O Risco do Bordado
O risco do bordado | |||||||
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Autor(es) | Autran Dourado | ||||||
Idioma | Português | ||||||
País | Brasil | ||||||
Gênero | Romance | ||||||
Linha temporal | Meados do século XX | ||||||
Localização espacial | Minas Gerais | ||||||
Editora | Editora Expressão e Cultura | ||||||
Lançamento | 1970 | ||||||
Páginas | 273 | ||||||
ISBN | 85-325-1021-3 | ||||||
Cronologia | |||||||
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O risco do bordado é um romance do escritor brasileiro Autran Dourado, publicado em 1970. A história se passa na cidade fictícia de Duas Pontes, interior de Minas Gerais, em meados do século XX. A obra foi bem acolhida pelo público e pela crítica desde a sua publicação e ganhou o Prêmio Pen-Club do Brasil naquele ano.
O romance é estruturado em sete blocos relativamente independentes, que a princípio dão a impressão de contos isolados em que tomam parte os mesmos personagens. Todos os episódios referem-se à adolescência do escritor João da Fonseca Nogueira, que volta ao cenário de sua infância, encontra antigos moradores da cidade, parentes e companheiros de infância, e vai montando uma espécie de quebra-cabeças, resgatando fragmentos de memória para compor a narrativa. Trata-se, assim, de um romance de formação, que trata da descoberta da sexualidade, da amizade, da traição e da literatura. A personalidade e a história da vida de outros personagens próximos, como o Vovô Tomé, também vão sendo lentamente revelados.
A narrativa não é linear: tem o ritmo descontínuo e labiríntico da memória. A fragmentação e desordem temporal das recordações requerem frequentemente acréscimos por parte da imaginação e de interpretações de João e de outros personagens. O risco do bordado que é a história da vida de um homem não pode ser totalmente conhecido por ele mesmo.
O mundo é muito desigual em seus caminhos. O risco não é a gente que traça. (em "Assunto de Família")
Deus é que sabe por inteiro o risco do bordado. (em "As Roupas do Homem")
O autor utiliza o recurso da falsa terceira pessoa: a narrativa está na terceira pessoa, mas o leitor facilmente identifica o narrador a João; em alguns trechos, a narrativa chega a passar para a primeira pessoa durante um curto intervalo. Em um dos blocos (Assunto de Família), a falsa pessoa não é mais João e sim seu avô Tomé. No último episódio, também se emprega a narrativa em blocos: o narrador praticamente desaparece quando pessoas diferentes fornecem seu depoimento sobre alguma circunstância da vida de um cangaceiro, o que dá origem não apenas a uma visão fragmentada, mas também incoerente, desse personagem. Em toda a obra Dourado usa o discurso indireto livre, em que as falas das personagens se misturam com a voz do narrador, sem demarcação específica.
A obra resiste à classificação. Por um lado, faltam-lhe características distintivas do romance, como, por exemplo, a existência de um clímax na narrativa. Por outro lado, não se pode falar de apenas um grupo de histórias, pois é inegável que o todo formado vai além da mera justaposição das partes.[1][2]
Estão presentes nesse romance outras características notáveis do escritor:
- A presença de pares de personagens contrastantes, como Joâo/Valentina e vovô Tomé/vó naninha;
- A recorrência de idéias, eventos e personagens;
- A intertextualidade, com essas idéias, eventos e personagens trafegando entre narrativas diferentes e entre livros diferentes;
- O trabalho artesanal meticuloso na escrita;
- A construção psicológica cuidadosa e lenta dos personagens.
Autran Dourado analisa em outro livro seu, Uma poética de romance, o processo de construção dessa obra, revelando uma estrutura complexa que requereu a elaboração prévia de desenhos e plantas-baixas por parte do escritor. A respeito disso, declarou:
Técnica labiríntica, onírica, amplificadora, através de desdobramento e fusões associativas, metafóricas. (em O meu mestre imaginário)
Inicialmente eu coloquei as marcações, as reações que o menino ia sentindo com o desenrolar do caso do avô; depois as subtrai para alcançar o efeito de ambigüidade, que acredito ter conseguido. A ambigüidade em ficção é tão importante como em poesia. (em Uma poética de romance: matéria de carpintaria)
É uma metáfora, o risco serve para a gente não se perder. Na construção narrativa em blocos, se não houver esse planejamento, posso me perder. A gente tem que ir deixando rastro, se não, não se acha o fio da meada. [...] Primeiro faz-se o risco, depois se borda por cima dele. Gosto de lembrar que conforme diz o ditado popular, “Deus é que sabe por inteiro o risco do bordado” (em entrevista - 2008).
O personagem João da Fonseca Ribeiro aparece em outros livros do autor: Um artista aprendiz e A serviço del-rei, que focam aspectos posteriores de sua vida. Além disso, o vovô Tomé volta a aparecer em O senhor das horas.[3]
Episódios
[editar | editar código-fonte]- Viagem à Casa da Ponte: João acompanha seu melhor amigo, Zito, que trabalha numa loja, a um bordel, para levar sapatos a serem provados pelas prostitutas.
- Nas Vascas da Morte: João vive a experiência da morte se um de seus tios-avós, Maximino, afastado da família devido a rixas com o avô de João.
- Valente Valentina: Um circo visita a cidade, e João torna-se amigo da adolescente trapezista cujo nome artístico é Valentina.
- As Voltas do Filho Pródigo: A história de Zózimo, tio de João, cujos mistérios e esquisitices João luta para entender.
- Assunto de Família: A história do bisavô de João, Zé Mariano.
- O Salto do Touro: Um contato erótico com a tia solteirona, Margarida.
- As Roupas do Homem: As muitas faces e interpretações da vida e da personalidade do cangaceiro Xambá, conforme relatos de pessoas que com ele tiveram variados tipos de contato, uma delas, o garoto João.
Referências
- ↑ Douglas Wisniewski. «"O Risco do Bordado". Autran Dourado». Consultado em 11 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 19 de outubro de 2008
- ↑ Editora Rocco. «Descoberta da sexualidade, da amizade e da literatura em "contos entrelaçados"». Consultado em 11 de janeiro de 2011
- ↑ Leonor da Costa Santos. «Autran Dourado em romance puxa romance ou a ficção recorrente» (PDF). Consultado em 31 de dezembro de 2010. Arquivado do original (PDF) em 11 de novembro de 2011