Paederus
Paederus | |
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Classificação científica | |
Nome uninomial | |
Paederus Fabricius, 1775[1] | |
Espécie-tipo | |
Paederus riparius |
Paederus é um gênero de estafilinídeos, muitos dos quais são conhecidos no Brasil como potó;[2] designação comum de várias de suas espécies, particularmente o P. irritans.[3] Seu principal interesse para o meio humano é a existência de toxinas em sua hemolinfa, dos quais se destaca a pederina, capazes de provocar sérias lesões na pele,[4] chamadas de pederismo (pederose ou dermatite Paederus).[2]
Em 1988 J. H. Frank estimava que o número de espécies do gênero superava a quinhentos, dos quais em 1982 cerca de quarenta e sete haviam sido devidamente identificadas biologicamente; numa revisão feita em 1987 Frank declarou existirem 622 espécies classificadas na subtribo Paederina (que inclui o Paederus e espécies próximas), sendo todas elas à exceção de 148 incluídas no gênero Paederus.[5]
Características
[editar | editar código-fonte]A maioria das 622 espécies possui coloração dupla: vermelha e preta ou vermelha e azul, embora algumas espécies sejam monocromáticas (apenas pretas, vermelhas ou azuis).[6] Sua característica mais marcante são os élitros bastante curtos, razão pela qual o primeiro nome científico de seu grupo era "Brachyptera" (Nota: do grego brachýs, aportuguesado por braqui, elemento de composição da palavra significando "breve", "curto" e ptéron, "asa"[7]), o que torna difícil ao inseto guardar as asas após o voo, de modo que precisa erguer a parte posterior do corpo e assim apoiar as asas para a dobra de recolhimento; com as asas recolhidas são parecidas com as "tesourinhas", embora não possuam, como estas, pinças no final do abdômen.[8]
Tanto as larvas quanto os adultos preferem viver em ambientes úmidos; os adultos são ativos durante o dia e, à noite, são atraídos pela luminosidade — o que constitui a razão principal para o contato com os seres humanos, provocando muitas vezes as dermatites características.[8]
As lesões ocorrem por conta do esmagamento do inseto, sendo a pederina uma substância considerada mais forte que o veneno de cobra; consiste de uma amida que inibe a síntese de proteínas e DNA, impedindo assim a divisão das células; por não haver penetração da substância a palma das mãos e sola dos pés não são afetadas.[6]
Histórico
[editar | editar código-fonte]O ataque pelo Paederus é registrado pela medicina ocidental há mais de cem anos (por Strickland, em 1924), mas há registros na China que datam de 1200 atrás; no Paquistão a espécie Paederus fuscipes foi identificada inicialmente por tropas estadunidenses no norte daquele país e também no Afeganistão, e depois estudos demonstraram a presença do inseto em várias aldeias sobretudo da província de Punjab.[6]
Um estudo recente aventa a possibilidade de que a sexta praga descrita no livro bíblico do Êxodo e que atacaram os egípcios tenha sido derivada de infestação do Paederus, provocada pelas condições descritas na primeira e segunda pragas: na primeira a água do rio Nilo se transfora em sangue, causada certamente pelo aumento de fitoplâncton tóxico que matara os peixes e causou a segunda praga, com a invasão de sapos; em seguida houve a terceira e quarta pragas, com a invasão de besouros, favorecida pela grande quantidade dos anfíbios em decomposição - sendo que os enxames desses insetos são focais o que explicaria o fato de atacarem os egípcios e pouparem os judeus; como a afecção por Paederus somente se manifesta de um a quatro dias após o ataque pelo besouro, a sexta praga não foi associada à infestação dos besouros, e foi descrita como erupções, bolhas ou furúnculos que afetaram homens e animais; a causa deve ter sido o P. alfierii, comum na região do Delta do Nilo; o P. alfierii tivera, assim, sua população aumentada na região úmida do Delta, afetando somente a comunidade egípcia cujo surto de bolhas somente se verificou dias após e foi assim percebido como um evento distinto.[9]
Espécies
[editar | editar código-fonte]Ao menos vinte e cinco espécies interessam à medicina; o Paederus fusca é comum nos campos de arroz do Sudeste Asiático, o Paederus crebinpunctatis e Paederus sabaeus ocorrem na África Oriental, ao passo que o Paederus cruenticollis tem importância na Austrália.[8]
Algumas espécies:
- Paederus alfierii
- Paederus australis
- Paederus baudii
- Paederus brasiliensis
- Paederus cruenticollis
- paederus dermatitis
- Paederus eximius
- Paederus crebrepunctatus
- Paederus fuscipes
- Paederus littoralis
- Paederus melampus
- Paederus ornaticornis
- Paederus irritans
- Paederus sabaeus
Referências
- ↑ «Paederus Fabricius 1775». Fauna Europaea. Consultado em 28 de julho de 2011
- ↑ a b Victor Alva-Dávalos, Victor Alberto Laguna-Torres, A. Huamán1, R. Olivos1, M. Chávez1, C. García1 e N. Mendoza (2002). «Dermatite epidêmica por Paederus irritans em Piura, Perú, 1999, relacionada ao fenômeno El Niño». Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.35 no.1 Uberaba. Consultado em 7 de abril de 2014
- ↑ Luis Tincopa, Jenny Valverde, Hernán Agip G, Aurora Cárdenas (1999). «Características Clínicas Y Epidemiológicas del Brote Epidémico de Dermatitis de Contacto por Paederus irritans». Dermatología Peruana - VOL. 9, Nº 1. Consultado em 7 de abril de 2014
- ↑ Kanamitsu, K.; Frank, J.H. (Março 1987). «Paederus, Sensu Lato (Coleoptera: Staphylinidae): Natural History and Medical Importance». Journal of Medical Entomology, Volume 24, Number 2,pp. 155-191(37) (depois em: Digital Commons da University of Nebraska - Lincoln. Consultado em 7 de abril de 2014
- ↑ Frank, J.H. (1988). «Paederus, sensu lato (Coleoptera: Staphylinidae): An index and review of the taxa.». Insecta Mundi. 2 (2): 97–159. Consultado em 13 de maio de 2018. Cópia arquivada em 4 de março de 2016
- ↑ a b c Shabab Nasir; Waseem Akram; Rashad Rasool Khan; Muhammad Arshad; Iram Nasir (25 de fevereiro de 2015). «Paederus beetles: the agent of human dermatitis». Journal of Venomous Animals and Toxins Including Tropical Diseases. Consultado em 12 de maio de 2018. Cópia arquivada em 13 de maio de 2018
- ↑ Dicionário Aurélio, verbetes ▼-braqui e ▼-pter(o)
- ↑ a b c «7.4 Blister beetles, species». Institute of Tropical Medicine. Consultado em 30 de julho de 2011. Arquivado do original em 29 de agosto de 2012
- ↑ Scott A Norton; Christina Lyons (2002). «Blister beetles and the ten plagues». The Lancet, volume 359, número 9321, pág. 1950. Consultado em 12 de maio de 2018. Cópia arquivada em 4 de fevereiro de 2013