Leo Felipe
Leonardo Azevedo Felipe, mais conhecido como Leo Felipe (Porto Alegre, 27 de agosto de 1973), é um escritor, jornalista, músico, DJ e curador de arte brasileiro.
Ganhou notoriedade primeiro como empresário da noite. Foi um dos fundadores, em 1992, do bar Garagem Hermética, centro de grande atividade musical e o reduto da contracultura porto-alegrense nos anos 1990.
Foi diretor e apresentador por muitos anos de um popular programa musical na TV Educativa de Porto Alegre . Lançou um livro sobre a história do Garagem que teve ótima recepção, A Fantástica Fábrica (2014), e desenvolve intensa atividade cultural como administrador e curador da galeria de arte da Fundação Ecarta, entre vários outros projetos.
Garagem Hermética
[editar | editar código-fonte]Iniciou sua carreira com cerca de 15 anos como bancário, mas desde jovem era apreciador de arte, rock e literatura underground, e logo o ambiente formal do trabalho de escritório o deixou insatisfeito. Com 19 anos conheceu Ricardo Kudla, e com ele fundou em 1992 o bar Garagem Hermética, instalado em um casarão antigo e decadente da rua Barros Cassal, na esquina com a avenida Independência. A princípio o bar apareceu como uma simples forma de extravasar as pressões que sentiam vir da cultura mainstream, onde pudessem, reunindo amigos de ideias semelhantes, confraternizar e tocar as músicas de que gostavam com as bandas alternativas que integravam.[1][2]
A despeito desta origem despretensiosa, pela sua postura libertária e pela valorização dos artistas locais, o Garagem Hermética desempenhou um papel vital para o desenvolvimento do rock independente e autoral sulino na última década do século XX, tornando-se um centro de revelação de novos talentos e uma espécie de refúgio da contracultura de Porto Alegre, criando um rico folclore em seu redor.[1][3][4][5][6] Fernando Rosa, editor da revista Senhor F, disse que o bar foi "uma das lendas urbanas do rock porto-alegrense e, mesmo, do rock nacional".[5] Segundo Daniel Feix, em matéria para a Zero Hora, "as memórias do 'Velho Garagem' envolvem sexo, drogas e bebedeiras vivenciadas por pelo menos duas gerações de jovens cheios daquela energia que [Leo] sintetiza simplesmente como 'roquenrol'. [...] Artistas, cineastas, músicos, estudantes e quem mais tivesse um dedinho do pé no underground, na Porto Alegre da década de 1990, tem alguma história envolvendo o casarão da Barros Cassal".[1] Para Daniel Galera, o bar era ...
- "[...] uma sala de estar que nos recebia noite adentro e madrugada afora. [...] Uma espécie de casa para onde se ia não apenas na esperança de viver experiências limítrofes, terminar a noite 'indo pra casa' de alguém, injetar rock e super-8 no pescoço e extravasar nossa alegria e desespero, mas para simplesmente estar. Era barato, era imprevisível e nos fazia sentir, mesmo nas noites mais geladas e fracassadas, que a vida estava acontecendo e que valia a pena. [...] A gente lotava aquela joça, bebia pra caralho e amava aquele lugar. Ficamos tristes, muito tristes, quando acabou. [...] Eis algo que aconteceu. Foi bem assim. Um bar inventado por dois malucos que eram 'punks e não sabiam' para ser 'o nosso próprio bar na falta de outro melhor' e que se tornou o melhor bar que muita gente já viu. Uma história que marcou centenas de vidas, algumas gerações e uma cidade que nunca tinha visto um lugar parecido e continua órfã dele".[7]
A atriz Cléo de Páris deixou outro testemunho sobre a atmosfera do Garagem e o significado que ele assumiu tanto para a população que o frequentou quanto para a cultura local:
- "O Garagem Hermética não foi só um bar; foi um vulcão com lavas incandescentes que nos presenteou com nosso melhor e nosso pior, na condição de artistas inquietos e malucos. Éramos pura poesia; poesia sublime e poesia dos calabouços. Éramos pura beleza; beleza mágica e beleza das trevas. O Garagem nos fez desbravadores de um espaço além mídia, além conformismo, além comercial de margarina. Foi lá que revolucionamos e nos revolucionamos, nos pensamentos e nas atitudes, dando a cara a tapa sempre. Lá, no meio daquelas paredes inadequadas, fomos deuses, visionários e pessoas comuns".[1]
Na sua fase de apogeu ali surgiriam ou fariam importantes shows bandas que se destacaram na cena sulina, como Cachorro Grande, Júpiter Maçã, Graforréia Xilarmônica, Ultramen e Space Rave,[5][8] e ali foram lançados a fita demo da Aristóteles de Ananias Jr.,[9] e o disco A Sétima Efervescência,[10] de Júpiter Maçã, um dos mais emblemáticos álbuns do rock gaúcho e incluído na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone,[11] que segundo o autor foi concebido exatamente em função do bar: "Eu estava muito entusiasmado e contagiado pelo clima do early Garagem Hermética e pelas garotas, pela simpatia dos rapazes. Acabei me tornando uma espécie de ícone pra aquela turma. Posso dizer que praticamente fiz o disco para aquela turma".[12]
Além de promover a música alheia, Leo Felipe envolveu-se diretamente na criação musical à frente da banda Moses e como vocalista da Minimaus.[13][2] Ele e Ricardo Kudla comandaram o bar até 2000, quando o venderam. Foi então reformado, e permaneceu em atividade até 2013, mas nesta segunda etapa ele já havia perdido boa parte do seu antigo apelo.[1][6]
Literatura, jornalismo, arte e outras atividades
[editar | editar código-fonte]Neste ínterim, Leo Felipe tentou ingressar no curso de Artes Visuais, mas não teve sucesso. Então optou pelo Jornalismo, graduando-se em 2003. Depois passou a escrever, publicando os livros AUTO (2004) e O Vampiro (2006),[10][14] e colaborando com a revista Noize e o jornal Pois é com artigos sobre música, arte, cinema e outros temas.[15][16][17][18] Em 2014 lançou A Fantástica Fábrica, que narra sem rodeios a fervilhante trajetória do Garagem Hermética. O livro é produto de dez anos de trabalho. Partes de seu material foram sendo publicadas no seu blog e em outros veículos à medida que iam sendo redigidas. A partir da boa repercussão, o autor decidiu reunir suas histórias em um livro, que recebeu ampla divulgação e muitas críticas positivas.[1][19][20][5][7][21] As psicodélicas ilustrações do livro são de Diego Medina, ex-Video Hits.[21] Segundo o autor, "quando pensei na transição do blog para o livro, vi que não podia me autocensurar. Apesar de ter coisas muito fortes, alterei o mínimo possível".[22] André Araújo, na revista Noize, assim o analisou:
- "O livro de Leo Felipe vem de certa forma preencher um vácuo na história da cultura pop porto-alegrense. Enquanto o pessoal da Oswaldo Ver nota [23] recebeu, com méritos, extensa reflexão e registro, a geração dos anos 90 parece que nunca recebeu a atenção necessária em relação aos seus mitos de origem. [...] Interessante na verdade é que Leo Felipe não assume aqui ares de historiador ou jornalista-testemunha do berço de uma cena cultural tão rica como a do Garagem. O livro de Leo Felipe é um legítimo memoir, que conta muito mais a sua história pessoal do que a distanciada de um bar. Sorte que ambas coexistem e se confundem fortemente. [...] Mas não se enganem: poderia ser um saco ficar lendo sobre a ascensão e decadência de um jovem nos seus vinte e poucos anos, seja ela física, moral ou financeira. No caso de A Fantástica Fábrica é sensacional. Muito pela tradução perfeita que Leo Felipe consegue fazer do ethos noventista".[19]
Fabrício Silveira, do grupo de pesquisa CultPop, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da UNISINOS, também deixou impressão favorável:
- "A Fantástica Fábrica é um livro delicioso. Não consegui parar de ler. Leo Felipe nos apresenta um relato corajosamente franco, irônico, às vezes, hilário, sobre o Garagem Hermética, bar que comandou durante boa parte da década de 1990. Tratava-se de um ponto de encontro obrigatório, um parque de diversões do underground roqueiro do cidade. Por ali passou muita gente (assombrações, Otto Guerra, Edu K perneta, Júpiter Maçã, ilustres conhecidos, ilustres desconhecidos, ilustradores e cineastas independentes). Ali aconteceu muita coisa (brigas, amores, quedas, pinduras, concertos desastrosos, atraques policiais). O livro faz justiça a isto tudo. É como se o Garagem tivesse existido para se tornar um livro. Sem ser nostálgico nem saudosista, A Fantástica Fábrica faz um brinde à memória e à experiência que nos vinculam ao presente. É uma leitura altamente recomendável".[6]
Logo após sua formatura no Jornalismo passou a apresentar o programa Radar da TV Educativa do Rio Grande do Sul, dirigindo-o por por oito anos, da mesma maneira dando espaço para a produção emergente e alternativa da cena musical gaúcha. Enquanto isso, entre 2006 e 2009 foi curador do projeto República do Rock promovido pela Coordenação de Música da Secretaria Municipal de Cultura, e passou a se interessar mais fortemente pelas artes visuais, que admirava desde a juventude.[10][24]
Ao deixar a TVE em 2011, foi convidado pela Fundação Ecarta para assumir a gerência e a curadoria da sua galeria de arte, imediatamente expandindo suas atividades e projetando o nome do espaço,[10] que em 2012 recebeu o Prêmio Açorianos na categoria Destaque Espaço Institucional de Divulgação Cultural.[25][26] Integrou em 2011 o conselho curatorial da Casa M, projeto da 8ª Bienal do Mercosul, fez da parte da comissão de seleção do Prêmio IEAVI, mantido pelo Instituto Estadual de Artes Visuais,[27][24][28] é diretor da rádio Mínima FM, onde apresenta o programa Elefante, voltado a uma programação cultural, com música e entrevistas,[10][24] ministra palestras e seminários e faz curadorias independentes, entre outros projetos.[29][30][31][32][33][34][35] É também conhecido DJ, há mais de dez anos produtor e animador da festa Pulp Friction, que ocorre uma vez por mês no Bar Ocidente e já se tornou tradicional na noite porto-alegrense.[2][36][37]
O seu interesse pela contracultura se expressou também no ambiente acadêmico. Em 2013 obteve o Mestrado em História, Teoria e Crítica de Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com a dissertação Rock My Art, ou O Novo Esteticismo de "Por que Choras?", ou O dia em que Edu K entrou para a História da Arte,[10] que analisa a performance Por que Choras?, de Telmo Lanes e Rogério Nazari, que teve acompanhamento do grupo de rock DeFalla, "apontando momentos do século XX em que o campo das artes visuais foi cruzado com o da cultura popular massiva representada pelo rock", propondo "reflexões acerca do fazer da própria História da Arte e das maneiras de produção da chamada pós-crítica".[38]
No texto '"O Legado da Contracultura", relacionado à exposição Um firme e vibrante NÃO, sob a curadoria dele e de Jorge Bucksdricker, que enfocou exatamente este universo e circulou por Pelotas, Caxias do Sul e Porto Alegre,[39] Leo Felipe deixou sua visão sobre a importância de um movimento que ele conhece por dentro:
- "A revolução proposta pela contracultura é de uma abrangência que vai do molecular ao social, do psicológico ao ambiental. Não é a revolução vinda da classe proletária, são os filhos burgueses da tecnocracia que se rebelam questionando um modelo desenvolvimentista de progresso que nos desconecta da natureza e do ser. Num contraditório jogo de forças, a transgressão da contracultura não está imune à cooptação, assimilação ou diluição, já que sempre fará parte da cultura contra a qual tentar insurgir-se. [...] A contracultura nos ensinou como criar sistemas alternativos de circulação e difusão da informação: imprensa alternativa, arte postal, os fanzines, modelos que sugerem que para combater o inimigo é preciso aprender a usar suas armas. A informação quer ser livre, o aforismo hacker do escritor Stewart Brand (postulado lá por 68, claro), se torna um axioma para o século digital, a despeito de todas as tentativas de controle".[40]
Referências
- ↑ a b c d e f Feix, Daniel. "Garagem Hermética é tema de livro de Leo Felipe". Zero Hora, 19/05/2014
- ↑ a b c Silveira, Fabrício. "Rock gaúcho, cultura urbana e cenas musicais em Porto Alegre. Um exercício metodológico". In: Cadernos da Escola de Comunicação, 2014; (12):35-48
- ↑ "Em comunicado no Facebook, Garagem Hermética anuncia fechamento". Zero Hora, 20/02/2013
- ↑ Oliveira, Samir. "Fim do Garagem Hermética deixa órfão rock autoral em Porto Alegre". Sul 21, 02/03/2013
- ↑ a b c d "A história do lendário Garagem Hermética por um de seus fundadores" Arquivado em 14 de julho de 2015, no Wayback Machine.. Senhor F, s/d.
- ↑ a b c Silveira, Fabrício. "Garagem Hermética". Grupo CultPop - UNISINOS, 08/09/2014
- ↑ a b Galera, Daniel. "O melhor bar que muita gente já viu". Livraria Cultura.
- ↑ Lerina, Roger. "Memórias herméticas". Zero Hora, 03/05/2014
- ↑ "Gomes, Marco Pinho. "A maluquice do Aristóteles em K-7". Zero Hora, 28/09/1993
- ↑ a b c d e f Teló, Luiz Paulo. "A Franqueza de Leo Felipe". Culturíssima, 24/05/2015
- ↑ "Os 100 maiores discos da música brasileira". Rolling Stone, s/d.
- ↑ Bonfim, Leonardo. "Entrevista – Júpiter Maçã passa a carreira a limpor". Noize, 21/08/20099
- ↑ Avila, Alisson; Bastos, Cristiano; Muller, Eduardo. Gauleses Irredutíveis: causos e atitudes do rock gaúcho. Buqui, 2012
- ↑ "Apresentador Leo Felipe é o convidado do Primeira Pessoa". Coletiva, 03/11/2006
- ↑ Felipe, Leo. "HEROISEMQUERER". In: Noize, 2014; 64 (7):30-38
- ↑ Felipe, Leo. "Coluna | O resumo dos últimos capítulos: Anna Pavlova e Thurston Moore". Noize, 20/04/2012
- ↑ Felipe, Leo. "Coluna | Estranho mundo: Die Antwoord". Noize, 06/04/2012
- ↑ "Leo Felipe no Pois é". Jornal Pois é, 20/03/2008
- ↑ a b Araújo, André. "Resenha: A Fantástica Fábrica". Noize, 22/06/2014
- ↑ Galera, Daniel. "Garagem histórica". O Globo, 18/05/2014
- ↑ a b Santos, Laura Pacheco dos. "O velho Garagem". In: Jornal da Universidade, 2014; XVII (171):12
- ↑ Pedrazza, Danilo & Velazquez, Matheus. "Garagem Hermética: Entre Bebidas, Festas, Blogs E Livros". Lado B, 2015
- ↑ Refere-se à avenida Oswaldo Aranha, entre os anos 70 e 80 o centro da contracultura local.
- ↑ a b c Fundação Ecarta. Leo Felipe Arquivado em 14 de julho de 2015, no Wayback Machine..
- ↑ "Ecarta ganha Prêmio Açorianos como espaço institucional". SINPRO/RS, 09/05/2012
- ↑ "Premiados no VI Açorianos de Artes Plásticas". Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre
- ↑ Bienal Mercosul. Leo Felipe Arquivado em 15 de julho de 2015, no Wayback Machine..
- ↑ "Eduardo Veras, Léo Felipe e Ana Baldisserotto assinam curadoria do IEAVi". Assessoria de Comunicação da Casa de Cultura Mario Quintana, 24/09/2013
- ↑ Maya, Bruno. "Leo Felipe ministra o quinto seminário do CEN 2011". Cine Esquema Novo, 2011
- ↑ "Projeto URBE na Casa de Cultura Mário Quintana". Mundo Cult, 25/09/2014
- ↑ "Diego Medina (ex-Video Hits) leva seu mundo psicodélico ao Museu do Trabalho" Arquivado em 14 de julho de 2015, no Wayback Machine.. Rock Gaúcho, 19/02/2015
- ↑ Galeria Arte&Fato. "O Texto de Leo Felipe". Disponível em [http://artefatogaleria.blogspot.com.br/2015/04/o-texto-de-leo-felipe.html]
- ↑ "Batepapo Caminhos do Rock, com os jornalistas Daniel Soares e Leo Felipe Projeto República do Rock Especial Dia Mundial do Rock". Feest, jul/2013
- ↑ Sarau Elétrico. Edições anteriores.
- ↑ "Semana da Cultura do RS no Uruguai abre com Artes Visuais" Arquivado em 14 de julho de 2015, no Wayback Machine.. Casa da Cultura Mario Quintana, s/d.
- ↑ "Sábado tem Pulp Friction no Ocidente" Arquivado em 14 de julho de 2015, no Wayback Machine.. Mais Porto Alegre, 11/07/2014
- ↑ Brigatti, Gustavo. "Baladas se firmam na noite de Porto Alegre com personalidade e público fiel". Zero Hora, 06/09/2013
- ↑ Felipe, Leonardo Azevedo. Rock My Art, ou O Novo Esteticismo de "Por que Choras?", ou O dia em que Edu K entrou para a História da Arte. Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2013
- ↑ "Exposição sobre contracultura chega a Pelotas em itinerância promovida pela galeria Ecarta". Diário da Manhã, 17/06/2015
- ↑ Felipe, Leo. "O Legado da Contracultura". Nonada, 14/11/2014
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Trechos de A Fantástica Fábrica no blog do autor, disponíveis em
- [http://fogueteformidavel.blogspot.com.br/2007/04/fantstica-fbrica-de-choclate-captulo-3.html]
- [http://fogueteformidavel.blogspot.com.br/2007/08/fantstica-fbrica-de-chocolate-captulo_31.html]
- [http://www.fogueteformidavel.blogspot.com.br/2009/06/entao-era-isso.html]
- Página oficial da festa Pulp Friction
- Nascidos em 1973
- Homens
- Escritores do Rio Grande do Sul
- Jornalistas do Rio Grande do Sul
- Curadores do Brasil
- Radialistas do Rio Grande do Sul
- Apresentadores de televisão do Rio Grande do Sul
- Repórteres do Rio Grande do Sul
- DJs do Rio Grande do Sul
- Naturais de Porto Alegre
- Alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul