Luís de Menezes Bragança
Luís de Menezes Bragança | |
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Nascimento | 15 de janeiro de 1878 Chandor |
Morte | 10 de julho de 1938 Chandor |
Cidadania | Estado Português da Índia |
Filho(a)(s) | Berta de Menezes Bragança |
Ocupação | jornalista, político |
Luís de Menezes Bragança (Chandor, Salcete, 15 de Janeiro de 1878 — Chandor, 10 de Julho de 1938), em concanim: लुईझ दॆ मॆनॆज़ॆस ब्रागान्सा, foi um proeminente jornalista, escritor e activista anticolonialista de Goa, no antigo Estado da Índia. Foi um dos poucos aristocratas goeses que se opôs activamente à política colonial seguida na Índia Portuguesa.[1] Menezes Bragança foi considerado no seu tempo como "O Maior de todos" os escritores lusófonos indianos[2] e como o "Tilak de Goa" nos meios intelectuais indianos.[3] Foi membro do Instituto Vasco da Gama, instituição que em sua honra actualmente se denomina Instituto Menezes Bragança.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nasceu no solar familiar em Chandor,[4] sendo baptizado Luís de Menezes.[3] Contudo, a sua mãe pertencia à família dos Bragança, uma das mais ilustres de Salcete, de Goa e de toda a Índia Portuguesa,[5] e quando o seu avô materno, Francisco Xavier Bragança, o nomeou como seu herdeiro (por ser o neto mais velho), optou por alterar o seu nome para Luís de Menezes Bragança,[5] assegurando assim a continuidade do nome de família materno.[5]
Fez os seus estudos primários no Seminário de Rachol e depois no Liceu de Goa, em Pangim.[3] Apesar de educado no catolicismo romano, Menezes Bragança mais tarde afirmava-se agnóstico.[6]
Pelos 20 anos de idade, Menezes Bragança já ganhara uma reputação de bom escritor em língua portuguesa.[3] Em 1900, em conjunto com o escritor goês Messias Gomes, fundou o O Heraldo, periódico que seria o primeiro diário em língua portuguesa a publicar-se em Goa.[3]
A sua colaboração em O Heraldo tinham um característico sabor satírico, atacando as políticas da administração colonial portuguesa e o reaccionarismo dos intelectuais hindus e católicos.[3][7] Os seus escritos demonstram que apoiava o secularismo e defendia a existência de uma república secular, mesmo antes da implantação da República Portuguesa a 5 de Outubro de 1910.[8]
Em 1911 fundou o periódico O Debate, do qual foi o principal editor até 1921.[3] Durante este período, procurou fortalecer a consciência política e a identidade cultural do povo goês[3] e foi também colaborador regular do periódico Pracasha (A Luz), um semanário publicado em concanim, no qual escreveu sobre questões como a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão e a luta contra a opressão.[3] Os seus escritos foram importantes fontes de informação para o público goês, em particular sobre o nascente movimento de emancipação indiano, fornecendo uma importante ligação para o que acontecia no resto da Índia.[3]
A 1 de Dezembro de 1919, Menezes Bragança fundou outro diário em língua portuguesa, que intitulou Diário de Noite. Tal como O Debate, este diário conquistou o público goês, cobrindo eventos culturais de Goa e as notícias do resto da Índia.[9]
Menezes Bragança advogava a causa da institucionalização do concanim, tendo em 1914 iniciado uma campanha em defesa daquele idioma em O Heraldo.[10] Nessa campanha conseguiu o apoio da maioria da intelectualidade goesa.[11] Defendia a introdução do concanim na instrução primária, acusando as autoridades portuguesa de utilizarem a língua portuguesa nas escolas em detrimento do concanim como uma forma de promover a aculturação dos goeses.[12]
Menezes Bragança também se interessou pela sorte dos sectores menos privilegiados da sociedade goesa e pela dignidade e autodeterminação dos goeses.[13] Após a promulgação do Acto Colonial de 1930, a 3 de Julho daquele ano propôs e viu aprovada uma resolução no conselho legislativo de Panjim[5] defendendo o direito dos goeses à autodeterminação[6] Menezes Bragança foi assim pioneiro na defesa da autodeterminação da Índia Portuguesa, o que lhe mereceu dos nacionalistas indianos o epíteto de "pai da resistência goesa".[14] Em 1933, com o advento do regime do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, passou definitivamente para a oposição, assumindo-se como um dos líderes do movimento anticolonialista na Índia Portuguesa.[3]
Ao longo da sua vida Menezes Bragança exerceu diversos cargos e funções em múltiplas instituições, entre os quais o de Presidente da Câmara Municipal das Ilhas (Tiswadi), líder da oposição no conselho de governo e na assembleia legislativa do Estado da Índia, presidente do Congresso Provincial de Goa (1921) e delegado da Índia Portuguesa à Conferência Colonial realizada em Lisboa no ano de 1924.[6] Foi membro do Instituto Vasco da Gama, uma influente instituição cultural de Goa.[6]
Nos anos finais da sua vida, Menezes Bragança foi perseguido pelo regime do Estado Novo pela sua crítica à governação e às condições de vida dos goeses.[5] As suas exigências de autonomia para o Estado da Índia foram recusadas e os seus jornais suspensos por ordem de Oliveira Salazar.[5]
Quando faleceu em Chandor, as autoridades coloniais temeram que o evento desse origem a manifestações anticolonialistas, razão pela qual o seu funeral e a sua campa foram guardados por uma força militar que impediu qualquer homenagem pública.[6]
Menezes Bragança foi um escritor prolífico, deixando uma extensa obra dispersa por vários periódicos e algumas monografias.[6] Alguns dos seus mais notáveis trabalhos são Vida de São Luís de Gonzaga, Modelo e Protector da Juventude (1893), As Comunidades e o Culto (1914), As Castas (1915), Carta Aberta os Dr. Afonso Costa (1916), A Índia e os seus Problemas (1924), Turismo em Goa (1927), Carta a um inocente (1927) e Acerca de uma Ideia (1928).[15]
No 25.º aniversário da sua morte, em 1963, o Instituto Vasco da Gama alterou o seu nome para Instituto Menezes Bragança em sua memória.[16][17]
Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ Abram 2003, p. 183
- ↑ da Cruz 1974, p. 127
- ↑ a b c d e f g h i j k Vaz 1997, p. 180
- ↑ «A Casa dos Bragança em Chandor.».
- ↑ a b c d e f Hiddleston 2007
- ↑ a b c d e f Vaz 1997, p. 181
- ↑ Bhatt & Bhargava 2006, p. 22
- ↑ Stubbe & Borges 2000, p. 209
- ↑ Das 1995, p. 543
- ↑ Gupta 2006, p. 100
- ↑ da Cruz 1974, p. 166
- ↑ Desai 2000, pp. 469–470
- ↑ Bradnock & Bradnock 2002, p. 181
- ↑ Esteves 1986, p. 43
- ↑ da Cruz 1974, p. 137
- ↑ Thomas 2009, p. 114
- ↑ Correia-Afonso 1978, p. 7
Obras
[editar | editar código-fonte]- Prosas dispersas. Pangim : Comissão de Homenagem à Memória de Menezes de Bragança, 1965. - 520 p.
- À margem duma carta. Nova-Goa : Xri Xivaji, 1933. - 75 p.
- Prosas dispersas : política-administração-ensino. Pangim-goa : Menezes Bragança, 1965. - 519 p. : il.
- Corpos administrativos : organização e atribuições : relatório. Nova Goa : Tip. Arthur & Viegas, 1919. - 35 p.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- Abram, David (2004). Goa. [S.l.]: Rough Guides. ISBN 9781843530817. Consultado em 19 de abril de 2011
- Abram, David (2003). South India. [S.l.]: Rough Guides. ISBN 9781843531036. Consultado em 19 de abril de 2011
- Bhatt, S. C.; Bhargava, Gopal K. (2006). Bhatt, S. C.; Bhargava, Gopal K., eds. Land and people of Indian states and union territories: in 36 volumes, Volume 7. [S.l.]: Gyan Publishing House. ISBN 9788178353630. Consultado em 19 de abril de 2011
- Singh, Sarina; Bindloss, Joe (2007). Singh, Sarina; Bindloss, Joe, eds. India. [S.l.]: Lonely Planet. ISBN 9781741043082. Consultado em 19 de abril de 2011
- Stubbe, Hannes; Borges, Charles J. (2000). Stubbe, Hannes; Borges, Charles J., eds. Goa and Portugal: history and development. [S.l.]: Concept Publishing Company. ISBN 9788170228677. Consultado em 19 de abril de 2011
- Bradnock, Robert; Bradnock, Roma (2002). Bradnock, Robert; Bradnock, Roma, eds. Footprint Goa Handbook: The Travel Guide. [S.l.]: Footprint Travel Guides. ISBN 9781903471227. Consultado em 19 de abril de 2011
- Brettell, Caroline B. (2006). «Portugal's First Post-colonials: Citizenship, Identity and the Repatriation of Goans» (PDF, 80 KB). Southern Methodist University. Southern Methodist University: 143–170. Consultado em 19 de abril de 2011[ligação inativa]
- Correia-Afonso, John (1978). International Seminar on Indo-Portuguese History. [S.l.]: Heras Institute, St. Xavier's College
- da Cruz, Antonio (1974). Goa: men and matters. [S.l.]: s.n.
- Das, Sisir Kumar (1995). History of Indian Literature: .1911-1956, struggle for freedom : triumph and tragedy. [S.l.]: Sahitya Akademi. ISBN 9788172017989. Consultado em 19 de abril de 2011
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- Esteves, Sarto (1986). Politics and political leadership in Goa. [S.l.]: Sterling Publishers.
- Gupta, G. S. Balarama (2006). The Journal of Indian writing in English, Volume 34. [S.l.]: G. S. Balarama Gupta.
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- Hiddleston, Sarah (6 de abril de 2007), House of Chandor, The Hindu, consultado em 19 de abril de 2011, cópia arquivada em
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redundantes (ajuda) - Mahale, K. J.; Shanbhag, Dayanand Narasinh (1970). Mahale, K. J.; Shanbhag, Dayanand Narasinh, eds. Essays on Konkani language and literature: Professor Armando Menezes felicitation volume. [S.l.]: Konkani Sahitya Prakashan
- Thomas, Amelia (2009). Goa and Mumbai. [S.l.]: Lonely Planet. ISBN 9781741048940. Consultado em 19 de abril de 2011
- Vaz, J. Clement (1997). Profiles of eminent Goans, past and present. [S.l.]: Concept Publishing Company. ISBN 9788170226192. Consultado em 19 de abril de 2011
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Dempo, Voicunta Sinai; Sar Dessai, Venctexa V.; Pereira, Policarpo (1972). Menezes Braganza: biographical sketch. S.N. publishers.