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Língua irlandesa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Irlandês

Gaeilge

Falado(a) em:  Irlanda
 Reino Unido
 Canadá
 Estados Unidos
Total de falantes: 1.761.420 falantes totais[1]

73.803 falantes diários fora do contexto educacional na Irlanda

Família: Indo-europeia
 Céltica
  Céltica Insular
   Gaélica
    Irlandês
Escrita: Alfabeto latino
Wikipédia: em Gaélico
Estatuto oficial
Língua oficial de:  Irlanda
 Reino Unido (Irlanda do Norte)
União Europeia
Regulado por: Foras na Gaeilge
(Instituto da Língua Irlandesa)
Códigos de língua
ISO 639-1: ga
ISO 639-2: gle
ISO 639-3: gle

Áreas onde o irlandês é falado de forma
majoritária na Ilha da Irlanda (Gaeltacht)

O irlandês (Gaeilge), também conhecido como gaélico irlandês ou simplesmente gaélico, é um idioma falado como língua nativa na Ilha da Irlanda, predominantemente nas zonas rurais ocidentais da ilha. O irlandês era a língua principal da llha Esmeralda antes de os ingleses a invadirem durante a Idade Média. É um dos membros da divisão gaélica das línguas célticas.

A partir de 1922, com a independência da República da Irlanda (chamada originalmente "Estado Livre Irlandês"), o irlandês passou a ser, juntamente com o inglês, o idioma oficial deste país. Desde 13 de junho de 2005, o irlandês é um dos idiomas oficiais da União Europeia. Desde 1998, com o Acordo de Belfast, o irlandês é também reconhecido como língua minoritária na Irlanda do Norte. Durante a história da Irlanda foi proibido o ensino da língua nas escolas durante a colonização inglesa. Além disso, a grande fome em meados do século XIX matou uma imensa quantidade de falantes da língua e fez tantos outros emigrarem do país. O irlandês é atualmente a língua materna de pouco mais de 2% da população da República da Irlanda. As comunidades e regiões onde se fala primariamente o irlandês são chamadas Gaeltachtaí (no singular, Gaeltacht). A Gaeltacht com maior população é Conamara, no Condado de Galway (Contae na Gaillimhe) e nas Ilhas de Aran (oileáin Árann). As Gaeltachtaí, no entanto, apenas contam com 27,9% da população que fala o irlandês diariamente em contextos não educacionais, segundo dados do Censo de 2016, de forma que a maioria da população falante nativa do gaélico está espalhada em regiões onde é minoritária.[1]

Pelo fato de o governo irlandês tornar obrigatório o estudo do idioma nas escolas públicas, muitas pessoas falam-no como segunda língua. A maioria das pessoas tem, ao mínimo, uma noção básica do idioma. Conquanto seja o inglês o idioma predominante da República da Irlanda, ao longo da ilha (principalmente nos Gaeltachtaí) há vários jornais, revistas e emissoras de rádio em língua irlandesa. Outrossim, desde 1996 há um canal de televisão em língua irlandesa chamado Teilifís na Gaeilge (televisão em irlandês), o TG4.[2]

O irlandês é uma língua flexiva, de ordem Verbo-Sujeito-Objeto e alinhamento nominativo-acusativo.

Os substantivos declinam em três números (singular, dual e plural), dois gêneros e quatro casos (nominativo-acusativo, vocativo, genitivo e dativo).[3] Há cinco declinações, identificáveis pela terminação do nominativo e genitivo singulares:

Declinação Nominativo singular termina em: Genitivo singular termina em: Gênero
Primeira Consoante larga Consoante delgada Masculino
Segunda Consoante -e/-í Feminino
Terceira Consoante -a Ambos
Quarta Vogal ou -ín Vogal ou -ín Ambos
Quinta Vogal ou consoante delgada Consoante larga Geralmente feminino

Exemplo da primeira declinação:

bád "barco" Singular Plural
Nominativo bád /bˠaːd̪ˠ/ báid /bˠaːdʲ/
Vocativo a bháid /ə waːdʲ/ a bháda /ə waːd̪ˠə/
Genitivo báid /bˠaːdʲ/ bád /bˠaːd̪ˠ/
Dativo bád /bˠaːd̪ˠ/ báid (obsoleto bádaibh)

Segunda declinação:

bróg "sapato" Singular Plural
Nominativo bróg /bˠɾˠoːɡ/ bróga /ˈbˠɾˠoːɡə/
Vocativo a bhróg /ə wɾˠoːɡ/ a bhróga /ə ˈwɾˠoːɡə/
Genitivo bróige /ˈbˠɾˠoːɟə/ bróg /bˠɾˠoːɡ/
Dativo bróg /bˠɾˠoːɡ/
 (obsoleto/dialetal bróig)
bróga /ˈbˠɾˠoːɡə/
 (obsoleto brógaibh)

Terceira declinação, na qual o dativo é idêntico ao nominativo:

bádóir (m.) "barqueiro" Singular Plural
Nominativo/Dativo bádóir /ˈbˠaːd̪ˠoːɾʲ/ bádóirí /ˈbˠaːd̪ˠoːɾʲiː/
Vocativo a bhádóir /ə ˈwaːd̪ˠoːɾʲ/ a bhádóirí /ə ˈwaːd̪ˠoːɾʲiː/
Genitivo bádóra /ˈbˠaːd̪ˠoːɾˠə/ bádóirí /ˈbˠaːd̪ˠoːɾʲiː/

Quarta declinação, na qual todos os casos são essencialmente idênticos (mas o vocativo, como sempre será inevitavelmente precedido de a e lenido):

balla (m.) "muro" Singular Plural
Nominativo/Genitivo/Dativo balla /ˈbˠaɫ̪ə/ ballaí /ˈbˠaɫ̪iː/
Vocativo a bhalla /ə ˈwaɫ̪ə/ a bhallaí /ə ˈwaɫ̪iː/

Quinta declinação, na qual nominativo e dativo são iguais:

pearsa "pessoa" Singular Plural
Nominativo/Dativo pearsa /ˈpʲaɾˠsˠə/ pearsana /ˈpʲaɾˠsˠən̪ˠə/
Vocativo a phearsa /ə ˈfʲaɾˠsˠə/ a phearsana /ə ˈfʲaɾˠsˠən̪ˠə/
Genitivo pearsan /ˈpʲaɾˠsˠən̪ˠ/ pearsana /ˈpʲaɾˠsˠən̪ˠə/

Adjetivos concordam em número, gênero e caso e seguem sempre o substantivo. Há dois graus morfológicos: positivo e comparativo; por exemplo:

  • Tá an buachaill cairdiúil.: "O garoto é amigável."
  • Tá an cailín níos cairdiúla ná an buachaill.: "A garota é mais amigável que o garoto."

O grau superlativo é indicado pela desinência comparativa em uma oração relativa, por exemplo: Is é Seán an páiste is cairdiúla den triúr. ("Seán é o garoto mais amigável dos três.")

Verbos são conjugados em três tempos (passado, presente e futuro), dois aspectos (simples e habitual) e quatro modos (indicativo, subjuntivo, condicional e imperativo). Os verbos ainda têm formas relativas sintéticas no dialeto de Connacht, mas a voz passiva é sempre perifrástica. Os verbos ainda têm formas substantivas e adjetivas. A conjugação é extremamente regular, de forma que muitas gramáticas apenas reconhecem onze verbos irregulares.[3] A distinção entre formas verbais dependentes e independentes, característica das línguas goidélicas, foi preservada apenas residualmente no irlandês moderno. No irlandês antigo, gaélico escocês e manês, os verbos possuem em regra uma forma independente (geral) e uma dependente (utilizada após certas partículas); por exemplo: no escocês, “ele tomará” se diz ’’glacaidh’’, enquanto “ele não tomará” se diz cha ghlac.[4] No irlandês, diz-se ‘’glacfaidh sé’’ e ‘’ní ghlacfaidh sé’’ (a mudança de ‘’g’’ para ‘’gh’’ é uma mera mutação). Algumas formas específicas de verbos irregulares, contudo, ainda mantém formas dependentes e independentes no irlandês moderno, como por exemplo:[3]

Independente Dependente Português
bhí raibh era
rinne dearna fez
gheobhadh faigheadh acharia
chonaic faca viu
chuaigh deachaigh foi

Assim como no português, se diferencia o verbo de cópula para qualidades inerentes (is, “ser”) e transientes (, “estar”).[5]

Mutação inicial

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Assim como o restante das línguas celtas vivas, o irlandês apresenta mutação consonantal, em duas classes:

  • Lenição (séimhiú): Transforma oclusivas em fricativas. É indicada por um ponto (sí buailte) acima da consoante na escrita gaélica e pela adição de ‘’h’’ após a consoante na escrita latina.
  • Eclipse (urú): Sonorização de oclusivas surdas (indicada pela adição da contraparte sonora antes da surda, e.g. peann “caneta” e ár bpeann “nossa caneta”), nasalização de oclusivas sonoras (indicada pela adição de ‘’n’’ ou ‘’m’’ antes da consoante, e.g. glúine “joelhos” e ár nglúine “nossos joelhos”) e adição de ‘’n’’ antes de vogais (indicada pela adição de ‘’n-’’, e.g. athair “pai” e ár n-AthairPai Nosso”).

Mutações muitas vezes são a única maneira de se distinguirem formas gramaticais. Por exemplo: a única forma não contextual de se distinguir entre o pronome possessivo de terceira pessoa masculino singular (“dele”), feminino singular (“dela”) e plural (“deles[as]”), visto que o pronome nas três formas é a, mas o primeiro traz lenição, o segundo não traz mutação, e, o terceiro, eclipse:

  • a bhróg (“sapato dele”, lenição)
  • a bróg (“sapato deles[as]”, sem mutação)
  • a mbróg (“sapato dela”, eclipse)

A classificação dos principais dialetos irlandeses corresponde às quatro províncias, com exceção de Leinster, cujo dialeto tradicional desapareceu. Assim, os três principais dialetos irlandeses vivos são: Ulster, no norte; Munster, no sul; e Connacht, na região central e ocidental da ilha. Houve um dialeto distinto em Leinster até a morte de sua última falante, Annie O'Hanlon, em 1960. Até o início do século XX, havia um dialeto distinto em Newfoundland, no Canadá, baseado no de Munster, mas a comunidade irlandesa do Canadá foi demasiadamente assimilada.[6]

Além destes dialetos tradicionais, variedades características de centros urbanos foram registradas historicamente e, apesar de terem desaparecido, o número de casas falantes de irlandês em centros urbanos parece estar em crescimento graças à expansão da mídia de língua irlandesa. Isto deu origem a uma linguagem coloquial antes desconhecida que inclui, por exemplo, a perda das mutações consonantais e o uso extensivo de empréstimos do inglês.[7]

Desde a criação do Estado Livre Irlandês, devido à dificuldade de promover a língua irlandesa por causa da sua grande diversidade e ortografia conservadora, foi desenvolvida uma variedade padrão chamada An Caighdeán Oifigiúil ("o padrão oficial"), publicada em 1945, com vista a encontrar um núcleo comum entre os três principais dialetos e, quando isto se mostrasse impossível, utilizar a forma mais frequente, ou mesmo uma forma clássica neutra.[8][9]

O dialeto de Ulster, falado em Donegal, Louth e Meath, é a mais distinta das variedades irlandesas, partilhando uma série de particularidades com o manês e o gaélico escocês, como o uso da partícula negativa ‘’cha(n)’’ ao invés do ‘’ní’’ de outros dialetos, e a desinência de primeira pessoa singular ‘’-am’’ ao invés de ‘’-im’’.[10]

O dialeto de Munster é falado principalmente em Kerry, Waterford e Cork e caracterizado por desinências verbais distintas do padrão, particularidades nas regras de mutação consonantal e acentuação da segunda sílaba de palavras em que esta tem vogal longa, ditongo ou é -(e)ach e a primeira tem vogal curta (e.g. corcán "panela" pronunciado [kəɾˠˈkɑːn̪ˠ]). Este dialeto chegou a ser falado em Newfoundland, no Canadá, até o início do século XX, mas desapareceu do uso comum, deixando algumas marcas limitadas no dialeto local de inglês.[6]

O dialeto de Connacht é falado principalmente em Mayo, Galway e nas duas maiores ilhas de Aran: Inishmore e Inishmaan (Inisheer fala a variedade de Munster). É caracterizado pelo uso mais extensivo do sufixo -achan (e.g. lagachan em vez de lagú para "enfraquecimento") e, em comum com Ulster e as outras línguas gaélicas, pela pronúncia das formas velarizadas de /v/ como /w/ (e.g. sliabh, significando "montanha", é pronunciado como [ʃlʲiəw] ao invés de [ʃlʲiəw]).

Frases comuns

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Irlandês Português
Fáilte Bem-vindo
Ulster: Goidé mar atá tú?
Connacht: Cén chaoi a bhfuil tú?
Munster: Conas atá tú?
Como vai?
Ulster: Cad é an t-ainm atá ort?
Connacht: Cén t-ainm atá ort?
Munster: Cad is ainm duit?
Qual é seu nome?
Is mise... Eu sou...
Lá maith
Maidin mhaith
Bom dia
Tráthnóna maith Boa tarde
Oíche mhaith Boa noite
Go raibh maith agat Obrigado
Slán leat Adeus
Sláinte Saúde (usado em brindes)

Texto do Evangelho segundo João, capítulo I, versículo 1 ao 8:

  1. Bhí an Briathar ann i dtús báire agus bhí an Briathar in éineacht le Dia, agus ba Dhia an Briathar.
  2. Bhí sé ann i dtús báire in éineacht le Dia.
  3. Rinneadh an uile ní tríd agus gan é ní dhearnadh aon ní dá ndearnadh.
  4. Is ann a bhí an bheatha agus ba é solas na ndaoine an bheatha.
  5. Agus tá an solas ag taitneamh sa dorchadas, ach níor ghabh an dorchadas é.
  6. Bhí fear a tháinig ina theachtaire ó Dhia, agus Eoin a ba ainm dó.
  7. Tháinig sé ag déanamh fianaise chun fianaise a thabhairt i dtaobh an tsolais chun go gcreidfeadh cách tríd.
  8. Níorbh é féin an solas ach tháinig ag tabhairt fianaise i dtaobh an tsolais.

Referências

  1. a b Central Statistics Office: The Irish Language, 2016 Census. Acesso em 15 de janeiro de 2018. (em inglês)
  2. «Major changes heralded in broadcasting as new laws enacted». Department of Communications, Energy and Natural Resources. 15 de julho de 2009. Arquivado do original em 20 de julho de 2009 
  3. a b c Christian Brothers (1906). Graiméar na Gaedhilge. Dublin: M. H. Gill & Son 
  4. Calder, George (1923). ‘’A Gaelic Grammar.’’ Glasgow: MacLaren & Sons. p. 223.
  5. Irish Gaelic Translator: “Tá” and “Is” – the “to be” verbs Arquivado em 16 de janeiro de 2018, no Wayback Machine.. Acesso em 15 de janeiro de 2018.
  6. a b Language: Irish Gaelic, Newfoundland and Labrador Heritage. (em inglês)
  7. «Schism fears for Gaeilgeoirí». Gaelport.com. Consultado em 31 de outubro de 2015 
  8. Ó Siadhail, Mícheál. «Standard Irish Orthography: An Assessment». Richard Kearney. The Crane Bag. 5 (2: Irish Language and Culture: An tEagrán Gaelach): 71–75. ISSN 0332-060X. JSTOR 30060637 
  9. Ó Siadhail, Mícheál (1980). Learning Irish. [S.l.]: Dublin Institute for Advanced Studies. p. 221. ISBN 0-300-12177-6. This standard is to an extent based on a 'common core' of all Irish dialects, or the most frequent forms, and partly on random choice 
  10. Hamilton, John Noel (1974). ‘’A Phonetic Study of the Irish of Tory Island.’’ County Donegal. Institute of Irish Studies, The Queen's University of Belfast.