Saltar para o conteúdo

Juramento Papal (catolicismo tradicionalista)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Juramento Papal é um juramento tido como verdadeiro pelos católicos tradicionalistas cujo texto devia ser recitado pelos papas da Igreja Católica começando com o Papa São Agatão, que foi eleito em 27 de Junho de 678. Alega-se que mais de 180 papas, inclusive o Papa Paulo VI, fizeram o juramento durante a sua coroação. O Papa João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, que não fizeram cerimônias de coroação, também não fizeram o juramento.

Alega-se nele que os papas prometiam nunca inovar ou mudar qualquer coisa da doutrina católica revelada por Cristo. Alguns confundem o juramento papal com o juramento contra o modernismo que o Papa Pio X ordenou que aqueles que exercem certos serviços na Igreja fizessem.

O Juramento Papal parece ser baseado num texto histórico conservado no Liber Diurnus Romanorum Pontificum, uma coleção de formulários para enviar correspondências ou decretos, alguns dos quais podem até mesmo ser anteriores ao pontificado do Papa Gregório I (590-604), enquanto outros são do século VIII ou IX.[1]

Esse texto histórico[2] tem forma de uma profissão de fé,[3] dirigida a São Pedro,[4] enquanto o "Juramento Papal", na versão portuguesa, dirige-se a Cristo ou a Deus (fala do "Teu juizo divino").

Embora a coletânea do Liber Diurnus foi utilizada na chancelaria papal até o século XI,[5][6] o conteúdo da profissão de fé mostra que esse formulário pode ter sido usado apenas em algum momento no curto período entre a eleição do Papa Cónon (686-687) e do Papa Zacarias (741-752). A profissão de fé cita o Terceiro Concílio de Constantinopla (680-681) como tendo sido realizada recentemente, indicando que surgiu nesse período provavelmente.[7] A profissão de fé também refere-se ao Papa Agatão (678-681), que haveria sido o autor do "Juramento Papal", como já estando morto.

Texto em latim do "Juramento"

[editar | editar código-fonte]
Ego promitto Nihil de traditione quod a probatissimis praedecessoribus meis servatum reperi, diminuere vel mutare, aut aliquam novitatem admittere; sed ferventer, ut vere eorum discipulus sequipeda, totia viribis meis conatibusque tradita conservare ac venerari.
Si qua vero emerserint contra disciplinam canonicam, emendare; sacrosque Canones et Constituta Pontificum nostrorum ut divina et coelestia mandata, custodire, utpote tibi redditurum me sciens de omnibus, quae profiteor, districtam in divino judicio rationem, cuius locum divina dignatione perago, et vicem intercessionibus tuis adjutus impleo. Si praeter haec aliquid agere praesumsero, vel ut praesumatur, permisero, eris mihi, in illa terribili die divini judicii, depropitius
Unde et districti anathematis interdictionis subjicimus, si quis unquam, seus nos, sive est alius, qui novum aliquid praesumat contra huiusmodi evangelicam traditionem, et orthodoxae fidei Christianaeque religionis integritatem, vel quidquam contrarium annintendo immutare, sive subtrahere de integritate fidei nostrae tentaverit, vel auso sacrilego hoc praesumentibus consentire.[8].

Texto em português

[editar | editar código-fonte]
Eu prometo não diminuir ou mudar nada daquilo que encontrei conservado pelos meus probatíssimos antecessores e de não admitir qualquer novidade, mas de conservar e de venerar com fervor, como seu verdadeiro discípulo e sucessor, com todas as minhas forças e com todo empenho, tudo aquilo que me foi transmitido.
De emendar tudo quanto esteja em contradição com a disciplina canônica e de guardar os sagrados cânones e os decretos dos nossos Pontífices, os quais são mandamentos divinos e celestes, (estando eu) consciente de que deverei prestar contas diante do (Teu) juízo divino de tudo aquilo que eu professo; Eu que ocupo o teu lugar por divina designação e o exerço como teu Vigário, assistido pela tua intercessão. Se pretendesse agir diversamente, ou de permitir que outros o façam, Tu não me será propício naquele dia tremendo do divino juízo.
Portanto, nós submetemos ao rigoroso interdito do anátema, se porventura qualquer um, ou nós mesmos, ou um outro, tiver a presunção de introduzir qualquer novidade em oposição à Tradição Evangélica, ou à integridade da Fé e da Religião, tentando mudar qualquer coisa concernente à integridade da nossa Fé, ou consentindo a quem quer que seja que pretendesse fazê-lo com ardil sacrílego."[8]

Exceto o último parágrafo ("Portanto, nós submetemos ao rigoroso interdito …"), que não tem fundamento no texto histórico, o "Juramento Papal" parece ter origem na profissão de fé de época posterior ao Papa São Agatão.

Referências

  1. Vatican Archives
  2. Eis o texto, publicado em Migne, Patrologia Latina 105:40-44:
    In nomine Domini Dei Salvatoris nostri Jesu Christi, etc. Indictione Ill. mense Ill. Ego Ill. misericordia Dei presbyter et Electus, futurusque per Dei gratiam humilis Apostolicae sedis Antistes, tibi profiteor, beate Petre Apostolorum Princeps, (cui claves regni caelorum ad ligandum atque solvendum in caelo et in terra, creator atque redemptor omnium Dominus Jesus Christus tradidit, inquiens: Quaecumque ligaveris super terram, erunt ligata et in coelo; et quaecumque solveris super terram, erunt soluta et in coelis) sanctaeque tuae Ecclesiae, quam hodie tuo praesidio regendam suscepi.
    Hanc verae fidei rectitudinem (quam Christo autore tradente, per successores tuos atque discipulos, usque ad exiguitatem meam perlatam, in tua sancta Ecclesia reperi, totis conatibus meis, usque ad animam et sanguinem custodire, temporumque difficultates, cum tuo adjutorio, toleranter sufferre.)
    Tam de sanctae et individuae Trinitatis mysterio, quae unus est Deus; quam de dispensatione, quae secundum carnem facta est, Unigeniti filii Dei Domini nostri Jesu Christi, et de caeteris Ecclesiae dogmatibus, sicut in universalibus Conciliis, et Constitutis Apostolicorum Pontificum probatissimorum, atque Doctorum Ecclesiae scriptis sunt commendata; item quaecumque ad rectitudinem vestrae nostraeque orthodoxae fidei, a te traditae, respiciunt, conservare.
    Sancta quoque universalia Concilia, Nicaenum, Constantipolitanum, Ephesinum primum, Chalcedonense, et secundum Constantinopolitanum, quo Justiniani piae memoriae Principis temporibus celebratum est, usque ad unum apicem, immutilata servare.
    Et una cum eis pari honore et veneratione sanctum sextum Concilium quo nuper Constantino piae memoriae Principe, Agathone Apostolico praedecessore meo convenit, medullitus et plenius conservare, quaeque vero praedicaverunt, praedicare; quaeque condemnaverunt, ore et corde condemnare.
    Diligentius autem et vivacius omnia decreta praedecessorum Apostolicorum nostrorum Pontificum, quaeque synodaliter statuerunt, et probata sunt, confirmare, et indiminute servare, et sicut ab eis statuta sunt, in sui vigoris stabilitate custodire; quaeque vel quosque simili autoritatis sententia condemnaverunt, vel abdicaverunt, simili autoritatis sententia condemnare.
    Disciplinam et ritum Ecclesiae, sicut inveni, et a sanctis praecessoribus meis traditum reperi, inlibatum custodire.
    Et indiminutas res Ecclesiae conservare, et ut indiminutae custodiantur, operam dare.
    Nihil de traditione, quod a probatissimis praedecessoribus meis servatum reperi, diminuere vel mutare, aut aliquam novitatem admittere; sed ferventer, ut vere eorum discipulus et sequipeda, totis viribus meis conatibusque tradita conservare ac venerari.
    Si qua vero emerserint contra disciplinam canonicam, emendare; sacrosque Canones et Constituta Pontificum nostrorum, ut divina et coelestia mandata, custodire, utpote tibi redditurum me sciens de omnibus, quae profiteor, districtam in divino judicio rationem, cujus locum divina dignatione perago, et vicem intercessionibus tuis adjutus impleo.
    Si praeter haec aliquid agere praesumpsero, vel ut praesumatur, permisero, eris, mihi, in illa terribili die divini judicii, depropitius.
    Haec conanti et diligenter servare curanti, in hac vita corruptibili constituto, adjutorium quoque ut praebeas obsecro, ut irreprehensibilis appaream ante conspectum judicis omnium Domini nostri Jesu Christi, dum terribiliter de commissis advenerit judicare, ut faciat me dextrae partis compotem, et inter fideles discipulos ac successores tuos esse consortem.
    Quam professionem meam, ut supra continetur, per Ill. Notarium et Scriniarium me mandante conscriptam, propria manu subscripsi, et tibi, beate Petre Apostole et Apostolorum omnium Princeps, pura mente et conscientia devota, corporali jurejurando sinceriter obtuli.
    Subscriptio. Ego qui supra Ill. indignus presbyter Dei gratia electus hujus Apostolicae sedis Romanae Ecclesiae Episcopus, hanc professionem meam, sicut supra continet, faciens jusjurandum corporaliter tibi, beate Petre Apostolorum Princeps, pura mente et conscientia obtuli.
  3. "Quam professionem meam, ut supra continetur ..."
  4. "tibi, beate Petre Apostole et Apostolorum omnium Princeps"
  5. Catholic Encyclopedia: Liber Diurnus Romanorum Pontificum.
  6. Philip Schaff (1877). «Creeds of Christendom, with a History and Critical notes. Volume I. The History of Creeds». Consultado em 26 de fevereiro de 2007 )
  7. Notes by Garnier, reproduzido nas colunas 41-42 da Patrologia Latina, 105
  8. a b «JURAMENTO PAPAL - Papa S. Agato». Site Montfort. Consultado em 19 de fevereiro de 2010 
Ícone de esboço Este artigo sobre catolicismo é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.