Saltar para o conteúdo

Maria Angélica Não Mora Mais Aqui

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Maria Angélica Não Mora Mais Aqui
Informação geral
Origem São Paulo,SP
País  Brasil
Gênero(s) Indie rock
Período em atividade 1984–1991
Gravadora(s) Vinil Urbano
Polythene Pam
Integrantes Fernando Naporano
Carlos Nishimiya
Victor Bock
Vitor Leite
Lu Stoppa
Kim Kehl
Deborah Freire
Felipe Tillier
Nelson Fumagalli
Décio Medeiros
Kuki Stolarski
Guilherme Coelho Mola

Maria Angélica Não Mora Mais Aqui foi uma banda brasileira pioneira do indie rock brasileiro e do movimento do guitar band nacional, formada em meados de 1984 na cidade de São Paulo, São Paulo. Precursora do indie rock no Brasil,[1] serviu de influência para todas as bandas que surgiriam e formariam o cenário alternativo local, como Pin Ups, Killing Chainsaw, Mickey Junkies e Wry. O grupo foi originalmente formado por Fernando Naporano (composição/vocal) e pelos guitarristas Carlos Nishimiya e Victor Bock.[2]

A primeira fase do Maria Angélica foi marcada por uma variedade de influências. Cantadas em português, as canções eram influenciadas pelo rock de garagem dos anos 1960, pelo power pop e pelo rock and roll, com dosagens de MPB dos anos 1970.[3]

Com a chegada do baterista Vitor Leite (ex-Ira!, Gang 90 e Muzak) e do baixista Lu Stopa (ex-Magazine) por volta de 1987, as faixas se tornaram mais pesadas, com uma aura punk. A partir de então, a nova acepção musical da banda - que incluía boleros, baladas, folk, bossa nova, hard rock e até fado em seu repertório – sofreu uma guinada radical. Naporano foi o primeiro vocalista, no então vigente cenário do rock brasileiro, a assumir o inglês como língua oficial de suas composições.[4] A sonoridade englobava essências do rock da época, muito levado pelo imersivo uso de guitarras, indo do jingle-jangly ao folk-pop, aliada às mais variadas acepções da chamada "Class of ’86" (C86) britânica.[5][6] Toda essa mescla levou Naporano a batizar essa nova fachada do Maria Angélica como Regressive Rock (“rock regressivo”),[7] terminologia inspirada numa crítica ao combo inglês The June Brides.

Desse amálgama surgiu o disco “Outsider” (Vinil Urbano), de 1988. Gravado em duas sessões de seis horas, ao vivo num estúdio da Bela Vista, bairro da capital paulista, o disco teve uma produção e mixagem bem cruas, feitas pela própria banda[8] e Rolando Castello Júnior (baterista da Patrulha Do Espaço).[9] O álbum apresenta uma versão de “I Don’t Mind” (Buzzcocks), a única composição não própria registrada na carreira do Maria Angélica.

Em meados de 1989, o grupo teve a faixa “Te Amo Podes Crer”, incluída no LP "Sanguinho Novo" (Eldorado), um tributo ao compositor Arnaldo Baptista, que inclusive chegou a se apresentar com o Maria em algumas ocasiões.[8] Em sua história o conjunto contou com mais de sete formações, mas o núcleo central (composto por Naporano, Bock e Nishimiya) foi mantido até o início de 1989. Nessa época, Stopa e Nishimiya deixaram a banda porque Naporano pretendia gravar mais um álbum e levar o grupo para Londres.[8] A entrada dos novos integrantes, Deborah Freire (baixo) e Kim Kehl (guitarras), injetou ao som do grupo fortes tonalidades de psicodelia e a mudança de nome para Maria Angélica Doesn’t Live Here Anymore.

O resultado desta nova aventura musical foi registrado no mini-LP “Full Moon Depression” (1990, Polythene Pam) e no álbum póstumo “Stroboscopic Cherries” (1991, Polythene Pam). Ambos os trabalhos foram gravados num estúdio em São Paulo com várias limitações técnicas. A curiosidade é que tiveram a coprodução do produtor norte-americano Roy Cicalla, que na época residia no Brasil.[10][11]

Em 1991, o grupo dissolveu-se, ainda que o núcleo de Bock, Freire e Naporano, estivesse juntos em Londres.[8] Desde sua dissolução, a reputação do grupo cresceu entre as emergentes garage-bands brasileiras dos anos 1990, adquirindo no novo milênio um reconhecimento muito maior que tiveram durante sua existência. Uma recente prova disso é o premiado filme documentário “Guitar Days”, de Caio Augusto Braga, onde o Maria Angélica é visto como uma das seminais bandas da história do rock brasileiro dos anos 1980 e 1990.

Para Fernando Naporano, aqueles anos 1980 formavam um "um cenário muito mais interessante, instigante e enriquecedor que o atual. A razão é simples. Não havia internet, nem tantas facilidades tecnológicas para se confeccionar um livro ou para se editar um disco pelas próprias mãos. Tanto as editoras e gravadoras, fossem as multinacionais, as de grande poder de distribuição ou as independentes (sem dúvida, as mais expressivas), tinham seus lá comandos artísticos, seus critérios e suas diretrizes de trabalho".[12]

Em 2021, o catálogo do Maria Angélica começou a ser disponibilizado nas principais plataformas de streaming de música.

Documentários

[editar | editar código-fonte]
Pôster de "Guitar Days"

"Guitar Days - An Unlikely Story of Brazilian Music" é um documentário de Caio Augusto Braga,[13] lançado em 2019 e premiado no Festival Premios Latino del Cine y la Música de Marbella, Espanha como melhor documentário e melhor direção de documentário, e na Alemanha como melhor documentário no festival Indie Nuts.

A história do Maria Angélica se entremeia com a linha narrativa do documentário,[14] que enfoca o movimento guitar iniciado pelo próprio Maria até a sua transformação ao indie, com a cena atual.[15]

Além de depoimentos das principais bandas dos movimentos e do próprio Fernando Naporano, o documentário traz entrevistas com músicos estrangeiros que influenciaram a cena, como Thurston Moore (Sonic Youth), Mark Gardener (Ride) e Stephen Lawrie (The Telescopes), e com o jornalista da NME e Melody Maker e "descobridor" do grunge, Everett True.[16]

  • 2000 Saudade dos Amores que Não Tive

Compilações

[editar | editar código-fonte]
  • Fernando Naporano (composição/vocal)
  • Carlos Nishimiya (guitarra)
  • Victor Bock (guitarra)
  • Vitor Leite (bateria)
  • Lu Stoppa (baixo)
  • Paulo Zinner (bateria)
  • Kim Kehl (guitarra)
  • Deborah Freire (baixo)
  • Felipe Tillier (baixo)
  • Décio Medeiros (bateria)
  • Nelson Fumagalli (teclado)
  • Kuki Stolarski (bateria)
  • Guilherme Coelho Mola (baixo)

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Campos, Cynthia de Lima. «Quando o indie começou?: contribuições das bandas fellini e maria angélica não mora mais aqui para a consolidação do indie rock nacional». Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). I Congresso Internacional de Estudos do Rock: https://archive.org/download/quando-o-indie-comecou/001063686.pdf 
  2. «Maria Angélica Doesn't Live Here Anymore...». Spotify. Consultado em 9 de março de 2021 
  3. «Fernando Naporano | +CCSP». Consultado em 14 de abril de 2021 
  4. Miziara, Ana Flávia. «Rock Brasil » 100 Anos de Música». www.anaflavia.com.br. Consultado em 11 de março de 2021 
  5. Barbosa, Marco Antonio (22 de agosto de 2019). «TOP 10: OS MAIS IMPORTANTES DISCOS DO INDIE BRASILEIRO». Medium (em inglês). Consultado em 11 de março de 2021 
  6. Suvarine (15 de novembro de 2008). «Estranha Música: Maria Angélica Não Mora Mais Aqui». Estranha Música. Consultado em 11 de março de 2021 
  7. «Perfil do Leitor: Fernando Naporano». Biblioteca Pública do Paraná. Consultado em 14 de abril de 2021 
  8. a b c d «Mofo - Maria Angélica Não Mora Mais Aqui». web.archive.org. 29 de novembro de 2011. Consultado em 14 de abril de 2021 
  9. Maria Angélica – Outsider (1988, Vinyl), consultado em 14 de abril de 2021 
  10. Alves Júnior, Carlos (2003). Rock Brasil : o livro. Roberto Maia. [São Paulo]: Editora Esfera. pp. 82–86. OCLC 62384111 
  11. Maria Angélica Doesn't Live Here Anymore – Stroboscopic Cherries (1991, Vinyl), consultado em 14 de abril de 2021 
  12. «Entrevista ao poeta Fernando Naporano por Sandra Santos». Entrevista ao poeta Fernando Naporano por Sandra Santos. Consultado em 16 de março de 2021 
  13. «Guitar Days: "Vou fazer o que eu quiser" - Trabalho Sujo». Trabalho Sujo. 19 de abril de 2016 
  14. «Grupos dos anos 1990 que cantavam em inglês são festejados em discos, docs e shows». O Globo. 16 de dezembro de 2016 
  15. Line, A TARDE On. «Diretor fala concepção de documentário 'Guitar Days'». Portal A TARDE 
  16. «midsummer madness » Bandas». Consultado em 11 de março de 2021 
  17. TM, Augusto. «Sanguinho Novo… Arnaldo Baptista Revisado (1989) | Toque Musical». Consultado em 11 de março de 2021