Margot Dias
Margot Dias | |
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Nascimento | 4 de junho de 1908 Nuremberga |
Morte | 26 de novembro de 2001 (93 anos) Oeiras |
Cidadania | Portugal |
Cônjuge | Jorge Dias |
Ocupação | antropóloga, pianista, realizadora de cinema |
Margot Schmidt Dias GOIH (Nuremberga, Alemanha, 4 de junho de 1908 - Óbidos, Portugal, 26 de novembro de 2001), foi uma pianista, etnomusicóloga e realizadora etnológica portuguesa de origem germânica.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nasce Margot Schmidt em Nuremberga em 1908; o pai é cervejeiro, e a mãe, oriunda de uma família de artesãos, trabalha em vendas numa joalharia antes de casar. Margot aprende inicialmente piano com a irmã mais velha, e aos 18 anos vai para Munique para continuar os estudos em música, sustentando-se através de aulas particulares de piano.[1]
Em 1940 está a terminar o curso de mestre de piano na Academia de Música de Munique, e conhece Jorge Dias num concerto em Rostock. É Margot que estimula em Jorge Dias o interesse em etnologia. Casam em Novembro do ano seguinte e regressam a Portugal em 1944, antes do fim da Segunda Guerra Mundial.[1][2]
Durante a década de 40, Margot dedica-se ao cancioneiro de Vilarinho das Furnas, e apoia o trabalho que o marido faz nesta aldeia e que apresenta na Universidade de Munique em 1944, para obter o doutoramento em Etnologia. No ano seguinte procede ao recolhimento de um cancioneiro que acrescenta um novo capítulo à dissertação (Capítulo XIV, "O Homem, Fisionomia e Concepção de Vida", publicado na monografia de 1948). [3]
Jorge Dias é convidado a dirigir a secção de Etnografia do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular (CEEP) em 1947 e Margot Dias é então admitida ao CEEP e torna-se oficialmente sua colaboradora. A equipa inclui ainda Fernando Galhano, Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Enes Pereira. Dá o seu último concerto de piano em 1956, dedicando-se desde então inteiramente à antropologia, campo em que iniciara o seu trabalho em 1947.[2][4]
Em 1957 acompanha Jorge Dias na Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português, cuja competência específica, atribuída por determinação ministerial em 1957, é a de "estudar as minorias étnicas do ultramar português e a sua repercussão na cultura portuguesa". A missão desloca-se a Angola, Moçambique e Guiné. Esta missão conta ainda com o apoio de Manuel Viegas Guerreiro. Entre 1957 e 1961 realizam campanhas de investigação sobre os Macondes do Norte de Moçambique, os Chopes do Sul de Moçambique e os Bosquímanos de Angola, entre outros. Na campanha de 1961 só Margot Dias regressa ao planalto, para recolher informação em falta. É dessas campanhas que resulta a publicação de quatro volumes monográficos acerca dos Macondes de Moçambique. Margot Dias ocupa-se de estudos relativos ao parentesco, às tecnologias tradicionais (cerâmica e cestaria), aos ritos de iniciação e à música e escultura. Produz registos cinematográficos de ritos de puberdade das raparigas, de danças, de contadores de histórias, de trabalhos em cerâmica e cestaria, concertos e sessões com o curandeiro, bem como gravações sonoras e detalhadas notas de campo.[5]
Desde 1965, Margot Dias apoia a criação do Museu Nacional de Etnologia (MNE) e contribui o primeiro objecto de estudo etnográfico, um pote de água maconde. Depois da morte de Jorge Dias em 1973, continua a fazer investigação etnográfica, concentrada particularmente nos habitantes do planalto Maconde, mas não chega a publicar o quinto volume monográfico, dedicado a Escultura e Música.[4]
Reconhecimento
[editar | editar código-fonte]A 4 de Fevereiro de 1989 foi distinguida como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo presidente Mário Soares.[6]
A Associação Portuguesa de Antropologia, institui-o em sua homenagem e de Benjamim Pereira, o Prémio APA Margot Dias e Benjamim Pereira que distingue trabalhos na área da antropologia visual. [7]
Em 2016, o Museu Nacional de Etnologia, a Direcção Geral do Património Cultural (Portugal) e a Cinemateca Portuguesa, lançaram em DVD os filmes etnográficos que foram realizados por ela entre 1958 e1961. [8][9][10][11]
Obras seleccionadas
[editar | editar código-fonte]Monografias e artigos
[editar | editar código-fonte]Escreveu vários artigos na área da etnologia e antropologia: [12][13]
1954 - Rio de Onor: comunitarismo agro-pastoril - Cancioneiro (co-autores Jorge Dias e Fernando Galhano) [14]
1960 - Aspectos técnicos e sociais da olaria dos Chopes, publicado pela Junta de Investigações do Ultramar [15][16]
1965 - Os maganjas da Costa: contribuição para o estudo dos sistemas de parentesco dos povos de Moçambique [17]
1968 - Cestaria em Gaza: Moçambique [18]
1973 - O fenómeno da escultura Maconde chamada "Moderna" [19]
1986 - Instrumentos musicais de Moçambique [20]
1992 - Nota sobre o almofariz horizontal da província de Uíje, Angola [21]
Filmografia
[editar | editar código-fonte]Margot Dias realizou perto de 30 filmes etnográficos entre entre 1958 e 1961: [8][10][22]
- 1958 - Aldeia de Antupa
- 1958 - Aldeia de Mussa
- 1958 - Cestaria de Gaza
- 1958 - Dança do Mapiku em Diferentes Lugares
- 1958 - Dança dos Vahumu em Mulumba
- 1958 - Imagens de Dois Enterros
- 1958 - Lihumbi
- 1958 - Lihumbi em Muamga - Cerimónias da Iniciação dos Rapazes
- 1958 - Mangonga, O Escultor
- 1958 - Mitema Fazendo um Pente
- 1958 - Moçambique - Cenas Várias I
- 1958 - Mpambanda Conta Histórias
- 1958 - Músicos Macondes
- 1958 - Ngoma, Iniciação das Raparigas
- 1958 - Olaria Maconde
- 1958 - Pilando Milho na Aldeia de Malaganu
- 1959 - Cesto Chihtelo
- 1959 - Gaza - Cenas Várias
- 1959 - As Lojas de Chongwene
- 1959 - Músicos e Marimbeiros em Banguza
- 1959 - Olaria de Mahupulane
- 1960 - Mussorongo, Musseques de Luanda - Cenas Várias
- 1960 - Preparação da Farinha de Mandioca Torrada I
- 1960 - Preparação da Farinha de Mandioca Torrada II
- 1961 - Casamento Songa
- 1961 - Ntchayu, Jogo de Raparigas
- 1961 - Cestaria Maconde
Referências
- ↑ a b West, Harry G (2004). «Inverting the camel's hump - Jorge Dias, his wife, their interpreter and I». In: Handler, Richard. Significant others : interpersonal and professional commitments in anthropology. Madison: University of Wisconsin Press. OCLC 669513980
- ↑ a b Canelas, Lucinda. «Margot Dias: Viver até ao fim entre os macondes». PÚBLICO. Consultado em 21 de dezembro de 2020
- ↑ Sobral, José Manuel (2007). «O Outro aqui tão próximo: Jorge Dias e a redescoberta de Portugal pela antropologia portuguesa (anos 70-80 do século XX)». Revista de História das Ideias: 479–526. ISSN 0870-0958. doi:10.14195/2183-8925_28_18. Consultado em 22 de dezembro de 2020
- ↑ a b Silva, Maria Cardeira da. «Macondes reeditados». PÚBLICO. Consultado em 21 de dezembro de 2020
- ↑ Sanches, Manuela Ribeiro (2017). «Margot Dias. Filmes Etnográficos. 1958-1961». Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Análise Social (224): 714-718. ISSN 0003-2573
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Margot Schmidt Dias". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 10 de setembro de 2021
- ↑ «PRÉMIO APA "Margot Dias e Benjamim Pereira" – 2019». Associação Portuguesa de Antropologia (APA). 20 de setembro de 2019. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ a b Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Realizadora Margot Dias». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «DGPC | Agenda | Lançamento da edição em DVD "Margot Dias: Filmes Etnográficos (1958-1961)"». patrimoniocultural.gov.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ a b mnetnologia (22 de setembro de 2016). ««Margot Dias – Filmes Etnográficos (1958-1961)» | Lançamento: Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 17 de outubro | 19h00». Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ Sanches, Manuela Ribeiro (2017). «Review of Margot Dias. Filmes Etnográficos. 1958-1961». Análise Social (224): 714–718. ISSN 0003-2573. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Obras de Margot Dias existentes na Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Memórias de África e do Oriente | Catálogo - Pesquisa no Autor - por [dias, margot]». memoria-africa.ua.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Rio de Onor: comunitarismo agro-pastoril». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Memórias de África e do Oriente | Catálogo - Pesquisa no Título - por [aspectos tecnicos e sociais de claria dos chopes]». memoria-africa.ua.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Aspectos técnicos e sociais da olaria dos Chopes». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Os maganjas da Costa: contribuição para o estudo dos sistemas de parentesco dos povos de Moçambique». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Memórias de África e do Oriente | Catálogo - Pesquisa no Título - por [cestaria em gaza]». memoria-africa.ua.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Memórias de África e do Oriente | Catálogo - Pesquisa no Título - por [o fenomeno da escultura maconde chamada moderna]». memoria-africa.ua.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Memórias de África e do Oriente | Catálogo - Pesquisa no Título - por [nota sobre o almofariz horizontal da provincia de uije, angola]». memoria-africa.ua.pt. Consultado em 20 de julho de 2021
- ↑ «Margot Dias: Ethnographic Films 1958-1961». Gartenberg Media Enterprises (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2021