Saltar para o conteúdo

Perspectiva sociodinâmica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A perspectiva sociodinâmica explora o conceito de sociodinâmica através de uma abordagem multidisciplinar que analisa a dinâmica das interações sociais nos diferentes microcosmos sociais. Além das interações individuais, a perspectiva sociodinâmica examina os fatores sistémicos e estruturais que influenciam o comportamento social.

Neste sentido, convém considerar a distinção entre os termos "abordagem" e "perspectiva". Embora muitas vezes as duas palavras sejam utilizadas em semelhantes contextos, não representam a mesma coisa. Enquanto o termo "abordagem" propõe-se a definir um conceito, o termo "perspectiva" apresenta um forma específica (uma lente) para observar o fenómeno social[1]. Adotando este princípio, a perspectiva sociodinâmica recorre aos conceitos estabelecidos em diferentes campos de investigação sobre a sociodinâmica e apresenta-se como uma lente para observar o fenómeno em estudo.[2]

Suas bases conceituais se fundamentam em diferentes abordagens teóricas, tais como a teoria da informação, a sociometria, a teoria da complexidade e a modelagem matemática. Em síntese, uma abordagem sociodinâmica investiga as dinâmicas sociais para compreender o fenómeno em estudo.

A perspetiva sociodinâmica considera o tempo, o espaço, as condições e os seus efeitos[3] como elementos que actuam sobre as narrativas de memória numa interação mnemónica entre o tempo narrado e o tempo vivido.[2][nota 1]

Em estudos focados na memória social, com recurso a análise de testemunhos orais, a perspectiva sociodinâmica apresenta-se como uma abordagem conceptual que explora as dinâmicas espaço-temporais que se manifestam nas narrativas dos participantes.

Sociodinâmica e Dinâmica Social[editar | editar código-fonte]

Embora os termos sociodinâmica e dinâmica social possuam semelhanças, ambos apresentam características específicas no que concerne à terminologia e à abordagem científica. Não obstante, ambos os conceitos têm como objeto de análise os fenómenos associados às relações dos indivíduos nos diversos grupos sociais nos quais interagem.

A proximidade terminológica entre os dois conceitos pode gerar imprecisões conceituais, especialmente em termos epistemológicos.

O conflito na conceptualização da abordagem sociodinâmica não é em si um conflito dogmático, mas sim de natureza lógico-semântica. (...) O termo sociodinâmica emerge na segunda metade do século XX no ímpeto dos estudos sociométricos (Moreno, 1934), sendo mais tarde explorado na esfera da sociodinâmica da cultura (Moles, 1967/1971) e das psicodinâmicas com foco num modelo sociodinâmico das emoções e seus impactos sobre as dinâmicas sociais em seus diferentes microcosmos.(pp.98–99)[1]

A estreita ligação semântica entre ambos os termos pode causar alguma confusão no seu uso. A explicação de Peavy (1997) para a proximidade conceptual entre os termos sociodinâmica e dinâmica social pode ser igualmente explicada a partir de sua base etimológica.

O QUE SIGNIFICA O TERMO "SOCIODINÂMICA"? "Socio" deriva da palavra latina socialis que significa companheiro, aliado, associado. "Socio" marca a nossa existência primária como seres sociais ou relacionais. A palavra "dinâmica" deriva do grego dynamikos, que significa poderoso, em movimento, alterando, e refere-se ao equilíbrio estético das partes como um todo que são instáveis quando separadas. Dinâmico também implica mudança contínua, especialmente mudança cultural e mudança nos padrões de significado cultural.[nota 2] (Peavy, 1997, p. 251)[4]

Independente dos aspectos linguísticos, verifica-se que os estudos voltados à compreensão das dinâmicas sociais dedicam-se primordialmente à análise dos padrões de interação, influência e mudança no âmbito intra e intergrupal, bem como entre sociedades distintas numa abordagem comparativista. Seu foco recai sobre os aspectos comportamentais inerentes aos fenômenos sociais, englobando ações individuais, dinâmicas grupais e tendências socioculturais vigentes.

Segundo Fauvet (2004)[5], a sociodinâmica situa-se como uma ramo da praxeologia, permitindo compreender as diferentes forças que atuam sobre as interações sociais e os significados que atribuímos a elas.

A sociodinâmica representa um aprofundamento nas dimensões estruturais e sistêmicas da vida social no macro e microcosmo social, examinando a interação entre as estruturas em nível macroscópico e as interações em nível microscópico. Em linhas gerais, a sociodinâmica elucida a relação recíproca existente entre estruturas sociais, forças culturais e ação individual, destacando o papel desempenhado por instituições, ideologias e contingências históricas sobre os processos sociais.[6]

A compreensão holística dos fenômenos sociais requer uma abordagem integrativa que considere tanto a dinâmica social quanto a sociodinâmica. Embora a dinâmica social enfoque os padrões comportamentais e interacionais em nível micro, a sociodinâmica lança luz sobre as forças estruturais e sistêmicas em nível macro que moldam e são moldadas por tais interações. Ao harmonizar essas duas perspectivas complementares, obtém-se uma visão mais completa e nuançada dos processos sociais.

É imperativo reconhecer que ações individuais e dinâmicas grupais não ocorrem em um vácuo, mas são inextrincavelmente influenciadas por estruturas sociais mais amplas, instituições, ideologias dominantes e contingências históricas específicas. Concomitantemente, essas macroestruturas são continuamente remodeladas e resignificadas por meio das interações e comportamentos em nível micro. Portanto, a relação entre esses dois domínios é dialética e mutuamente constitutiva.

Os investigadores interessados em explorar abordagens como a sociodinâmica devem buscar integrar de maneira sinérgica as perspectivas da dinâmica social e da sociodinâmica, transcendendo a dicotomia entre agência e estrutura. Somente por meio de um entendimento holístico dessa complexa interconexão poderemos elucidar plenamente os intrincados mecanismos subjacentes aos fenômenos sociais contemporâneos.

Autores de Referência[editar | editar código-fonte]

  • Abraham Moles [Sociodinâmica aplicada a estudos no âmbito da relação entre comunicação e cultura]
  • Jean-Christian Fauvet [Sociodinâmica aplicada a contextos de gestão de equipes]
  • Wolfgang Weidlich [Sociodinâmica aplicada a modelos matemáticos preditivos para aplicações económico-sociais]
  • Jacob Levy Moreno [Sociodinâmica aplicada a estudos sociométricos das dinâmicas sociais]
  • Dirk Helbing [Sociodinâmica aplicada a processos estocásticos e interação social]
  • Ruslan Grinberg e Alexander Rubinstein [Sociodinâmica aplicada a modelos esconómicos]
  • R. Vance Peavy [Sociodinâmica aplicada à terapêutica construtivista de aconselhamento]

Notas

  1. Tradução livre de: "The sociodynamic perspective considers time, space, conditions and their effects as elements that act on memory narratives in a mnemonic interaction between the time narrated and the time experienced."
  2. Tradução livre de: WHAT DOES THE TERM “SOCIODYNAMIC” MEAN? “Socio” is derived from the Latin word socialis which means companion, ally, associate. “Socio” marks our primary existence as social or relational beings. The word “dynamic” is derived from the Greek dynamikos which means powerful, in motion, altering, and refers to the aesthetic equilibrium of the parts as a whole which are unstable when separated. Dynamic also implies continuous change, especially cultural change and change in patterns of cultural meaning.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Pinto, Rooney Figueiredo (2023). Memória e Educação: Narrativas das memórias da escola do Estado Novo em Portugal. Coimbra, Portugal: [Tese de Doutoramento, Universidade de Coimbra] Estudo Geral. https://hdl.handle.net/10316/114368 
  2. a b Pinto, Rooney Figueiredo (4 de maio de 2022). «The oral testimonies of former teachers about school and Estado Novo in Portugal from a sociodynamic perspective of memory». Paedagogica Historica (em inglês) (3): 406–423. ISSN 0030-9230. doi:10.1080/00309230.2022.2065882. Consultado em 12 de junho de 2024 
  3. Ferreira, António Gomes (2008). «O sentido da Educação Comparada: Uma compreensão sobre a construção de uma identidade». Educação. 2 (31): 124–38 
  4. Peavy, R. V. (1997). Sociodynamic Counselling. A constructivist perspective. Victoria, BC, Canada: Trafford. ISBN 9781552120941 
  5. Fauvet, J. C. (2004). L'élan sociodynamique. Paris: Éditions d'Organisation. ISBN 978-2708130388 
  6. Pinto, R.F., Gomes Ferreira, A. & Mota, L. (2018). Entre passado e presente: A memória da escola do tempo do Estado Novo em Portugal. In J. M. Sara González, La práctica educativa. Historia, Memoria y Patrimonio. Salamanca, España: FahrenHouse. p. 541-550. ISBN 978-84-948270-6-8 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fauvet, J. C., & Fourtou, J.-R. (1996). La sociodynamique: concepts et méthodes. Editions d'Organisation
  • Moles, A. (1973) Sociodinâmica da cultura, Ed. Perspectiva, Coleção Estudos, volume 15.
  • Moles, A. (1973) Sociodynamique de la culture, Mouton.
  • Weidlich, W. (2000). Sociodynamics: A Systematic Approach to Mathematical Modelling in the Social Sciences, CRC Press.

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]