Ordem de batalha da Batalha do Nilo
As referências deste artigo necessitam de formatação. (Junho de 2022) |
A Batalha do Nilo foi uma batalha naval que teve lugar entre 1 e 3 de Agosto de 1798, na baía de Abukir, perto da foz do rio Nilo, no mar Mediterrâneo, costa do Egipto. A batalha colocou frente-a-frente uma frota da Marinha Real Britânica e uma da Marinha Francesa. Este combate naval foi o ponto alto da campanha de três meses no Mediterrâneo, durante a qual uma expedição francesa, de grandes dimensões, comandada pelo general Napoleão Bonaparte, partiu de Toulon para Alexandria via Malta.[1] Apesar de perseguida de perto por uma frota britânica de 13 navios de linha, um de 4.ª categoria e um sloop, liderados pelo contra-almirante Horatio Nelson, a frota francesa conseguiu chegar a Alexandria, sem qualquer resistência, e fazer desembarcar um exército, o qual Napoleão.[2] A frota que escoltou o comboio francês, o qual consistia em 13 navios de linha, quatro fragatas e várias pequenas embarcações lideradas pelo vice-almirante François-Paul Brueys d'Aigalliers, ancorou na baía de Abukir pois o porto de Alexandria era demasiado estreito, formando uma linha de batalha protegida por uma zona de rochedos a norte e a oeste.[3]
Nelson chegou à costa egípcia no dia 1 de Agosto e descobriu a frota francesa às 14h00. Avançando durante a tarde, os seus navios entraram na baía às 18h20, e atacaram directamente os franceses, apesar da rápida chegada da noite.[4] Aproveitando a grande distância entre o navio da frente, Guerrier, e a zona norte das rochas, o HMS Goliath rodeou a linha francesa, às 18h40, e abriu fogo ao lado bombordo francês, sendo seguido por mais cinco navios britânicos.[5] A restante linha britânica atacou o lado estibordo do comboio francês, e este ficou entre um terrível fogo-cruzado.[6] A batalha prolongou-se por mais de três horas com os britânicos a derrotarem os cinco primeiros navios franceses, mas a ficarem longe do centro, bem defendido.[7] A chegada de reforços permitiu um segundo assalto às 21h00 e, às 22h00, o navio-almirante francês Orient explodiu.[8] Apesar da orte do almirante Brueys, a zona central francesa continuou a lutar até às 03h00, quando o danificado Tonnant conseguiu chegar até à longínqua divisão francesa da retaguarda.[9] Às 06h00, o combate foi reactivado com um ataque dos navios britânicos menos danificados à retaguarda francesa, forçando o contra-almirante Pierre-Charles Villeneuve a fugir para a foz da baía.[10] Outros quatro navios franceses, com muitos danos, não conseguiram juntar-se a Villeneuve, e foram propositadamente encalhados na praia pelas suas tripulações; Villeneuve acabou por escapr para mar aberto com dois navios de linha e duas fragatas.[11] A 3 de Agosto, os últimos dois navios franceses, encalhados na baía, foram derrotados: um deles rendeu-se, e u outro foi propositadamente incendiado pela sua tripulação.[12]
A quase total destruição da frota francesa reverteu a situação estratégica no Mediterrâneo, dando o controlo do mar à Marinha Real Britânica, que o manteve até ao final das Guerras Napoleónicas, em 1815.[13] Nelson e os seus capitães foram efusivamente saudados e generosamente premiados, embora, em privado, Nelson se tenha queixado de que a sua recompensa, não era suficientemente elevada.[14] O exército de Napoleão ficou preso no Médio Oriente e o domínio da Marinha Real teve um papel fulcral na sua derrota no Cerco do Acre,[15] O próprio Napoleão abandonou o exército em 1799 para regressar a França e fazer frente ao início da Guerra da Segunda Coligação.[16] Dos navios capturados, três estavam inoperacionais e foram queimados na baía, e três outros foram aproveitados apenas para serviço civil, devido aos danos recebidos na batalha.[17] Os restantes ficaram ao serviço da Marinha Real; dois fariam parte da Batalha de Trafalgar, em 1805.[18]
Ordens de batalha
[editar | editar código-fonte]Os navios das ordens abaixo estão listados pela ordem em que estavam nas linhas de batalha respectivas. Na coluna das baixas, os valores apresentados dos totais de mortos e feridos são os mais precisos com as fontes disponíveis: devido à natureza da batalha, as vítimas francesas são difíceis de calcular com precisão. Os oficiais mortos nos combates estão assinalados com o símbolo †. Dado que as caronadas não eram tidas em conta na classificação das categorias dos navios,[19] estes poderão ter a bordo mais canhões que o indicado.
- Esta cor indica que os navios foram capturados durante a batalha
- Esta cor indica que os navios foram destruídos durante a batalha
Frota britânica
[editar | editar código-fonte]Frota do contra-almirante Nelson | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Navios | Classificação | Canhões | Comandante | Baixas | Notas | |||||
Mortos | Feridos | Total | ||||||||
HMS Goliath | 3.ª categoria | 74 | Capitão Thomas Foley | 21
|
41
|
62
|
Mastros e casco danificados com gravidade | |||
HMS Zealous | 3.ª categoria | 74 | Capitão Samuel Hood | 1
|
7
|
8
|
Pouco danificado | |||
HMS Orion | 3.ª categoria | 74 | Capitão James Saumarez | 13
|
29
|
42
|
Pouco danificado | |||
HMS Audacious | 3.ª categoria | 74 | Capitão Davidge Gould | 1
|
35
|
36
|
Pouco danificado | |||
HMS Theseus | 3.ª categoria | 74 | Capitão Ralph Willett Miller | 5
|
30
|
35
|
Casco danificado com gravidade | |||
HMS Vanguard | 3.ª categoria | 74 | Contra-almirante Horatio Nelson Capitão Edward Berry |
30
|
76
|
106
|
Mastros e casco danificados com gravidade | |||
HMS Minotaur | 3.ª categoria | 74 | Capitão Thomas Louis | 23
|
64
|
87
|
Pouco danificado | |||
HMS Defence | 3.ª categoria | 74 | Capitão John Peyton | 4
|
11
|
15
|
Mastros pouco danificados | |||
HMS Bellerophon | 3.ª categoria | 74 | Capitão Henry Darby | 49
|
148
|
197
|
Sem mastros e muito danificado | |||
HMS Majestic | 3.ª categoria | 74 | Capitão George Blagden Westcott † | 50
|
143
|
193
|
Perda do mastro principal e o mastro de mezena; casco danificado com gravidade | |||
HMS Leander | 4.ª categoria | 50 | Capitão Thomas Thompson | 0
|
14
|
14
|
Pouco danificado | |||
HMS Alexander | 3.ª categoria | 74 | Capitão Alexander Ball | 14
|
58
|
72
|
Mastros danificados com gravidade | |||
HMS Swiftsure | 3.ª categoria | 74 | Capitão Benjamin Hallowell | 7
|
22
|
29
|
Muito danificado | |||
HMS Culloden | 3.ª categoria | 74 | Capitão Thomas Troubridge | 0
|
0
|
0
|
Encalhado na zona rochosa de Abukir durante o ataque; não participou na batalha. Casco danificado com gravidade. | |||
HMS Mutine | Sloop | 16 | Tenente Thomas Hardy | 0
|
0
|
0
|
Assistiu o Culloden durante a batalha e não participou na batalha | |||
Total de baixas: 218 mortos, 678 feridos, 896 no total[Note A] | ||||||||||
Fonte: James, pp. 152–175, Clowes, p. 357 |
Frota francesa
[editar | editar código-fonte]Frota do vice-almirante Brueys | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Linha de batalha | ||||||||
Navio | Classificação | Canhões | Comandante | Baixas | Notas | |||
Mortos | Feridos | Total | ||||||
Guerrier | 3.ª categoria | 74 | Capitão Jean-François-Timothée Trullet | ~350–400 baixas[20] | Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado, mas destruído mais tarde por se mostrar inoperacional. | |||
Conquérant | 3.ª categoria | 74 | Capitão Etienne Dalbarade † | ~350 baixas[21] | Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por HMS Conquerant; não voltou a participar em acções de batalha. | |||
Spartiate | 3.ª categoria | 74 | Capitão Maurice-Julien Emeriau | 64
|
150
|
214 [22]
|
Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por became HMS Spartiate. | |
Aquilon | 3.ª categoria | 74 | Capitão Antoine René Thévenard † | 87
|
213
|
300 [8]
|
Sem mastros e danificado com gravidade. Capturado e designado por HMS Aboukir; não voltou a participar em acções de batalha. | |
Peuple Souverain | 3.ª categoria | 74 | Capitão Pierre-Paul Raccord | Baixas pesadas | Mastro do traquete e mastro principal destruídos, e casco danificado com gravidade. Capturado de designado por HMS Guerrier; não voltou a participar em acções de batalha. | |||
Franklin | 3.ª categoria | 80 | Contra-almirante Armand Blanquet Captain Maurice Gillet |
~400 baixas[23] | Mastro principal e mastro de mezena destruídos, e casco danificado com gravidade. Capturado de designado por HMS Canopus. | |||
Orient | 1.ª categoria | 120 | Vice-almirante François-Paul Brueys d'Aigalliers † Contre-Admiral Honoré Ganteaume Captain Luc-Julien-Joseph Casabianca † |
~1,000 baixas[24] | Destruído por uma explosão no paiol de munições. | |||
Tonnant | 3.ª categoria | 80 | ComodoroAristide Aubert Du Petit Thouars † | Baixas pesadas | Sem mastros, encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 3 de Agosto e designado por HMS Tonnant. | |||
Heureux | 3.ª categoria | 74 | Capitão Jean-Pierre Etienne | Poucas baixas | Encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 2 de Agosto mas mais tarde queimado por se mostrar inoperacional. | |||
Mercure | 3.ª categoria | 74 | Tenente Cambon | Poucas baixas | Encalhado e danificado com gravidade. Capturado a 2 de Agosto mas mais tarde queimado por se mostrar inoperacional. | |||
Guillaume Tell | 3.ª categoria | 80 | Contra-almirante Pierre-Charles Villeneuve Captain Saulnier |
Poucas baixas | Escapou a 2 de Agosto | |||
Généreux | 3.ª categoria | 74 | Capitão Louis-Jean-Nicolas Lejoille | Poucas baixas | Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto | |||
Timoléon | 3.ª categoria | 74 | Capitão Louis-Léonce Trullet | Poucas baixas | Encalhado e danificado com gravidade. Afundado pela sua tripulação a 3 de Agosto. | |||
Fragatas | ||||||||
Sérieuse | 5.ª categoria | 36 | Capitão Claude-Jean Martin | Baixas pesadas | Afundou-se devido aos danos recebidos na batalha. | |||
Artémise | 5.ª categoria | 36 | Capitão Pierre-Jean Standelet | Poucas baixas | Afundado pela sua tripulação a 2 de Agosto. | |||
Justice | 5.ª categoria | 40 | Capitão Villeneuve | 0
|
0
|
0
|
Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto | |
Diane | 5.ª categoria | 40 | Contra-almirante Denis Decrès Captain Éléonore-Jean-Nicolas Soleil |
0
|
0
|
0
|
Escapou com o Guillaume Tell a 2 de Agosto | |
A vanguarda da linha francesa era apoiada por canhões instalados na ilha de Abukir, por canhoneiras e navios bombardeiros posicionados na zona rochosa a oeste da linha.[25] Embora tivessem participado na batalha, pouca influência tiveram; alguns ficaram encalhados, e um navio bombardeiro foi afundado pela sua tripulação.[26] | ||||||||
Total de baixas: ~3000–5000[nota 1] | ||||||||
Fonte: James, pp. 152–175, Clowes, p. 357 |
Notas
- ↑ As fontes variam muito nos seus números: Adkins refere que as vítimas britânicas foram de 218 mortos e 677 feridos, e as francesas de 5235 mortos ou desaparecidos e 3305 capturados, incluindo cerca de 1000 feridos.[27] William Laird Clowes dá valores precisos para cada navio britânico, num total de 218 mortos e 678 feridos, e cita uma estimativa para as baixas francesas de 2000 a 5000, numa média de 3500.[28] Juan Cole apresenta 218 mortos britânicos e perdas francesas de 1700 mortos, 1000 feridos e 3305 prisioneiros, a maioria dos quais regressou a Alexandria.[29] Robert Gardiner enumera as perdas britânicas como 218 mortos e 617 feridos; e as francesas de 1600 mortos e 1500 feridos.[18] O historiador naval William James também refere 218 mortos e 678 feridos britânicos, e uma estimativa para as perdas francesas entre 2000 e 5000, aproximando-se mais do limite inferior dos seus cálculos.[24] John Keegan calcula os mortos britânicos em 208 e os feridos em 677; os franceses terão tido vários milhares de mortos e cerca de 1000 feridos.[30] Steven Maffeo regista um valor de 3000 baixas francesas e 1000 britânicas.[31] Noel Mostert refere as vítimas britânicas em 218 mortos e 678 feridos, e estima entre 2000 e 5000 as baixas francesas.[32] Para Peter Padfield as baixas britânicas foram de 218 mortos e 677 feridos, e as francesas de 1700 mortos e cerca de 850 feridos.[33] Digby Smith estima os mortos britânicos em 218, e os feridos em 678; as vítimas francesa terão sido de 2000 mortos, 1100 feridos e 3900 capturados.[34] Oliver Warner apresenta 5265 franceses mortos ou desaparecidos, e 3105 prisioneiros, e, para os britânicos, 218 mortos e 677 feridos. De um modo geral, quase todos os prisioneiros franceses regressaram a território egípcio durante a semana seguinte à batalha.[26]
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Order of battle at the Battle of the Nile», especificamente desta versão.
Referências
- ↑ James, p. 151
- ↑ Clowes, p. 356
- ↑ Gardiner, p. 31
- ↑ Adkins, p. 23
- ↑ James, p. 164
- ↑ Gardiner, p. 33
- ↑ Clowes, p. 366
- ↑ a b Keegan, p. 65
- ↑ James, p. 172
- ↑ James, p. 173
- ↑ Mostert, p. 272
- ↑ Adkins, p. 37
- ↑ Mostert, p. 274
- ↑ Jordan & Rogers, p. 219
- ↑ Rose, p. 144
- ↑ Gardiner, p. 62
- ↑ James, p. 185
- ↑ a b Gardiner, p. 39
- ↑ James, Vol. 1, p. 32
- ↑ James, p. 166
- ↑ James, p. 167
- ↑ Germani, p. 59
- ↑ James, p. 171
- ↑ a b James, p. 176
- ↑ Clowes, p. 353
- ↑ a b Warner, p. 121
- ↑ Adkins, p. 38
- ↑ Clowes, p. 370
- ↑ Cole, p. 109
- ↑ Keegan, p. 66
- ↑ Maffeo, p. 271
- ↑ Mostert, p. 273
- ↑ Padfield, p. 132
- ↑ Smith, p. 140
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Adkins, Roy & Lesley (2006). The War for All the Oceans. [S.l.]: Abacus. ISBN 0-349-11916-3
- Clowes, William Laird (1997) [1900]. The Royal Navy, A History from the Earliest Times to 1900, Volume IV. [S.l.]: Chatham Publishing. ISBN 1-86176-013-2
- Cole, Juan (2007). Napoleon's Egypt; Invading the Middle East. [S.l.]: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-4039-6431-1
- Gardiner, Robert, ed. (2001) [1996]. Nelson Against Napoleon. [S.l.]: Caxton Editions. ISBN 1-86176-026-4
- Germani, Ian (janeiro de 2000). «Combat and Culture: Imagining the Battle of the Nile». The Northern Mariner. X (1): 53–72
- James, William (2002) [1827]. The Naval History of Great Britain, Volume 1, 1793–1796. [S.l.]: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-905-0
- James, William (2002) [1827]. The Naval History of Great Britain, Volume 2, 1797–1799. [S.l.]: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-906-9
- Jordan, Gerald; Rogers, Nicholas (julho de 1989). «Admirals as Heroes: Patriotism and Liberty in Hanoverian England». The Journal of British Studies. 28 (3): 201–224
- Keegan, John (2003). Intelligence in War: Knowledge of the Enemy from Napoleon to Al-Qaeda. [S.l.]: Pimlico. ISBN 0-7126-6650-8
- Maffeo, Steven E. (2000). Most Secret and Confidential: Intelligence in the Age of Nelson. London: Chatham Publishing. ISBN 1-86176-152-X
- Mostert, Noel (2007). The Line upon a Wind: The Greatest War Fought at Sea Under Sail 1793–1815. [S.l.]: Vintage Books. ISBN 978-0-7126-0927-2
- Padfield, Peter (2000) [1976]. Nelson's War. [S.l.]: Wordsworth Military Library. ISBN 1-84022-225-5
- Rodger, N.A.M. (2004). The Command of the Ocean. [S.l.]: Allan Lane. ISBN 0-7139-9411-8
- Rose, J. Holland (1924). «Napoleon and Sea Power». Cambridge Historical Journal. 1 (2): 138–157
- Smith, Digby (1998). The Napoleonic Wars Data Book. [S.l.]: Greenhill Books. ISBN 1-85367-276-9
- Warner, Oliver (1960). The Battle of the Nile. London: B. T. Batsford