Armeria maritima
estancadeira, cravo-do-mar Armeria maritima | |||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Classificação científica | |||||||||||||||
| |||||||||||||||
Nome binomial | |||||||||||||||
Armeria maritima (Mill.) Willd. | |||||||||||||||
Sinónimos[1] | |||||||||||||||
|
Armeria maritima (Mill.) Willd., é uma espécie de planta com flor, pertencente à família Plumbaginaceae, que forma um complexo específico constituído por 8 a 10 subespécies (conforme os autores),[2][3] algumas da quais são por vezes consideradas espécies separadas. A variabilidade relaciona-se mais com preferências ecológicas e diferenças na distribuição do que com características morfológicas. A espécie é uma planta herbácea com folhas estreitas e longas, em roseta basal, que produz flores vistosas, geralmente de coloração rosada, agrupadas numa inflorescência globosa. A espécie tem distribuição natural circumboreal pelas regiões de clima temperado e ártico do hemisfério norte (Europa, Ásia e América do Norte),[4] geralmente próximo das costas, preferindo solos arenosos ou falésias bem drenadas.
Descrição
[editar | editar código-fonte]É uma planta perene, por vezes decídua em climas mais frios, compacta, que cresce em touceiras baixas (até 50 cm de altura), com folhagem em roseta, que emite hastes finas e longas que sustentam inflorescências globulares de flores de coloração rosa brilhante. Em alguns casos também ocorrem flores arroxeadas, brancas ou vermelhas.
Com filotaxia em roseta, o caule é muito curto, terminando numa raiz principal erecta. As folhas são estreitas e lineares, com lâminas foliares com 1–15 cm de comprimento e 0,5 a 3,0 mm largura, com uma, ou raramente três, nervuras, com aspeto geral que lembra as folhas das gramíneas. A página superior das folhas é levemente pilosa, o que deve servir de proteção contra a evaporação.
Na floração a planta emite escapos eretos, com 2–60 cm de comprimento, glabros ou pilosos, que terminam numa inflorescência com 13-28 mm de diâmetro. Bainha involucral com 5-32 mm de comprimento, com bráctea involucral externa oval a triangular-lanceolada, romba, com 4–14 mm de comprimento, mucronada ou não, em geral não de projetando sobre a corola. Flores são monomórficas, com todos os estigmas papilados e pólen reticulado, ou dimórficas, com estigmas papilados e pólen finamente reticulado ou estigmas lisos e pólen grosseiramente reticulado. Tubo do cálice piloso sobre e entre as costelas (holótrico), apenas nas costelas (pleurótrico) ou glabro (átrico). Sépalas com dentes triangulares a pouco triangulares, arqueados ou não. As pétalas são de cor rosa a roxa, vistosas, e excedendo o cálice ou reduzidas e incluídas no cálice. Floresce entre maio e outubro.
As flores heterostílicas são polinizadas por numerosas espécies de insetos. Os frutos são espalhados pelo vento ou por ação adesão. O número cromossómico 2n = 18.
A autoridade científica da espécie é (Mill.) Willd., tendo sido publicada em Enumeratio Plantarum Horti Botanici Berolinensis,...1: 333–334. 1809.[5] O epíteto específico latino maritima significa pertencente ao mar ou litoral, uma referência à presença da espécie nas regiões costeiras.[6]
-
Raiz e roseta foliar.
-
Inflorescência e flor.
-
Fruto e sementes.
-
Ilustração botânica.
Distribuição e habitat
[editar | editar código-fonte]Armeria maritima sensu lato tem uma ampla distribuição circumpolar, estando presente na generalidade das regiões costeiras do Hemisfério Norte.[4] A espécie também ocorre em algumas regiões costeiras das regiões temperadas e frias do Hemisfério Sul, nomeadamente nas costa chilena e da Terra do Fogo e na ilha dos Estados. A espécie é muito tolerante aos climas frios, ocorrendo mesmo em partes das costas da Gronelândia.
Prefere habitats com condições de relativa secura, especialmente em solos arenosos e salinos, preferindo as falésias costeiras, os prados e pântanos salgados e beiras de estradas em regiões de forte salinidade. A subespécie A. m. elongata ocorre principalmente nas dunas das costas marítimas. Embora com menor fequência, também ocorre longe do mar em zonas montanhosas rochosas.[7]:434[8]:70 A espécie é uma presença comum nos sapais e nas dunas das costas europeias, onde floresce de abril a outubro.[9]
Trata-se de uma espécie presente no território português,[10] onde é conhecida pelos nomes comuns de estancadeira, relva-de-espanha ou relva-do-olimpo.[11]
Ecologia
[editar | editar código-fonte]A espécie é um elemento floral típico das zonas salinizadas das costas marítimas temperadas. Estas plantas excretam o sal através de glândulas especiais na superfície da folha. A subespécie A. m. elongata cresce nas regiões afastadas do mar em pastagens arenosas ácidas, pastagens secas de silicato sobre rocha sólida, formações rochosas serpentiníticas e em florestas de pinheiros sobre solos leves e pobres em nutrientes.[12]
Armeria maritima apresenta uma grande tolerância ao cobre e é capaz de crescer em solos com concentrações de cobre de até 6400 mg/kg. Um mecanismo proposto para explicar esta anormal tolerância é que pouco cobre é transportado pelo sistema vascular do caule da planta, sendo o conteúdo que atinge que atinge a parte aérea excretado pelas folhas em decomposição.[13] Os estudos realizados sobre a fisiologia e metabolismo desta espécie apontam como de particular interesse a forma como o seu metabolismo é alterado com concentrações elevadas de dióxido de carbono atmosférico.[14] A espécie tolera solos poluídos com metais pesados (principalmente a subespécie A. m. halleri), podendo atingir concentrações de até 0,7% de zinco e 0,15% de chumbo.[15]
A polinização é realizada por diversos insectos, com destaque para as abelhas e os lepidópteros.
A espécie é hospedeira do fungo fitopatogénico Phoma herbarum.[16]
Etnobotânica
[editar | editar código-fonte]A espécie é uma popular planta ornamental cultivada nas regiões temperadas e frias de todo o mundo como flor de jardim e para produção de flores de corte. Sendo resistente à secura, é utilizada em xeropaisagismo e em jardins projetados como jardim de pedras. A planta era antigamente usada como antiepiléptico devido ao seu teor de plumbagina, que é altamente irritante.
O cultivar 'Vindictive' foi ganhador do prémio Award of Garden Merit da Royal Horticultural Society.[17]
A moeda britânica de três pence emitida entre 1937 e 1952 tinha no reverso a imagem da inflorescência de A. maritima. Na gíria britânica, o nome comum da planta thrift tem o significado de parcimonioso (thrifty) ou forreta e significa ter comprado muito por muito pouco dinheiro. Acredita-se que a expressão seja a razão pela qual a espécie foi usada como emblema da moeda de três pence (que não valia muito dinheiro).[18][19]
Como parte de uma campanha de marketing de 2002, a organização beneficente de conservação de plantas Plantlife escolheu a espécie como a flor do condado das ilhas de Scilly.
A espécie é mencionada no poema de sir John Betjeman intitulado 'A Bay in Anglesea'. A flor rosada de A. maritima é uma parte memorável da descrição do Castelo de Kirrin em torno do qual muitas das aventuras de Enid Blyton Famous Five aconteceram: "The coarse green grass sprang everywhere, and pink thrift grew its cushions in holes and crannies."
Subespécies
[editar | editar código-fonte]Armeria maritima forma um complexo específico com grande plasticiade ecológica e sensíveis variações fenotípicas, no qual são geralmente reconhecidas as seguintes subespécies:
- Armeria maritima subsp. azorica, Franco[20] (endémica nos Açores);
- Armeria maritima subsp. californica, conhecida por: California Seapink[21][22]
- Armeria maritima subsp. elongata'‘, conhecida por: Tall Thrift, Gaston Bonnier.[23]
- Armeria maritima subsp. maritima[24] (engloba as populações presentes nas regiões costeiras da Península Ibérica);
- Armeria maritima subsp. purpurea, sinónimo: Armeria purpurea W.D.J.Koch, (W.D.J.Koch) Á.Löve & D.Löve[25]
- Armeria maritima subsp. sibirica, conhecida por: Siberian Sea Thrift, Turczaninow ex Boissier[26][27]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ The Plant List: A Working List of All Plant Species, consultado em 11 Maio 2016
- ↑ Armeria maritima. The Plant List [on-line]. Kew Gardens. [consultado 2014-01-23] (inglês).
- ↑ Armeria maritima. Flora of North America [on-line]. eFloras.org. [consultado 2011-05-30] (inglês).
- ↑ a b Anderberg, Arne. «Den Virtuella Floran: Trift, Armeria maritima Willd.». Naturhistoriska riksmuseet, Stockholm. Consultado em 17 fevereiro 2017
- ↑ Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. 29 de setembro de 2014 <http://www.tropicos.org/Name/25400032>
- ↑ «Armeria maritima - Plant Finder». www.missouribotanicalgarden.org. Consultado em 21 de dezembro de 2021
- ↑ Stace, C. A. (2010). New Flora of the British Isles Third ed. Cambridge, U.K.: Cambridge University Press. ISBN 9780521707725
- ↑ Blamey, M.; Fitter, R.; Fitter, A (2003). Wild flowers of Britain and Ireland: The Complete Guide to the British and Irish Flora. London: A & C Black. ISBN 978-1408179505
- ↑ Wildlife Trusts - Thrift
- ↑ Sequeira M, Espírito-Santo D, Aguiar C, Capelo J & Honrado J (Coord.) (2010). Checklist da Flora de Portugal (Continental, Açores e Madeira). Associação Lusitana de Fitossociologia (ALFA).
- ↑ Armeria maritima - Flora Digital de Portugal. jb.utad.pt/flora.
- ↑ Verbreitungskarte von Armeria maritima (Mill.) Willd., s. l., Gewöhnliche Grasnelke. FloraWeb.
- ↑ Brewin LE, Mehra A, Lynch PT, Farago ME (Março 2003). «Mechanisms of copper tolerance by Armeria maritima in Dolfrwyong Bog, north Wales—initial studies» (PDF). Environ Geochem Health. 25 (1): 147–56. PMID 12901090. doi:10.1023/a:1021225721605
- ↑ Davey, M. P.; Harmens, H.; Ashenden, T. W.; Edwards, R.; Baxter, R. (2007). «Species-specific effects of elevated CO2 on resource allocation in Plantago maritima and Armeria maritima». Biochemical Systematics and Ecology. 35 (3): 121. doi:10.1016/j.bse.2006.09.004
- ↑ Ruprecht Düll, Herfried Kutzelnigg: Taschenlexikon der Pflanzen Deutschlands. Ein botanisch-ökologischer Exkursionsbegleiter zu den wichtigsten Arten. 6., völlig neu bearbeitete Auflage. Quelle & Meyer, Wiebelsheim 2005, ISBN 3-494-01397-7.
- ↑ Helgi Hallgrímsson & Guðríður Gyða Eyjólfsdóttir (2004). Íslenskt sveppatal I - smásveppir [Checklist of Icelandic Fungi I - Microfungi. Fjölrit Náttúrufræðistofnunar. Náttúrufræðistofnun Íslands [Icelandic Institute of Natural History]. ISSN 1027-832X
- ↑ «Armeria maritima 'Vindictive'». www.rhs.org. Royal Horticultural Society. Consultado em 12 Abril 2020
- ↑ «thrift noun - Definition, pictures, pronunciation and usage notes | Oxford Advanced Learner's Dictionary at». Oxfordlearnersdictionaries.com. Consultado em 6 de maio de 2022
- ↑ «Thrift on old three pence coin»
- ↑ «Armeria maritima subsp. azorica Franco | Plants of the World Online | Kew Science» (em inglês). Royal Botanic Gardens, Kew. Consultado em 11 fevereiro 2022
- ↑ «California Sea Pink, Armeria maritima ssp. californica». calscape.org. Consultado em 21 de abril de 2021
- ↑ «Armeria maritima ssp. californica». Calflora.org. Consultado em 21 de abril de 2021. Cópia arquivada em 17 de abril de 2021
- ↑ «Armeria maritima subsp. elongata (Hoffm.) Bonnier». www.gbif.org (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2021
- ↑ «Armeria maritima subsp. maritima in Flora of North America». www.efloras.org. Consultado em 21 de abril de 2021. Cópia arquivada em 21 de junho de 2006
- ↑ «Armeria purpurea W.D.J.Koch». www.worldfloraonline.org. Consultado em 17 fevereiro 2021
- ↑ «Lady Bird Johnson Wildflower Center». www.wildflower.org. The University of Texas at Austin. Consultado em 21 de abril de 2021. Cópia arquivada em 21 de abril de 2021
- ↑ «Armeria maritima subsp. sibirica in Flora of North America». www.efloras.org. Consultado em 21 de abril de 2021. Cópia arquivada em 21 de junho de 2006
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Checklist da Flora do Arquipélago da Madeira (Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens) - Grupo de Botânica da Madeira
- Armeria maritima - Portal da Biodiversidade dos Açores
- Armeria maritima - The Plant List (2010). Version 1. Published on the Internet; http://www.theplantlist.org/ (consultado em 29 de setembro de 2014).
- Armeria maritima - International Plant Names Index
- Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 1-8, 10-15, 17-18, 21. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
Galeria
[editar | editar código-fonte]-
Flor
-
Fruto
-
A. maritima ssp. maritima
-
A. maritima ssp. elongata
-
A. maritima ssp. purpurea
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Jepson Manual Treatment
- Photo gallery
- Wildlife Trusts - Thrift
- Armeria maritima - Flora-on
- Armeria maritima - The Euro+Med PlantBase
- Armeria maritima - Flora Vascular
- Armeria maritima - Biodiversity Heritage Library - Bibliografia
- Armeria maritima - JSTOR Global Plants
- Armeria maritima - Flora Europaea
- Armeria maritima - NCBI Taxonomy Database
- Armeria maritima - Global Biodiversity Information Facility
- Armeria maritima - Encyclopedia of Life