina (Meia Ponte, 23 de julho de 1867Pirenópolis, 11 de agosto de 1943), conhecido como Mestre Propício, foi uma figura central na vida cultural e educacional de Pirenópolis, Goiás. Amplamente reconhecido por sua atuação como professor primário, músico, maestro e fundador da Banda Phoenix, uma das mais tradicionais corporações musicais de Goiás.

Desde 1895, Propício atuou como professor primário, período durante o qual se destacou por sua disciplina rigorosa. Em 1918, enfrentou uma injustiça ao ser afastado do magistério devido a suas ligações políticas, sem direito à aposentadoria, embora sua dedicação ao ensino fosse amplamente reconhecida.

Além de sua atuação no campo da educação, Mestre Propício teve um papel notável na música. Fundou a Banda Phoenix e criou a Orquestra Pireneus em 1923. Em 1922, reencenou com sucesso a peça As Pastorinhas, que desde então se tornou uma tradição dos Festejos do Divino de Pirenópolis.[2]

Sua contribuição para a administração pública também foi significativa. Ocupou cargos como secretário da Câmara Municipal, escrivão da Coletoria Municipal e foi eleito intendente municipal em 1927. Sua administração foi marcada pela integridade e pelo uso prudente dos recursos públicos, promovendo melhorias para o município. No entanto, sua gestão foi interrompida pela Revolução de 1930, que resultou em sua deposição. Apesar das adversidades, seu trabalho foi reconhecido pela câmara municipal de Pirenópolis, que aprovou uma lei em 11 de maio de 1928 concedendo-lhe isenção de impostos como forma de honrar sua contribuição à comunidade.

Joaquim Propício era o caçula de oito irmãos e perdeu o pai aos quatro anos. Recebeu educação inicial do irmão mais velho, Braz Aristófanes de Pina, e mais tarde foi aluno do capitão Antônio Fleury de Sousa Lobo (Totó de Inhá), que lhe ensinou latim, desenho e música. Casou-se com Rosaura d'Abadia Mendonça em 1888 e teve nove filhos.

Seu falecimento em 11 de agosto de 1943 foi marcado por grande comoção, com um funeral acompanhado pela Banda Phoenix, pela Irmandade do Santíssimo e por autoridades religiosas e civis, que prestaram homenagens ao seu legado duradouro na cultura e na educação de Pirenópolis.

Em reconhecimento à sua significativa contribuição para a região, o município de Vila Propício foi nomeado em sua homenagem. A formação deste município começou a se consolidar em meados da década de 1950, quando Luis Caiado de Godoi, genro de Propício, decidiu estabelecer uma escola e fomentar a comercialização de produtos agrícolas. Sua antiga residência hoje é o Solar Mestre Propício. A Rua em que residia em Pirenópolis, hoje leva seu nome. O Bairro Jundiaí em Anápolis possui também uma rua em sua homenagem.[3][4][5]

Filho do Capitão Antônio Luiz de Pina e Ludovina Alves de Amorim, Propício nasceu em uma família com forte influência cultural, presente em Meia Ponte desde o século XVIII, a família Pina e era o caçula de 09 irmãos: Braz Aristófanes de Pina, Sofia de Pina Batista, Antonio Luiz de Pina. Natália de Pina, Maria de Pina, José Joaquim de Pina e o Major Sebastião Pompeu de Pina, que em 1899 construiu o Theatro de Pirenópolis.

Ainda na infância, Propício enfrentou uma série de desafios e influências que moldariam seu futuro ao ficar órfão de pai aos quatro anos e foi criado por seu irmão mais velho, Braz Aristófanes de Pina. Brazinho, como era conhecido, era um boticário e poliglota que falava 04 idiomas, desempenhou um papel fundamental na educação inicial de Joaquim, ensinando-lhe as primeiras letras.

Além da influência de seu irmão, Joaquim recebeu educação formal de outros mentores importantes. O capitão Antônio Fleury de Sousa Lobo, também conhecido como Totó de Inhá, era um rígido educador da vila de Meia Ponte, e que ensinou-lhe o latim, desenho e música, contribuindo significativamente para sua formação intelectual e artística.

Além de Totó de Inhá, Propício tinha aulas com seu tio, o capitão Braz Luiz de Pina, que se destacava como um talentoso músico e professor, foi aluno do padre José Joaquim Pereira da Veiga, que, por sua vez, havia estudado com renomados mestres da música no Rio de Janeiro, e ao voltar para sua cidade natal, criou a orquestra da Matriz de Pirenópolis em 1801, da qual participou José Inácio do Nascimento.[6]

Antônio da Costa Nascimento, o Tonico do Padre, o maior compositor da região

Durante o período colonial e a primeira metade do século XIX, a vida cultural e artística em Meia Ponte, hoje chamada Pirenópolis, estava profundamente entrelaçada com as festividades religiosas organizadas pelas irmandades locais. As celebrações religiosas desempenhavam um papel central na vida da comunidade, e a presença dessas irmandades era fundamental para o desenvolvimento cultural da região.

A Irmandade do Santíssimo Sacramento, em particular, teve um impacto significativo nesse contexto. Ela foi responsável pela construção de importantes templos e igrejas, que se tornaram centros de atividade comunitária e religiosa. Esses templos não apenas serviam como locais de culto, mas também como núcleos ao redor dos quais as comunidades se agrupavam, fomentando a formação de arraiais e o fortalecimento da vida social e cultural local. Além de sua contribuição arquitetônica, a irmandade desempenhava um papel essencial na evangelização, moldando o ambiente cultural da cidade e promovendo práticas religiosas que influenciavam todas as esferas da vida em Meia Ponte, e consequentemente o patrocínio das artes plásticas e música.[7][8]

Apesar do contato limitado com influências externas, a cidade era um centro vibrante de cultura musical, e o jovem Propício cresceu imerso nesse ambiente. Na época, a segunda orquestra local, formada pelos irmãos Pina — Braz, Teodoro e Teodolino —, acompanhava a orquestra liderada pelo padre Francisco Inácio da Luz, irmão de Antônio da Costa Nascimento o Tonico do Padre, com suas vozes graves e potentes.

Em 1868, Joaquim Luiz Teixeira Brandão criou a Banda Euterpe (Deusa da Música), aproveitando instrumentos de uma antiga banda militar, a Banda de Música da Guarda Nacional, combinando manuscritos musicais de missas, teatro e concertos. A direção da banda foi assumida por Tonico do Padre. Propício de Pina, ansioso para expandir seus conhecimentos musicais, se inscreveu como aluno de Tonico, enfrentando sua forte personalidade e métodos rígidos. Como clarinetista, ele participou da Banda Euterpe e do coro da Matriz, contribuindo para a orquestra da banda desde sua fundação até 1897.

Apesar de seus muitos sucessos, a vida de Joaquim Propício não foi isenta de desafios. Envolvido na política local, sofreu com as mudanças de poder que afetaram sua carreira, incluindo a perda de seu cargo de professor em 1918 e sua deposição como intendente municipal em 1930 após a Revolução de 1930.

Joaquim Propício de Pina faleceu em 11 de agosto de 1943, deixando um legado duradouro tanto na educação quanto na música de Pirenópolis. Seu trabalho na Banda Phoenix e sua contribuição para a cultura local são lembrados com respeito e admiração, refletindo o impacto significativo que teve em sua comunidade ao longo de sua vida.

Em reconhecimento à sua significativa contribuição para a região, o município de Vila Propício foi nomeado em sua homenagem. A formação do município começou a se consolidar em meados da década de 1950, quando Luis Caiado de Godoi, agrimensor e proprietário de terras da região, decidiu estabelecer uma escola e fomentar a comercialização de produtos agrícolas. Luis Caiado de Godoi era casado com Maria Abadia de Pina, uma das filhas de Joaquim Propício de Pina, estabelecendo uma conexão direta com a família de Mestre Propício.

Por volta de 1951, a família de Joaquim Propício também se envolveu na construção de uma escola e na comercialização de alimentos, dando início ao povoado de Vila Propício. Esse esforço para formar a nova comunidade contou com a colaboração de imigrantes baianos e mineiros, além de outros proprietários de terras, que se juntaram ao agrimensor e à sua esposa na tarefa de desenvolver a localidade. O nome do município foi escolhido para honrar o legado de Mestre Propício, reconhecendo sua significativa contribuição para a região.

No dia 23 de julho de 1893, no aniversário de 26 anos de Joaquim Propício, seus alunos musicais organizaram uma apresentação surpresa em sua homenagem. O excelente desempenho da apresentação marcou o início da Banda Phoenix, que surgiu como uma nova força musical em Pirenópolis, renovando a tradição da antiga Banda da Babilônia.

O surgimento da Banda Phoenix gerou ciúmes em Tonico do Padre, que via a nova corporação como uma ameaça, considerando Propício como ingrato. Apesar de sua preocupação, Tonico sentia-se seguro devido à estrutura robusta da Banda Euterpe, que ainda era a principal corporação musical da cidade. No entanto, em 1898, Tonico sofreu um atentado e teve que ceder a liderança da Euterpe a Odorico de Siqueira. Quando retornou no ano seguinte, Joaquim Propício já havia assumido o cargo de Mestre Capela do Coro da Matriz com seu grupo o Coro e Orquestra Nossa Senhora do Rosário.

Banda Phoenix com Propício ao centro em meados de 1940

Em 1901, Tonico do Padre reassumiu o posto de Mestre Capela, mas em 1902 a competição musical entre as bandas se intensificou. Para acomodar a rivalidade, a Igreja dividiu as apresentações musicais da Semana Santa: a Banda Euterpe ficou responsável pelas celebrações de quinta e sexta-feira santas, enquanto a Banda Phoenix assumiu o sábado e o domingo.

A situação mudou significativamente em 15 de fevereiro de 1903, quando Tonico do Padre faleceu. Sua viúva transferiu a liderança da Banda Euterpe, incluindo todo o seu acervo, para Silvino Odorico de Siqueira. Isso marcou o início de uma nova fase na competição musical entre as bandas, que agora se envolviam também em disputas políticas e na rivalidade durante festas religiosas e eventos profanos, até a extinção da Banda Euterpe em meados de 1930.

Com a morte de Propício em 1943, a Phoenix passou por um período de grandes transformações e desafios, mas conseguiu se manter ativa e relevante na vida cultural de Pirenópolis e da região. Enfrentou um período de incerteza quanto à liderança e à continuidade das atividades. Luiz de Aquino Alves, que era um dos colaboradores mais próximos de Propício e um dos maiores compositores locais, assumiu a regência da banda. Durante seu comando, ele enfrentou diversos desafios, incluindo a falta de uma sede própria e a diminuição do interesse local por atividades culturais, agravada pelo contexto econômico e político da época.

Banda Phoenix em apresentação no canto da primavera em 2023, onde apresentou a peça Amor de Pai, de Tonico do Padre

A década de 1960 trouxe novas esperanças para a Banda Phoenix, especialmente após a intervenção de Pompeu Christovam de Pina e o envolvimento de Vasco da Gama Siqueira. Siqueira, um dos músicos respeitados da região, e que auxiliava seu Pai, Silvino Odorico na Banda Euterpe, assumiu a direção da banda e ajudou na recuperação e organização das atividades musicais. A criação da Escola de Música Mestre Propício foi um marco importante neste período, contribuindo para a formação de novas gerações de músicos e a preservação do acervo musical da banda.

Entre 1968 a 1980, José Joaquim do Nascimento, conhecido como Zé Guiomar, desempenhou um papel crucial na revitalização da Banda Phoenix. Ele não só regia a banda, mas também trabalhava intensamente na catalogação e preservação do acervo musical, promovendo o estudo e a execução das obras. Nascimento também organizou o Primeiro Recital de Compositores Goianos, que ajudou a consolidar o papel da banda na vida cultural de Goiás.

Durante a década de 1980 e 1990, a banda continuou enfrentando desafios, especialmente relacionados à falta de incentivos e ao interesse das novas gerações. No entanto, figuras como Mamede Silvério de Melo ajudaram a manter a tradição musical viva, mesmo com dificuldades financeiras e de participação. A chegada de Alexandre Luiz Pompêo de Pina como maestro em 1991 trouxe uma nova energia à banda, coincidente com o reconhecimento crescente de Pirenópolis como um destino turístico e cultural.

Desde 2010, sob a liderança de Aurélio Afonso da Silva, a Banda Phoenix continua a desempenhar um papel vital na vida cultural de Pirenópolis. A banda não apenas participa dos eventos tradicionais e festivos da cidade, como as festividades da Semana Santa, a Festa do Divino e os atos cívicos, mas também enfrenta desafios contemporâneos, como a falta de verbas e a necessidade de preservar e atualizar seu acervo musical.

A mudança para a sede no Casarão da Banda Phoenix, no antigo Mercado Municipal, foi um marco importante, proporcionando à banda um espaço adequado para ensaios e eventos. O prédio, reformado e adaptado para as necessidades da banda, é também um importante patrimônio histórico da cidade, refletindo a rica história musical de Pirenópolis.

A banda mantém seu compromisso com a educação musical e a preservação do legado cultural, oferecendo uma programação variada de eventos e apresentações que visam envolver a comunidade e promover a cultura local. A atual equipe, liderada por Aurélio, trabalha para garantir que a tradição da Banda Phoenix continue a prosperar e se adaptar aos tempos modernos, mantendo viva a herança musical que começou no final do século XIX.

Referências

  1. CURADO, João Guilherme da Trindade; LÔBO, Tereza Caroline; LÔBO, Aline Santana (2021). Pirenópolis: paisagens sonoras. [S.l.]: KELPS). Consultado em 7 de setembro de 2024 
  2. NETO, Antonio Lopes (2021). Uma análise comparativa: do texto à representação – do Presépio das Alagoas às Pastorinhas de Pirenópolis. [S.l.]: Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes, da Universidade Federal de Alagoas. Consultado em 8 de setembro de 2024 
  3. «Prefeitura de Vila Propício: História da Cidade». Consultado em 8 de setembro de 2024 
  4. «Câmara de Vila Propício: História da Cidade». Consultado em 8 de setembro de 2024 
  5. «IBGE: Vila Propício:». Consultado em 8 de setembro de 2024 
  6. «Enciclopédia da música brasileira: Erudita, folclórica, popular (2010)». Consultado em 5 de setembro de 2024 
  7. SILVA, Mônica Martins da (2000). A FESTA DO DIVINO. Romanização, Patrimônio & Tradição em Pirenópolis (1890-1988) (PDF). [S.l.]: UFG, Programa de Mestrado em História das Sociedades Agrárias - UFG, 2000). Consultado em 28 de julho de 2020 
  8. CERIPES, Paulo Henrique Ferreira (2014). Fontes para a história da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos em Pirenópolis (PDF). [S.l.]: UNB, Monografia do Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da UNB, 2014). Consultado em 28 de julho de 2020 
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  • JAYME, Jarbas. JAYME, José Sizenando. Casas de Deus, casas dos mortos. Goiânia: Ed. UCG, 2002.
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