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Sambaqui de Piaçaguera

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Sambaqui de Piaçaguera
Localização
País  Brasil
Estado  São Paulo
Localidade mais próxima Cubatão
Dados
Área 850m2
Gestão Luciana Pallestrini, Paulo Duarte, Caio del Rio Garcia
Sítio oficial sambaqui
Coordenadas 23° 52' S 46° 22' O
Sambaqui de Piaçaguera está localizado em: Brasil
Sambaqui de Piaçaguera
Notas datação: material malacológico (5.000 a 4.800); carbono-14 (4790 a 5030 BP)

O sambaqui de Piaçaguera é um sítio arqueológico que estava localizado na Baixada Santista, no Município de Cubatão, próximo aos rios Mogi e Quilombo. O sítio possuía em torno de 10 metros de altura, chegando a alcançar até 12,3 metros em seu ponto mais alto. Antes do processo de terraplanagem da região, o sambaqui beirava a margem de um canal próximo a um mangue.

O processo de escavação ocorreu nas duas décadas subsequentes a 1960: pela equipe do Museu Paulista[1], do Musée de l’Homme e posteriormente entre 1965 a 1969 pelo grupo do Instituto de Pré-História da Universidade de São Paulo [2][3][4][5]. Durante este período, o terreno pertencia à Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), a qual foi integrada posteriormente à USIMINAS, e uma vez em área industrial o sítio encontrava-se em processo de destruição [6]. Como consequência, o segundo período de escavação foi um trabalho de salvamento que permitiu a coleta de remanescentes de 87 indivíduos, sendo destes 54 adultos, 2 jovens e 31 crianças. Esse material encontra-se no acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, antigo Instituto de Pré-História [5].

A constituição do sambaqui é marcada sobretudo por conchas de moluscos e elevado número de gastrópodes. Também estavam presentes restos de peixes, vestígios de crustáceos, poucas aves e mamíferos. A fauna encontrada indica que os construtores de sambaqui exploravam a região do mangue e rios próximos, e parcela importante de sua alimentação baseava-se no consumo de peixes [6]. A presença humana no sítio foi marcada pela presença de machados, artefatos líticos, adornos de conchas, dentes de animais terrestres, artefatos de ossos de animais[7] e diversos sepultamentos. Encontram-se também vestígios vegetais, muito menos evidentes, e constituintes basicamente de restos de sementes carbonizadas. Apesar da pequena quantidade encontrada, hipotetiza-se que os recursos vegetais teriam um papel importante na alimentação e economia do grupo, porém que as condições de preservação e técnicas de coleta não favoreceram a identificação no registro arqueológico. A presença humana no sambaqui parece ter sido ininterrupta e sempre contando com a presença de um mesmo grupo, do qual não são observados longos períodos de abandono [5][8].

Achados arqueológicos

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Os materiais líticos encontrados no sambaqui de Piaçaguera foram divididos em duas principais categorias: artefatos formais e lascas. Artefatos foram interpretados como instrumentos de trabalho do grupo, que poderiam se tornar acompanhamentos funerários em sepulturas. Dentro dessa classificação estão contidos os machados, batedores e fragmentos de corante com desgaste, por exemplo. Mais numerosa que a primeira categoria, as lascas eram compostas por fragmentos de quartzo obtidos por percussão direta, com raros retoques e polimentos[8].

Osteodontomalacológica

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Os materiais confeccionados a partir de ossos e dentes de animais foram classificados como instrumentos osteodontomalacológicos. A partir deles duas categorias foram criadas, a primeira delas é formada por aqueles com funções associadas ao trabalho. Por exemplo, artefatos feitos a partir de dentes de mamíferos com a função de escavar, raspar e furar; pontas ósseas confeccionadas para pesca e espátulas de osso de baleia para preparo de comida[9]. Os outros artefatos foram classificados como adornos, dentre eles dentes de mamíferos no geral e de tubarões, além de conchas perfuradas[7].

Sepultamentos

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Diversos sepultamentos foram exumados do sambaqui de Piaçaguera, muitos dos quais obedeciam um ritual fúnebre específico. Tal ritual consistia nos membros inferiores fletidos, posicionamento em decúbito lateral, sem a presença de covas, com quantidade expressiva de corante vermelho (limonita) sobre os corpos e a justaposição a adornos e utensílios. Por vezes, ocorriam sepultamentos duplos ou triplos, principalmente de mulheres e crianças [4][5].

Referências

  1. PALLESTRINI, L. Jazida litorânea em piaçaguera, Cubatão, Estado de São Paulo. Revista do Museu Paulista, v. XV, 1964.
  2. GARCIA, C. Meios de subsistência de populações pré-históricas no litoral do estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado—Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. 1970.
  3. GARCIA, Caio Del Rio. Estudo comparativo das fontes de alimentação de duas populações pré-históricas do litoral paulista. Tese de mestrado, Departamento de Zoologia - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 1972.
  4. a b UCHÔA, D. P. O sítio arqueológico de Piaçaguera. Tese de mestrado—Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.1970.
  5. a b c d UCHÔA, D. P. Arqueologia de Piaçagüera e Tenório: análise de dois tipos de sítios pré-cerâmicos do litoral paulista. Tese de doutorado—Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, Setor de Antropologia, Arqueologia e Etnologia: 1973.
  6. a b Calazans, Marília Oliveira. “DE RESTOS A RASTROS: OS SAMBAQUIS DE CUBATÃO/SP E A CONSTRUÇÃO DE UMA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA FROM RESTS TO TRACES: THE SHELL MOUNDS OF CUBATÃO/SP AND THE BUILDING OF A BRAZILIAN PREHISTORY.” (2013).
  7. a b Klokler, D. The worked bone and tooth assemblage from Piaçaguera: Insights and challenges. BONES AT A CROSSROADS, 133.
  8. a b FISCHER, Patrícia Fernanda. Os moleques do morro e os moleques da praia: estresse e mortalidade em um sambaqui fluvial (Moraes, vale do Ribeira de Iguape, SP) e em um sambaqui litorâneo (Piaçaguera, Baixada Santista). 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-28082012-143626/. Acesso em: 29 ago. 2022.
  9. Silva, J. A., CARVALHO, O. A. D., & QUEIROZ, A. N. (2014). A cultura material associada a sepultamentos no Brasil: Arqueologia dos Adornos. Clio Arqueológica, 29(1), 45-82.