Neolítico Saarano
O Neolítico Saarano foi uma cultura do Saara. Povoamentos neolíticos prosperaram no Saara Central, Sul do Saara e no Deserto Ocidental, ao sul do Oásis Kharga; estes foram divididos em três períodos: Neolítico Inferior (8800-6 800 a.C.), Neolítico Médio (6600-5 100 a.C.) e Neolítico Superior (5100-4 700 a.C.)[1]
Neolítico Inferior
[editar | editar código-fonte]Há predominância de sítios sazonais (localizados em Nabta Plaia e Bir Kiseiba) grandes e pequenos habitados por caçadores, coletores e criadores de animais; os sítios são compostos por casas ovais e circulares com fornos e poços para cozinhar e silos.[1] A habitação de tais assentamentos esteve ligada às mudanças climáticas ocorridas ao longo do período: fases úmidas (El Adam; El Nabta; El Jerar) foram intercaladas por fases secas (El Ghorab).[1]
Lâminas, ferramentas geométricas, ferramentas de estilo microburil, mós, fragmentos de cerâmica decorada com linhas e pontos e cascas de ovo de avestruz utilizada como recipientes são algumas das produções locais.[1] Os animais domésticos forneciam leite e sangue, enquanto a caça fornecia carne e a coleta, as plantas; bovinos, lebres, gazelas, grãos (sorgo, milheto), jujubas, sementes de leguminosas e possíveis tubérculos, acácias e tamargueiras são alguns dos restos orgânicos que foram encontrados.[1] Aparentemente os pastores do Saara "parecem ter seguido o moderno modo africano de pastoreio em usar seus animais como fontes vivas de proteínas (leite e sangue) e não para a carne".[2] Além disso, os restos vegetais descobertos "não tem paralelo em sítios desta idade na África, e tem muito poucos iguais em qualquer lugar do mundo"[3] e representam "uma flora sub-desértica ou saheliana".[4]
Neolítico Médio
[editar | editar código-fonte]Segundo Wendorf e Schild este período, assim como o anterior, é caracterizado por fases úmidas intercaladas por fases áridas; segundo Friedman houve apenas uma única fase árida datada em 6000 AP, quando houve uma quebra na ocupação do Deserto Ocidental "depois que o tempo a vida poderia ir apenas ir em alguns lugares ecologicamente favoráveis como Gilf Kebir"[5] O maior sítio deste momento é Nabta Plaia.[1] Vasos polidos, cerâmica do tipo "Cartum" (vasos globulares cobertos com linhas elaboradas e onduladas), folhados, pontas de flechas de base côncava, lunados e outras ferramentas geométricas são alguns dos produtos produzidos durante o período.[1]
Neolítico Superior
[editar | editar código-fonte]Foram erigidos alguns alinhamentos megalíticos em Nabta, sendo o chamado "Círculo do calendário" o mais conhecido: é composto por três alinhamentos de 30 arenitos e um conjunto de oito túmulos com lajes.[6] Segundo Friedman: "A evidência de Nabta sugere que o deserto, mais do que anteriormente realizado, contribuiu para a formação intelectual e as ideias que fizeram possíveis as pirâmides".[7] Também em Nabta Plaia foi atestado um cemitério conhecido como Galel Ramlah, um cemitério composto por três zonas de sepultamento humano com inumações primárias e secundárias.[1] O espólio tumular inclui cerâmica, pedra de chão, adornos pessoais, pigmentos, chifres de animais.[8] Dois túmulos foram tratados de forma específica: "Além de reunir os ossos de cada indivíduo para enterro, parece que os ocupantes neolíticos da bacia também tentaram substituir dentes que haviam caído dos alvéolos durante o manuseio. Esta ação foi percebida por vários dentes estarem fixados em posições anatômicas incorretas.[8] A interpretação do fato é que "embora o conhecimento anatômico tenha sido deficiente, a sepultura Gebel Ramlah difere reverência a seus mortos (...) pode ter sido um fator na coleta e reinserção dos dentes".[9]
Foram identificados mós do tipo bacia, celtas polidos e lixados, lâminas, paletas cosméticas, ornamentos foram produzidos.[1] A cerâmica é polida, lisa e possui coloração preta no topo. Segundo Vermeersch "A razão para esta transição súbita não é de forma óbvia, mas a sua ocorrência no Deserto Ocidental é de grande importância para nossa compreensão da origem das culturas pré-dinásticas no vale do Nilo".[10]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f g h i «Saharan Neolithic (or Ceramic Period)» (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 13 de agosto de 2014
- ↑ Wendorf 1992, p. 156
- ↑ Wendorf 1992, p. 157
- ↑ Wendorf 1992, p. 160
- ↑ Friedman 2002, p. 5
- ↑ Wendorf 2002, p. 15
- ↑ Friedman 2002, p. 10
- ↑ a b Irish 2002, p. 282
- ↑ Irish 2002, p. 284
- ↑ Vermeersch 2000, p. 34
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Wendorf, F.; A. Close (1992). Early Neolithic Food-Economies in the Eastern Sahara. [S.l.: s.n.]
- Irish, J.D.; M. Kobusiewicz; R. Schild; F. Wendorf (2002). «Neolithic Tooth Replacement in two Disturbed Burials from Southern Egypt». Journal of Archaeological Science. 30
- Friedman, Renée (2002). Egypt and Nubia: Gifts of the Desert. [S.l.]: British Museum Press
- Vermeersch, P.M. (2000). Palaeolithic Living Sites in Upper and Lower Egypt. [S.l.]: Leuven University Press