Sandra Benites
Sandra Benites | |
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Nascimento | 1975 |
Sandra Benites (Mato Grosso do Sul, 1975) é pesquisadora e ativista dedicada ao seu povo, os Guarani Nhandeva e se destaca na defesa dos direitos indígenas, na promoção da educação intercultural e na preservação das tradições e saberes do povo Guarani.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Sandra Benites nasceu no Mato Grosso do Sul, na aldeia Porto Lindo, em 1975. Ela é fluente em sua língua natal, o guarani, e também em português, inglês e espanhol. Militante desde o fim dos anos 2000, de 2010 a 2013, engajou-se ativamente com um grupo de mulheres indígenas dentro da Associação Indígena Guarani e Tupinikin (AIGT), sediada em Aracruz, no Espírito Santo.[1]
Sandra completou sua formação acadêmica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2017, obteve seu diploma no curso de Licenciatura Intercultural Indígena.[1] É um curso que se concentra nas culturas dos povos indígenas que habitam a região sul da Mata Atlântica e tem regime presencial especial, com etapas concentradas, e desenvolvido na Pedagogia da Alternância: Tempo Universidade e Tempo Comunidade.[2] É mestra em antropologia social pelo programa de pós-graduação do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante seus estudos, Sandra Benites se dedicou em explorar e compreender as discrepâncias existentes entre os processos de formação escolar convencional e os valores fundamentais das comunidades Guaranis e a partir de 2019, desenvolveu pesquisa de doutorado, ainda na UFRJ. Em 2023, reside e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo como curadora, educadora e pesquisadora.[1]
Atuação profissional
[editar | editar código-fonte]No fim dos anos 2000, Sandra atuou como agente comunitária de saúde na aldeia Boa Esperança. Trabalhou, entre os anos de 2004 e 2012 como professora na escola indígena Guarani, no território de Porto Lindo, município de Japorã (MS). Desde 2014, presta serviços de assessoria pedagógica para a prefeitura de Maricá, localizada no Rio de Janeiro.[1] Em 2023, é ativista no grupo de mulheres indígenas, que faz parte da Associação Indígena Guarani e Tupiniquin (AIGT). Integrou entre os anos de 2016 e 2018 a equipe de curadoria do Museu de Arte do Rio (MAR),[3][1] onde participou ativamente e se destacou na curadoria da exposição Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena (2017).[4] É doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde o ano de 2018 até 2023.[5]
Curadoria no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)
[editar | editar código-fonte]Sandra passou a ocupar, em 2019, o cargo de curadora adjunta no MASP.[6] Foi chamada para esse cargo logo após seu primeiro trabalho oficial com a curadoria indígena, no Museu de Arte do Rio (MAR). A exposição para qual foi convidada no MASP levou o título Histórias Brasileiras e buscou expor as narrativas de pessoas que têm sido esquecidas propositalmente ao longo da história brasileira.[3][7] Ficou em exposição no período de 26 de agosto até 29 de outubro de 2022.
Entretanto, a curadora pediu demissão em 17 de julho de 2022, com a justificativa de que o Museu teria excluído seis fotografias do Movimento Sem Terra (MST) da exposição. O MASP argumentou que a exclusão se deu por conta de um descumprimento de prazo, mas Benites relatou não ter sido informada sobre as datas com antecedência. Além disso, afirmou após a sua saída que, para o museu, essa contratação teria sido muito mais com o objetivo de propagar a imagem de um ambiente diverso a partir das figuras indígenas, que propriamente por interesse em seu trabalho.[8]
Prêmios
[editar | editar código-fonte]- Sotheby's Prize (2019)
Obras
[editar | editar código-fonte]- BENITES, Sandra. Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ. Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro (ducação tradicional): o olhar distorcido da escola. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.
- BENITES, Sandra. Viver na língua Guarani Nhandewa (Mulher falando). Dissertação de Mestrado, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Antropologia Social, Rio de Janeiro, 2018.
- BENITES, Sandra & LAFUENTE, Pablo. “Walking Towards the Indigenous Protagonism: On the Work Process in Dja guata Porã: Río de Janeiro Indígena”, Terremoto, Issue 14, April, 2019.
- BENITES, Sandra. “Educação Guarani e interculturalidade: a(s) História(s) Nhandeva e o Teko”, Caracol, [S. l.], n. 20, 2020, p. 188-201.
- BENITES, Sandra. “Nhe’ẽ para os Guarani (Nhandeva e Mbya)”, Campos – Revista de Antropologia, v. 21, n. 1, 2020, p. 37-42.
- BENITES, Sandra. “Nhe’ẽ, reko porã rã: nhemboea oexakarẽ: Fundamento da pessoa guarani, nosso bem-estar futuro, a educação tradicional e o olhar distorcido da escola” In: ZEA, Evelyn Schuler, DARELLA, Maria Dorothea Post & MACHADO, Juliana Salles (orgs), Ações e saberes Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng em foco: pesquisas da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica – GUARANI, Florianópolis, Edições do Bosque, 2020.
- BENITES, Sandra. “Piração”. Corpos que Falam: um lugar para as vozes de estudantes de pós-graduação em quarentena (on-line), Museu Nacional, Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://corposquefalam.weebly.com/escritas/piracao-sandra-benites-ppgas… Acesso em: 25 de novembro de 2021.
- BENITES, Sandra. “Narrativas da minha trajetória” In: BRULON, Bruno (org.). Descolonizando a Museologia, vol. 1. Museus, ação comunitária e descolonização, Paris, ICOFOM/ICOM, v. 1, 2020, p. 325-337.
- BENITES, Sandra. “Entrevista com Sandra Benites” In: OBRIST, Hans Ulrich. Hans Ulrich Obrist: entrevistas brasileiras vol. 2, Rio de Janeiro, Cobogó, 2020.
- FRANCHETTO, Bruna & ALENCAR, Augusto de. “Com a palavra os pesquisadores indígenas”, Linguística (Rio de Janeiro), v. 15, 2019, p. 18-39.
- LANGLOIS, Jill. “Brazil’s First Indigenous Curator: ‘We’re Not Afraid Anymore’”, The New York Times. 24 de maio de 2020 (on-line).
Referências
- ↑ a b c d e «Sandra Benites». Enciclopédia Itaú Cultural. 2 de junho de 2023. ISBN 978-85-7979-060-7. Consultado em 23 de outubro de 2023
- ↑ SeTIC-UFSC. «Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica». Consultado em 20 de novembro de 2023
- ↑ a b «Histórico! Sandra Benites é a primeira curadora indígena de um museu de arte no Brasil». Vogue. 17 de dezembro de 2019. Consultado em 23 de outubro de 2023
- ↑ Vieira, Mariane Aparecida do Nascimento (25 de abril de 2019). «Dja Guata Porã: o rio indígena que desaguou no MAR». Horizontes Antropológicos: 227–256. ISSN 0104-7183. doi:10.1590/S0104-71832019000100009. Consultado em 25 de novembro de 2023
- ↑ Andrade Neto, Alberto Luiz de; Sousa, Alexsander Brandão Carvalho de. «Sandra Benites». Enciclopédia de Antropologia. Consultado em 25 de novembro de 2023
- ↑ Julia (18 de dezembro de 2019). «MASP anuncia Sandra Benites como nova curadora adjunta de arte brasileira». Arte Que Acontece. Consultado em 22 de outubro de 2023
- ↑ «MASP». MASP. Consultado em 22 de outubro de 2023
- ↑ Moraes, Carolina; Perassolo, João (17 de maio de 2022). «Primeira curadora indígena pede demissão do Masp após veto a fotos do MST». Folha de S.Paulo. Consultado em 22 de outubro de 2023. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2023