Projeto de Ricardo Brasílico Paes de Barros Schroeder para o Plano Piloto de Brasília
O Projeto de Ricardo Brasílico Paes de Barros Schroeder para o Plano Piloto de Brasília foi um dos 26 esboços de construção da atual capital do Brasil participantes do Concurso para o Plano Piloto de Brasília, realizado em 1957, sendo o projeto de autoria do engenheiro Schroeder apresentado pela Construtora Duchen baseado no modelo racionalista, o qual divide uma cidade em quatro elementos - habitação, trabalho, moradia e diversão. Além disso, seu plano era marcado por patriotismo, compondo o centro da cidade com a figura da bandeira do Brasil.[1]
Contexto
[editar | editar código-fonte]Em 1956, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, que tinha como uma de suas principais metas de governo a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para o Planalto Central e estava em seu primeiro ano de mandato, anunciou o Concurso para o Plano Piloto de Brasília, processo licitatório este que teve edital publicado no Diário Oficial da União, no dia 30 de setembro daquele ano e foi organizado pela Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, comissão criada por Kubitschek após Oscar Niemeyer, arquiteto de sua confiança, recusar-se a realizar o projeto urbanístico, optando e se responsabilizando apenas pelo planejamento arquitetônico das edificações.[1]
As condições e normas previstas no documento compreendiam a participação exclusiva de pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas no país, regularmente habilitadas para o exercício da engenharia, da arquitetura e do urbanismo e um plano de cidade, transcrito em papel com tinta e cópia heliográfica, contendo um traçado básico, indicando a disposição dos principais elementos da estrutura urbana, projetada para quinhentas mil pessoas em uma área de cinco mil quilômetros quadrados, com um relatório de justificativa dos cálculos e do esquema cartográfico.[2]
Ao todo, foram realizadas 62 inscrições no concurso, entre pessoas físicas e jurídicas, sendo a maioria esmagadora de pessoas físicas, das quais algumas se dividiram em equipes para a idealização das propostas, que totalizaram 26 anteprojetos. O plano de Ricardo Brasílico Paes de Barros Schroeder foi apresentado por pessoa jurídica, a Construtora Duchen, e estava cadastrado como o anteprojeto de número nove.[1]
Proposta
[editar | editar código-fonte]Apresentado pela Construtora Duchen, o projeto de Ricardo Brasílico Paes de Barros Schroeder para o Plano Piloto de Brasília foi baseado nos preceitos urbanísticos modernistas da época definidos pelo IV CIAM em 1933. Sua proposta compreendia a construção de uma cidade com divisão rígida de setores, loteamentos funcionais, predomínio do sistema viário sobre as demais atividades e a peculiaridade do desenho da bandeira do Brasil formado pelas principais vias de circulação. Entretanto, em nenhum momento o autor evidenciou a finalidade social de cada uma dessas características.
A divisão rígida de setores seria sustentada pelo modelo de cidade racionalista, que dividiria a área urbana em quatro funções - habitar, trabalhar, morar e divertir. As funções de habitação e moradia ocupariam quase todo o Plano Piloto, por meio de loteamentos simples e funcionais. Essa característica de destinar a maior parte da cidade ao setor habitacional foi típica dos projetos das construtoras participantes do concurso, pois elas viam nisso a oportunidade de se responsabilizar pelo ramo imobiliário da nova capital.
Outra característica típica dos projetos das construtoras que o engenheiro Schroeder também desenvolveu no plano foi a predominância do sistema viário sobre as demais atividades.
As principais funções, como trabalho e transporte, e os principais valores cívicos ficariam na região central da cidade, no ponto mais alto do sítio, onde haveria a figura da bandeira do Brasil formada pelas maiores vias. Nessa parte, a circunferência e os grandes cruzamentos seriam marcados pela presença dos grandes equipamentos de infraestrutura urbana, como a torre de distribuição de água, a estação rodoviária distrital, a estação distrital de bombeiro e a estação distrital de telefone com a agência distrital de correio e telégrafo. Na região central também ficariam as principais atividades administrativas, entre elas a sede da Presidência da República, que teria apenas a Avenida Brasil como acesso.
Ao redor do plano, nas vias perimetrais, nos cruzamentos externos estariam localizados os equipamentos de manutenção urbana, como captação, aduto e reservatório de água; estação de potabilização; reservatório regulador; usina de asfalto; usina de gás; aterro de lixo e incinerador; centro telefônico, emissário de esgoto; estação de tratamento, usina elétrica, barragens e áreas destinadas a serviços de utilidade pública, como manutenção de transportes e de projetos, construções e conservação de logradouros públicos. Tais equipamentos, às margens da cidade, praticamente não foram tratados nos demais projetos.
A função de diversão, com áreas de lazer, ficaria distribuída às margens do lago. Preocupado também com a questão ambiental, Schroeder deixou no extremo leste do lago uma grande área de preservação do meio ambiente, a fim de permitir o equilíbrio dos recursos naturais. O restante da área urbana, distribuído nos braços do lago, seria composto por distritos monofuncionais.
Assim, a proposta de Schoroeder se caracterizava pela preferência pelo figurativismo da planta, pois adequou todo o plano em relação ao desenho da bandeira do Brasil, e não à topografia e às curvas de nível. Esse gosto pelo figurativismo foi observado também no cemitério, que foi projetado em forma de cruz.[3]
Decisão do júri
[editar | editar código-fonte]O júri do concurso, composto por dois representantes da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), um representante do Instituto de Arquitetura do Brasil, um representante do Clube de Engenharia e dois urbanistas estrangeiros, deveria selecionar dez finalistas, embora somente os cinco primeiros classificados fossem receber premiações, sendo um milhão de cruzeiros para o primeiro lugar, quinhentos mil cruzeiros para o segundo lugar, quatrocentos mil cruzeiros para o terceiro lugar, trezentos mil cruzeiros para o quarto lugar e duzentos mil cruzeiros para o quinto lugar. [4]O resultado foi divulgado no Diário Oficial da União no dia 25 de março de 1957, sendo eleito vencedor o projeto do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, proposta que se caracterizava, principamente, por um Eixo Rodoviário e um Eixo Monumental, e foi executada. Já o projeto de Ricardo Brasílico Paes de Barros Schroeder sequer ficou entre os dez finalistas.[3]
Referências
- ↑ a b c Tavares, Jeferson Cristiano (30 de agosto de 2004). «Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional»
- ↑ «Edital do concurso para o Plano Piloto de Brasília». Brasília Web. Consultado em 24 de julho de 2020
- ↑ a b Tavares, Jeferson Cristiano (30 de agosto de 2004). «Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional»
- ↑ «Edital do concurso para o Plano Piloto de Brasília». Brasília Web. Consultado em 11 de agosto de 2020