Sarai Mulque Canum
Sarai Mulque Canum Bibi Canum • Bibi Hanim • Bibi Canim • Sarai Malique Catum • Saray Mulk Khanum • Bibixonim | |
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Imperatriz consorte do Império Timúrida | |
Nascimento | c. 1341 |
Morte | c. 1408 (67 anos) |
Samarcanda, Império Timúrida | |
Sepultado em | Mausoléu de Bibi Canum |
Esposos | Amir Huceine de Bactro |
Descendência | sem filhos |
Casa | Borjiguim (por nascimento)
Barlas timúridas (por casamento) |
Pai | Cazã Cã ibne Iaçaur |
Mãe | Burla-Catum |
Religião | islão sunita |
Sarai Mulque Canum ou Sarai Malique Catum (Sarā-i Mulk Khānum; em usbeque: Bibixonim; c. 1341 — Samarcanda, c. 1408), mais conhecida como Bibi Canum, Bibi Hanim ou Bibi Canim, foi a imperatriz consorte do Império Timúrida, como esposa principal de Tamerlão (Timur), o fundador do Império Timúrida e da dinastia homónima.[1][2][3] Por nascimento, era uma princesa do Mogulistão, pois era filha do último monarca do Canato de Chagatai, o cã Cazã ibne Iaçaur, e por isso uma descendente direta de Gêngis Cã, pois Cazã ibne Iaçaur era quadrineto do fundador do Império Mongol. Assim sendo, Sarai fazia parte do clã Borjiguim, o clã mais prestigiado e célebre da Eurásia.[4][5][6] Como filha dum cã, Sarai tinha o título de Canum ("filha de cã" ou princesa).[7]
Casamento com Tamerlão
[editar | editar código-fonte]Sarai foi casada com Amir Huceine de Bactro, que foi executado após ter sido derrotado por Tamerlão no Cerco de Bactro de 1370. Tamerlão capturou o harém de Amir Huceine e casou com as suas esposas, uma das quais era Sarai, que era cinco anos mais nova que ele e tinha fama de muito bela, ao ponto de por vezes ser descrita como tendo uma beleza "insuperável".[8]
Como filha dum cã e descendente de Gêngis Cã, Sarai teve o estatuto de esposa principal de Tamerlão, apesar de que no harém do primeiro marido a esposa principal ter sido a filha do cã Tarmachirim, que depois da morte de Huceine casou com Jalair Cã Barã.[9] Pelo seu casamento com Sarai, Tamerlão adquiriu o título de Gurgã ("genro") de Cazã Cã, que aparece nas suas moedas e é mencionada frrquentemente nas fontes mamelucas. Este título era muito importante para Tamerlão porque o relacionava com a família dos Chuguetai (descendentes de Chagatai, o fundador do canato epónimo).[10][4] Em 397, Tamerlão casou com Tucal-Canum (Tukal-Khanum), uma filha do cã mongol Quizer Coja do Mogulistão, que também, ultrapassou várias esposas devido à sua alta linhagem e tomou o segundo lugar no harém. Sarai deteve a posição de primeira consorte de Tamerlão até à sua morte.[11]
Sabe-se pouco da relação entre Sarai e Tamerlão,[12] além do facto de que ela era sua confidente e um dos seus conselheiros mais próximos.[13] Porém, é evidente que tinha grande influência sobre o marido e no império. Além disso, ela é apresentada na maior parte das fontes como tendo sido a "esposa favorita" de Tamerlão. Em algumas ocasiões Sarai atuou como regente durante as ausências do marido em Samarcanda devido às suas campanhas militares a ocidente e teve grande autoridade na corte.[14] Como consorte principal, Sarai teve também o título de "Grande Imperatriz", similar ao que teve Borte, a principal esposa de Gêngis Cã. O embaixador castelhano Ruy González de Clavijo, enviado por Henrique III de Castela à corte de Tamerlão em 1405, chamou a Sarai "A Grande Canum".[11]
Em maio de 1394, Sarai acompanhou Tamerlão, juntamente com outras esposas deste, à Arménia e à Transcaucásia. Em setembro foram para Soltaniyeh, antiga capital do Ilcanato, na Pérsia, mas passado pouco tempo voltaram a juntar-se com Tamerlão. Na primavera de 1395, Sarai, Tucal e os filhos de Tamerlão foram enviadas para Samarcanda, onde Xaruque, que seria o sucessor de Tamerlão, seu pai, estava desde o outono de 1394. Em 1396 estavam todos em Cuzar, onde se encontraram com Tamerlão no seu regresso da sua "Campanha dos Cinco Anos". Durante a campanha na Índia, Sarai e Ulugue Begue (filho de Xaruque) só acompanharam Tamerlão até Cabul. Em agosto de 1398 Tamerlão mandou-os de volta para Samarcanda desde os arredores de Cabul.[11]
Descendência
[editar | editar código-fonte]Ao que se sabe, Sarai não teve filhos com Tamerlão,[15] apesar de por vezes ser referida como sendo mãe do filho mais novo do seu marido, Xaruque Mirza, que aparentemente foi criado e educado por ela mas era filho duma concubina. Mesmo que tenha tido alguns filhos, nenhum deles sobreviveu, o mesmo acontecendo com a segunda esposa Tucal-Canum. Não obstante, a influência e poder na corte de ambas foi notada por visitantes estrangeiros. Foram as qualidades e linhagem das duas princesas descendentes de Gêngis Cã que lhes permitiram desenvolver tal posição dinástica prestigiosa, pois entre as consortes timúridas a maternidade não era, só por si, um meio de obter poder.[16] Após o nascimento do filho mais velho de Xaruque, Ulugue Begue, em 1394, este foi também posto sob os cuidados de Sarai e cresceu sob a supervisão da imperatriz.[11]
Relatos de Clavijo sobre a imperatriz
[editar | editar código-fonte]Embora seja provável que essa não fosse a intenção de Ruy González de Clavijo, a sua descrição da entrada de "Cano" (Canum), a esposa principal de Tamerlão, no grande pavilhão é uma poderosa metáfora para muito do que ele testemunhou durante a sua estadia em Samarcanda, a capital do Império Timúrida, entre 8 de setembro e 20 de novembro de 1404. Como embaixador de Henrique III de Castela, Clavijo teve acesso generoso à vida e às cerimónias da corte imperial timúrida, sobre as quais deixou um dos relatos mais detalhados e extensos que se conhecem. "Cano", que é identificada com Sarai, foi ao pavilhão para se juntar ao marido num grande banquete, um dos vários que foram organizados no prado Khan-i-Gil (lit: "mina de argila"), situado fora da cidade de Samarcanda.[17]
Clavijo fez uma descrição pormenorizada da procissão de Sarai até ao pavilhão e de como ia vestida. Acompanhada por quinze serviçais para carregar a sua carruagem, eunucos e um criado que segurava uma "sombra", Sarai Mulque Canum ia vestida de seda vermelha, com a face coberta por um véu branco. Tinha um penteado complexo, ornamentado com pérolas , rubis, turquesa e plumas que eram presas com fio de ouro.[18] A sua face duplamente velada — além do véu de tecido tinha uma maquilhagem espessa — escondiam o seu verdadeiro aspeto.[18] A face que mal se via atrás do véu estava de tal forma coberta com maquilhagem branca para a proteger do sol que parecia feita de papel.[19] Clavijo estimou que os seus aposentos tivessem cerca de 300 serviçais.[18]
Mecenas da educação
[editar | editar código-fonte]Um dos edifícios mais importantes do final do século XIV em Samarcanda foi a madraça de Canum, situada em frente à grande mesquita de Tamerlão. [20] A madraça foi mandada construir pela imperatriz Sarai c. 1397, pois ela estava interessada em patrocinar a educação. Sarai mandou construir muitos outros edifícios, mas deles só chegaram aos nossos dias as fundações da madraça. Uma das maiores mesquitas jamais construídas, a que Tamerlão deu o nome de Sarai — a Mesquita de Bibi Canum — apesar de ser apontada como tendo sido mandada construir por Tamerlão, que sem dúvida se envolveu nas obras, também terá sido mandada construir por Sarai.[1]
Notas e referências
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Saray Mulk Khanum», especificamente desta versão.
- ↑ a b Renard 1998, p. 246.
- ↑ Lal 2005, p. 217.
- ↑ Belozerskaya 2012, p. 99.
- ↑ a b Shterenshis 2013, p. 28.
- ↑ Hanson 1985, p. 72.
- ↑ Grube & Sims 1980, p. 53.
- ↑ Humphrey & Sneath 1999, p. 27.
- ↑ Tucker 2003, p. 261.
- ↑ Vasilii 1956, pp. 24–25.
- ↑ Sonbol 2005, p. 340.
- ↑ a b c d Veit 2007, p. 149.
- ↑ The Age of calamity, p. 83
- ↑ Bingham 2005, p. 34.
- ↑ Tokhtakhodjaeva 1995, p. 20.
- ↑ Crompton 1999, p. 43.
- ↑ Balabanlilar 2012, p. 102.
- ↑ Brummett 2009, p. 113.
- ↑ a b c Brummett 2009, p. 114.
- ↑ Marlowe 1976, p. 13.
- ↑ Mirbabaev, Zieme & Furen 2003, p. 40.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Balabanlilar, Lisa (2012), Imperial identity in the Mughal Empire : memory and dynastic politics in early modern South and Central Asia, ISBN 978-1-84885-726-1 (em inglês), I. B. Tauris
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