Síndrome do X frágil
Síndrome do X frágil | |
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Rapaz com orelhas grandes e salientes características da síndrome do X frágil | |
Sinónimos | Síndrome de Martin–Bell,[1] síndrome de Escalante |
Especialidade | Genética médica, pediatria, psiquiatria |
Sintomas | Deficiência intelectual, orelhas grandes e salientes, queixo e testa proeminentes, articulações flexíveis, testículos grandes[1] |
Complicações | Sinais de autismo, crises epilépticas[1] |
Início habitual | Perceptível por volta dos 2 anos[1] |
Duração | Crónica[2] |
Causas | Genéticas (ligada ao X dominante)[1] |
Método de diagnóstico | Exames genéticos[2] |
Tratamento | Cuidados de apoio, intervenção precoce[2] |
Frequência | 1 em 4000 (homens), 1 em 8000 (mulheres)[1] |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | Q99.2 |
CID-9 | 759.83 |
CID-11 | 1524287677 |
OMIM | 300624 |
DiseasesDB | 4973 |
MedlinePlus | 001668 |
eMedicine | 943776 |
MeSH | D005600 |
Leia o aviso médico |
Síndrome do X frágil (SXF) é uma doença genética caracterizada por deficiência intelectual leve a moderada.[1] Trata-se da principal síndrome hereditária de deficiência intelectual[3]. O quociente de inteligência médio nos homens com a síndrome do X frágil é inferior a 55 e cerca de 2/3 das mulheres apresentam deficiência intelectual.[4][5] Entre as características físicas mais comuns estão orelhas grandes e salientes, queixo e testa proeminentes, articulações flexíveis e testículos grandes.[1] Cerca de um terço das pessoas afetadas apresenta características de autismo, como dificuldades de interação social e atraso na fala[1] e cerca de 2% a 5% dos autistas podem ter a SXF[6]. A hiperatividade é comum e em cerca de 10% dos casos ocorrem crises epilépticas.[1]
A síndrome do X frágil é uma herança ligada ao X dominante.[1] É geralmente causada por uma mutação do gene FMR1 no cromossomo X.[1][3] Esta mutação resulta em deficiência da proteína FMRP, que é fundamental para o normal desenvolvimento das ligações entre neurônios.[1] O diagnóstico requer a realização de exames genéticos para determinar o número de repetições CGG no gene FMR1.[7] Um resultado normal indica entre 5 e 40 repetições, enquanto na síndrome do X frágil o número de repetições é superior a 200.[1] Quando o número de repetições está entre 40 e 200, diz-se que está presente uma pré-mutação.[1] As mulheres com pré-mutações apresentam um risco acrescido de ter filhos com a síndrome.[1] Os casos de portadores de pré-mutações podem ser encaminhados para aconselhamento genético.[7][6]
A doença não tem cura.[2] Está recomendada a intervenção em idade precoce, de forma a promover na pessoa o maior número possível de competências.[8] Entre as medidas de intervenção estão o ensino especial, terapia da fala, fisioterapia e terapia comportamental.[2][9] As crises epilépticas, perturbações de humor, comportamento agressivo ou perturbação de hiperatividade com défice de atenção associados à doença podem ser tratados com medicação.[10] A doença é mais comum entre homens do que entre mulheres.[1] Estima-se que a síndrome do X frágil afete 1,4 em cada 10 000 homens e 0,9 em cada 10 000 mulheres.[11]
Causas
[editar | editar código-fonte]É uma síndrome causada pela mutação do gene FMR1 no cromossoma X, um gene ligado à formação dos dendritos nos neurônios, uma mutação encontrada em 1 de cada 2000 homens e 1 em cada 4000 mulheres. Normalmente, o gene FMR1 contem entre 6 e 54 repetições do códon CGG (repetições de trinucleotídeos). Portadores do gene, mas com intelecto normal, possuem entre 55 e 200 repetições. Pessoas com a síndrome do X frágil, o alelo FMR1 tem mais de 200 repetições deste códon CGG. Uma expansão desta magnitude resulta na metilação dessa porção do DNA, silenciando a expressão da proteína FMR1. A metilação do locus FMR1 resulta numa constrição e fragilidade do cromossoma X nesse ponto, um fenômeno que deu o nome à síndrome (quanto mais largo um gene mais fácil é rompê-lo).[12]
Homens XY com a síndrome nao aumentam o número de tripletes nas próximas gerações e não passa o gene X para seus filhos, mas suas filhas são sempre portadoras. Mulheres XX, tem metade da chance de ter sintomas, porém seus óvulos podem aumentar o número de tripletes CGG para mais de 200 e podem passar o gene tanto para seus filhos como para suas filhas.
Sinais clínicos
[editar | editar código-fonte]Físicos
[editar | editar código-fonte]As características físicas mais proeminentes da síndrome incluem[13]:
- Face mais alongada;
- Testa larga;
- Orelhas grandes e salientes;
- Palatino mais arqueado;
- Pele mais sensível;
- Articulações mais flexíveis;
- Testículos grandes pós-puberdade (macroorquidismo);
- Menos tônus muscular;
- Pés chatos.
Há um maior risco de desenvolver convulsões, tremores e estrabismo
Comportamentais
[editar | editar código-fonte]Comportamentalmente podem observar-se[14]:
- Ansiedade social;
- Evitar contato visual;
- Atraso para aprender a engatinhar, andar e dar volta;
- Atraso em aprender a falar e escrever;
- Dificuldade em se expressar bem;
- Dificuldade em se lembrar;
- Abanar, torcer ou morder as mãos;[15]
- Impulsividade, impaciência e irritabilidade;
- Maior vulnerabilidade a transtornos do humor e transtornos de ansiedade.
Costumam levar em média 50% mais para aprender conhecimentos escolares como matemática e linguística.[16] O autismo ocorre em 5% desses indivíduos, o que já é responsável por cerca de 15 a 60% do espectro autista dependendo dos critérios diagnósticos usados.[17]
Em portadoras
[editar | editar código-fonte]Mulheres portadoras do gene, mas sem os sintomas, tem 20% de chance de ter menopausa precoce (insuficiência ovariana primária).[18]
Diagnóstico
[editar | editar código-fonte]A principal forma de diagnóstico, padrão-ouro, é através da avaliação do número de repetições de repetições CGG no promotor do gene FMR1. A amostra utilizada para esse exame genético costuma ser sangue periférico ou saliva. É possível a realização do diagnóstico pré-natal através das vilosidades coriônicas (entre 9 e 11 semanas de gestação) ou pelas células fetais contidas no líquido amniótico (15a semana de gestação). É viável também o diagnóstico pré-implantacional. A investigação dessa condição através do cariótipo hoje não é utilizada por problemas de sensibilidade e especificidade [19].
Tratamento
[editar | editar código-fonte]Não há cura para síndromes genéticas, sendo o tratamento apenas por assistência em questões de comportamento e aprendizado. A família deve passar por aconselhamento genético para entender melhor como é a hereditariedade dessa síndrome, com avaliação de risco de recorrência que é fundamental para o planejamento familiar.
Farmacológico
[editar | editar código-fonte]Quando uma pessoa é diagnosticada com X Frágil, o aconselhamento genético para esclarecer sobre a síndrome é recomendado. Devido a uma maior prevalência de transtornos psicológicos os medicamentos mais utilizados são os psiquiátricos como:
- Estimulantes do SNC como ritalina para hiperatividade, impulsividade e problemas de atenção.
- Antidepressivos ISRS ou ISRSN para ansiedade, TOC e perturbações do humor.
- Neurolépticos como risperidona são usados para tratar comportamentos auto-agressivos, agressivo e incomuns;
- Estabilizantes de humor são usados para controlar mudanças bruscas de humor e convulsões.
Medicamentos visando o mGluR5 (receptores de glutamato metabotrópicos) que estão relacionados com a plasticidade sináptica são especialmente benéficas para os sintomas-alvo de X frágil. Sal de lítio também está sendo utilizado em ensaios clínicos com seres humanos, mostrando melhorias significativas no funcionamento comportamental, comportamento adaptativo, e memória verbal.
Não-farmacológico
[editar | editar código-fonte]Entre tratamentos não farmacológicos estão[20]:
- Terapia comportamental;
- Terapia cognitiva;
- Terapia da fala;
- Educação especial e;
- Terapia ocupacional;
- Psicomotricidade.
História
[editar | editar código-fonte]A ligação entre deficiência mental e o gene sexual foi descrita por J. Purdon Martin e Julia Bell no artigo "A PEDIGREE OF MENTAL DEFECT SHOWING SEX-LINKAGE".[21] Eles analisaram uma família (6 gerações), mostrando que a "imbecilidade" (em 1943, esta era a terminologia usada) passava de mães saudáveis (porém portadoras) para filhos, mas não para filhas.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Síndrome do X frágil no Manual Merck
- www.xfragilsc.com.br
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q «fragile X syndrome». Genetics Home Reference. Abril de 2012. Consultado em 7 de outubro de 2016. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2016
- ↑ a b c d e «Facts about Fragile X Syndrome». National Center on Birth Defects and Developmental Disabilities Home CDC (em inglês). 2 de fevereiro de 2017. Consultado em 10 de maio de 2017. Cópia arquivada em 10 de maio de 2017
- ↑ a b Tolezano, Giovanna Cantini; Carvalho, Laura Machado Lara; Krepischi, Ana Cristina Victorino; Rosenberg, Carla (9 de maio de 2020). «Inteligência e deficiência intelectual: bases genéticas e fatores ambientais». Genética na Escola (1): 18–25. ISSN 1980-3540. doi:10.55838/1980-3540.ge.2020.332. Consultado em 6 de dezembro de 2022
- ↑ Raspa M, Wheeler AC, Riley C (junho de 2017). «Public Health Literature Review of Fragile X Syndrome». Pediatrics. 139 (Suppl 3): S153–S171. PMC 5621610. PMID 28814537. doi:10.1542/peds.2016-1159C
- ↑ «Data and Statistics Fragile X Syndrome (FXS)». Centers for Disease Control and Prevention (em inglês). 9 de agosto de 2018. Consultado em 5 de novembro de 2018
- ↑ a b Jr, Francisco Paiva (1 de junho de 2022). «Síndrome do X Frágil, ainda desconhecida, merece atenção». Canal Autismo. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ a b «Technical Standards and Guidelines for Fragile X». www.acmg.net. 2006. Consultado em 10 de maio de 2017. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2016
- ↑ «What are the treatments for Fragile X syndrome?». www.nichd.nih.gov. Consultado em 21 de novembro de 2016. Cópia arquivada em 21 de novembro de 2016
- ↑ «Therapy Treatments». NICHD. Consultado em 10 de maio de 2017. Cópia arquivada em 5 de maio de 2017
- ↑ «Medication Treatments». NICHD. Consultado em 10 de maio de 2017. Cópia arquivada em 5 de maio de 2017
- ↑ «Data and Statistics Fragile X Syndrome (FXS)». Centers for Disease Control and Prevention (em inglês). 9 de agosto de 2018. Consultado em 30 de setembro de 2018
- ↑ http://ghr.nlm.nih.gov/condition/fragile-x-syndrome
- ↑ http://www.medicinenet.com/fragile_x_syndrome/page8.htm#physical
- ↑ Tranfaglia, M (2011). "The psychiatric presentation of fragile x: evolution of the diagnosis and treatment of the psychiatric comorbidities of fragile X syndrome". Dev Neurosci 35 (5): 337–48. doi:10.1159/000329421. PMID 21893938.
- ↑ Joana Antunes. «A Comunicação nas Perturbações do Espectro do Autismo Um Estudo de Caso» (PDF). Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Consultado em 7 de Setembro de 2018
- ↑ Hall, Scott S.; Burns, David D.; Lightbody, Amy A.; Reiss, Allan L. (2008). "Longitudinal Changes in Intellectual Development in Children with Fragile X Syndrome". Journal of Abnormal Child Psychology 36 (6): 927–939. doi:10.1007/s10802-008-9223-y. PMID 18347972.
- ↑ Budimirovic, DB; Kaufmann WE. (2011). "What can we learn about autism from studying fragile X syndrome?". Dev Neurosci 33 (5): 379–94. doi:10.1159/000330213. PMC 3254037. PMID 21893949.
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- ↑ Hagerman RJ, Berry-Kravis E, Kaufmann WE, Ono, M. Y., Tartaglia, N., Lachiewicz, A., Kronk, R., Delahunty, C., Hessl, D. (2009). "Advances in the treatment of fragile X syndrome". Pediatrics 123 (1): 378–90. doi:10.1542/peds.2008-0317. PMC 2888470. PMID 19117905.
- ↑ http://www.pubmedcentral.nih.gov/pagerender.fcgi?artid=1090429&pageindex=1#page J Neurol Psychiatry. 1943 July–October; 6(3-4): 154–157