Joseph de Maistre
Joseph de Maistre | |
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Nascimento | 1 de março de 1753 Chambéry, França |
Morte | 26 de fevereiro de 1821 (67 anos) Turim, Sardenha |
Nacionalidade | francês |
Progenitores | Pai: François-Xavier Maistre |
Alma mater | Universidade de Turim |
Ocupação | |
Principais trabalhos | |
Escola/tradição | |
Religião | Catolicismo |
O Conde Joseph-Marie de Maistre (Saboia, 1 de abril de 1753 – Turim, 26 de fevereiro de 1821) foi um escritor, filósofo, diplomata e magistrado.[1] Foi um dos proponentes mais influentes do pensamento contrarrevolucionário ultramontanista no período imediatamente seguinte à Revolução Francesa de 1789.[2]
Ele é um dos pais da filosofia contra-revolucionária e um dos mais importantes críticos das ideias iluministas. Ele considerava que a Revolução Francesa representou um crime contra a ordem natural, e defendia o retorno a uma monarquia absoluta. Ele é uma influência muito importante para parte do pensamento conservador desde o século XVIII.[3] Apesar do seu viés conservador, o pensamento de Maistre foi reconhecido como importante mesmo por socialistas utópicos, revolucionários e liberais, seus oponentes ideológicos.[4][5][6][7]
Ideias
[editar | editar código-fonte]Era a favor da restauração do Reino da França, que ele via como uma instituição de inspiração divina. Argumentava também a favor da suprema autoridade do Papa, quer em matérias religiosas como também em matérias políticas.
De acordo com Joseph de Maistre, apenas os governos baseados na constituição cristã, implícita nos costumes e instituições de todas as sociedades europeias, mas especialmente nas monarquias católicas europeias, poderiam evitar as desordens e as matanças que se seguem à implementação de programas políticos racionalistas, tais como a então recente Revolução Francesa. Defensor entusiasta da autoridade estabelecida, que a revolução pretendia destruir, defendeu-a em todos os domínios: no Estado, enaltecendo a monarquia; na Igreja, enaltecendo os privilégios do papado; e no mundo, glorificando a providência divina.
É o autor da célebre frase “Toute nation a le gouvernement qu'elle mérite” [8] (“Toda nação tem o governo que merece”).
Apesar dos seus laços pessoais e intelectuais com França, Maistre foi cidadão do Reino da Sardenha, serviu como membro do Senado da Saboia (1787–1792), embaixador no Império Russo (1803–1817)[9] e ministro de estado na corte em Turim (1817–1821).[10]
Influência e Legado
[editar | editar código-fonte]Juntamente com o estadista e filósofo anglo-irlandês Edmund Burke, Maistre é comumente considerado um dos fundadores do conservadorismo,[11] mas desde o século XIX a concepção autoritária do conservadorismo “trono e altar” de Maistre declinou em influência em comparação à complexidade e maior envergadura do conservadorismo mais liberal de Burke.[12] No entanto, as habilidades de Maistre como escritor e polemista garantiram a sua influência em diversos domínios para além da política.[13]
Por exemplo, em relação a sua prosa, a Enciclopédia Católica de 1910 descreve o seu estilo de escrita como “forte, animado, pitoresco” e que a sua “animação e bom humor” temperam o seu tom dogmático. Ele possui uma facilidade maravilhosa na exposição, precisão da doutrina, amplitude de aprendizado e poder dialético. Apesar de adversário político, Alphonse de Lamartine admirava o esplendor da sua prosa.[14] George Saintsbury[15] e Charles Baudelaire também admiravam a prosa de Joseph de Maistre, este último chegou a alegar que de Maistre havia-lhe ensinado a pensar.[16]
No âmbito propriamente político, Maistre exerceu uma poderosa influência sobre o pensador político espanhol Juan Donoso Cortés e mais tarde sobre o monarquista francês Charles Maurras e o seu movimento político Action Française. A sua influência também pode ser vista em alguns socialistas utópicos,[4] e sobretudo sobre a escola perenialista[17] de René Guénon,[18] leitor assumido de Joseph de Maistre.[18]
Além disso, os primeiros sociólogos como Auguste Comte e Henri de Saint-Simon reconheceram explicitamente a influência de Maistre nos seus próprios pensamentos sobre as fontes de coesão social e autoridade política.[19][20]
Publicações
[editar | editar código-fonte]- Nobilis Ioseph Maistre Camberiensis ad i.u. lauream anno 1772. die 29. Aprilis hora 5. pomeridiana Arquivado em 27 abril 2017 no Wayback Machine (Turim, 1772) – tese do decreto de Joseph de Maistre, mantida na Biblioteca Nacional da Universidade de Torino.
- Éloge de Victor-Amédée III (Chambéry, 1775)
- Lettres d'un royaliste savoisien à ses compatriotes (1793)
- Étude sur la souveraineté (1794)
- De l'État de nature, ou Examen d'un écrit de Jean-Jacques Rousseau (1795)
- Considérations sur la France (Londres [Basel], 1796)
- Intorno allo stato del Piemonte rispetto alla carta moneta (Turn, Aosta, Veneza, 1797–1799)
- Essai sur le Principe Générateur des Constitutions Politiques, 1814, [1a. Pub. 1809]
- Du Pape, Tome Second, 1819.
- De l'Église Gallicane, ed. Rodolphe de Maistre, 1821.
- Les Soirées de Saint-Pétersbourg ou Entretiens sur le Gouvernement Temporel de la Providence, Tome Second, ed. Rodolphe de Maistre, 1821.
- Lettres à un Gentilhomme Russe sur l'Inquisition Espagnole, ed. Rodolphe de Maistre, 1822.
- Examen de la Philosophie de Bacon, ou: l'on Traite Différentes Questions de Philosophie Rationnelle, Tome Second, ed. Rodolphe de Maistre, 1836.
- Lettres et Opuscules Inédits du Comte Joseph de Maistre, Tome Second, ed. Rodolphe de Maistre, Paris, 1853.
- Mémoires Politiques et Correspondance Diplomatique, ed. Albert Blanc, Paris, 1859.
- Traduções em inglês
- Memoir on the Union of Savoy and Switzerland, 1795.
- Essay on the Generative Principle of Political Constitutions, 1847.
- The Pope: Considered in His Relations with the Church, Temporal Sovereignties, Separated Churches and the Cause of Civilization, 1850.
- Letters on the Spanish Inquisition, 1838.
- Menczer, Béla, 1962. Catholic Political Thought, 1789–1848, University of Notre Dame Press.
- "Human and Divine Nomenclature", pp. 61–66.
- "War, Peace, and Social Order", pp. 66–69.
- "On Sophistry and Tyranny", pp. 69–71.
- "Russia and the Christian West", pp. 72–76.
- Lively, Jack. ed. The Works of Joseph de Maistre, Macmillan, 1965 (ISBN 978-0805203042).
- Richard Lebrun, ed. Works of Joseph de Maistre:
- The Pope, Howard Fertig, 1975 (ISBN 978-1296620059)
- St. Petersburg Dialogues, McGill-Queen's University Press, 1993 (ISBN 978-0773509825)
- Considerations on France, McGill-Queen's University Press, 1974 e Cambridge University Press, 1994 (ISBN 978-0773501829)
- Against Rousseau: "On the State of Nature" and "On the Sovereignty of the People", McGill-Queen's University Press, 1996 (ISBN 978-0773514157)
- Examination of the Philosophy of Bacon, McGill-Queen's University Press, 1998 (ISBN 978-0773517271)
- Blum, Christopher Olaf (editor and translator). Critics of the Enlightenment, ISI Books, 2004 (ISBN 978-1932236132)
- 1798, "Reflections on Protestantism in its Relations to Sovereignty", pp. 133–56.
- 1819, "On the Pope", pp. 157–96.
- Lively, Jack. ed. The Generative Principle of Political Constitutions: Studies on Sovereignty, Religion, and Enlightenment, Transaction Publishers, 2011 (ISBN 978-1412842655)
- Blum, Christopher O., editor e tradutor. Critics of the Enlightenment, Cluny Media, 2020 (ISBN 978-1952826160)
- 1797, "Considerations on France" (trecho das duas primeiras seções), pp. 75–90.
- 1819, "On the Pope", pp. 91–100.
- Major Works, Volume I, Imperium Press, 2021.
Referências
- ↑ Daniel Ligou. Romantisme. Année 1985 ; Volume 15 ; No 48 ; p. 112-113. Publication des Mémoires de Joseph de Maistre commentés par Jean Rebotton. Genève. Slatkine. 1985. 145p
- ↑ J.-M. Vivenza, Joseph de Maistre e o Rito Escocês Retificado, Dossiê H, a Idade do Homem, 2005.
- ↑ Isaiah Berlin, « The Second Onslaught: Joseph de Maistre and Open Obscurantism », Two Enemies of the Enlightenment, Wolfson College, Oxford, 25–8 october 1965
- ↑ a b Armenteros (2011). The French Idea of History: Joseph de Maistre and his Heirs, 1794-1854. Ithaca, NY and London: Cornell University Press ISBN 0-8014-4943-X
- ↑ Armenteros, Carolina, and Richard Lebrun. Joseph de Maistre and his European readers: from Friedrich von Gentz to Isaiah Berlin. Brill, 2011.
- ↑ Compagnon, Antoine. Les antimodernes: de Joseph de Maistre à Roland Barthes. Gallimard, 2016.
- ↑ Lilla, Mark, Isaiah Berlin, and Henry Hardy. "Inside the Clockwork." The New York Review of Books 49 (2002): 43.
- ↑ Joseph de Maistre, Albert Blanc (ed.) Correspondance diplomatique, tome 2. Paris : Michel Lévy frères libraires éditeurs, 1860, p.196.
- ↑ "Joseph de Maistre," The Dublin Review, Vol. XXXIII, 1852.
- ↑ A questão da identidade nacional de Maistre é polémica. Em 1802, após a invasão de Saboia e Piemonte pelos exércitos da Primeira República Francesa, Maistre foge para Cagliari, antiga capital do Reino da Sardenha que resistiu à invasão francesa; escreveu ao embaixador francês em Nápoles, opondo-se a ser classificado como émigré francês e assim ficando sujeito a que lhe fossem confiscadas propriedades, e a punição caso regressasse à Saboia. De acordo com a nota biográfica escrita pelo seu filho Rodolphe e incluída nas suas Obras Completas, Maistre então escreveu que
Fontes como Encyclopædia Britannica e Catholic Encyclopedia identificam Maistre como francês, por cultura se não por direito. Em 1860 Albert Blanc, professor de direito na Universidade de Turim, no seu prefácio a uma coleºção de correspondência diplomática deMaistre escreveu:não fora ter nascido francês, e não ter desejado ser francês, e nunca ter posto o pé em terras conquistadas pela França, não poderia ter-me tornado francês .— Œuvres complètes de Joseph de Maistre, Lyon, 1884, vol. I, p. XVIII.... este filósofo [Maistre] era um político; este católico era um italiano; previu o destino da Casa de Saboia, apoiou o fim do domínio austríaco [do norte da Itália], e foi, neste século, um dos primeiros defensores da independência [italiana].— Correspondance diplomatique de Joseph de Maistre, Paris, 1860, vol. I, pp. III-IV. - ↑ Fuchs, Michel (1984). "Edmund Burke et Joseph de Maistre", Revue de l'Université d'Ottawa , Vol. 54, pp. 49-58.
- ↑ Arnold, Mateus (1973). "Joseph de Maistre sobre a Rússia." In: Literatura Inglesa e Política Irlandesa. Ann Arbor: The University of Michigan Press, p. 87.
- ↑ Herbermann, Charles, ed. (1913). "Joseph-Marie, Conde de Maistre" . Enciclopédia Católica . Nova York: Robert Appleton Company.
- ↑ de Lamartine, Afonso (1874). "Les De Maistre" . Lembranças e Retratos . Vol. 1. Paris: Hachette et Cie. p. 189.
- ↑ Tarrago, Rafael E. (1999). "Two Catholic Conservatives: The Ideas of Joseph de Maistre and Juan Donoso Cortes," Archived 13 October 2014 at the Wayback Machine Catholic Social Science Review, Vol. 4, pp. 167–177.,
- ↑ "De Maistre e Edgar Poe me ensinaram a raciocinar." – Baudelaire, Charles (1919). Papéis Íntimos das Obras Inéditas de Baudelaire. Baudelaire – Sua Prosa e Poesia. Nova York: A Biblioteca Moderna, p. 245.
- ↑ Sedgwick, Mark J. : Contre le monde moderne, Paris, Ed. Dervy, 2008, 396 p. p.41
- ↑ a b Ingram, Brannon. "René Guénon And The Traditionalist Polemic." Polemical Encounters. Brill, 2007. 199-226.
- ↑ Pickering, Mary (1993). Auguste Comte: An Intellectual Biography, vol. 1. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 261–8 ISBN 052143405X
- ↑ Lucien Lévy-Bruhl (1903). The Philosophy of Auguste Comte. New York: Putnam and Sons, pp. 297-8.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Considérations sur la France de Joseph de Maistre: revisão (historiográfica) e tradução,» (PDF)SOARES, José Miguel Nanni. Tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo, 2009 (em português).
- (em francês) Regard sur Joseph de Maistree, por Maxence Caron
- (em francês) Eloge d’un maudit, por Philippe Sollers
- (em francês) Joseph et Xavier de Maistre (dados biográficos)
- (em francês) Les Soirées de Saint-Pétersbourg de J. de Maistre.
- (em francês) Éclaircissement sur les sacrifices de J. de Maistre.
- (em francês) Considérations sur la France, de J. de Maistre, no Internet Archive
- Nascidos em 1753
- Mortos em 1821
- Homens
- Pessoas relacionadas ao esoterismo ou ocultismo
- Escritores por religião
- Filósofos da França
- Escritores da França
- Filosofia perene
- Metafísicos
- Advogados da França
- Embaixadores da Itália na Rússia
- Pensadores contrarrevolucionários
- Pessoas da Revolução Francesa
- Monárquicos da França
- Ultramontanos
- Naturais de Chambéry