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Sérgio Príncipe

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Sérgio Príncipe
Nascimento 25 de janeiro de 1880
Elvas
Morte 25 de janeiro de 1971
Lubango
Cidadania Portugal
Ocupação trabalhador, mercador, político, escritor

Sérgio Joaquim Príncipe (Elvas, Assunção, 25 de janeiro de 1880Sá da Bandeira, 25 de janeiro de 1971) foi um sindicalista e comerciante, com pendor revolucionário, posteriormente dirigente da Confederação Patronal e fundador da Grande Ordem dos Cavaleiros do Patronato, que se destacou nas lutas sociais das primeiras décadas do século XX. Deixou obra escrita.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu na freguesia da Assunção de Elvas, filho de mãe incógnita e de José Joaquim Príncipe, destacado militante republicano e comerciante estabelecido em Elvas desde 1878. Empregou-se na Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, fixando-se nas Caldas da Rainha. Em 2 de junho de 1910 foi iniciado na Maçonaria, na Loja Fraternidade do Rito Escocês Antigo e Aceite, de Óbidos, com o nome simbólico de Murillo.[2] Nas Caldas da rainha foi militante do Partido Republicano Português (o PRP), colaborador do períodico republicano O Defensor e pertenceu ao Centro Democrático local, mas abandonou a militância.

A partir de 1913 começou a militar no sindicato dos ferroviários dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, sendo eleito na assembleia geral da classe de 6 de janeiro daquele ano, para integrar a comissão sindical para negociar uma solução para a Caixa de Reformas e Pensões. Nessas funções, teve papel destacado na organização e direcção da greve ferroviária de 14 de janeiro de 1914, durante a qual foi preso, deixando então a empresa no meio de acesa polémica com antigos companheiros, granjeando fama de revolucionário.[2]

Para além da sua atividade como ferroviário, dedicou-se ao comércio de caça, frutas, conservas e artigos de novidades em Elvas, Caldas da Rainha, Queluz, Coruche, Leiria e Portalegre. Após a morte do pai, constituiu a firma Príncipe & Companhia, Filhos Sucessores de José J. Príncipe e em 1916 tomou de trespasse uma loja em Lisboa, abrindo um armazém de mercearia e papelaria (que teve de trespassar em 1917).[2]

Aderiu ao sidonismo e, a convite de Machado Santos, foi adjunto de Cunha Leal, ao tempo Diretor-Geral dos Transportes Terrestres, nas funções de chefe da secretaris daquele departamento, demitindo-se a 8 de junho de 1918. Também em 1918 foi eleito para presidir à direção da Associação Comercial dos Lojistas de Lisboa, sendo preso em julho e agosto daquele ano em consequência de ações de reinvindicação dos lojistas.[2]

Em novembro de 1919 foi um dos organizadores do congresso das associações comerciais e industriais, da qual nasceu a proposta da constituição da Confederação Patronal, cujos estatutos foram aprovados em maio de 1921, com Sérgio Príncipe como presidente do Conselho Superior da agremiação.[2] Nessas funções criou uma organização secreta, a Grande Ordem dos Cavaleiros do Patronato, de inspiração maçónica, destinada a defender por forma violenta os interesses do patronato.[3]

A 8 de setembro de 1922, quando passava na Rua de Santo António da Sé, em Lisboa, foi atacado por dois indivíduos, um dos quais o apunhalou nas costas e ventre e o outro disparou dois tiros, sem contudo o atingir. Apesar de gravemente ferido, foi conduzido ao Hospital de São José e submetido a intervenção cirúrgica, sobrevivendo ao atentado. O jornal A Capital, do dia 9 de setembro, atribui o atentado à Legião Vermelha e informa ter sido encontrado, no punhal que o vitimou, um papel justificando o ataque, em nome da Legião Vermelha, por ter contribuído para o insucesso de várias greves. O mesmo jornal, na edição do dia 12 de setembro, em artigo intitulado Os Últimos Atentados e a Legião Vermelha, refere como motivo dos ataques a Sérgio Príncipe e ao operário José Gomes Pereira, conhecido por o Ávante, serem traidores à classe operária.[2]

Após o atentado refugiou-se em Elvas, demitindo-se do cargo que detinha na Confederação Patronal, onde escreveu um livro sobre a sua experiência,[4] anunciando que ia abandonar Portugal com destino a África.[2] Efetivamente fixou-se em Angola, em Sá da Bandeira (hoje Lubango), onde geriu o Huíla Planalto Hotel, estabelecimento que promoveu através de uma curiosa brochura na qual propagandeava a região e a especialidade do hotel, os pastéis da Huíla. Naquela cidade, fundou e dirigiu o jornal Ecos do Sul (Sá da Bandeira, 1933, 4 números) e publicou diversos trabalhos sobre história e etnografia.[2]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Palavras de Desafronta (Ecos das últimas greves ferroviárias). Tip. F. Monteiro & Cardoso, Lisboa, 1916.
  • Crise de transportes . [S.l : s.n.], 1919.
  • Echos de um atentado bolchevista. Tipografia Progresso, Elvas, 1923.
  • O Planalto da Huila. Tipografia da Escola-Oficina de "Oscar Torres", Humpata, 1931.
  • Huambo Nova-Lisboa : subsídios para a sua história. Câmara Municipal de Nova Lisboa, Nova Lisboa, 1956.
  • Rectificação histórica à memória do Infante D. Henrique. Lobito, 1961.
  • Diamantes que falam. Tip. Germana, Lobito, 1966.
  • O Regime Municipalista em Angola. Tip. Germana, Lobito, 1966.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. António Ventura, A Maçonaria no Distrito de Portalegre (1903-1925). Caleidoscópio, Lisboa, 2009 (ISBN 9789898010841).
  2. a b c d e f g h i Almanaque Republicano: Sérgio Príncipe.
  3. José Machado Pais, Sérgio Príncipe e a Confederação Patronal: História de um Atentado. Colóquio sobre o fascismo em Portugal, Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, 1980.
  4. Echos de um atentado bolchevista. Tipografia Progresso, Elvas, 1923.