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Laucídio Coelho

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Pintura à Óleo de Laucídio e Lúcia Martins Coelho

Laucídio Coelho (Coxim, 29 de agosto de 1886 — Campo Grande, 3 de dezembro de 1975) foi um influente fazendeiro e empresário brasileiro, reconhecido por suas significativas contribuições para o desenvolvimento agropecuário e econômico do estado de Mato Grosso do Sul[1]. É lembrado como um dos principais pioneiros na modernização da pecuária na região e por suas diversas iniciativas empreendedoras que impulsionaram a economia local[2]. Laucídio Coelho foi também fundador e o primeiro presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) em 1931[2].

Infância e Juventude

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Laucídio Coelho nasceu em 29 de agosto de 1886 na Fazenda Divisa, localizada no então município de Coxim, em Mato Grosso. Filho de José Justiniano de Souza Coelho e Maria de Souza Coelho, conhecida como Dona Coelhinha[1], Laucídio teve uma infância marcada pela simplicidade e pelas dificuldades inerentes à vida no campo, em uma época de poucos recursos e desafios constantes para os pioneiros que se aventuravam no interior do Brasil.

Em 1892, a família Coelho se mudou para a Fazenda Bela Vista[3], às margens do córrego de mesmo nome, no município de Rio Brilhante. Foi nesse ambiente rural que Laucídio começou a desenvolver seu caráter e a paixão pelo trabalho, aprendendo desde cedo a lidar com o gado e a agricultura, sob a orientação da mãe e dos irmãos mais velhos. A educação formal de Laucídio foi limitada, mas sua inteligência e capacidade de observação lhe permitiram absorver o conhecimento prático da lida com a terra e os negócios.

A perda prematura do pai, em 1903, quando Laucídio tinha apenas 17 anos, o impulsionou a assumir responsabilidades e a se dedicar ainda mais aos negócios da família. Nessa época, ele já demonstrava grande habilidade para a pecuária, tendo iniciado seu próprio rebanho ainda na adolescência.[1]

Casamento e Família

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Em 9 de outubro de 1911, Laucídio casou-se com Lúcia Martins Coelho, na Fazenda Sucuri. Lúcia, filha de Dona Leonor Garcia Pereira, era uma jovem de beleza singular e fibra notável, herdada da mãe, que a criou sozinha após a morte prematura do marido. O casal se estabeleceu na Fazenda Bela Vista, onde Lúcia se tornou uma parceira fundamental para Laucídio, não apenas na vida familiar, mas também nos negócios[1].

Dona Lúcia, como era conhecida, aprendeu a lidar com as tarefas do campo, auxiliando o marido na administração da fazenda e nos cuidados com o gado. Juntos, eles construíram uma família numerosa, com 12 filhos: Adelaide, Eudeter, Italívio, Wilson, Edwiges, Lúdio, Magno, Hélio, Lourdes, as gêmeas Eleonor Maria e Maria Eleonor, e Lacy.

Laucídio e Lúcia se dedicaram à educação dos filhos, transmitindo-lhes valores como honestidade, trabalho árduo, respeito ao próximo e união familiar. Todos os filhos receberam educação na Fazenda Bela Vista, e muitos deles seguiram carreira profissional, contribuindo para o desenvolvimento dos negócios da família e para a sociedade[4].

Expansão dos Negócios e Pioneirismo na Pecuária

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A partir do casamento, Laucídio iniciou uma trajetória de expansão de seus negócios, impulsionado por sua visão estratégica, capacidade de trabalho e paixão pela pecuária. Ele adquiriu diversas propriedades, transformando terras brutas em fazendas produtivas e inovando nas técnicas de manejo do gado.

Entre as fazendas mais importantes que Laucídio adquiriu e desenvolveu, destacam-se[5]:

  • **Fazenda Pontal:** Comprada em 1918, a Pontal representou um passo importante na expansão dos negócios de Laucídio. Ele enfrentou desafios como a presença de intrusos e a necessidade de desbravar a região, mas com perseverança e trabalho árduo, transformou a fazenda em uma propriedade produtiva.
  • **Fazenda Aroeira (Belas Artes):** Adquirida em 1919, a Aroeira era uma propriedade com histórico de conflitos por terras e presença de bandoleiros. Laucídio, com sua firmeza e senso de justiça, conseguiu pacificar a região e desenvolver a fazenda, que se tornou uma das maiores produtoras de gado de corte de Mato Grosso.
  • **Fazenda Alegrete:** Alugada inicialmente, a Alegrete foi posteriormente comprada por Laucídio, que a transformou em mais uma propriedade de sucesso.
  • **Fazenda Caçada Grande:** Formada a partir da compra de terras da antiga Fazenda Boa Vista, a Caçada Grande se tornou um importante centro de produção de gado para a família Coelho.
  • **Fazenda Marabá:** Localizada em Porto Murtinho, a Marabá foi mais uma propriedade adquirida por Laucídio, que a integrou ao seu sistema de produção de gado.
  • **Fazenda Santa Lúcia:** A aquisição da Santa Lúcia, em 1948, foi marcada por disputas por terras e atos de violência. Laucídio e seus filhos enfrentaram desafios e riscos, mas com determinação e apoio do governo, conseguiram garantir a posse da propriedade, que se tornou a maior fazenda de gado de Mato Grosso, com mais de 300 mil hectares.

Laucídio Coelho foi um pioneiro na modernização da pecuária sul-mato-grossense. Ele introduziu novas tecnologias, como o uso de tratores e equipamentos agrícolas, investiu na formação de pastagens de qualidade, e implementou sistemas de manejo rotacional do gado, visando aumentar a produtividade e a sustentabilidade de suas propriedades.

Para facilitar a administração de suas fazendas, que se estendiam por vastas áreas do estado, Laucídio foi um dos primeiros pecuaristas do Brasil a utilizar aviões e rádios para comunicação. Ele construiu pistas de pouso em suas propriedades e implantou um sistema de radiocomunicação, o que lhe permitia ter um controle mais eficiente de seus negócios e agilizar o transporte de pessoas e mercadorias.

Diversificação e Investimentos

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A visão empreendedora de Laucídio Coelho o levou a investir em outros setores além da pecuária, contribuindo para a diversificação da economia de Mato Grosso. Entre seus principais investimentos, destacam-se[1]:

  • Banco Financial: Laucídio foi um dos fundadores e acionistas do Banco Financial de Mato Grosso, instituição que teve papel fundamental no desenvolvimento econômico do estado. Seus filhos, Italívio e Lúdio, ocuparam cargos de direção no banco, contribuindo para sua expansão e consolidação.
  • FRIMA (Frigorífico Mato-Grossense): Vislumbrando a necessidade de agregar valor à produção pecuária do estado, Laucídio liderou a criação do FRIMA, o primeiro frigorífico de Mato Grosso. O empreendimento representou um marco na modernização da pecuária, permitindo o abate e processamento de carne em escala industrial, e abrindo novos mercados para os pecuaristas da região.
  • Cooperativa Agropastoril: Preocupado com o bem-estar de seus trabalhadores e com o desenvolvimento social da região, Laucídio incentivou a criação da Cooperativa Agropastoril de Mato Grosso, que oferecia aos seus cooperados, em sua maioria funcionários de suas fazendas, acesso a produtos e serviços a preços mais acessíveis.
  • CIMOBRÁS (Companhia Imobiliária do Oeste do Brasil): Em 1960, Laucídio fundou a CIMOBRÁS, com o objetivo de investir em projetos de desenvolvimento urbano. A empresa foi responsável pela criação do bairro Nova Campo Grande, um projeto ambicioso que previa a construção de um parque industrial e de moradias para milhares de famílias. Em 1974, a CIMOBRÁS foi renomeada para **Financial Imobiliária** por seu filho Hélio Martins Coelho, e se tornou a maior empresa de desenvolvimento urbano do estado de Mato Grosso do Sul, sendo a primeira empresa registrada no CRECI/MS sob o número 001J/MS.
  • Outros Investimentos: Laucídio também investiu em outros setores, como a indústria cerâmica, com a construção de uma fábrica de telhas em Campo Grande, e a colonização de terras, com a criação de um povoamento rural em Coxim, que recebeu o nome de Laucilândia em sua homenagem.

Filantropia e Legado

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Laucídio Coelho era conhecido por sua generosidade e preocupação com o bem-estar social. Ele doou terras para a fundação da cidade de Rio Brilhante, investiu na construção de escolas e postos de saúde em suas fazendas, e apoiou diversas iniciativas filantrópicas em Mato Grosso[1].

Seu legado como pioneiro, empreendedor e líder é reconhecido até os dias de hoje. Sua visão estratégica, capacidade de trabalho e honestidade nos negócios inspiraram gerações de empresários e pecuaristas. Ele contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso do Sul, deixando uma marca indelével na história do estado.

Em reconhecimento às suas contribuições, Laucídio Coelho recebeu diversas homenagens, como a nomeação do Parque de Exposições de Campo Grande, que leva seu nome. Sua história de vida é um exemplo de perseverança, trabalho árduo e compromisso com o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro.

Vida Pessoal e Personalidade

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Laucídio Coelho era um homem de personalidade marcante, conhecido por sua honestidade, justiça, trabalho árduo e visão estratégica. Ele era um líder nato, respeitado por seus funcionários e admirado por seus pares. Apesar de sua fortuna e influência, Laucídio mantinha um estilo de vida simples e valorizava a vida no campo.

Ele era um homem de poucas palavras, mas suas ações falavam por si. Sua dedicação à família era notória, e ele se orgulhava da união e do sucesso de seus filhos. Laucídio era um apaixonado pela pecuária e se dedicava com afinco ao desenvolvimento de suas fazendas, buscando sempre aprimorar as técnicas de manejo do gado e aumentar a produtividade de suas terras.

Em seus momentos de lazer, Laucídio gostava de jogar paciência e passar tempo com a família. Ele era um homem de fé e acreditava que o trabalho árduo e a honestidade eram os pilares para o sucesso na vida.

Referências

  1. a b c d e f BARBOSA, Antonio (1966). Laucídio Coelho: Um Desbravador. [S.l.: s.n.] 
  2. a b «Revista Realidade». Revista Realidade. Maio de 1968 
  3. COELHO, Eudeter (1962). Família Laucídio Coelho. [S.l.: s.n.] 
  4. CRUZ, Sérgio (29 de março de 2011). «1886 - Nasce Laucídio Coelho, na fazenda Divisa em Coxim» 
  5. Compre Rural (18 de julho de 2024). «Laucídio Coelho, o maior fazendeiro do mundo; História e legado» 
  • SOUZA, Antônio Barbosa. *Laucídio Coelho: um desbravador*. 1966.
  • SOUZA, Antônio Barbosa. *Laucídio Coelho: um homem à frente de seu tempo*. Campo Grande: Vector Editores e Consultores Associados, 2007.
  • COELHO, Eudeter Martins. *Família Laucídio Coelho*. 1962.
  • REVISTA REALIDADE. "Seu Laucídio tem um Império". Edição de Maio de 1968.
  • RIBEIRO, Lélia Rita Figueiredo. *Campo Grande: O Homem e a Terra*.
  • FAGUNDES, Lourival M. *Lúdio Coelho*. Editora Gráfica Nacional. 2011.
  • Apostila: *História de Lucia e Laucidio Coelho*. 1998.

Ligações externas

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