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Prohairesis

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Prohairesis (em grego clássico: προαίρεσις prohairesis, traduzível como "escolha", "volição",[1] "intenção" ou "escolha moral"[2]) é um conceito fundamental na filosofia estoica de Epiteto que representa a escolha envolvida em dar ou recusar a aprovação de impressões. Esta palavra grega foi usada pela primeira vez na filosofia por Aristóteles em sua obra Ética a Nicómaco.[3]

Definição por Epiteto

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De acordo com Epiteto, nada é devidamente considerado bom, ou mau, além daquelas coisas que estão sob nosso próprio controle e a única coisa totalmente em nosso poder é a nossa própria vontade. Assim, temos que dar total atenção ao que está sob nosso controle, o que consiste basicamente no uso de nossas "impressões" (phantasiai), isto é, nossa escolha (prohairesis), .[4]. Por exemplo, se uma pessoa diz algo crítico para nós, isso não é ruim, ou, se algo elogioso é dito, igualmente isso não significa ser bom, porque essas coisas são externas e estão além do nosso poder de controlá-las. Ao exercer o poder de escolha, é possível manter a equanimidade em face de tanto críticas quanto elogios, o que é um bem moral. Por outro lado, quando as pessoas ficam perturbadas pela crítica, ou exultantes pelo elogio, isto é um mal moral, porque elas têm impressões mal-interpretadas ao pensar que as coisas fora de seu poder (como a crítica ou o elogio) têm algum valor, de modo que depositam uma medida de controle de sua própria vida nas mãos de outros.[5]

Para Epiteto esta é a faculdade que distingue os seres humanos de todas as outras criaturas. O conceito de Prohairesis desempenha um papel central em suas obras Discursos de Epicteto e o Manual de Epicteto: os termos ‘Prohairesis’, ‘Prohairetico’ e ‘Aprohairetico’ aparecem cerca de 168 vezes.[6][7] Ele definiu-a como:

  • uma faculdade racional capaz de entender o todo e assim manipula ao seu acordo [8]
  • uma faculdade capaz de usar impressões e entender seu uso[9]
  • uma faculdade auto-teórico capaz de avaliar todas as outras faculdades humanas[10]
  • uma faculdade que serve para interpretar e seguir as ambições dos sentimentos, sendo subordinada a eles.

Esta faculdade não está presente em outros seres que não os seres humanos visto que os primeiros lidam com as impressões (phantasiai)[11] externas de um modo que não é refletido, enquanto que nos segundos lidam de modo refletivo. É também esta faculdade que compreende o verdadeiro ser de cada indivíduo.[1]

A prohairesis pode ser interpretada como algo que se usa, mas também com algo que se é. Ao contrário de Platão e Aristóteles, que viam o verdadeiro ser no nous, expresso no conhecimento teórico, a prohairesis é apresentada no âmbito da existência prática. Epicteto diz que ela está em nosso poder e que, referindo-se a ele próprio, nem mesmo Zeus lhe a pode tirar, por outras palavras, nenhuma força externa nos pode tirar esta faculdade. Ela não pode ser tirada mas pode ser reduzida em momentos de muito sofrimento, e ate levar a loucura que e a morte parcial dessa faculdade.[12]

Referências

  1. a b «Epictetus» (em inglês). Stanford Encyclopedia of Philosophy. 23 de dezembro de 2008. Consultado em 29 de março de 2014 
  2. Keith Seddon. Epictetus’ Handbook and the Tablet of Cebes: Guides to Stoic Living. Routledge; 2006. ISBN 978-1-134-34605-9. p. 228.
  3. Chamberlain C.: "The meaning of Prohairesis in Aristotele's Ethics" in Transactions of the American Philological Association 114 (1984) 147-157
  4. Donald J. Zeyl. Encyclopedia of Classical Philosophy. Routledge; 2013. ISBN 978-1-134-27078-1. p. 206.
  5. John Sellars. Stoicism. University of California Press; 2006. ISBN 978-0-520-24908-0. p. 114 – 115.
  6. Cassanmagnago C.: "Il problema della prohairesis in Epitteto" in Rivista di Filosofia Neoscolastica LXIX, 232-246 (1977)
  7. Dobbin R.: "Prohairesis in Epictetus" in Ancient Philosophy XI, 111-135 (1991)
  8. Epicteto, Discursos II.23.6-15; II.23.20-29
  9. Epicteto, Discursos II.8.4-8
  10. Epicteto, Discursos I.1.1-13; I.17.1-3; I.20.1-6
  11. Pauliina Remes; Juha Sihvola. Ancient Philosophy of the Self. Springer; 2008. ISBN 978-1-4020-8596-3. p. 46.
  12. Pauliina Remes, Juha Sihvola - Ancient philosophy of the self - Springer, 2008